sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010

Nós, mulheres do Pão e Rosas, saímos nas ruas mais uma vez para gritar em alto em bom som Fora as tropas brasileiras de Lula no Haiti!

No último 25 de fevereiro, nós, mulheres do Pão e Rosas, construímos junto com as/os companheiras/os da Ler-QI, do Movimento A Plenos Pulmões e independentes mais um ato em frente ao consulado haitiano, na Av. Paulista.
Mais uma vez denunciamos que as tropas da ONU lideradas por Lula, que ocupam o Haiti há quase 6 anos, não ajudam na reconstrução deste país com suas violações às mulheres e crianças e sua truculenta repressão aos trabalhadores, estudantes e organizações haitianos que se rebelam contra a miséria e exploração imperialista, além de impedirem a organização do povo haitiano para tomar em suas mãos o rumo de seu país.
O povo haitiano tem mais de dois séculos de uma brava história de resistência e luta por liberdade. A maior solidariedade que podemos ter é exigir que Lula retire imediatamente as tropas brasileiras do Haiti, junto com toda a Minustah (Missão das Nações Unidas para Estabilização do Haiti). Os haitianos devem ter independência para se organizarem e distribuírem a ajuda que chega ao país, como já o fazem as mulheres haitianas. Que os países mandem comida, remédios, médicos, engenheiros e não militares.
Chamamos todas as mulheres combativas e organizações classistas e anti-governistas a construir de fato uma Campanha ativa de denúncia e solidariedade. Para dar seqüência à campanha faremos neste fim de semana e ao longo da semana que vem diversos atos-debates sobre o Haiti em São Paulo e no interior.

quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010

O papel da mulher na universidade

Venha conhecer o grupo de mulheres Pão e Rosas!
26/02, sexta
às 11h
Reunião de apresentação do Pão e Rosas.
Com: Bruna, formada em Serviço Social e militante do Pão e Rosas da Unesp de Franca; Jeniffer, estudante de Ciências Sociais da Fundação Santo André e militante doPão e Rosas do ABC.

às 18h
Reunião de apresentação do Pão e Rosas.
Com: Diana Assunção, trabalhadora da USP e militante do Pão e Rosas da USP; Aline, mestranda da Fundação Santo André e militante do Pão e Rosas do ABC; Babi, estudante de Biologia da Unesp de Rio Claro e militante do Pão e Rosas da Unesp.

No Centro Acadêmico de Serviço Social (CASS) da PUC-SP
Rua Monte Alegre, 90 - Perdizes.

segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

Haiti: Pelo retorno imediato das tropas brasileiras de Lula! ATO 25/fev (qui) às 18h na Av. Paulista

ATO em frente ao Consulado do Haiti
25/fev (qui) às 18h
(Av. Paulista, 1499 - SP)
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BASTA DE REPRESSÃO AO POVO HAITIANO!
Pelo retorno imediato das tropas brasileiras de Lula!
Fora as tropas da ONU e dos Estados Unidos!
Solidariedade operária e popular ao povo haitiano!

E NO DOMINGO, dia 28/fev

Ato-debate às 14h

. Prof. Dr. Adilson José Gonçalves
(Comitê Pró-Haiti)

. Mara Onijá
(Pão e Rosas e LER-QI)

. Milton Barbosa
(MNU - Movimento Negro Unificado)

. Prof. Dr. Omar Ribeiro Thomaz
(Professor da Unicamp que estava
no Haiti no dia do terremoto)

. Otávio Calegari
(PSTU, estudante da Unicamp que
estava no Haiti no dia do terremoto)

às 18h - logo após o Ato-debate

JORNADA CULTURAL COM

Ballet Afro Koteban
Conde Favela
Mara Onijá
QI Alforria
Zinho Trindade


na Casa Socialista Karl Marx
Praça Américo Jacomino, 49
em frente ao metrô Vila Madalena

Contribua na entrada com
R$ 5,00 para enviar ao Haiti.


Organização:
LER-QI, APP e Pão e Rosas

Somos as negras do Haiti | Fora as tropas brasileiras de Lula! Fora as tropas da ONU e dos Estados Unidos!

Boletim Especial Calourada 2010
Fora as tropas brasileiras de Lula!
Fora as tropas da ONU e dos Estados Unidos!

O Haiti, um dos países mais miseráveis do mundo, atualmente é cenário de uma grande tragédia causada por um forte terremoto que atingiu o local com conseqüências catastróficas. O envio de soldados pelo Brasil e EUA é apresentado como uma suposta “ajuda humanitária”, porém, nós do grupo de mulheres Pão e Rosas, iniciamos no ano passado uma campanha chamada Somos as negras do Haiti, denunciando o verdadeiro papel das tropas da ONU, comandadas há quase seis anos pelo exército brasileiro de Lula. Passado um mês do terremoto, reafirmamos a necessidade de colocar de pé uma ampla campanha pela retirada imediata de todas as tropas presentes no Haiti, que têm significado cada vez mais repressão ao povo haitiano.

Muito se fala sobre a miséria neste país, porém, pouco é questionado a respeito de suas origens. Alguns, respaldados pela mídia, atribuem a situação do Haiti à incapacidade dos haitianos de se organizarem, colocando-os como um povo atrasado e selvagem. Mas ao buscarmos os aspectos históricos do Haiti encontraremos uma colônia francesa, escravista e explorada, a qual rendia grandes lucros à metrópole com sua larga produção de açúcar. Colônia esta, a primeira da América Latina, em 1804, a se tornar independente por meio do triunfo de uma revolução dos negros escravizados, abolindo a escravidão e estabelecendo uma república negra. Uma grande história de luta capaz de aterrorizar as nações escravocratas que passaram a temer acontecimentos semelhantes. Ao contrário do que nos faz crer a mídia, os haitianos lutaram, se organizaram e derrotaram exércitos poderosos desafiando as grandes potências da época e, justamente por isso, para que seu valioso exemplo não fosse seguido pelos demais povos explorados, sua história foi silenciada e seu grito de libertação, sufocado!

Mas o povo haitiano não se calou. Diante de tais condições desumanas de vida, organizaram diversos protestos que se intensificaram ao longo dos anos. Isto fez com que os EUA e, logo em seguida a ONU, enviassem tropas militares ao país supostamente a fim de manter a ordem “democrática” e garantir os direitos humanos. Sob este pretexto, as tropas armadas da ONU, lideradas pelo Brasil, em operação denominada MINUSTAH, seguem reprimindo, assassinando manifestantes e cometendo abusos grotescos contra a população haitiana. Afinal, sua real missão não é “de paz”, como é chamada, mas sim, cumpre a suja missão de ocupar o país, controlar uma população que vive sob condições miseráveis e, desse modo, garantir a continuação da exploração imperialista.

Sob este clima de opressão e violência vivem as mulheres haitianas, as maiores vítimas dessa ocupação. Condenadas pela pobreza e pela falta de recursos, na maioria das vezes chefes de família, chegam a fazer bolachas de barro para alimentar a si e a seus filhos. Submetidas às mais perversas violências, elas perdem seus maridos e filhos assassinados pelas tropas, quando não são elas mesmas assassinadas, além de violentadas sexualmente muitas vezes pelos próprios soldados da dita “missão de paz”, havendo inúmeras denúncias a respeito de violência sexual contra mulheres e crianças, somando, em 2006, conforme dados recentes, 35 mil mulheres e crianças, em idade entre 3 a 65 anos, violadas em dois anos. Além disso, há denúncias de redes de tráfico de mulheres e crianças e prostituição forçada em troca de moradia e alimentos. Amparadas pela impunidade por serem estrangeiras, as “forças humanitárias” seguem seus abusos sem serem punidas, acobertadas pela mídia que se omite ante os fatos, e pela própria ONU, apesar das várias denúncias de violação contra os direitos humanos.

Diante de tanto abuso e impunidade, é um crime permanecermos calados, assistindo em silêncio o massacre e o esquecimento de um povo, permitindo dessa forma que seus algozes saiam como heróis! Enquanto agrupação de mulheres, nós do Pão e Rosas, viemos não apenas declarar nossa solidariedade ao povo haitiano, mas também denunciar em alto e bom som o papel do imperialismo e das tropas, divulgar a realidade da Haiti, de suas mulheres e mostrar o processo histórico que forjou a atual situação de extrema pobreza no país.

Por tudo isso, nós do Pão e Rosas lançamos uma declaração internacional de mulheres e feministas exigindo a retirada das tropas e que os recursos recebidos sejam controlados pelas organizações operárias, populares, de mulheres, etc. A declaração já recebeu cerca de 200 adesões de 14 países da América Latina e Caribe, de agrupações e ativistas. Há poucos dias, nossa companheira Sofia Yáñez, enviada especial do Pan y Rosas México, chegou ao Haiti reafirmando: “Continuemos levantando a voz, porque as tropas têm que ir embora".

