segunda-feira, 25 de novembro de 2013

BASTA DE VIOLÊNCIA CONTRA AS MULHERES








DECLARAÇÃO DO GRUPO DE MULHERES PÃO E ROSAS SOBRE O DIA INTERNACIONAL DE COMBATE A VIOLÊNCIA À MULHER.

 A violência contra as mulheres é uma triste e revoltante realidade. O IPEA publicou uma pesquisa que afirma que em dez anos ocorreram 50 mil feminicídios (sem considerar o número de assassinato a travestis e transexuais) significando que a cada 1h30 uma mulher é assassinada, sendo a maioria jovens e negras. À cada 12 segundos uma mulher é estuprada, e graças aos acordos do Estado com as bancadas religiosas avançam para naturalizar o estupro através do Estatuto do Nascituro (Bolsa Estupro!), proibindo a realização do aborto nos casos onde este já era legalizado. Sem contar as milhares de mortas por abortos clandestinos todos os anos, que na sua maioria são negras, pobres e trabalhadoras, pois não podem pagar por uma clínica clandestina. E quando querem ser mães, o Estado, governos e patrões nos impedem de exercer plenamente o direito à maternidade, pois não garantem creches para nossos filhos, negam a licença maternidade e um sistema de saúde público, gratuito e de qualidade, somos exploradas nos locais de trabalho, através da precarização e terceirização, e angustiamos todos os dias esperando que nossos filhos e maridos voltem para casa seguros(ou ilesos) e não sejam mais uma vítima de agressão policial como Amarildo e Douglas barbaramente assassinados pela PM.

        As mulheres têm que se enquadrar no papel da “boa esposa, mãe e dona de casa” e quando não são, são classificadas como “putas”. Quando estupradas, somos questionadas sobre as vestimentas que usávamos. Somos violentadas nos locais de trabalho através dos assédios sexual e moral. Ainda somos as que temos nossos corpos mercantilizados, vítimas do trafico de mulheres e da prostituição.

        A realidade das mulheres lésbicas e trans também é ainda mais gritante no país mais homofóbico do mundo, onde não podem exercer livremente sua sexualidade e construção de gênero. São vários assassinatos, espancamento, mutilações sem registros ou estatísticas, e ataques da bancada reacionária, através da Comissão de Direitos Humanos que tenta aprovar projetos como o “Cura Gay”, enquanto seguimos com a identidade trans classificada como disforia de gênero.
 
        Em mais de dez anos de governo Petista, sendo os últimos quatro, com uma mulher a frente, não apenas não avançamos em nossos direitos, como a possibilidade do Estatuto do Nascituro, conhecido como Bolsa Estupro, nos faz caminhar pra trás na luta pelo direito ao aborto. O feminicidio, a precarização da vida, a transfobia que também é uma violência de gênero, a naturalização do estupro, são de inteira responsabilidade de um governo de promessas vazias que vendeu nossos direitos em troca de votos e acordos com setores mais conservadores do parlamento e se alia com os grandes capitalistas que precisam da opressão as mulheres para manter seus lucros.

        São diversas as formas de violência contra as mulheres sendo o feminicídio o extremo dessa cadeia que é perpetuada pela ideologia patriarcal e pelo sistema capitalista com sua moral burguesa e machista que faz das mulheres objetos sexuais e obrigadas a exercer uma sexualidade heteronormativa, sendo a reprodução da vida com trabalho doméstico e a maternidade um “destino natural”. A violência contra as mulheres é parte estruturante do capitalismo e divide a classe trabalhadora. Cada vez que uma mulher é violentada, estuprada e assassinada, a classe trabalhadora inteira dá um passo atrás na luta pela sua libertação e contra seus verdadeiros inimigos, a classe burguesa. A violência tida como doméstica, não pode ser encarada como algo do âmbito privado e sim social, que precisa ser combatida em sua raiz e não na luta entre as mulheres contra os homens.

        A lei Maria da Penha foi um avanço ao escancarar que a violência não é uma questão fechada entre quatro paredes e trouxe uma série de medidas de proteção estatal para as mulheres. Mas não podemos ter ilusões no Estado e na justiça burguesa, pois por mais progressista que sejam as leis, não são capazes de modificar esta realidade estrutural. Não foram poucas as vezes que Eliza Samúdio ou Mara Rúbia buscaram a delegacia de mulheres e foram ignoradas, humilhadas até serem silenciadas de vez. Não podemos confiar que a polícia que mata e reprime todos os dias é capaz de proteger as mulheres da violência.  A violência não é um problema individual somente nos organizando poderemos dar um basta à violência doméstica, psicológica e estatal que nos atinge!

