No dia 23/09/09 o Pão e Rosas apresentou o documentário O Aborto dos Outros no MIS (Museu da Imagem e do Som) em Campinas-SP. O documentário mostra menina vítima de estupro, de 13 anos que aguarda no hospital os procedimentos para um aborto legal já autorizado. Ela passa por um constrangimento desnecessário ao ter que revelar detalhadamente a violência que sofreu. Grávida de seis meses, uma mulher casada concorda em interromper a gravidez a conselho médico, depois que exames constatam defeitos irreversíveis no feto, uma empregada doméstica que recorreu a um remédio para provocar o aborto teve hemorragia intensa, foi parar num hospital. Acabou denunciada e sendo algemada na cama, além de enfrentar um processo.
Ao abrir para discussão no MIS, foram feitas algumas colocações pelos participantes da atividade, tais como o fato de as mulheres pobres e trabalhadoras serem as mais que mais sofrem com a criminalização do aborto, pois não possuem condições financeiras de realizar aborto em uma clínica. Apontou-se no debate o número de mulheres brasileiras que realizam aborto em condições clandestinas (750 mil a 1 milhão/ano), sendo que 50% destes abortos são realizados por mulheres em seus lares, em péssimas condições de higiene (dados do Ministério da Saúde).
O direito à maternidade não é respeitado pelo Estado, quando não há acesso a saúde, educação e moradia com dignidade, porém este mesmo Estado penaliza as mulheres quando praticam o aborto. Além disso, foi colocado o momento político de uma ofensiva de setores “pró-vida”, prova disso foi a 3ª Marcha Nacional da Cidadania pela Vida, realizada em Brasília no último 30 de agosto e também o 2º Encontro Mundial em Defesa da Vida, que acontecerá em 2010, no Brasil, visto como um país exemplo no combate ao aborto. Apesar disto, militantes que defendem a legalização do aborto estão pressionando seus partidos a se colocarem a favor do direito das mulheres, pois estes partidos possuem figuras públicas contrárias à legalização.
Colocou-se também a importância de debatermos com a população que possui princípios religiosos e é contra o aborto por acreditar que se tratar de uma “alma perdida”. Neste caso, o que precisamos levar em consideração é a realidade concreta de nossa sociedade, devido à ocorrência de mortes por abortos clandestinos, do sofrimento quando o aborto é feito com agulhas de tricô e objetos que levam a hemorragia e dores intensas.
Além disso, levantou-se a questão dos papéis que são impostos à mulher em nossa sociedade como o de mãe, ou seja, a maternidade se configura como um dever e não como um direito. O papel de dona-de-casa e/ou esposa, que prepara tudo, lava, passa, cozinha para que o marido trabalhe fora e perpetue a sociedade capitalista. O papel de “mercadoria” com a exposição de seu corpo em propagandas da mídia, em geral. E por fim, a mulher que “adquiriu” o direito de trabalhar fora, mas que capitalismo se utilizou disto para maior exploração da classe trabalhadora, pois a mulher, em geral, acaba recebendo salários mais baixos do que os homens, além de ocupar os cargos mais precários, como os trabalhos terceirizados, telemarketing, etc... Por fim, o debate levantou a conclusão de que a superação do machismo somente ocorrerá com a superação do capitalismo, pois este faz com que a mulher seja oprimida e explorada.
Com isso, o grupo de mulheres Pão e Rosas convidou a todos os presentes na atividade dos MIS para participação do ato na Praça da Sé, dia 28 de setembro, que é o dia latino-americano e caribenho pelo direito ao aborto e demais atividades da Campanha latino-americana pelo direito ao aborto.
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