Há quase três meses se deu o golpe em Honduras e na última semana ganhou ainda mais peso a repressão ao povo hondurenho que segue resistindo bravamente. Com uma economia extremamente dependente do imperialismo dos Estados Unidos e aparecendo como o terceiro país mais pobre da América Latina, o país é cenário do primeiro golpe militar desde que se abriu a crise capitalista internacional.
O governo golpista de Micheletti está numa ofensiva direitista que expressa seu caráter pró-imperialista. Zelaya, até então presidente de Honduras, desagradava os setores mais reacionários da burguesia hondurenha ao aproximar-se dos governos de Hugo Chávez e Evo Morales, ao mesmo tempo em que fazia algumas concessões aos trabalhadores como um pequeno aumento salarial. O governo golpista apóia-se nas Forças Armadas que, por sua vez, tem relações com nada menos que o Pentágono. Micheletti conta ainda com o apoio do Poder Judiciário e Legislativo, além da própria Igreja.
Os golpes militares trazem à tona as ações mais brutais contra os trabalhadores e as massas. Para se ter uma idéia, somente nas cinco primeiras semanas após o golpe, registraram-se mais de mil casos de violação dos direitos humanos, incluindo estupros, torturas e assassinatos.
Enquanto isso, os Estados Unidos e a OEA lançaram uma política de negociação com os golpistas, o que permitiu que estes permanecessem no governo e fortalecessem suas posições. Enquanto todos os dias dezenas de milhares de pessoas tomam as ruas para resistir ao golpe, acumulam-se desaparecimentos, prisões, estupros e assassinatos, Zelaya atua com a política de negociação, apoiada também por Hugo Chávez e o bloco da ALBA, mantendo-se nos marcos da diplomacia internacional. Por isso nós dizemos com todas as nossas forças: que o sangue derramado não seja negociado! A saída deve se dar pela luta direta do povo hondurenho armado contra as forças de repressão e com uma forte greve geral até derrotar o governo golpista.
Jornal do Pão e Rosas - setembro de 2009
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Denunciamos ainda que não se pode ter nenhuma ilusão nas eleições convocadas para o final de novembro, tendo em vista que são eleições forjadas pelas mesmas mãos que prendem, torturam e matam o povo hondurenho. Por isso, é preciso boicotar ativamente essas eleições e repudiar enormemente qualquer tipo de desvio que a burguesia e o imperialismo tentem implementar. Os golpistas terão que ser punidos por todas as violações aos direitos humanos dos quais são responsáveis! E também somente a luta das massas hondurenhas poderá impor essa medida.
Em nosso último jornal, destacávamos o papel das mulheres na luta contra os golpistas. A frente Feministas em Resistência expressa o papel combativo que as mulheres vêm cumprindo, além de denunciar as atrocidades a que estão submetidas as hondurenhas frente ao golpe. Desde o Pão e Rosas da Argentina, Brasil e Chile, temos prestado nossa solidariedade às mulheres e ao povo hondurenho com ações nas embaixadas e campanhas internacionalistas. Entendemos que o golpe em Honduras é um fato que deve não apenas comover a população da América Latina, mas principalmente fazer mobilizar os trabalhadores, estudantes e a juventude em cada país, a partir de ações que devem ser convocadas prontamente pela esquerda, organizações políticas, sindicatos, movimentos feministas, organizações de direitos humanos, rompendo a rotina e fazendo concreta a afirmação: Honduras, escuta! Sua luta é nossa luta!
O governo Lula ganhou destaque no cenário internacional nesta semana, ao dar abrigo a Zelaya na embaixada brasileira em Honduras. Longe de uma defesa do povo hondurenho contra a repressão dos golpistas, a atitude de Lula vai no sentido de tentar forçar uma negociação com os golpistas e expressa ainda uma tentativa de que Lula se re-localize como mediador no continente, ao mesmo tempo em que neutraliza Chávez como liderança regional, já que o papel deste limitou-se a declarações defendendo a necessidade de negociação.
Sabendo da presença de Zelaya em Honduras, dezenas de milhares saíram às ruas novamente, dessa vez cercando a embaixada e enfrentando uma dura repressão da polícia e do exército. Calculam-se centenas de prisões e pelo menos 12 mortes. Após o anúncio do toque de recolher, a repressão deu um salto, que está sendo respondida com a resistência de milhares, formando barricadas para o enfrentamento. Os golpistas mostram sua ofensiva com prisões clandestinas, sendo que muitas das pessoas presas são retiradas de suas casas e hospitais. As casas estão sendo invadidas, nas ruas homens encapuzados e armados são figuras da repressão.
Por isso, saímos às ruas para dizer com todas as nossas forças: SOMOS TODAS HONDURENHAS! Pela derrota do golpe, estamos com a ação das massas hondurenhas e contra qualquer política de negociação com os golpistas. Coloquemos de pé uma ampla campanha de solidariedade internacional, em defesa dos trabalhadores, camponeses e setores populares de Honduras.
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