        Discordamos das feministas governistas da Marcha Mundial de Mulheres (MMM), que exaltam a chegada de Dilma no poder, como o avanço nas leis e confiança no estado burguês levará à emancipação das mulheres. Falam de um mundo mais justo e democrático, mas é essa mesma democracia de Dilma em aliança com os empresários, a Igreja e a bancada reacionária, que mantém as tropas brasileiras no Haiti que reprimem e estupram as mulheres haitianas à serviço dos países imperialistas e se silenciam diante de tantas mortes por abortos clandestinos.  Também discordamos das companheiras do PSOL que tratam a questão da violência como uma mera questão de reivindicação de serviços estatais de denúncia e repressão aos agressores eficientes. E fazemos um debate sincero com as companheiras do PSTU, como fizemos no I Encontro Nacional do MML em outubro deste ano, que não podemos limitar a luta contra a violência as mulheres através da exigência ao governo Dilma pela ampliação e aplicação da lei Maria da Penha, levando à ilusão que essas leis bem aplicadas podem dar um basta à violência.
Tampouco que podemos ter ilusões nas instituições burguesas, reivindicando mais delegacias de mulher, uma vez, que as marchas de Junho que mudaram nosso país denunciavam o papel nefasto da polícia, a mais assassina do mundo, que torturou, matou e reprimiu greves.
Tomamos como exemplo não uma mulher no poder, mas as centenas de indianas que saíram as ruas organizadas para combater a violência e os estupros!

        A luta contra a violência as mulheres deve ser tomada pelo conjunto da classe trabalhadora e juventude, através de suas organizações como o sindicatos, entidades estudantis e organizações de esquerda e contribuam para que homens e mulheres lutem juntos contra a opressão as mulheres e exploração e impulsionem uma campanha nacional ampla contra a violência as mulheres. E também tomem para a si a luta contra a homo-lesbo-transfobia!
       
Somos todas Mercia, Camile, Eloá, Eliza! Somos Kathalina Friedman, ativista transexual chilena, brutalmente espancada no dia 15 de novembro por dez indivíduos organizados na porta de sua casa! Somos Mara Rúbia que teve os olhos furados por apenas querer seguir sua vida longe “dele”! Somos tantas meninas e adolescentes vítimas do assédio sexual dentro das escolas cometidos pelos professores e alunos!
       


        Por uma campanha nacional contra a violência contra as mulheres impulsionada pelos sindicatos, organizações de esquerdas, entidades estudantis, grupos de mulheres e direitos humanos.
        Basta de mulheres mortas por abortos clandestinos! Abaixo à Bolsa Estupro! Aborto legal, seguro e gratuito!
        Basta de homofobia e assassinatos de TRANS* e lésbicas!
        Pela Livre Sexualidade e Construção de Identidade de Gênero!
        
Refúgio e casas transitórias para mulheres vítimas de violência e seus filhos e filhas, garantidos pelo Estado e sob controle das próprias vítimas, organizações de mulheres e trabalhadoras, com profissionais e sem a presença da polícia e da justiça burguesa. 
        Criação de comissões de mulheres, independentes dos patrões, que deem atenção aos casos de assédio sexual e trabalhista ou de casos de discriminação às trabalhadoras, avançando para uma verdadeira democracia operária onde @s trabalhador@s debatam e decidam inclusive os casos de punição.
        Subsídios de acordo com o custo de vida para as vítimas de violência que estejam desempregadas, acesso à moradia e trabalho para todas.
        Licenças remuneradas para as trabalhadoras que atravessam situações de violência, com acesso à saúde pago integralmente pela patronal.
         Exigimos prisão nos casos de estupro, mutilação e assassinato e confisco das grandes fortunas pois sabemos que muitos são empresários ligados ao tráfico de mulheres e redes de prostituição, para que seja revertido em mais investimentos para o combate a violência as mulheres, travestis 

domingo, 24 de novembro de 2013

JUSTIÇA PARA TODAS AS KATHALINAS! BASTA DE AGRESSÕES À TRAVESTIS!