Em alguns dias, as mulheres sairão às ruas em referência ao 8 de março, Dia Internacional da Mulher. Fazemos um chamado às organizações do movimento de mulheres, feministas, às organizações da esquerda e do movimento negro a fazer desse 8 de março um dia para sair às ruas em defesa das mulheres haitianas, dizendo em alto e bom som: Basta de violência contra as mulheres e o povo haitiano! Pela retirada imediata de todas as tropas! Fora as tropas de Lula! Fora as tropas da ONU e dos EUA!

Exigimos não só nosso direito ao Pão, mas também às Rosas!

Boletim Especial Calourada 2010
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O Pão e Rosas é um grupo de mulheres que atua em vários países da América Latina. Nosso nome é uma referência às operárias têxteis que organizaram uma greve nos EUA no início do século XX e que afirmavam: “Não pedimos, exigimos, nosso direito ao pão, mas também às rosas”. Ou seja, exigimos não somente as condições básicas para nossa sobrevivência, mas também as condições para uma vida plena. Embora a opressão às mulheres não tenha surgido com o capitalismo, este soube utilizar-se da dominação patriarcal, combinando opressão e exploração com suas marcas mais brutais. Por isso, nos organizamos ligando a luta pelos direitos das mulheres à luta pelo fim de toda exploração que esse sistema nos impõe. Reunimos estudantes, trabalhadoras, donas de casa. Em sua universidade, você pode conhecer e fazer parte do Pão e Rosas.
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Ao contrário do que muitos pensam, o machismo, a homofobia e o racismo também se expressam nas universidades. Estas, tidas como espaço privilegiado de reflexão e pensamento crítico, são muitas vezes palco de casos absurdos de preconceito, opressão e violência. São inúmeros os casos de violência que vivenciamos cotidianamente, como assédios sexuais dentro das moradias estudantis, estupros dentro dos campi, além dos casos de assédio moral contra trabalhadoras, estudantes e professoras. Como se não bastasse, sabemos das distintas formas de violência e opressão contidas nos trotes com as estudantes recém chegadas, desde desfiles e concursos, até chantagens ou violência física, moral ou sexual.

Acreditamos que todas essa formas de opressão que sofrem as mulheres hoje, são sustentadas por um sistema que tem como principais alicerces a exploração e o lucro, o que se expressa por exemplo, na entrada de fundações privadas nas universidades federais e estaduais, determinando as pesquisas a serem feitas, voltadas aos seus próprios interesses mercadológicos e não aos interesses da população. E embora seja essa mesma população quem pague pela universidade com seus impostos, sabemos que ela não está dentro delas. Tamanho são o elitismo e o racismo existentes nas universidades públicas, que só são permitidos que negras/os e pobres entrem para limpar o chão, fazer vigilâncias, e servir em bandejões, com salários rebaixadíssimos e nenhum direito garantido, seja trabalhista, seja de liberdade de se organizar e fazer greve. A terceirização na universidade, como diz a campanha que hoje impulsionamos, escraviza, humilha e divide os trabalhadores.
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É preciso lutarmos contra essa estrutura nada democrática da universidade, de modo que saibamos compreender as origens históricas dos problemas da universidade, enquanto reflexos das contradições mais gerais de nossa sociedade, dividida em classes! Se partirmos desse entendimento, a conseqüência política direta é que a luta do movimento estudantil em geral, não pode se fechar em si mesma. Ela deve necessariamente saltar os muros das universidades e ganhar as ruas, onde encontraremos nossos principais aliados: a classe trabalhadora, o povo pobre e seus setores mais explorados e oprimidos. Além disso, esses setores, para serem conseqüentes com suas próprias lutas, têm que se enfrentar com os projetos dos governos municipais, estaduais e federal, no que tange tanto à saúde, quanto à moradia, ao transporte, aos direitos trabalhistas, à educação, etc.

Por trás de sua simpatia e retórica populista, o presidente Lula possui seus interesses diretamente entrelaçados com a burguesia e o imperialismo, e prova disso são suas reformas do ensino, sindical, previdenciária, seus bilhões injetados nos bancos durante a crise econômica mundial (enquanto milhares morrem de fome) e por fim, suas tropas liderando um verdadeiro massacre no Haiti. Nessa democracia dos ricos, vemos a população sofrendo com o descaso por parte dos governantes durante as enchentes, assim como o povo sendo brutalmente assassinado pela polícia nos morros e favelas durante as supostas operações “contra o tráfico e a violência”.
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É por tudo isso que nós, mulheres do Pão e Rosas, queremos lutar contra todas essas formas de opressão, de modo que tenhamos em mente quem são nossos verdadeiros inimigos! Para isso, nossas forças necessitam ser multiplicadas, e as estudantes recém chegadas no espaço universitário têm um grande papel a cumprir nesse processo. Venha conhecer o Pão e Rosas!

Venha repudiar conosco contra todas as formas de violência contra as mulheres!!! No dia 6 de março, em referência ao 8 de março, Dia Internacional da Mulher, daremos o primeiro passo das inúmeras lutas que teremos durante o ano de 2010, e precisamos de você, mulher estudante, trabalhadora, oprimida e explorada!!! Nesse dia, venha fazer parte do bloco classista e anti-imperialista do Pão e Rosas e da LER-QI no ato da Conlutas, gritandoBasta de violência contra as mulheres!!! Fora as tropas de Lula, dos EUA e da ONU no Haiti!!! Que o povo haitiano possa decidir o rumo de seu país!!!”

sábado, 20 de fevereiro de 2010

PÃO E ROSAS NO HAITI e na Mídia: Crônicas de um país com cheiro de morte

Como parte da campanha que o Pão e Rosas vem desenvolvendo em diferentes países da América Latina e Caribe em solidariedade às mulheres e ao povo pobre e trabalhador do Haiti, Sofía Yañez do Pan y Rosas México, viajou à ilha caribenha com a colaboração do Pão e Rosas da Argentina, Brasil, Chile e Bolívia.
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Esta reportagem foi também publicada em pela agência CIMAC, com o título "Destacado papel das mulheres nos acampamentos haitianos".

Por SOFÍA YAÑES, enviada especial do Pan y Rosas- México
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A pouco mais de um mês do terremoto que sacudiu o Haiti, as deploráveis condições de vida das quais padecem os habitantes de Leogane não deixam dúvidas de que as penúrias aqui vêm de muito antes do dia 12 de Janeiro. Tudo o que foi dito ou escrito fica pequeno diante da impressionante realidade.

Na visita que fizemos junto a uma brigada médica em comunidades como a de Petit Rivière, se observa que a maioria da população são mulheres que chegam com seus filhos e filhas nos braços em busca de consulta médica, muitas delas com infecções vaginais e problemas gastrointestinais de seus filhos, devido à má qualidade da água e contaminação ambiental.
Aqui existem vários acampamentos dos que se consideram “pequenos”, reúnem cerca de sessenta famílias, e são organizados pelos próprios habitantes, onde a ajuda oficial simplesmente não chegou. Neles também o papel das mulheres é importante.

Joseph e Guetty, dirigentes locais, pertencentes à organização Grupo Ecológico pelo Desenvolvimento Sustentável do Haiti (Groupe Ecologique pour le Developement Durable en Haiti - GEDDH), falaram do descontentamento que existe com o governo pela falta de agilidade na ajuda. Não há escolas e as meninas e meninos que estudam devem viajar quatro horas até a mais próxima. Também não há hospitais. Em outra brigada, dirigida a três orfanatos para a divisão de fraldas e alimentos para bebês, pode-se constatar que, ainda que a ajuda quase não tenha chegado e as necessidades sejam muitas, a distribuição é absolutamente ordenada, pois quem a garante é a própria comunidade. Os voluntários participantes desta ação asseguram que decidiram fazê-la sem militares, pois eles “espantam a população com suas armas e tanques”. Isto, sem dúvida, é a clara demonstração de que os supostos distúrbios nas entregas da ajuda são causados justamente pela presença militar.

Em todo lugar se vê a miséria acompanhada da destruição que o terremoto provocou. Pessoas vivendo literalmente nas ruas, improvisando casas nos lugares mais insalubres. Um mercado que se instala temporariamente em um prédio que parece ter sido um depósito de lixo, se converteu em um dos poucos lugares onde a população pode encontrar comida e, ao mesmo tempo, se transformou em um lar para as mulheres grávidas.

