segunda-feira, 30 de setembro de 2013

Todo apoio à luta dos profissionais da educação do Rio de Janeiro! Abaixo a repressão de Cabral e Paes!



No último sábado, 28/09, por volta das vinte e três horas, na surdina o governador Sérgio Cabral e sua polícia reprimiram brutalmente os profissionais da educação do município do Rio que ocupam a Câmara dos Vereadores.  Hoje o ato contra mais essa intransigência e contra a repressão ocorrida no sábado reuniu mais de 5 mil pessoas. Nós do Pão e Rosas nos solidarizamos com a luta dos profissionais da educação e repudiamos a repressão de Cabral e Paes.

Após os atos de junho diversas categorias de profissionais têm se mobilizado por salários e direitos. Há cerca de quarenta e cinco dias, o Rio de Janeiro convive com a greve dos profissionais de Educação na rede municipal e estadual.  Esses profissionais de educação sofrem com as péssimas condições de trabalho, tendo que dar aulas em salas com número de alunos acima do limite permitido, suportando uma sobrecarga de trabalho, pois devido aos baixos salários, para sobreviverem, necessitam acumular mais de uma matrícula, tanto na rede pública como na rede privada ou a se dedicarem a um trabalho extra fora do ensino. Porém, a categoria diante de todo esse quadro, vem se mantendo firme e resistindo, e segue ocupando a Câmara Municipal dos Vereadores e a Assembléia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro.
Os governos Paes, municipal e Cabral estadual, demonstrando intransigência em atender as reivindicações dessa categoria, impondo um plano de Cargos e Salários contrário às reivindicações das assembléias de greve da categoria.


          É imprescindível expandir o apoio a esta grande luta e o repúdio à contínua repressão dos governos Cabral e Paes às lutadoras e lutadores! Por uma grande campanha em solidariedade à greve dos profissionais da educação! Pela liberdade todos os presos!

sexta-feira, 27 de setembro de 2013

Pão e Rosas rumo ao I Encontro Nacional do Movimento Mulheres em Luta!

Entrevista do Jornal Palavra Operária com Rita Frau professora da rede estadual de São Paulo, e Virginia Guitzel, estudante e ativista do movimento LGBTTI, sobre a ida de dezenas de militantes do grupo de mulheres Pão e Rosas ao I Encontro Nacional do Movimento Mulheres em Luta que integra a CSP-Conlutas a ser realizado nos próximos dias 04, 05 e 06 de outubro em Minas Gerais.



Por que o Pão e Rosas vai participar deste Encontro?

Rita: O grupo de mulheres Pão e Rosas, que integra a CSP-Conlutas e sua Setorial de Mulheres considera uma excelente iniciativa a construção de um I Encontro do Movimento Mulheres em Luta, aberto a sindicatos e outros grupos de mulheres. Nós somos um grupo que reúne estudantes, trabalhadoras, donas de casa, desempregadas e que considera que a luta das mulheres é inseparável da luta contra o capitalismo. Por isso temos uma perspectiva de classe, ou seja, não são os homens nossos inimigos, mas sim a burguesia, os patrões e seus governos – incluindo os que tem uma mulher à frente, como Dilma Rousseff no Brasil. Como sabemos, a opressão às mulheres perpassa as classes sociais, e por isso sempre interviemos nos movimentos de mulheres existentes buscando unidades programáticas em determinados pontos, como a luta pelo direito ao aborto ou contra a precarização do trabalho, mas sempre remarcando nossa perspectiva estratégica. No caso do Movimento Mulheres em Luta se trata de um espaço privilegiado pois reunirá mulheres que já se colocam num campo anti-governista e combativo.

Virginia: Exatamente, foi com esta perspectiva que participamos do I Encontro LGBTTI da CSP-Conlutas neste ano. Queremos ser dezenas de mulheres trabalhadoras e estudantes como parte da delegação do Pão e Rosas para levar adiante um plano de luta comum com todas as companheiras presentes no Encontro. Acreditamos de fato que pode ser um momento de fortalecimento da luta das mulheres. Ao mesmo tempo, queremos fazer um debate de estratégia sobre a luta das mulheres, desde as experiências internacionais até os novos desafios que estão colocados no Brasil após as jornadas de junho, que foram uma inflexão na situação nacional, que colocam não apenas a necessidade de enfrentar ataques como o Estatuto do Nascituro (Bolsa-Estupro!) e a chamada “Cura Gay”, como nos impõem o desafio de pensar que em tempos de crise capitalista não será a soma de conquistas parciais neste sistema que irá garantir a nossa emancipação. Por isso, é necessário que cada luta parcial, por cada demanda mais mínima que seja, se oriente contra toda sociedade capitalista, buscando superá-la.