Por Virginia Guitzel e Marie C,
 ativistas LGBTTI e militantes do Pão e Rosas e Juventude ÁS RUAS.


Na sexta-feira, dia 15 de Novembro, Kathalina Friedman, militante TRANS* do grupo de mulheres Pan y Rosas, ativista LGBTTI da agrupação A quemar el Closet e revolucionária do Partido dos Trabalhadores Revolucionários (PTR, organização irmã da LER-QI no Chile) foi brutalmente agredida por 10 homens (provavelmente organizados) à sua espera, na porta de casa. Com grandes lesões, traumatismo craniano leve e fratura nasal, foi encontrada pelos vizinhos, e levada ao hospital por militantes da agrupação Pan y Rosas, após o abandono pela polícia.

Numa das cidades mais conservadores do Chile, Antofagasta, ocorre mais um caso de agressão as travestis. Felizmente, dessa vez, não foi silenciado. Com fortes mobilizações e desde onde estamos impulsionando campanhas a nível internacional, faremos a voz de Kathalina ecoar a voz de milhares de travestis e transexuais mortas, torturadas, mutiladas todos os dias, pela polícia, por grupos nazifascistas, por seus companheiros ou por “clientes da prostituição”. Dar voz e nomes aos casos das travestis assassinadas em BH no começo de Setembro, as denuncias publicas de Luisa Marilac, da travesti de Guarulhos assassinada com 20 facadas no rosto e teve seu penis cortado e que nada se ouviu falar.
O caso de Kathalina Friedman não pode ser encarado apenas como mais um caso de transfobia, mas como um ataque político a uma referencia revolucionária que cotidianamente luta pelo fim do genocídio as mulheres trans*, pelo direito ao próprio corpo, pelo fim da herança da ditadura pinochetista e pela separação da igreja do Estado. Por isso enviamos nossa solidariedade a companheira e nos colocamos na linha de frente para colocar uma enorme campanha pela punição imediata desses covardes, e desde já abrindo um importante debate sobre o combate a violência as TRANS*. 

Para assinar o abaixo assinado envia teu nome para: panyrosastf@gmail.com
Acompanhe a luta apor Justiça para Katha http://justiciaparakatha.wordpress.com


Violência as mulheres TRANS* também é violência de gênero.

Nesse dia 25 de Novembro, dia internacional do combate a violência da mulher, devemos levantar a bandeira das mulheres lésbicas, travestis e transexuais que frequentemente são omitidas pelas organizações de esquerda e movimentos feministas. A luta contra o machismo não se separa do combate intransigente a transfobia, homofobia e o racismo que atinge diretamente as mulheres negras e lésbicas.

O sistema capitalista que se apropria das opressões como maneira de aperfeiçoar sua dominação de classe, proíbe nossa livre construção de sexualidade e de identidade de gênero, pois organiza-se para o lucro, em busca de intensificar a exploração proibindo nosso livre desenvolvimento, utilizando-se da educação burguesa (ensinada nas escolas e produzida e reproduzida nas universidades) para naturalizar a heteronormatividade e as identidades  não TRANS* para assim criar “policiais” dentro da sociedade que combatam cotidianamente a liberdade sobre nossos próprios corpos e mentes.

Encarar a violência contra as TRANS* como parte da luta anticapitalista é a única maneira de encarar seriamente uma triste realidade social. A perspectiva de vida de nós travestis e transexuais permanece apenas de 35 anos. As causas de não envelhecermos são diversas: a perpetuação da visão de doença sobre nossa construção de gênero restringe nosso acesso a saúde, impondo a falta acompanhamento no uso de hormônios, o uso de silicone industriais, a exclusão escolar e a precarização do trabalho, quando escapamos da prostituição, o alto índice de doenças sexualmente transmissíveis pelas condições impostas pela prostituição, estupros e falta de acesso a preservativos, o ódio incentivado pelas bancadas religiosas desde o Parlamento (No Brasil, Marco Feliciano, Jair Bolsonaro, Silas Malafaia e tantos outros são símbolos da homofobia) e os ataques de grupos nazifascistas como os que cercaram covardemente Kathalina e tantas outras pelo país.

Nenhuma confiança no Estado e em suas instituições: Retomar Stone Wall.