Descontentamento com a presença militar

Em Puerto Príncipe só estivemos por algumas horas. Aqui toda a cidade cheira mal. Entre a sujeira, os escombros que estão sobre as ruas e o chamado “odor da morte”, a cidade se movimenta como se fosse possível a “normalidade”.
Os maiores acampamentos que se encontram aqui são também os mais vigiados pelos militares. Se diz que, de conjunto, mais de um milhão de pessoas estão vivendo em barracas em todo Haiti, em ruas e parques... Quase não há lojas pois estão destruídas e as poucas que se mantêm em pé estiveram fechadas em função dos dias de luto. Nas ruas, em muros semi-derrubados, se vê pichações eleitorais e de protesto, mas dizem que elas já existiam antes do terremoto. Muitas contra Aristide e algumas contra Preval.
O constante fluxo de caminhões, jeeps e tanques militares complementam o panorama que se assemelha ao pós-guerra. Nas ruas, até os soldados que organizam o trânsito estão armados e muitos deles fazem tudo sem tirar o dedo do gatilho.

Ainda que não tenha tido nenhum relato de grandes mobilizações de protesto ao chegarmos a um mês do terremoto, o descontentamento com a presença militar é generalizado. Isto é, sem dúvida, o que motiva as exageradas ações de controle por parte do governo e dos exércitos estrangeiros, situação que nos próximos dias poderia gerar novos levantes populares de um povo que historicamente se caracteriza pela luta incansável por seus direitos.
*Traduzido por Bruna Bastos

quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

PÃO E ROSAS NO HAITI: “Ninguém melhor que as próprias comunidades para determinar quais são suas necessidades e quais suas prioridades”

Por Sofía Yáñez, enviada especial do Pan y Rosas - México

Como parte da campanha que o Pão e Rosas vêm desenvolvendo em distintos países da América Latina e no Caribe, em solidariedade com as mulheres e o povo pobre e trabalhador do Haiti, Sofía Yáñez do Pan y Rosas – México viajou para a ilha caribenha, com a colaboração do Pão e Rosas da Argentina, Brasil, Chile e Bolivia.
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(Léogâne, Haiti) O hospital Cardenal Leger, localizado neste município, hospedou até alguns dias atrás o acampamento “Ajuda ao Haiti”, que durante as últimas semanas tem atendido mais de 3.500 pacientes por semana, oferecendo atenção médica, psicológica e social às comunidades da zona 3 de Léogâne.

Esta iniciativa está conformada por várias organizações, como o Coletivo Mujer y Salud da República Dominicana, e por dezenas de voluntários haitianos, dominicanos e estrangeiros, que têm se entregado a este trabalho com uma dedicação “que não se via em nenhum trabalho pago”, assinala em seu informe de trabalho Rafael Taveras, coordenador geral do acampamento.

Em um contexto onde a ajuda internacional para dezenas de comunidades empobrecidas flui de forma muito lenta, esta iniciativa tem encontrado a chave de seu funcionamento na organização do próprio povo haitiano, sem necessidade do controle militar.

Começou com a visita a umas 15 comunidades da zona, e estabeleceu vínculos com organizações e líderes locais para organizar clínicas móveis e distribuição de alimentos.
"Estamos reforçando as redes sociais onde existem ou promovendo sua formação onde não existem. Ninguém melhor que as próprias comunidades para determinar quais são suas necessidades e quais suas prioridades. Não somos nós, os estrangeiros, que vamos decidir por eles. Eles deverão tomar suas decisões e a nós, cabe apoiá-los e acompanhá-los durante o processo”, afirma Rafael Taveras.
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As crianças de Léogâne, uns dos principias afetados
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No Haiti, a metade da população são crianças e jovens. Por isso são maioria no número de mais afetados: maior quantidade de mortos, feridos ou mutilados, órfãos …

Por este motivo, a "Ajuda ao Haiti" tem focado boa parte de seus esforços neste setor da população, privilegiando as consultas pediátricas e oferecendo também apoio emocional e lúdico. Além disso, tem se dirigido diretamente a orfanatos.

Gesner Cledo, um jovem encarregado de atender mais de 40 órfãos em Léogâne, acompanha regularmente o acampamento também em busca de ajuda para seu orfanato. Antes do terremoto as condições para mantê-lo eram quase impossíveis. Hoje, apesar de que o panorama continua difícil, através do acampamento tem conseguido um pouco de ajuda também para outras crianças de sua comunidade.

Mesmo que o acampamento mude sua localização, seguirá trabalhando como até agora, dentro do mesmo município de Léogâne. A organização independente de cada setor das comunidades haitianas, sem dúvida, pode ser seu melhor aporte.

terça-feira, 16 de fevereiro de 2010

Um mês do terremoto no Haiti: o grupo de mulheres Pão e Rosas não se esquece!

Na última semana, nós do Pão e Rosas saímos às ruas para deixar nas paredes de Santo André, Campinas e Araraquara nossos cartazes em solidariedade às mulheres e ao povo haitiano. Na sexta feira, dia 12/02, completou-se um mês do terremoto no Haiti, uma catástrofe natural com conseqüências ainda mais brutais pelo fato de ser o Haiti uma semicolônia há séculos oprimida por países como França e Estados Unidos.
Mara Onijá, do Pão e Rosas ABC, declarou que "esses cartazes têm por objetivo alertar os trabalhadores e a população do ABC de que as tropas brasileiras, que estão no Haiti há quase seis anos, ao contrário de ajudar o povo haitiano, comprem o papel de reprimir e garantir a ´ordem´ desejada pelo imperialismo".

Rita Frau, do Pão e Rosas Campinas, lembrou que "a campanha Somos as negras do Haiti coloca-se ao lado de cada mulher haitiana que perdeu seus filhos e parentes no terremoto, enquanto as tropas salvavam os hóspedes dos hotéis de luxo. Estamos aqui pelas mulheres e meninas negras que são estupradas por essas mesmas tropas, enquanto o governo Lula faz demagogia com essa história de missão de paz e ajuda humanitária".

Ane Fernandes, do Pão e Rosas Araraquara sobre 1 mês do terremoto no Haiti diz que "A cada semana que passa, não só do terremoto, mas desde a entrada das tropas brasileiras no Haiti, se mostra cada vez mais necessário a mobilização e organização contra a opressão de mulheres, negros e negras, trabalhadores e trabalhadoras, pois essa grande demagogia de envio de tropas não resulta em nenhuma salvação de nenhum povo, só em assassinato, estupro e exploração. Os cartazes são uma forma de atingir a classe trabalhadora para se levantar e dizer Chega! Fora as tropas dos EUA e da ONU do Haiti! Fora as tropas brasileiras enviadas por Lula que comandam a MINUSTAH!

Leve a campanha Somos as negras do Haiti para sua escola, trabalho, faculdade, bairro. Entre em contato conosco: paoerosasbr@gmail.com

domingo, 14 de fevereiro de 2010

"Me sinto mais guerreira hoje, porque sei, que não estou só"

Publicamos abaixo o depoimento de uma companheira de São Paulo, trabalhadora do telemarketing e estudante de uma universidade privada. O Pão e Rosas tem um espaço que é seu. Mande seu depoimento, texto, comentário, denúncia, relato, entrevista, poema para o email paoerosasbr@gmail.com
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Logo que cheguei no Pão e Rosas fiquei me perguntando o que eu estou fazendo aqui, o que estas mulheres tem em comum comigo, na hora nada me veio a mente, mas depois analisando atitudes e palavras das companheiras, consegui entender que o que elas tinham em comum comigo era algo muito importante, assim como eu elas eram MULHERES, cada uma com seus mundo suas particularidades e suas essencias únicas mas todas elas unidas num unico propósito que é o de se declarar mulher de verdade, livrando-se de quaisquer preconceitos e acolhendo a cada uma com amor, no semblante de cada uma reconheci guerreiras. Mulheres de garra e coragem por deixarem a sua particularidade para abraçar uma causa negligenciada, a situação da mulher no mundo.
Obrigada Companheiras do Pão e Rosas me sinto mais guerreira hoje, porque sei, que não estou só.