Quais serão os principais pontos programáticos e debates que vocês consideram importante que sejam debatidos no Encontro?

Rita: Em geral consideramos muito boas as propostas de debate que as companheiras que organizaram o Encontro apresentaram. Para nós, por exemplo, é fundamental o peso que devemos dar na luta contra a repressão policial (e contra a polícia!), dando destaque para a luta pela aparição com vida de Amarildo e portanto a presença de Elizabeth, sua companheira, será um grande aporte. Ao mesmo tempo, para debater a luta das mulheres, é necessária uma perspectiva internacionalista. A presença de uma companheira indiana também será um grande aporte para a luta contra a violência às mulheres, pois se por um lado todas temos acordo que é uma campanha urgente, por outro há muitos debates entre o movimento feminista sobre qual programa levantar. Na nossa opinião nenhum programa que leve a ilusões no Estado e em suas instituições podem contribuir para a organização das mulheres junto a classe trabalhadora. Este é um grande debate. Ao mesmo tempo, o Pão e Rosas é conhecido nacionalmente pelo combate ao trabalho precário e esperamos poder levar com muita força este debate.

Virginia: Queremos também debater que é necessário uma estratégia revolucionária na luta das mulheres. Achamos fundamental expressar as especificidades das mulheres lésbicas, negras, travestis e transexuais, de forma que fortaleça a nossa unidade para atuarmos com mais força. Não se trata nem de se contentar com algumas melhorias e concessões nem a de deixar nas mãos das feministas reformistas as demandas sentidas das mulheres. Devemos conseguir ligar cada demanda com o enfrentamento a este sistema, e por isso a luta internacional das mulheres é um exemplo para nós. O Pão e Rosas é uma agrupação internacional que existe na Argentina, no Chile, México, Estado Espanhol e outros países e que se inspira na luta das mulheres indianas, afegãs e egípcias que expressam a força da auto-organização da classe trabalhadora. E mais que isso, nos inspiramos em nomes como Rosa Luxemburgo e tantas outras mulheres que protagonizaram dos mais importantes processos revolucionários do século XX, justamente por que não desconectavam a luta das mulheres de uma luta revolucionária.

Como vocês estão encarando o dia 28 de setembro?

Virginia: Nós encaramos o dia 28 de setembro como um dia fundamental na luta pelo direito ao aborto, e neste ano para nós deve ser parte da construção do Encontro. Queremos fazer toda unidade contra o Estatuto do Nascituro e uma grande campanha contra a naturalização do estupro. Devemos denunciar fortemente o Estado que não garante o direito a maternidade, sem garantir creches, lavanderias e restaurantes comunitários e permite a morte de mais de 200 mil mulheres todos os anos por abortos clandestinos. É preciso conquistar um Estado Laico de fato para que o direito das mulheres não seja submetido às religiões que hoje tem grande influencia na política nacional. Para isso, o movimento de mulheres precisa responder uma das bandeiras centrais que foram levantadas em junho: o direito a saúde de qualidade. Se conquistarmos um único sistema de saúde, estatizado, sob controle dos trabalhadores e usuários poderemos impedir a patologização (visão de doença), poderemos garantir as diversas expressões de sexualidade, a identidade de gênero das travestis e transexuais e principalmente garantir o controle de qualidade dos contraceptivos (combatendo o grande lucro capitalista das farmácias) e conquistando o direito do aborto às mulheres para que não morram mais. Achamos fundamental que no Encontro seja votada uma campanha como esta.

JPO: Como o grupo de mulheres Pão e Rosas está se preparando para a ida ao Encontro?