O abandono da polícia para socorrer Kathalina Friedman não é uma surpresa para nenhum ativista LGBTTI, tampouco para a população negra que vive nas periferias cercada pelas UPPs, que sumiram com Amarildo e mataram Douglas Rodrigues, sem nem saber porque levou o tiro. A desconfiança nas forças armadas do Estado é parte de um instinto de sobrevivência. O combate a polícia, que não dissemina o preconceito, mas é o agente de milhares de mortes em todo o mundo, é parte da moral que resgatamos de Stone Wall.

A desconfiança na polícia nas massas travestis e transexuais é a base que temos que nos apoiar para evidenciar que tampouco outras instituições burguesas podem resolver a violência ou a marginalização que sofremos todos os dias. A lei Maria da Penha, há 7 anos implementada, demonstra como é insuficiente a batalha por leis como a PLC 122, que criminaliza a homofobia, pois a igualdade perante a lei, não significa a igual perante a vida, não a toa, todos os cidadãos possuem o mesmo direito “independente” se são donos de grandes propriedades ou se são trabalhadores precarizados. Essa “igualdade” é feita de papeis molhados da democracia dos ricos, que garante apenas ilusão e contenção das massas para que não lutem de fato pela transformação radical dessa sociedade.

Por isso, é preciso nos apoiar nos mais avançados exemplos do Movimento LGBTTI, desde as revoltas espontâneas como o caso de Stone Wall, quando em 1969, travestis e lésbicas lideraram a insurreição LGBTTI contra a polícia, prendendo os agentes do Estado capitalista dentro do bar que os LGBTTI frequentavam, colocando fogo e dizendo basta a repressão polícia homo-lesbo-trans-fobica que sofriam. Assim como a busca de grupos como FHAR (Frente Homossexual de Ação Revolucionária) na França e o grupo SOMOS que dividiu aguas no movimento LGBTTI brasileiro, ao se recusar a organizar um piquenique no Ibirapuera, em meio  ao acenso operário de 79, e se dirigiu a vila Euclides para apoiar a luta dos trabalhadores contra a ditadura, recebido por estes, com aplausos e assovios.

A necessidade da auto-organização: O papel dos sindicatos e entidades estudantis na luta contra a transfobia.

A única maneira de avançarmos de forma consequente no combate a violência é nos organizarmos na luta revolucionária por uma sociedade onde possamos ser plenos e nossa sexualidade e construção de identidade de gênero livres. Para isso, é necessário dar passos firmes para garantir nossa sobrevivência, segurança e fortalecer os organismos que podem retirar das mãos da burguesia e de seus aliados como a Igreja e os políticos corruptos o poder do Estado.

Nesse sentido, que nós desde o Pão e Rosas defendemos firmemente a necessidade da organização dos LGBTTI e de todos os setores oprimidos ligado a classe trabalhadora, retomando para si suas ferramentas políticas de organização, as entidades estudantis e os sindicatos para que possamos efetivamente propagandear cotidianamente a necessidade de forjar uma aliança de carne e osso entre os setores mais oprimidos da sociedade capitalista com a classe revolucionaria capaz de destruir o Estado capitalista e erguer um Estado operário, capaz de garantir as condições materiais para o fim de todas as opressões.

Somente constituindo desde já as bases para essa aliança, incentivando uma sensibilidade com os setores oprimidos no seio da classe trabalhadora, muitas vezes se enfrentando com os anos de hegemonia burguesa consolidados na propagando dos grandes meios de comunicação, do ensino burguês nas escolas e da reprodução em piadas, é que podemos avançar na luta dos setores oprimidos, rumo a revolução socialista.

 



INVESTIGAÇÃO E PUNIÇÃO JÁ! JUSTIÇA PARA KATHALINA FRIEDMAN! MAIS NENHUMA TRAVESTI AGREDIDA, MUTILADA OU ASSASSINADA!

POR COMISSÕES INDEPENDENTES DO ESTADO E DOS GOVERNOS, ORGANIZADAS POR MOVIMENTOS LGBTTI, DE MULHERES E NEGR@S JUNTO DAS ORGANIZAÇÕES DE ESQUERDA E DOS TRABALHADORES PARA INVESTIGAR E PUNIR OS AGRESSORES E ASSASSINOS!

