Dentro de importantes universidades estão surgindo denúncias de assédio sexual e estupros contra estudantes. São casos que acontecem há algum tempo, mas que contaram sempre com o silêncio ensurdecedor das Reitorias, da burocracia acadêmica, e muitas vezes com a impotência do movimento estudantil. Nas últimas semanas, duas estudantes da UNESP de Araraquara que sofreram assédio sexual dentro da Moradia Estudantil do campus, resolveram soltar as suas vozes, buscar apoio entre os outros moradores e lutar pela expulsão do assediador. Vários estudantes se solidarizaram com a situação, se mobilizando com abaixo-assinados e cartazes por sua expulsão, o que resultou num fato ainda não apurado de incêndio criminoso no quarto das duas meninas.
Mas não podemos encarar esses casos como fatos isolados, ou então como “aberrações” dentro das universidades, pois estamos falando de universidades “de classe” que reproduzem as grandes contradições da sociedade de classe na qual vivemos, dentre elas a opressão da mulher. Todos os dias nos jornais lemos casos de assassinatos de mulheres sem motivo aparente, aumento da violência contra as mulheres por seus maridos e pela polícia, assim como casos de assédio moral e sexual contra as trabalhadoras, sobretudo as terceirizadas, sem falar nas mulheres hondurenhas estupradas todos os dias pela polícia do governo golpista. Dentro da universidade a violência contra a mulher também se expressa e não poderia ser diferente, já que possui uma estrutura de poder dominada por uma burocracia acadêmica e onde os estudantes não têm voz, com um conhecimento produzido para a classe dominante, e também como em São Paulo, com direções atreladas ao governo do Estado que constantemente vem atacando os trabalhadores.
Hoje, acreditamos que somente a mobilização independente dos estudantes buscando uma ampla frente-única pode dar resposta a esse problema. Isso porque se trata de reavivar o movimento estudantil da UNESP de Araraquara, colocando no centro de suas reivindicações a luta contra a opressão da mulher, entendendo que não se trata de um problema individual ou isolado, e que portanto necessita de uma forte organização das entidades estudantis, operárias e de mulheres, a começar pela recém fundada ANEL (Assembléia Nacional dos Estudantes – Livre) que em sua última assembléia votou por ampla campanha contra o assédio sexual nas moradias estudantis. Por isso gritamos: Todo apoio às duas estudantes de Araraquara! Abaixo o assédio sexual, as ameaças e incêndios na Moradia Estudantil! Pela expulsão imediata do assediador! Pela auto-organização independente dos estudantes em aliança com os professores e trabalhadores da universidade e da cidade! Por uma ampla campanha em todas as universidade contra a violência às mulheres!
*Diana Assunção é trabalhadora da USP e integrante do GT de Mulheres da Conlutas São Paulo; e Laís Tsuki é estudante da UNESP de Araraquara e integrante do grupo de mulheres Pão e Rosas.
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