Rita: Estamos organizando feijoadas, festas, brechós, saraus e rifas, e sobre o dia 28 de Setembro, estamos impulsionado rodas de conversa nas universidades, além de participarmos dos atos que estão sendo convocados e organizando seminários teóricos sobre gênero e marxismo. Nas últimas semanas construímos importantes reuniões, como na Zona Oeste de São Paulo com mais de 40 mulheres. Estamos construindo o Encontro entre as trabalhadoras da USP, professoras, metroviárias, bancárias, trabalhadoras dos correios, terceirizadas, trabalhadoras do comércio, de creches e em diversas universidades do país, como Unesp, USP, Unicamp, UFMG, UERJ, UFRJ. Todas estão fazendo grandes esforços e militando para participar deste encontro com o objetivo de fazermos emergir um grande movimento de mulheres para acabar com esta sociedade de opressão e exploração!

Secretaria de Mulheres do Sintusp vota ida ao I Encontro do Movimento Mulheres em Luta!
A partir da Secretaria de Mulheres do Sintusp vamos organizar a ida de uma delegação de companheiras pra participar deste importante espaço. Nós consideramos que a luta das mulheres deve ser uma luta anti-capitalista e queremos dar muito peso pro debate sobre os direitos das mulheres trabalhadoras, como creches, lavanderias e restaurantes comunitários, bem como dar prioridade para a luta internacional das mulheres. Basta de violência contra as mulheres em todo o mundo! Basta de opressão imperialista! Fora as tropas brasileiras do Haiti!

Diana Assunção, diretora do Sintusp e da Secretaria de Mulheres

Por uma campanha nacional contra o trabalho precário!
Fui liderança de uma greve de trabalhadoras terceirizadas que virou um livro que até hoje é uma ferramenta pra difundir as lições de nossas lutas. Quero neste Encontro de Mulheres contribuir pra luta contra o trabalho precário, pra debater qual reivindicação temos que fazer. Precisamos derrubar a Lei Mabel (PL 4330) e precisamos exigir igual salário por igual trabalho, não à diferenciação entre homens e mulheres, entre negros e brancos, entre heterossexuais e homossexuais. Mas também temos que exigir que os terceirizados sejam efetivados sem necessidade de concurso público, porque nós já fazemos todo o serviço e não precisamos de uma prova pra comprovar isso!


Silvana Ramos, liderança das greves das trabalhadoras terceirizadas da USP

Declaração do Pão e Rosas contra o Estatuto do Nascituro do Rio de Janeiro (PL 416/11)