QUE OS SINDICATOS E ENTIDADES ESTUDANTIS TOMEM PARA SI A BANDEIRA DOS SETORES OPRIMIDOS!

PELA SEPARAÇÃO DA IGREJA E DO ESTADO! BASTA DE ACORDOS E LEIS CONTRA OS LGBTTI, MULHERES E NEGR@S!

PELA LIVRE SEXUALIDADE E CONSTRUÇÃO DE GÊNERO!


segunda-feira, 11 de novembro de 2013

Contribuição LGBTTI para o Encontro de Trabalhador@s, Estudantes, Mulheres, Negr@s e LGTTBI!



Reproduzimos abaixo a Contribuição LGBTTI escrita por Virginia Guitzel e Gustavo Melo para o Encontro de Trabalhador@s, Estudantes, Mulheres, Negr@s e LGTTBI




A situação dos LGBTTI no Brasil e no mundo

O Brasil é considerado o país mais homofóbico do mundo, superando os 78 países que possuem essa opressão institucionalizada. Ainda neste triste cenário, a lesbianidade/transexualidade/homossexualidade são consideradas como um crime, que em pelo menos cinco países se aplica a pena de morte. Mesmo com todas as mentiras do governo de Lula e Dilma, que se diz um governo dxs trabalhadorxs e que defende os setores oprimidos, a homofobia cresceu 117% nos últimos sete anos. A ideia de “um governo para todos” se contradiz com a realidade que se tem de escolher entre Feliciano e os direitos básicos da população LGBTTI, como fizeram xs dirigentes do PT em nome de uma pretensa governabilidade, em 2012. E assim como o direito das mulheres - como a autodeterminação de seus corpos e a legalização e gratuidade do aborto para não morrer desamparadas; nossos direitos foram trocados por votos e alianças eleitorais. O Brasil do pleno emprego segue com os LGBTTI nos postos de trabalho mais precários em geral terceirizados – limpeza ou telemarketing[1] - e a maioria dxs TRANS* condenadxs à prostituição como única forma de sobrevivência[2].
Os ataques desde o governo, que se diz laico, mas segue com suas inescrupulosas alianças com a Igreja e setores conservadores, interferindo nas vidas e decisões pessoais principalmente das mulheres e LGBTTI; que cedeu 118 milhões para a vinda do Papa, e segue com acordos como o feito por Lula - Brasil-Vaticano, em 2008 - são inúmeros. Seu clímax foi a suspensão ao Kit Escola sem Homofobia que, mesmo com questionável qualidade, possibilitava pela primeira vez na história do Brasil materiais de fácil acesso e uso que problematizavam diversidade sexual e de gênero para as escolas. Outro exemplo do descaso do governo petista foi o silêncio frente à tentativa de aprovação do projeto da “Cura Gay”, exercendo um retrocesso de 22 anos, quando ainda se tinha o termo homossexualismo[3], relacionando a sexualidade homoafetiva com uma patologia, doença, e assim passível de cura pelxs psicólogxs – o que contraria os pareceres da maior representação dessa classe no Brasil, o Conselho Federal de Psicologia. Soma-se a este atentado aos Direitos Humanos o Estatuto do Nascituro (conhecido como “Bolsa Estupro”), projeto reacionário que institucionaliza a legitimação do estupro corretivo, uma vez que as mulheres não podem decidir sobre seu próprio corpo.
                Este ano, assistimos cenas bizarras do governo russo de repressão aos/ LGBTTI. Trata-se de uma expressão dos retrocessos do stalinismo no primeiro país a igualar perante o Estado heterossexuais e LGBTTI (1918); estes são aprofundados pela restauração capitalista ocorrida na Rússia. As leis “contra a propaganda” (leia-se contra o ativismo por igualdade) homossexual assim como os casos de tortura, assassinatos e opressão promovido por grupos de extrema direita são expressões de um governo de um ex-membro da KGB, órgão de espionagem que foi deixado pelo GPU, stalinista.

Os exemplos da luta LGBTTI e suas contradições.

