segunda-feira, 28 de setembro de 2009

O jornal do Pão e Rosas tem um espaço que é seu!

Abrimos as páginas do nosso jornal para as mulheres trabalhadoras em luta, para aquelas que sofrem assédio moral em seus locais de trabalho, para as estudantes, para as mulheres desempregadas e donas de casa... para todas que são oprimidas e exploradas e querem fazer escutar as suas vozes na luta contra esse sistema capitalista! Mande seu depoimento, texto, comentário, denúncia, relato, entrevista, poema para o email paoerosasbr@gmail.com

Femicídios em Curitiba
“No alvo, a mulher - em média 3 mulheres são assassinadas por semana em Curitiba e região”, esse foi o título da matéria que recentemente saiu no principal jornal de Curitiba. A partir dele e a necessária legalização do aborto, podemos questionar: qual a relação entre os assassinatos, a clandestinidade do aborto e o alto índice de mortalidade materna? Os principais fatores de agressão às mulheres, como já conhecemos, continuam a ocorrer inclusive as complicações por abortamento inseguro. Em Curitiba a maioria dos casos são apontados como violência doméstica e/ou envolvimento com drogas, as mortes com arma de fogo é de maior ocorrência. A cada 15 segundos uma mulher é espancada. Dados nacionais atuais mostram que houve um aumento de 50%, em relação ao ano passado, de mulheres que foram assassinadas com idade superior aos 30 anos. Além disso, as complicações por abortamento inseguro são a quarta maior causa de mortes no Brasil. O CAF (Coletivo de Ação Feminista de Curitiba) acredita que a relação entre as violências está ligada a construção social baseada em moldes masculinos, que através da publicidade utiliza símbolos para manter mulheres numa posição subordinada e de reprodução vinculada ao espaço doméstico, excluindo suas necessidades urgentes como o aborto. Destacamos a reivindicação pelo uso do termo “femicídio” o que indica a forte masculinização no crime. Sabemos da ocorrência de clínicas abortivas tidas como clandestinas em Curitiba, em que as mulheres a procura de ajuda e passam por uma longa espera até serem atendidas, resultando muitas vezes em forte automedicação. O aborto não é apenas um problema nacional, mas também regional. Procurar viver como se deseja, seguir seus projetos e ter integridade física e mental acaba por representar uma batalha individual para muitas de nós, mas o Movimento Feminista nos mostra a importância de fazer essa luta em conjunto e reconhecer politicamente os problemas que nos atingem. Por isso, a forte fomentação pela legalização do aborto é de extrema necessidade e urgência.
CAF - Coletivo de Ação Feminista de Curitiba. Jovens feministas buscando se organizar e pensar questões de GÊNERO, PATRIARCADO e OPRESSÃO acaofeminista@gmail.com


Direito ao aborto
Falar do direito ao aborto é manifestar o direito a vida e a sexualidade da mulher. Se pensarmos na formação sócio-cultural brasileira, vinculada a moral católica burguesa, entendemos que foi negado o direito às mulheres de viverem a sua sexualidade. Sonhos e projetos de vida, engavetados ou sufocados numa futura maternidade indesejada, sob o mito da “essência materna, existente em todas as mulheres”. Na realidade, a trajetória socioeconômica, das mulheres brasileiras, marginalizadas pela pobreza, raça, analfabetismo e tantas outras questões, desmentem esse mito de essência feminina. Se pensarmos a repressão da sexualidade feminina numa dimensão geopolítica, enxergamos as mulheres da região norte e nordeste do Brasil, com a sexualidade negada desde a infância, sob o histórico domínio do latifúndio rural. A mídia brasileira estampa casos de horror: de crianças, adolescentes e mulheres, vítimas fatais de abortos clandestinos, provenientes de fecundação imposta pela violência sexual contra a mulher. Defender a descriminalização ao aborto é contribuir com a construção de uma sociabilidade, pautada no respeito ao gênero humano feminino. A campanha moral ideológica contra a descriminalização do aborto é pautada em um discurso de “direito à vida”, a pergunta é qual vida? Quais vidas tem sido ceifadas ao longo da história brasileira, perdidas nessa concentração de renda? Quantas mulheres tem sido vítimas de abortos clandestinos, sem a menor proteção a sua saúde, sem a menor responsabilização do poder público? Os fatos sociais são abafados, relegados a assunto privado familiar: ou foi a adolescente que mãe não educou, ou foi a mulher desprevenida, ou foi a pobre vítima de um abuso sexual, mas que a “vida futura não deve ser colocada em jogo”. Ao final desse discurso moral sobra a culpa para o gênero feminino, responsabilizado como criminoso em potencial. A luta pelo direito ao aborto pertence a todos nós que queiramos construir uma nova sociabilidade, pautada no respeito ao gênero humano e à vida segura, com possibilidade de escolhas conscientes, construída em condições socioeconômica que propicie a vida.
Clara Angélica de Almeida Santos Bezerra. Professora de Serviço Social da Universidade Tiradentes, Aracaju-Sergipe

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