Pão e Rosas do Rio de Janeiro

Nos últimos meses temos recebido uma série de ataques e retrocessos no que diz respeito à questão da mulher e dos LGTTBI’s através do governo federal, de Dilma e do PT junto aos setores mais conservadores e religiosos aliados a sua base, seja com a liderança de Marco Feliciano(PSC-SP), um deputado racista, homofóbico, extremamente conservador e religioso na Comissão de Direitos Humanos e Minorias da Câmara, seja com a tentativa de um projeto de “Cura-gay”, seja com o Estatuto do Nascituro e até mesmo com a grande campanha contrária a um direito fundamental que é o atendimento emergencial às mulheres que sofreram violência sexual, impedindo assim que essas tenham acesso à profilaxia.
No Rio de Janeiro, onde sofremos ainda com enorme repressão por parte dos governos de Cabral, Paes e da policia em decorrência das jornadas de junho/julho/agosto, uma ofensiva na criminalização às manifestações, com a proibição do uso de máscaras e as inúmeras prisões políticas e criação da CEIV, recebemos mais um ataque brutal ao direito das mulheres com o PL 416/2011 Programa Estadual de Prevenção ao Aborto e Abandono de Incapaz. Projeto este que consiste na criação de Casas de Apoio à Vida para dar assistência a mulheres que sofreram estupro, gravidez indesejada ou acidental, que na verdade garantiriam que a mulher levasse adiante essa gravidez traumática e sugere até que esta casa se disponibilize a levar a criança à adoção.
Esse projeto proposto claramente por uma bancada de parlamentares evangélicos e conservadores, camuflada sob a forma de assistencialismo implica em criminalizar ainda mais o aborto e colocá-lo como causa, e não, consequência de um problema social muito maior. Deixando de lado questões como a falta de educação sexual nas escolas e a distribuição de contraceptivos seguros gratuitamente. Defendem demandas como atendimento de saúde de qualidade e pré-natal que na verdade já deveriam ser garantidos a qualquer gestante. Pensar a realidade das mulheres que abortam hoje no país deve passar necessariamente por questionar e refletir a situação concreta das mulheres trabalhadoras (a imensa maioria que sofre com os abortos clandestinos), num cenário onde as mulheres sequer ganham os mesmos salários em relação aos homens e são as mais afetadas com a pobreza e a miséria, como provam as estatísticas. Isso significa que lhe é totalmente negado o direito à maternidade pois o Estado e os governos do PT e Dilma não garantem  as condições necessárias para a maioria da população como salários dignos, saúde e educação de qualidade.
Os criadores do projeto preocupam-se, supostamente, com a vida da criança sem pensar que os abortos clandestinos que levam a morte materna são feitos em sua maioria por mulheres pobres e negras que não tiveram oportunidade de se tornarem sujeitas de suas vidas em meio à opressão e marginalização em que vivem. Em última instância, essas possíveis crianças “amparadas” pelo projeto, crescerão em condições tão precárias quanto a de suas mães, e poderão ter o mesmo triste destino.
 Na questão do estupro, além de negligenciar todo o trauma de levar a gravidez resultante de um crime, coloca mais uma vez sobre a mulher a responsabilidade de ter sido estuprada, criminalizando-a por não querer ter esse filho. Enquanto nos últimos quatro anos os casos de estupro no estado do Rio de Janeiro aumentaram 56,7%, não por coincidência nas regiões mais carentes e periféricas como a Baixada Fluminense e Zona Oeste [1]. Devemos cobrar que esses casos sejam investigados por comissões independentes de mulheres e que haja políticas de combate ao estupro.  
Não aceitaremos nenhum ataque aos direitos das mulheres por parte dos governos e dos setores religiosos! Precisamos somar nossas forças para barrar o PL 416 e para que essa seja parte de uma forte luta pelo direito ao aborto legal, livre, seguro e gratuito!!! Chamamos as organizações feministas e LGTTBI´s, partidos e coletivos de mulheres e direitos humanos para lutarmos juntos contra essa ofensiva! Que os partidos de esquerda como o PSOL e o PSTU se coloquem de forma ativa contra esse ataque, e que o Encontro do Movimento Mulheres em Luta tenha como uma de suas pautas principais essa luta e sirva para nos organizar de fato por esse direito fundamental das mulheres.

Pela organização de mulheres em comissões independentes de investigação de casos de violência contra mulher, sem a presença da policia ou da justiça burguesa! Que os sindicatos e as entidades estudantis tomem para suas mãos a luta das mulheres!
Basta de mortes e violência contra as mulheres!
Abaixo a Bolsa-estupro! Ao Programa de prevenção ao aborto do RJ!
Pela separação da Igreja do Estado! Pela revogação do acordo Brasil-Vaticano!
Pelo direito à maternidade! Garantia dos direitos e condições para as mulheres terem seus filhos, como saúde, educação e moradia! Licença-maternidade de 1 ano e creche 24 horas em todas os locais de trabalho, de estudo e nos bairros!
Por um único sistema de saúde, estatizado, sob controle dos trabalhadores que garanta: Educação sexual em todos os níveis escolares, Distribuição e controle de qualidade de métodos contraceptivos nos hospitais públicos, Aborto legal, seguro, livre e gratuito realizado pelo SUS em todo o Brasil!


[1] Dossiê Mulher 2013. Instituto de segurança pública.

A conquista por nossos direitos caminha junto com a luta por uma saúde pública, de qualidade, e sob controle das/os trabalhadoras/es e usuários!

Núcleo Pão e Rosas da cidade de Marília/SP


Manifestação em 30/08 na cidade de Marília/SP
O cenário aterrorizante no qual se encontra a Saúde Pública brasileira envolve desde a falta de estrutura básica, para atender a população de forma adequada e com qualidade, até um regime de trabalho ultra-precarizado — que não considera minimamente a saúde desta/e trabalhadora/o, pressionando-a/o de diferentes formas: baixos salários, divisão das categorias. Outro problema é que a saúde hoje em dia está cada vez mais privatizada. De um lado, com as políticas neoliberais de sucateamento dos serviços públicos, as verbas para a saúde foram retiradas. Por outro lado, recursos foram sendo repassados para o setor privado, os capitalistas da saúde que sedentos por lucros transformaram, com a ajuda estatal, os serviços de saúde em mercadoria, impõe sobre a saúde pública a mesma lógica produtivista e desumana das fábricas — porém em serviços que podem determinar a vida ou a morte das pessoas. Também não podemos deixar de falar em toda a corrupção que torna os recursos materiais ainda mais escassos.