                A década de 60 foi um boom na luta dos setores oprimidos. Mulheres, Negrxs e LGBTTI se organizavam, com diversos grupos, coletivos e partidos políticos na luta por sua emancipação. Alguns com estratégias reformistas, outros anticapitalistas, mas todxs partem da mesma realidade internacional: acirramento da luta de classes e grandes aberturas revolucionárias.  Desde a revolução de 1917, na Rússia, se abrira ideologicamente, mas também devido a decadência do próprio capitalismo, condições reais para uma revolução socialista internacional, dirigida pelxs trabalhadorxs.
Marcado nesse contexto de efervescência ideológica e acirramento das contradições de classe, surgi a Revolta de Stonewall, marcada pela ação radicalizada dos setores LGBTTI não organizados, que não abaixaram a cabeça para a repressão policial cotidiana em um bar de Nova York. Essxs lutadorxs levantaram-se e demonstraram a força e rebeldia que carregam. Foi a faísca que possibilitou a construção de diversos movimento pela liberdade sexual e de gênero e pela luta por direitos igualitários. Na França, anos depois, se consolidaria o FHAR (Frente Homossexual de Ação Revolucionária), que apontaria a necessidade da luta LGBTTI ser encarada a partir da luta de classes e da necessidade de uma aliança com xs trabalhadorxs para a emancipação de toda a humanidade.
Mesmo com algumas conquistas em determinados países, a democracia burguesa demonstrou que as leis e os direitos conquistados em anos de luta não são perenes. Muito pelo contrário, se mantém a medida que o Estado capitalista é capaz de sustentá-los e há motivos reais para conservá-los. Não é surpresa que, em meio a crise mundial que vivemos, os primeiros direitos a serem retirados sejam os dos setores oprimidos[4].
O movimento LGBTTI brasileiro, uma grande referência mundial, não está respondendo mais às bandeiras históricas dxs LGBTTI. A sua maior representação, a ABGLT, com mais de 270 ONGs filiadas, tornou-se uma instituição de gestão de migalhas do governo de Frente Popular. Não mobiliza mais as suas bases, exceto para eventos pontuais, como as Paradas do Orgulho LGBT. Estes eventos, por sua vez, perderam o seu potencial revolucionário frente a sua constante mercantilização, orquestrada pela burguesia do Pink Money. Futuramente, poderá avaliar-se qual o grau de contribuição da ABGLT para a manutenção da alienação da comunidade LGBTTI.
Assim, é necessária uma estratégia que supere os limites da democracia burguesa e do sistema capitalista, avançando na organização dxs LGBTTI juntxs com xs trabalhadorxs. Assim destruiremos paulatinamente este Estado, extinguindo as classes sociais e os pilares das opressões, construindo assim uma nova sociedade, livre de opressão e de toda forma de exploração.

Por movimento pela livre sexualidade e construção da identidade de gênero ligado à LUTA DE CLASSES!

É emergente refletirmos sobre qual estratégia pode levar a nossa emancipação, lançando a seguinte questão: qual organização xs LGBTTI necessitam para lutar?
É importante que o movimento LGBTTI se reorganize a nível nacional e internacional, a partir de uma compreensão por dentro da luta de classes. Em uma perspectiva de organização que vá contra a ideologia consolidada em anos de neoliberalismo, de que se deve lutar ou de forma autônoma - com grupos fragmentados, cada grupo pelas suas necessidades - ou de maneira individual, por vias legais e  burocráticas. Em alternativa à institucionalização vivenciada pelo movimento LGBTTI brasileiro, é preciso retomar uma reorganização desde a base ligada a movimentos de bairro, comitês de trabalhadorxs, estudantes, organizações de esquerda, sindicatos e entidades estudantis para que nossas bandeiras sejam levantadas pelas mãos do conjunto da classe trabalhadora.
Partindo de que a LGBTfobia é uma forma mais elaborada de controle de nossos corpos e mentes, ligado à dominação de classe, não podemos simplesmente lutar por inclusão num sistema estruturado de maneira heteronormativa e cisnormativa - onde os LGBTTI são “anormalidades”).
É preponderante que sejamos linha de frente pela construção de um Movimento Pela Livre Sexualidade e Construção de Identidade de Gênero, que lutemos desde o direito a adoção aos casais homoafetivos, a despatologização dxs TRANS* e o acesso à Saúde, Educação, Trabalho e Moradia de qualidade, sem discriminação. Ligado à luta anticapitalista, para que possamos avançar juntxs em nossa emancipação real. Por isso, queremos neste encontro de Trabalhadorxs, Estudantes, Mulheres, Negrxs e LGBTTI ser parte ativa na construção de uma aliança operário-estudantil e também ligada aos setores oprimidos para que façamos emergir uma força que faça a burguesia tremer! Retomarmos os exemplos do grupo SOMOS[5] no Brasil, que se direcionou ao Estádio na Vila Euclides para saudar as greves operárias do ABC para organizarmos Stonewall desde as ruas, nas universidades, nas escolas e nos locais de trabalho contra toda a forma de opressão que sofremos.
            Para nós, a luta LGBTTI é linha de frente para nossa emancipação sexual e de nossa identidade de gênero. A Revolução é uma condição para que realmente sejamos livres para decidirmos sobre nossos corpos e mentes. Desse modo, almejamos construir um movimento  em que estejam lado a lado homossexuais e heterossexuais, homens e mulheres cis junto de travestis, transexuais, homens-trans e intersex e todxs mais. Só assim poderemos lutar pela liberdade sexual e de identidade de gênero! Pois em um mundo tão tolido de liberdades e tão limitado de potencialidades, não a quem pudesse alcançar tal liberdade!