Roberta, Pão e Rosas - SP

quinta-feira, 11 de fevereiro de 2010

PÃO E ROSAS NO HAITI: “Continuemos levantando a voz, porque as tropas têm que ir embora”

Como parte da campanha que o Pão e Rosas vem desenvolvendo em distintos países da América Latina e do Caribe, em solidariedade com as mulheres e o povo pobre e trabalhador do Haiti, nós do Pan y Rosas México decidimos viajar para a Ilha de Espanhola (Haiti e República Dominicana), com a colaboração de nossas companheiras da Argentina, Brasil, Chile e Bolívia. Recém chegando na República Dominicana, onde acompanharei as ações do acampamento feminista na fronteira com o Haiti e as viagens solidárias à cidade de Leogane à 17 km de Porto Príncipe, me encontrei com Julio Garcia, voluntário do acampamento de jovens dominicanos e haitianos Kiskeya Action e com Mirla Hernández, feminista lésbica autônoma, que rapidamente me apresentaram um panorama da situação do país vizinho. Por Sofía Yañez, enviada especial do Pan y Rosas (México)

Julio denuncia a corrupção e a demora na qual se vê envolta a ajuda humanitária, e assegura que quando fizer um mês do terremoto haverão “mobilizações massivas contra a ineficiência do Estado haitiano, uma ineficiência que sempre existiu, mas que agora é mais evidente. As organizações têm mantido o fluxo da ajuda, mas ocorreram muitos entraves provocados tanto pelo Estado haitiano como pelas ONG’s, ou seja, a ajuda tem que passar por muitos ‘controles’. Tem muita corrupção e roubo. Aqui, na República Dominicana, por exemplo, foi perdido um dos contêineres”. Claro que estes fatos não são os que vêm à tona nos grandes meios de comunicação. Mirla agrega: “Soubemos de algumas mobilizações de pessoas que estavam protestando para que a ajuda seja distribuída; mas, levando em consideração como se manipulam os meios de comunicação, isso não noticiaram”.

Julio, comenta que no acampamento dos jovens dominicanos e haitianos no qual ele colabora, ajudam mais de duas mil pessoas, mas que o ritmo no qual essa ajuda chega foi reduzido. Onde está, então, tudo aquilo que chega na ilha? Ele não hesita em responsabilizar os comandos militares por estocar e distribuir a ajuda a seu bel-prazer. “Todos os grandes carregamentos os militares estão controlando: a comida, a água, o controle da construção de mercados ... tudo!” E também denuncia os operativos montados pelas tropas norte-americanas: “Em nosso acampamento, vimos que, para ‘entregar ajuda’, se realizou um deslocamento militar parecido com as escoltas de Obama, iam três caminhões Hummer, cada um com umas seis pessoas, todos fortemente armados e um posicionamento territorial espetacular para criar um ambiente de hostilidade, de guerra. Para quê? Para um povo faminto?”

Mas não somente as tropas que ocupam militarmente o Haiti são repudiadas por Julio e Mirla, mas também as organizações que vem lucrar com a tragédia. Mirla diz que “muitas organizações vem fazer mérito para ganhar patrocínios; somente para isso. E depois, com os investimentos obtidos, dedicar-se a viver bem, a custa de dizer ‘ajudamos haitianos’. Quando a alternativa deve ser que sejam eles [o povo haitiano] os que decidam, os que levantem seu país. Com nossa ajuda, mas eles tomando o comando”. Julio agrega que, “além disso, estas organizações repetem o discurso que foi algo ‘natural’, quando todos sabemos que as conseqüências – disse referindo-se ao terremoto – são produto da pobreza que já havia no país. Esta catástrofe não teria as mesmas conseqüências nem sequer aqui, na República Dominicana. O cúmulo é que têm crianças que estão morrendo desidratados, quando muita ajuda que chega é água...”.

Antes de nos despedir, perguntamos o que opinam da campanha que o Pão e Rosas lançou e Mirla no responde: “Primeiro, quero dizer que precisamos do Pão e Rosas nesta parte do Caribe. A iniciativa – disse, se referindo à declaração unitária na qual ela também aderiu – me parece muito boa, para que sigamos denunciando e levantando a voz, para que os capitalistas e as empresas que, historicamente têm saqueado o Haiti, sejam as que se responsabilizem. E que seja perdoada a dívida, que depois não venha o FMI querer criar novos empréstimos. É necessário que continuemos levantando a voz, porque as tropas tem que ir embora, porque é claro que tem a intenção de invadir e explorar o país. Por isso é importantíssima a campanha que o Pão e Rosas está fazendo, porque faz uma clara denúncia a qual nenhum grupo se atreveu a fazer porque se focam no assistencialismo. É necessário difundir mais a declaração, já me somei a essa tarefa”.

Amanhã uma longa viagem me espera até Leogane, a 17 km de Porto Príncipe, o epicentro do terremoto que sepultou milhares de pessoas sob os escombros. Lá, 90% dos edifícios foram destruídos e, como a ajuda se concentra na capital haitiana, os sobreviventes da tragédia, se vêm obrigados a esperar mais do que o humanamente possível por alimentos, água, assistência médica... As mulheres dominicanas da coletiva Mulher e Saúde reservaram um lugar para mim em seu veículo rumo ao acampamento que montaram nesta cidade haitiana, onde recebem voluntários e voluntárias que podem ir até por sete dias, desde São Domingos.

De volta ao hotel, penso nas palavras de Mirla ... “continuemos levantando a voz, porque as tropas tem que ir embora”. Aqui ninguém mais acredita que são necessários tantas equipes militares, tantos milhares de soldados e armar de fogo para brindar “ajuda humanitária” a um povo que, antes do terremoto, já sabia que a pior catástrofe era o domínio imperialista.

quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010

PLANO NACIONAL DE DIREITOS HUMANOS III: Mais demagogia lulista com as mulheres e os trabalhadores

Por Diana Assunção e Clarissa Menezes

Uma simples passagem no Plano Nacional de Direitos Humanos III, o PNDH-3, que explicitava apoio à aprovação do projeto de lei que descriminaliza o aborto, considerando a autonomia das mulheres para decidir sobre seu próprio corpo, foi alvo de uma enorme polêmica envolvendo a Confederação Nacional dos Bispos, o presidente Lula, o Ministro dos Direitos Humanos Paulo Vannuchi e os movimentos de mulheres ligados ao governo. Entretanto, esse episódio é também a expressão, em pequeno, do que foram os 7 anos de governo Lula, onde muito pouco ou quase nada de progressivo se conquistou no que diz respeito aos direitos das mulheres, ao passo que as posições reacionárias das igrejas, dos setores retrógados e a perseguição às mulheres ganharam nova força.

Vida para os torturadores, morte para as mulheres

Enquanto o governo retrocedeu em seus tímidos passos retirando do PNDH-3 a passagem que acenava apoio à legalização do aborto, também retrocedeu nos tímidos passos que buscavam questionar a violência e a tortura durante o regime militar do Brasil. A criação de uma “Comissão da Verdade”, que teria como objetivo dar uma nova interpretação à Lei da Anistia, foi seguida de uma intensa mobilização de diversos meios de comunicação como O Globo e O Estado de São Paulo, a cúpula militar e o ministro da Defesa Nelson Jobim, e também o DEM (antigo PFL, antiga ARENA, partido apoiador do regime militar) que declararam em alto e bom som sua oposição a todo e qualquer passo pelo direito à verdade e à memória e mais ainda contra qualquer possibilidade de punição aos torturadores, mandantes e apoiadores. E o Ministro Paulo Vanucchi não titubeou em retroceder transformando esses tímidos passos em minúsculos passos que farão prevalecer a ordem imperante desde o final dos anos 1970[1].

Isso significa que o governo continua permitindo vida livre e impune aos torturadores e seus mandantes, enquanto as mulheres são cada vez mais castigadas pela justiça burguesa e pela ofensiva da direita clerical, assim como pela demagogia do governo de Lula. A passagem que explicitava o apoio à “aprovação do projeto de lei que descriminaliza o aborto, considerando a autonomia das mulheres para decidir sobre seus próprios corpos” evidentemente não significava a legalização e descriminalização do aborto. Mesmo assim, com uma forte ofensiva a Confederação Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), questionou esta passagem e também a união e adoção homossexual, e por isso o Ministro dos Direitos Humanos, Paulo Vanucchi, fez um mea culpa dizendo que foi um erro dele, já que se tratava de “uma formulação do movimento feminista, que não diz respeito à opinião do presidente Lula”[2], e que portanto retiraria essa passagem.

Ainda com esse retrocesso, o movimento de mulheres ligado ao governo, como a Marcha Mundial de Mulheres (PT), a União Brasileira de Mulheres (PCdoB) e a Articulação de Mulheres Brasileiras (PT), além de diversas ONGs, fazem questão de fechar os olhos diante de tamanha demagogia, colocando no centro de suas manifestações a luta pela concretização do PNDH-3. É a mesma demagogia que fez encher o ego destas feministas quando Lula buscou punir os deputados do PT contrários ao direito ao aborto. Neste momento, nos perguntávamos: de que vale a punição desses deputados, se Lula não legalizou o aborto em nosso país? É o mesmo que podemos pensar agora. Evidentemente que nem Lula e nem Paulo Vannuchi, quando assinaram este Plano, acreditavam que de fato poderiam concretizá-lo, ainda que fossem tímidos passos. De qualquer forma, um aceno ao movimento de mulheres governistas próximo às eleições de 2010 quando a candidata do PT é justamente uma mulher não lhes cairia mal. Ainda assim, os movimentos de mulheres ligados ao governo se manifestam agora pela concretização do PNDH-3, como se esse fosse a solução de todos os nossos problemas, sem ao menos questionar os 7 anos de governo Lula onde o direito ao aborto não nos foi dado. Para nós, sem uma ampla mobilização social do movimento de massas, dos trabalhadores, de direitos humanos, de mulheres, estudantes e organizações populares não é possível conquistar nem nosso direito à vida nem nosso direito à memória, pois o governo já deixou claro que nada acontecerá com os torturadores e que às mulheres, sobretudo as pobres, negras e trabalhadoras, o destino continua sendo a morte através da clandestinidade do aborto.

