Publicamos abaixo entrevista com trabalhadora do Supermercado Extra feita pelo Movimento Unidade Operária.
MUO: Como é o seu trabalho no Extra?
TX: Sou funcionária do Extra, trabalho 6 por 1 folgando um domingo por mês e uma folga na semana, que não desconta no meu holerite mas desconta como falta no banco de horas e usam este esquema para impor que a gente assine um papel dizendo que o funcionário sempre fica devendo horas de trabalho para a empresa, e a gente não tem horário de almoço e nem de jantar mesmo que a loja esteja vazia, o horário de almoço é quando der tempo ou quando eles querem, não temos hora para sair, só temos horário para entrar. Então a gente trabalha muito mais do que 12 horas por dia, a gente só sai no horário se a gente ficar no pé pedindo a nossa saída porque se a gente não pedir eles não liberam.
MUO: Como é a questão do assédio moral dentro do Extra?
TX: Tem dois casos que eu presenciei desde que eu estou lá dentro do Extra. O primeiro foi comigo, onde eu cheguei e eu tinha que tirar a menina do caixa, para tirar eu tenho que contar todo o dinheiro e tirar uma posição para saber se esta faltando dinheiro ou sobrando. Eu falei para o cliente; "senhor, vai trocar de operadora" e ele disse; "você não vai fechar o caixa, seu nome é TX, nossa eu odeio esse nome" e me fez passar as compras dele de novo. Quando eu terminei de passar as compras, ele disse: "agora você empacota!! Eu falei para ele: "não senhor, eu não vou empacotar". Ele perguntou: "você não vai empacotar? Por isso é que eu não gosto desse nome TX. Aí saiu deixando as compras lá. Outro caso que teve foi o de uma companheira, aconteceu um erro de operação e a cliente começou a alterar a voz e a chefe de todos os caixas da rede Extra foi ver o que estava acontecendo ali. Esta chefa falou para a cliente: "olha senhora, desculpa mas é que essa operadora é uma incompetente", tudo isso na frente dos clientes. A menina entrou em desespero e começou a chorar. Ela foi obrigada a pedir as contas e essa operadora era a operadora que mais vendia cartão Extra e alcançava sempre a meta que era estabelecida. Para estimular a venda desses cartões eles dão um sábado de folga para quem conseguir atingir essa meta.
MUO: Como é a relação da chefia com vocês no caixa? E quantas pessoas trabalham no caixa?
TX: São 150 operadoras de caixa divididos em quatro turnos, tem dois lideres dos caixas e tem os fiscais de caixa que são todos brancos. A relação com eles é péssima pois eles acham que estão em uma posição melhor, chegam falando "o que foi, caixa?", sendo que a gente tem nome, humilham muito se a gente erra alguma coisa, já começam a ofender.
MUO: No Extra existem muitas pessoas negras trabalhando? TX: A maioria das operadoras são negras e na parte da padaria entraram 4 pessoas na mercearia que é para carregar peso mais 6 pessoas.
MUO: Lá tem terceirizados?
TX: Tem as meninas da cozinha, limpeza, operadoras de caixa.
MUO: Quanto ganham as trabalhadoras que entram como terceirizadas e quanto tempo elas trabalham?
TX: Elas chegam a trabalhar 12 horas ou mais porque eles ganham hora extra. Ganham o mesmo que a gente, mas elas trabalham muito mais, tem as meninas que entram no Extra para trabalhar para tahime que significa trabalhar 3 dias por semana ganhando o salário de 272,00 reais. A chefia fala que elas não podem passar do horário mas eles sempre passam. Por exemplo, se elas entram 13:00 teriam que sair 21:00 mas a realidade é outra, já chegou de meninas ficarem até 24:00 horas e ter que esperar a perua da empresa para levar em casa, isso já sendo 1:00 da manhã para a perua poder sair de lá da empresa. Eles mentem muito, porque eles dizem que vão pagar hora extra para elas e não pagam, elas são mais exploradas que as funcionárias que são as registradas pelo Extra. Tem um caso de doença adquirida dentro da empresa. Uma menina que está grávida de seis meses se encontra internada por culpa da empresa pois a chefia impede que as meninas usem o banheiro na hora que necessitam por que eles estão sempre segurando, e por essa razão ela desenvolveu uma infecção na bexiga e se essa infecção não for tratada a criança pode nascer cega. O pessoal da manhã é mais organizado entre eles porque deu o horário deles eles fecham os caixas e acabou. O pessoal da tarde tem mais medo pois eles são novos, tem entre 5,6 meses que trabalham no Extra, Eu acho que temos que fazer isso só que o pessoal de lá não tem noção, eles não sabem nem quem é o sindicato, poucos sabem, eles só vieram descobrir os sindicatos porque eu comentei com eles né? Eu comecei a conversar com as meninas que a gente tinha que mudar a nossa realidade. Aí é que elas foram abrindo mais os olhos e a gente está conversando mais sobre isso. No outro dia deu o meu horário e o da menina, a gente fechou o nosso caixa e acabou, entendeu? Ninguém falou nada, ninguém fez nada.
MUO: Fale mais sobre o dia a dia dos trabalhadores do extra.
TX: Nós da frente de caixa somos punidas se dá quebra no caixa, se tiver faltando dinheiro no seu caixa você assina advertência, se passar de 3 vezes a empresa te manda embora sem direito nenhum porque lá eles só mandam o funcionário por justa causa, eles cavam essa justa causa.
MUO: O que você acha que as operadoras de caixa do Extra deveriam fazer?
TX: Eu acho em primeiro lugar que se a gente tem hora de entrar, a gente tem que ter hora de saída porque não importa se o mercado está cheio, tem bastante funcionária para ocupar o espaço dessas que estão indo embora. Então eu acho que a gente tem que se organizar, se reconhecer como uma classe, não ter medo porque se o Extra não manda embora mesmo, você tem que ter medo do quê? Tem que saber agir né?
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