AS BI, AS GAY, AS TRAVA E AS SAPATÃO
TÃO TUDO ORGANIZADA PRA FAZER REVOLUÇÃO!



[1] É interessante a localização de sujeitos LGBTTI que não se encaixam na estética e comportamentos “heterossexuais” em nichos de mercado, especialmente no telemarketing – onde x atendente é objetificadx em sua voz – ou em áreas mais ligadas ao estereótipo feminino – como moda, higiene e vestuário e outros setores considerados extensões do ambiente doméstico. Essa concentração dxs LGBTTI soma-se a diversas opressões, relacionadas à heteronormatividade, cissexismo e machismo, moldando condições de trabalho que são precárias e exploradoras, tendo na ausência de amparo dessxs trabalhador pelas legislações trabalhistas vigentes o seu principal marco.
[2] Travestis e transexuais são as pessoas que mais sofrem com a marginalização de suas identidades de gênero. Segundo o Núcleo de Direitos Humanos e Cidadania LGBT da UFMG (2013), 90 % dxs travestis e transexuais residentes em Belo Horizonte, capital de Minas Gerais, já passaram pela prostituição ou nela ainda estão para poderem pagar suas contas.
[3] Até 1979, a Organização Mundial de Saúde considerava a lesbianidade/homossexualidade como transtornos psíquicos e comportamentais, e eram codificadas como doenças. Fruto da pressão do movimento LGBTTI norte-americano e europeu, que tem como marco a Revolta de Stonewall, xs conselheirxs da OMS retiraram o CID – Códico Internacional de Doenças – relacionada à homoafetividade/homoerotismo, legitimando a alcunha “homossexualidade” – sem o sufixo “ismo”, relacionado à doença.
[4] Frente à crise econômica de 2008 e seus impactos na economia brasileira, em 2011 o governo petista cortou 300 milhões de reais do orçamento destinado ao combate ao machismo e homofobia, centralizados na Secretaria Nacional de Direitos Humanos da Presidência da República.
[5] Fundado em maio de 1978, o SOMOS – Grupo de Afirmação Homossexual foi a primeira organização LGBTTI do Brasil, marcando a primeira onda desse movimento no país. Composto inicialmente por mais de 20 pessoas, dentre sociais democratas até trostkistas, surgiram em resposta aos impactos de Stonewall e a efervescência político-sindical brasileira, que teve seu auge nos anos 80. Em 1979, no Dia dx Trabalhador, organizações sindicais do ABC paulista organizaram um grande ato no Estádio na Vila Euclides, com mais de 80 mil pessoas. Metade do SOMOS, composto por trabalhadorxs que estavam envolvidos nesse Ascenso sindical, propôs fazer uma intervenção nesse importante ato, o que foi rechaçada pela outra metade, por conta do medo da homofobia dxs trabalhadorxs presentes. Enquanto uma metade foi fazer piquinique, a outra partiu para o estádio, com faixas e dizeres que denunciavam a homofobia na sociedade e a solidariedade com a luta dxs trabalhadorxs. A resposta dxs presentes foi uma salva de palmas que emociona até hoje xs lutadorxs que vivenciaram essa importante aliança.