...algo a ver com o acordo Brasil-Vaticano?

Não podemos esquecer que em novembro de 2008 o presidente Lula foi ator de um acordo entre o Estado Brasileiro e o Vaticano que em resumo significa converter a Igreja Católica em beneficiária de uma série de privilégios, que envolvem benefícios fiscais, regime trabalhista de religiosos, casamento, imunidades, patrimônio cultural, ensino religioso nas escolas públicas, entre outros.

As mulheres da ONG Católicas Pelo Direito de Decidir, em sua declaração dizem “Outros pontos que ferem o tratamento equânime entre as religiões por parte do Estado, se referem ao compromisso do governo brasileiro em utilizar o dinheiro público na manutenção de bens de propriedade da Igreja Católica e a interferência de princípios religiosos em questões trabalhistas e matrimoniais”. Fica claro que este acordo aprofunda um atrelamento nacional e internacional do Estado brasileiro com a Igreja, e que, portanto nenhum tipo de decisão sobre a legalização do aborto poderia estar por fora deste consenso aprovado na Câmara e no Senado. Um retrocesso claro, que nem mesmo Fernando Henrique Cardoso tinha sido capaz de levar adiante.

O governo Lula dá um jeito então de sair ileso dessa discussão, defendendo o aborto como questão de saúde pública para atender o clamor das feministas de seu próprio partido e ligadas a seu governo; mas por outro lado mantém o aborto na ilegalidade, mantendo o pacto que fez com o Vaticano de interferir com princípios religiosos nas questões “matrimoniais” – o que expressa apenas uma continuidade da política que já vinha tendo durante os 7 anos de seu mandato, e também dos anos anteriores de FHC. Não à toa, justamente durante o governo Lula, o Brasil é escolhido como sede do “Encontro Mundial em Defesa da Vida” por ter sido “país modelo na luta contra o direito ao aborto”.

E mais demagogia rumo às eleições de 2010...

Hoje, há mais de 7 anos na presidência da República, sobre as resoluções e bandeiras históricas do movimento de mulheres, inclusive das mulheres de seu próprio partido, podemos dizer que Lula não tomou nenhuma medida concreta. O direito ao aborto continua sendo negado e as mulheres criminalizadas sobre o peso do Código Penal de 1940, sobre os direitos das mulheres versam leis do século passado, enquanto na realidade as mortes são conseqüências diretas desse conservadorismo cristalizados em leis e os alinhamentos políticos do governo com a Igreja. A Lei Maria da Penha que rendeu a Lula o prêmio da ONU na luta contra a violência às mulheres só foi possível tornar-se lei após uma mulher que quase foi assassinada ficar mais de 20 anos, paraplégica, lutando por seus direitos, demonstrando que no Brasil pra se lutar contra a violência é preciso ir muito além do que a justiça pode nos assegurar. Ainda assim, os avanços apresentados nessa lei não podem se concretizar até o final, já que fazem parte de um Estado burguês que sustenta e legitima a violência contra as mulheres. Para isso, vale dizer, que a mesma ONU que premiou Lula contra a violência as mulheres, coloca suas tropas sob a liderança deste presidente para estuprar as mulheres haitianas

Mas se em 7 anos, Lula não acenou nenhuma medida para descrimilizar e legalizar o aborto, por que em ano eleitoral faria isso? Se por um lado, a Igreja possui uma importante base eleitoral, o PT que pretende eleger uma mulher, também precisará do apoio do movimento de mulheres. Assim, Lula pode muito bem assinar um decreto sobre o direito das mulheres terem autonomia sobre seu corpo, e depois suprimi-lo, culpando os setores conservadores pela pressão exercida. Em pleno ano eleitoral, com Lula fazendo de Dilma Rousseff sua própria sombra em todos os eventos, as direções dos grupos de mulheres ligados ao governo não querem admitir o aceno demagógico de Lula com o PNDH-3. Tudo isso demonstra, cabalmente, o fracasso do projeto reformista das feministas do PT, PCdoB e outros partidos governistas, que por anos venderam a idéia de que “com Lula e o PT os direitos das mulheres seriam conquistados”. Ao contrário, nunca antes os setores reacionários tiveram a ousadia de utilizar a justiça para processar mulheres por terem recorrido ao aborto, como no Mato Grosso do Sul, coisa que somente no governo petista-lulista se viu. Isso é resultado, também, de uma estratégia reformista das feministas que atuam “por dentro da ordem”, impedindo a mobilização ativa das mulheres e suas organizações, deixando inclusive de exigir da CUT, CTB e demais organizações de massas que se coloquem a frente deste combate democrático. A demagogia lulista, apoiada por essas feministas, se transforma dessa forma em retrocesso. Por isso é necessário lutar pela organização independente das mulheres trabalhadoras, estudantes, donas de casa, sem nenhum atrelamento ao governo e aos patrões.

Gritar ainda mais forte neste 8 de março!


Diferentemente do que defende a Frente Pela Legalização do Aborto, atrelada ao governo Lula, não será possível arrancar estes direitos pelas vias das negociações com o governo e com os deputados e senadores. Por isso, sem esquecer o papel nefasto que o presidente Lula vem cumprindo com suas tropas assassinas no Haiti, chamamos todas as mulheres trabalhadoras, estudantes, donas de casa, terceirizadas, camponesas, organizações operárias, de mulheres, sindicais, de direitos humanos, em especial a Conlutas e o Movimento Mulheres em Luta a organizar no próximo 8 de março uma grande mobilização antigovernista e antiimperialista que coloque no centro a luta pela retirada imediata das tropas brasileiras que dirigem a MINUSTAH no Haiti. Mas também queremos gritar muito forte pela revogação imediata da Lei da Anistia, que enquanto não for revogada permite vida livre e impune aos torturadores, e gritar forte pelo nosso direito ao aborto, que enquanto negado massacra sobretudo as mulheres pobres, negras e trabalhadoras.

Revogação da Lei da Anistia. Punição aos mandantes, torturadores e seus apoiadores.

Direito ao aborto legal, seguro, livre e gratuito. Educação Sexual em todo o ensino público. Distribuição gratuita de contraceptivos. Anulação do acordo Brasil-Vaticano. Pelos direitos da mulher trabalhadora. Trabalho igual, salário igual. Efetivação de todas as trabalhadoras e trabalhadores terceirizados. Direito à maternidade. Licença-maternidade de 1 ano e creche 24 horas em todas os locais de trabalho, de estudo e nos bairros. Basta de violência contra as mulheres. Abaixo o assédio moral nos locais de trabalho.

Fora do Haiti as tropas brasileiras comandadas por Lula. Fora o imperialismo do Haiti e da América Latina. Que as multinacionais coloquem seus lucros a serviço de combater a catástrofe. Que os mantimentos e doações sejam distribuídos e controlados pelas organizações operárias, sindicais, feministas, de direitos humanos. Atendimento imediato a todas as mulheres grávidas.

Diana Assunção é dirigente da Liga Estratégia Revolucionária – Quarta Internacional e integrante do Núcleo da Mulher Trabalhadora do Sindicato de Trabalhadores da USP. Clarissa Menezes é militante da Liga Estratégia Revolucionária - Quarta Internacional e mestranda em Saúde Coletiva na Universidade Federal do Rio de Janeiro. Ambas impulsionam o grupo de mulheres Pão e Rosas.

[1] “Punição dos mandantes, assassinos, torturadores e seus apoiadores!” do site da LER-QI (http://www.ler-qi.org/spip.php?article2141)
[2] “Vannuchi: Alteração do decreto sobre descriminalização do aborto deve sair em duas semanas” do site O Globo (http://oglobo.globo.com/pais/mat/2010/01/29/vannuchi-alteracao-em-decreto-sobre-descriminalizacao-do-aborto-deve-sair-em-duas-semanas-915738850.asp)

Porque discutir gênero?

Publicamos abaixo contribuição de Lourdimar Silva*, companheira independente do Piauí.
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Algumas questões hoje na sociedade são tratadas como desnecessárias ou secundárias, até mesmo dentro de espaços de discussão contra-hegemônicos. Exemplo disso são as questões de gênero e de raça. São tratadas muitas vezes, como se fossem discussões superadas. Seria hoje realmente superada a discussão de gênero? Esse é um ponto a ser discutido.
A mulher ainda se encontra sim, hoje, em posição inferior à do homem, sofrendo rotineiramente as opressões e violências que muitas vezes se configuram como normais e passam despercebidas e isso se mostra claramente na sociedade. Tanto na esfera considerada privada, como as atividades domésticas e cuidados familiares, consideradas, por esse motivo, menos valorizadas, quanto na esfera pública, como por exemplo a pouca participação da mulher na política. Esses papéis determinados a homens e mulheres se relacionam as construções sociais determinadas pelas relações de poder e se acirraram com o capitalismo. Entendendo aí o poder nas questões públicas e também privadas, ou seja, o poder pode ser assumido tanto no palácio do governo como dentro de um quarto.

Na história dos últimos 500 anos, o poder além de cor, tem gênero e raça. O que significa dizer que os homens, brancos, colonizadores europeus, lançaram historicamente sobre as nossas sociedades latinas, não só suas idéias de poder, mas principalmente a forma e o conteúdo de seu exercício. E o papel que os homens se deram era, por sua vez, o que tiravam das mulheres, como sujeitos políticos.

Não se nasce mulher, torna-se mulher. Isso significa que o ser mulher é algo construído e tem sido construído como gênero inferior, que deve servir ao homem, que é frágil. Biologicamente homem e mulher são diferentes, porém essa diferença não se autoriza um tratamento do homem como superior e da mulher como ser humano de segunda categoria.

No passado, a mulher era considerada apenas a reprodutora da sociedade, e sua única função, praticamente, era servir o homem e cuidar de seus filhos. Isso, de certa forma, vem mudando. As mulheres adquiriram o direito de voto e de serem votadas, o direito a maternidade, o direito de serem iguais perante a lei, entraram no mercado de trabalho e tiveram algumas outras conquistas pontuais. Porém, vem a dúvida, essa sociedade tem mesmo engolido essas conquistas ou seriam concessões do capitalismo para tentar “tapar um buraco” diante de mais uma de suas contradições. O modelo de mulher perfeita, sempre exigido na nossa sociedade, ainda perdura (porém transformado), encontrando-se no formato de: “Princesa e boa mãe + tiazinha e boa profissional”. Nesse sentido, a mulher tem que se manter meiga, carinhosa, submissa, publicamente discreta, cumpridora dos afazeres domésticos, mãe zelosa e ainda muito mais que isso, ser linda, ter um corpo escultural, ser sensual na intimidade, além de uma profissional cordata. A diferença de salário entre homens e mulheres exercendo a mesma função, o número muito maior de mulheres em situação de pobreza no mundo e piadas que depreciam a figura da mulher, são fatores que legitimam ainda mais a concepção de que ainda hoje não existe a igualdade nos gêneros. Sem falar na violência de gênero, que se sustenta nas normas sociais baseadas em regras que reforçam essa valorização diferenciada para os papéis masculinos e femininos. Papéis esses produzidos e culturalmente pela sociedade machista.

Observando assim a realidade, sugerimos que paremos pra pensar: porque algo tão opressor não é pauta de discussão urgente na sociedade? Bom, é de se esperar que o “poder”, ou os donos dele não se interessem em discutir isso. Até mesmo setores dos movimentos sociais ainda devem avançar muito no sentido de pautarem e priorizarem essa discussão A mulher, ainda que avançado nas relações, é mão de obra barata e foi inserida no mercado de trabalho (durante a revolução industrial) porque interessava ao capital, ou seja, foi uma concessão do capital, e com isso, aproveitando-se das definições de papeis atribuídos aos sexos, junto com a entrada da mulher no mercado de trabalho, veio também a proletarização delas e a inferiorização em relação ao homem. As relações diferenciadas entre os sexos são hoje ainda legitimadas e aproveitadas pelo sistema. Estamos aí falando de uma opressão dentro da classe, que nos remete a rever o tema do gênero. Quem sofre mais, quem é mais oprimida, a mulher rica ou a mulher pobre?

E os avanços? Como as conquistas alcançadas pelas mulheres,estão sendo tratadas e divulgadas pelas instituições de poder e pela mídia? Observamos avanços, como a Lei Maria da Penha que cria mecanismos para coibir e prevenir as violências domésticas e familiar contra a mulher, através da especialização da prestação jurisdicional. Foi um avanço no sentido de tentar igualar quem tem hoje uma posição inferior na sociedade. Porém, essa não é uma questão que possa ser superada de forma pontual. Não queremos simplesmente reformas nas cotas de emprego, cotas em cargos na política e severas punições (compreendemos que são necessárias sim, vendo a mulher como parcela da população merecedora de especial proteção), precisamos de mais, precisamos de rupturas com o que está estabelecido. È necessário sim, que questionemos esses papeis atribuídos às mulheres e as opressões a que elas se submetem.

E aí está o papel dos movimentos sociais, do movimento estudantil e principalmente, esta é uma tarefa para nós mulheres, que sejamos militantes dia-a-dia diante disso e que nos organizemos no sentido de denunciar e atuar na contramão do sistema opressor que antes de tudo, se sustenta na opressão da mulher pelo homem. Não é nossa melhor opção, é a única Não adianta pensarmos na emancipação de um grupo, caso esta não venha acompanhada da emancipação de uma classe a partir da implementação de novos valores superadores das tradicionais regras de submissão e sujeição femininos. A ruptura com esse obstáculo da opressão de gênero tem que ser dos dois lados: tanto nas relações entre homens e mulheres, quanto na criação de novos valores para ambos. Dessa forma, queremos fomentar o debate dentro do Movimento Estudantil nos DA’s, CA’s , DCE’s, Executivas, Coletivos, encontros, bem como nas relações sociais do dia- a dia, buscando dar forma e força a luta cotidiana contra as desigualdades nas relações de gênero.

* Lourdimar Silva é estudante de Economia da Universidade Federal do Piauí, integrante da FENECO-Federação Nacional dos Estudantes de Economia e do CORDEL-Coletivo de Resistência, diálogos, estudos e lutas.

sábado, 6 de fevereiro de 2010

O Pão e Rosas entrevistou Mirla Hernández, feminista dominicana que esteve em Porto Príncipe, capital do Haiti

“Com armas de fogo não se levantam escombros, com armas de fogo se mata gente”

(República Dominicana, 04 de fevereiro de 2010) Falamos em São Domingos com a dominicana Mirla Hernández, quem se apresenta como feminista lesbiana autônoma e de esquerda. O encontro foi a poucos dias de sua volta de Porto Príncipe, a capital devastada do Haiti. “A sensação mais forte que ficou de ver essa situação foi a raiva, pelas mentiras que se apresentam nos grandes meios de comunicação sobre como estão reagindo os haitianos. A cidade está destruída, a maioria dos edifícios caíram no chão, tem muita gente na rua; mas não é verdade o que se diz de que as pessoas estão armadas e que estão matando e roubando a comida de outras pessoas. O povo haitiano é muito digno, é muito forte. Se existe um povo que sabe resistir esse é o povo haitiano”.

Em seguida nos diz, olhando para a câmera, “e isto é uma denúncia: Porto Príncipe está cheio de marines e obviamente que não é com o sentido de resgatar ninguém nem ajudar ninguém... estão aqui para ‘previnir’, sengundo eles, insurreições ou mobilizações”. Mirla faz um gesto de aspas com seus dedos quando pronuncia a palavra “prevenir”. Indignada, depois de ter visto as verdadeiras necessidades que estão passando o povo haitiano, Mirla disse: “mais do que marines, o que necessitam são pessoas para o resgate, gente que venha com equipamentos para levantar escombros; com armas de fogo não se levantam escombros, com armas de fogo se mata gente”.

Quando a perguntamos sobre a situação no Haiti, antes da tragédia, nos conta: “As denúncias que eu vi e escutei no Haiti sobre a MINUSTAH antes do terremoto, são denúncias de estupros de mulheres, de roubos e assassinatos. Eu vi membros da MINUSTAH, em 2008, paquerando e tocando meninas de 13 e 14 anos”. Sobre a situação das mulheres, explana: “Migram para esta parte da ilha – referindo-se à República Dominicana – e fazem o trabalho doméstico, trabalho de colheita nas fazendas de tomate, café, banana, nos campos de cana... e agora vai ser muito pior. Neste momento, todas as mulheres que estavam grávidas e estão tendo abortos espontâneos ou partos prematuros estão nas piores condições”. Também sabe que os estupros e a violência contra as mulheres aumentarão nesta catástrofe.

Quer deixar uma mensagem aos povos da América Latina e do Caribe que sentem profunda dor pelo Haiti: “Eu não vou dizer que mandem dinheiro nem que mandem coisas. É importante colocar as mãos, o ombro e todo o corpo a serviço do Haiti, mas lembrando uma coisa: nós não vamos resolver a vida dos haitianos. Os haitianos têm a força suficiente para retomar seu país. Necessitam de nossa ajuda, necessitam de nossa colaboração; mas não com uma política assistencialista, não somos nós quem vamos tomar o Haiti. Então quero chamar muito a atenção de que é preciso ter muito cuidado com o que está fazendo o governo dos Estados Unidos; há uma intencionalidade de invasão do Haiti, de apropriação do Haiti. É preciso estar muito atento para isso e não permitir essa invasão, é preciso denunciá-la, é preciso unir forças para não permitir isso ou pelo menos para dar este apoio ao povo haitiano, eles são os protagonistas de seu destino. É preciso respeitar a autonomia do povo haitiano”.

Mirla, junto a dezenas de feministas e mulheres de quatorze países da América Latina e do Caribe, assinaram a declaração unitária impulsionada pelo Pão e Rosas e outras companheiras feministas autônomas em todo o continente.

Se junte você também à nossa campanha enviando sua adesão e pedindo mais assinaturas para que se ouçam a voz enérgica de milhares de mulheres da América Latina e do Caribe em solidariedade com nossas irmãs e o povo pobre e trabalhador do Haiti!

Para aderir ao Pronunciamento de mulheres e feministas da América Latina e do Caribe em Solidariedade a nossas irmãs haitianas escreva para: solidaridadmujereshaiti@gmail.com

Comentários
Meniiinas, que legal vocês terem traduzido a entrevista. Quando li em espanhol, pensei que todo mundo tinha que ler por aqui! Ótimo! Bombaram =) Abraços feministas de Salvador. Paula Regina

Honduras Urgente: Assassinaram uma jovem trabalhadora da resistência hondurenha!

Voltaram porque esses canalhas nunca se foram

Por Jessica Isla, Feministas en Resistencia (Honduras)

Ontem (04/02) assassinaram Vanessa Zepeda de 29 anos. Seu cadáver apareceu jogado na colônia Loarque, aqui em Tegucigalpa. Ela era integrante da resistência e do Sindicato de Trabalhadores do Instituto Hondurenho de Seguridade Social. É um aviso para nós. Divulgo, porque apesar de saber que temos que nos cuidar, não posso com a indignação e a raiva. Isto é preciso ser conhecido, ainda que não sei bem para que, porque estes canalhas pouco se importam com a pressão internacional.

Abraço

"La de siempre"

Vanessa Zepeda era enfermeira do Instituto de Seguridade Social Hondurenho, ativista sindical e integrante da resistência ao golpe.

sexta-feira, 5 de fevereiro de 2010

Por nossas irmãs e pelo povo pobre e trabalhador do Haiti:

Grande resposta solidária de mulheres e feministas da América Latina e do Caribe

(Argentina, 28 de janeiro de 2010) - Por Pan y Rosas*
As feministas em Resistência de Honduras, a agrupação Las Rojas da Costa Rica, as Mulheres Rebeldes do Brasil, o Coletivo Contranaturas do Peru, o grupo Gênero com Classe da Venezuela, a Rede contra a Violência doméstica e sexual do Chile, a casa da Mulher da Colômbia, o Programa de Rádio Vozes de Mulheres da Guatemala, o Centro de Informação e Desenvolvimento da Mulher da Bolívia, a reconhecida escritora feminista Francesca Gargallo do México, junto a dezenas de ativistas feministas, lésbicas, autonomistas, anticapitalistas e socialistas da América Latina e do Caribe se somaram a iniciativa do Pão e Rosas que desde Argentina, Brasil, Bolívia, Chile e México impulsiona uma declaração unitária em solidariedade com nossas irmãs haitianas.

O pronunciamento exige a retirada das tropas e da missão da ONU; que os lucros das empresas capitalistas sejam disponibilizados para amenizar o desastre e que a ajuda humanitária seja distribuída por organizações de mulheres, feministas, operárias e populares.

No Brasil, uma centena de pessoas, responderam a convocatória do Pão e Rosas e manifestaram-se frente ao consulado do Haiti em São Paulo, repudiando as declarações racistas do Cônsul. Mara Onijá, do Pão e Rosas acrescentou: “Ele disse que onde existem africanos existe uma maldição e que a tragédia ocorrida no Haiti é interessante porque dá visibilidade ao país; por isso, saímos hoje às ruas para protestar, gritar contra o cônsul racista e exigir a retirada das tropas do Haiti.”

O jornal Página 12 da Argentina, o canal de televisão RecordNews do Brasil, a agência de notícias CIMAC do México e numerosos endereços e blogs de internet ecoaram esta iniciativa da agrupação de mulheres Pão e Rosas, reproduzindo a declaração e difundindo o e-mail no qual seguimos recebendo adesões, que é: solidaridadmujereshaiti@gmail.com.

Outras iniciativas feministas em solidariedade com Haiti

Enquanto o Pão e Rosas, a partir de diferentes países do continente, continua juntando assinaturas para repudiar a intervenção norte-americana, da ONU e também exigindo dos governos de nossos países a retirada imediata das tropas, outras iniciativas feministas foram se desenvolvendo com o propósito de amenizar, ainda que sejam profundas as dores e o desolamento, as conseqüências provocadas pela catástrofe.

O Centro de Investigação para a Ação Feminina e o coletivo Mulher e Saúde, da República Dominicana, com a rádio internacional feminista FIRE da Costa Rica, a confluência de feministas meso-americanas Las Petateras e outras redes feministas latino-americanas montaram um Acampamento Feminista, desde onde tentam articular a solidariedade e os esforços dos movimentos feministas com o povo haitiano. Entre os seus objetivos reivindicam: “Contribuir para desenvolver uma informação mais verossímil sobre o contexto e o protagonismo deste povo, em especial das mulheres; a abrir canais de comunicação para que as mulheres e suas comunidades tenham voz sem censura e sem manipulação; fazer uma ponte informativa e de infra-estrutura logística mínima para que jornalistas, ativistas e comunicadoras possam chegar a fazer seus trabalhos se aproximando do Haiti; reforçar o trabalho de defensores e defensoras dos direitos humanos”.

Em um recente comunicado denunciam que praticamente desapareceram o atendimento aos partos e emergências obstétricas, incluindo os abortos espontâneos como conseqüência da situação, assim como o tratamento de infecções vaginais, “incluindo nos acampamentos e centros de ajuda humanitária, com as graves implicações e riscos de piora na condição de saúde e mortes maternas”. E adendam: “é preciso garantir de maneira imediata a atenção psicossocial, respeitando as necessidades das mulheres de todas as idades e estabelecendo condições que as permitam processar o luto”. As mulheres haitianas indicaram que “é urgente tomar medidas para prevenir, proteger e sancionar a violência de gênero em todas suas manifestações, cuja incidência vemos que se eleva em situações como a atual, sobretudo nos acampamentos e lugares de refúgio”. Além disso, dizem que é preciso considerar que “o risco de tráfico de pessoas – especialmente mulheres e meninas – aumenta em situações de emergência e caos como hoje”.

No México, a escritora feminista Francesca Gargallo, junto a outras feministas autonomistas, estão organizando uma viagem ao Haiti mais para frente, quando a poeira das casas destruídas já tiverem se assentado e os jornais do mundo esqueçam que a tragédia continua. Auto-financiando a iniciativa, estas feministas se propõem a colaborar na construção de cisternas e na geração de empreendimentos sustentáveis para as mulheres camponesas haitianas. O árduo trabalho que as aguardam, desejam ser acompanhado de poesia, pinturas e contos, buscando também “recuperar as histórias do terremoto da boca das mulheres e das meninas e meninos”.

Convocatória continental a um mês do terremoto

Dando continuidade à declaração unitária que difundimos junto à dezenas de companheiras de todo o continente, o Pão e Rosas convoca todas as agrupações e ativistas independentes feministas, do movimento de mulheres, lésbicas, da diversidade sexual, às mulheres trabalhadoras, estudantes e donas de casa a organizar, no dia 12 de fevereiro, quando completa um mês do terremoto, uma mobilização continental de repúdio a invasão das tropas imperialistas enviadas por Obama, sob o pretexto da “ajuda humanitária”, e às tropas da MINUSTAH (e do Brasil) que, sob o guarda-chuva da ONU, também atuam como um verdadeiro exército de ocupação, assassinando e perseguindo os ativistas políticos e sindicais, estuprando as mulheres e estabelecendo redes de tráfico e prostituição impunemente. Basta de violência contra as mulheres haitianas!

Às agrupações e mulheres independentes que querem colaborar na organização desta mobilização unitária e continental, pedimos que entrem em contato através do email solidaridadmujereshaiti@gmail.com. Sejamos milhares de mulheres de toda a América Latina e do Caribe que façamos ouvir nossa voz de repúdio ao imperialismo ianque e de solidariedade com nossas irmãs e o povo pobre e trabalhador do Haiti!

*Traduzido por Milena Baguetti e Clarissa Menezes

Mais nenhuma morte por abortos clandestinos!

Por Pan y Rosas México*

As centenas de mulheres assassinadas e violentadas no México, se somam tragicamente à realidade de 600 mil abortos clandestinos por ano, dos quais, 100 mil deles terminam em complicações para a saúde, inclusive levando à morte muitas delas.

Enquanto o governo diminui a verba para a saúde, avança em seu processo de privatização, com a farsa do seguro popular, exclui milhares de mulheres e suas famílias do acesso a serviços médicos e farmacêuticos gratuitos. Além deste clerical governo panista, hipócrita e moralista, impulsionar em todo o país uma aliança com o PRI “leis antiaborto” que evitam a interrupção legal da gestação e prende quem deseja fazê-lo, leis impostas já em 18 Estados do país: Oaxaca, Yucatán, Querétaro, California, Colima, Jalisco, Veracruz, Sonora, Puebla, Morelos, Campeche, Quintana Roo, Durango, Nayarit, Guanajuato, San Luis Potosí, Chiapas e Chihuahua.

Como resultado desta lei em Veracruz há 12 mulheres condenadas por homicídio qualificado, com penas que vão de 12 a 15 anos de prisão, até em casos que a interrupção da gravidez não foi voluntária...

A verdadeira intenção dessa lei é manter o controle das decisões das mulheres e fazer com que nossos corpos fiquem a mercê das leis do Estado e das Instituições e não sob nossa vontade, para manter de pé esta ordem social escravocrata, onde a mulher não é dona nem de si mesma. Mas o controle de nosso corpo e sexualidade não se limita às leis antiaborto.

A igreja em aliança com o governo defende as novas medidas de controle e repressão da sexualidade, semeando a homofobia e lesbofobia em um país onde ser homossexual, lésbica, travesti e transexual é algo alarmante. Em Morelos, o bispo Florêncio Olvera, iniciou o programa “Coragem”, que diz “ajudar a conversão” de homossexuais para evitar que “prejudiquem terceiros” convidando os fiéis a “terapias de cura”. Enquanto em Morelia, Alberto Suarez Inda, disse que “nem os cachorros fazem sexo com outros de mesmo sexo”. Chegando ao ponto de Onésimo Cepeda declarar que os homossexuais não vão para o céu.

Neste marco o PAN em conjunto com setores do PRI, buscam o veto à reforma da lei aprovada pela Assembléia Legislativa do DF, que permite nas cidades união entre pessoas do mesmo sexo e que estas possam adotar crianças. Mostrando uma feroz campanha ao lado da igreja, o reacionarismo e obscurantismo de um partido que reprime os setores que sofrem com a opressão do Estado e da igreja contra seu direto de decidir com quem viver e como fazê-lo.

Nós do Pão e Rosas lutamos pela liberdade sexual e acompanhamos os movimentos LGBTT em sua luta por plenos direitos civis e legais!

Pelo fim da campanha de ódio semeada pelo panismo e a igreja!

Abaixo as violentas leis antiaborto do país!

Contra a tentativa da igreja e do panismo de reverter a lei pelo direito ao aborto até a 12° semana no DF, lutemos pelo direito à educação sexual em todos os níveis de educação pública, por anticoncepcionais gratuitos para não abortar e pelo direito ao aborto legal, seguro e gratuito para não morrer!

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Pão e Rosas junto às nossas irmãs haitianas!

Assim como fizemos durante o golpe de Estado em Honduras, o Pão e Rosas levanta hoje uma grande campanha unitária em solidariedade com as mulheres no Haiti junto a outras agrupações, coletivos, ativistas feministas, autonomistas, anticapitalistas de mais de 13 países da América latina e Caribe. Exigimos a retirada das tropas imperialistas da ONU, que a ajuda saia ós lucros milionários das empresas capitalistas e que seja distribuída por organizações de mulheres, sindicais e populares.

Enviamos uma correspondente para levar nossa solidariedade ao acampamento feminino que instalaram companheiras dominicanas e costarriquenhas na fronteira com a República Dominicana, e que se converteu em um centro físico e simbólico do apoio de todas as mulheres da América Latina e Caribe com nossas irmãs haitianas.

No próximo 8 de março, Dia Internacional da Mulher, devemos convertê-lo em uma grande jornada de luta pelos nossos diretos no México e um dia de luta antiimperialista e de solidariedade internacionalista em todos os países da América Latina e Caribe junto às mulheres haitianas.


*Traduzido por Bruna Bastos

quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010

SOLIDARIEDADE AO HAITI: Pão e Rosas se somou ao 2º ato convocado pelo Centro Acadêmico de Ciências Humanas da Unicamp

No último dia 02, terça-feira, nós do Pão e Rosas estivemos junto ao CACH da Unicamp construindo um ato no Centro de Campinas em solidariedade ao povo do Haiti. Estiveram presentes no ato, além de militantes do CACH e do Pão e Rosas, membros do grêmio da ETECAP, outros estudantes secundaristas, jovens trabalhadores do telemarketing e professores.

Com faixas e panfletos, dialogamos com a população de Campinas chamando a atenção às pessoas, que estão compadecidas com a situação de miséria do Haiti após o terremoto, para que entendam o caráter da ocupação militar mantida pela ONU e dirigida pelo Brasil, reforçada ainda mais após a tragédia pelas tropas do imperialismo norte-americano. Panfletamos nossa declaração internacional em solidariedade as mulheres e ao povo haitiano chamando a adesão de todos, principalmente as mulheres. Denunciamos o quanto essas tropas não estão no país para atender às necessidades da população, mas ao contrário, estão lá para reprimir com violência qualquer tentativa da população de se organizar por seus direitos mais democráticos de sobrevivência, e garantir assim a “ordem” do imperialismo e das grandes empresas internacionais que se aproveitam da miséria, para lucrar com a superexploração dos trabalhadores.

Ademais, são essas mesmas tropas que são acusadas por estupros, tráfico de mulheres e todo tipo de abusos. Após o terremoto, só o que vemos é o acirramento das condições já precárias do Haiti, e sabemos que as mulheres pagam a conta mais alta, seja pelos abusos que sofrem, seja pela necessidade de cuidar e alimentar crianças e pessoas feridas sem ter nenhuma estrutura, seja pelos filhos raptados e levados para o exterior onde serão ainda mais explorados e abusados.

Esse foi o segundo ato em Campinas, como parte de uma campanha de solidariedade ao povo haitiano e pela retirada das tropas militares. Campanha esta, que pretendemos ampliar e fortalecer cada vez mais. Por isso chamamos a todas as organizações de mulheres, de direitos humanos, trabalhadores e estudantes de Campinas a se juntar a nós nos próximos passos dessa luta!

Para entar em contato com o Pão e Rosas em Campinas
escreva para: paoerosas.campinas@gmail.com

terça-feira, 2 de fevereiro de 2010

Mara Onijá na RecordNews diz: Fora as tropas de Lula do Haiti! Solidariedade operária e popular ao povo e às mulheres haitianas!


Mara Onijá, integrante do grupo de mulheres Pão e Rosas, juntamente com Sônia, do Movimento Negro Unificado (Diadema), participaram do programa RecordNews para discutirem o Haiti a situação das mulheres. Mara desmascarou o papel que as tropas da ONU (sob comando do Brasil) vem cumprindo naquele país miserável devido a ocupações militares, ditaduras sangrentas e embarcos econômicos. Resgatou também o importante papel que as mulheres tem frente a opressão imperialista e das tropas brasileiras.

Comentários

Gostaria de saudar a companheira Mara pela ótima intervensão nesse programa da Record. Não podemos deixar escapar nenhuma situação que possibilite a denúncia da situação do Haiti para um maior contingente de pessoas. Ricardo Malagoli - PSTU/MG

Nossa!!! Muito bom o video, é muito bom que nós do Pão e Rosas, termos uma oportunidade de mostrar a verdadeira cara das tropas da ONU... e mostrar que temos que nos solidarizar frente aos fatos que veem ocorrendo no Haiti... FORA AS TROPAS DA ONU! FORA MINUSTAH! SOMOS AS NEGRAS DO HAITI E CONTRA AS TROPAS ESTAMOS AQUI!!!! Jennifer - Pão e Rosas Santo André