Esta precarização é mais que vivida e estampada! Na história do Brasil nunca houve de fato uma política de saúde universal e de qualidade para a classe trabalhadora e o povo pobre. A criação do SUS pela Constituição Federal de 1988 teve sua origem na luta dos movimentos sociais, políticos e sanitários iniciados na década de 70, que além de combater a ditadura militar exigiam melhores condições de vida para a classe trabalhadora. Porém, o SUS já nasce degenerado e cheio de contradições devido ao seu processo de implantação que não correspondeu a proposta inicial de radicalização democrática. Afastou-se das bases populares junto ao enfraquecimento e adaptação dos movimentos sociais após a abertura do regime. Os governos não priorizaram o SUS. Pode-se dizer que o SUS é uma reforma parcial, incompleta, que não conseguiu universalizar a atenção à saúde. É necessário ampliar o acesso e qualificar os serviços de saúde, expandir a cobertura da atenção básica e também garantir que exista integração entre esta e os hospitais.

Manifestação FAMEMA no dia 30/08
A panela de pressão do caos na saúde pública já vem estourando em alguns lugares do Brasil, no início deste ano houve uma greve estadual dos trabalhadores do SUS, porém não com toda a força que poderia; basta ligar a tv para ver que constantemente exploram as imagens desumanas dos serviços de saúde e de forma cínica denunciam às “autoridades” o que ocorre. E é o que se passa na cidade de Marília. A situação dos serviços hospitalares do “complexo FAMEMA” (Faculdade de Medicina de Marília), rede de serviços ambulatoriais e hospitalares, que cobre a demanda de 62 cidades da região de Marília, responsável pela assistência ao SUS e pela formação de médicos e enfermeiros na graduação e outros profissionais na pós graduação, está extremamente precária. Faltam materiais básicos para procedimentos, a alimentação para pacientes bem como nos refeitórios está escassa, o salário dos funcionários está defasado em 30%, e o sobre-trabalho se intensifica ainda mais com as horas extras que estes precisam fazer para suprir a insuficiência de funcionários contratados. A biblioteca é extremamente desatualizada e faltam professores, além de vários outros problemas. Ao final de Junho, em meio às históricas e exemplares manifestações das “Jornadas de Junho”, os trabalhadores em ato na cidade denunciaram toda essa situação que já faz parte de reclamações recorrentes dentre a população pobre usuária dos serviços.

A partir daí, exigindo o apoio do sindicato, os funcionários que representam o segundo maior segmento em número de trabalhadores da cidade entraram em greve no dia 26 de agosto. A greve expandiu-se a estudantes, residentes multiprofissionais, residentes médicos e professores. Esta luta desmascara o descaso dos governos estadual, federal e municipal, o sucateamento da saúde pública destinada à população pobre e a precarização do trabalho.

As mulheres tem sido a maioria na linha de frente da greve. A área da saúde é uma das áreas que mais concentra trabalhadoras mulheres. E, por sua vez, as mulheres, sobretudo as mulheres negras, são a grande maioria que ocupam os postos de trabalho precarizados, ganhando menos que os homens e sofrendo diversos tipos de assédio moral dos patrões até para não engravidarem e, consequentemente não tirarem licença do serviço, ou então pressionando aquelas que desenvolvem lesões em consequência da sobrecarga de trabalho para que peçam demissão.
Roda de debate organizada pelo Pão e Rosas: "A Saúde da
Mulher Trabalhadora"
Com todo esse cenário, o grupo Pão e Rosas de Marília colocou todos seus esforços para solidarizar-se com esta luta. Estivemos em conjunto de trabalhadoras/os, residentes e estudantes junto a manifestação organizada pelo centro da cidade de Marília no dia 30 de agosto. Temos companheiras construindo diariamente esta luta. No dia 12/09/13 realizamos uma roda de conversa com as trabalhadoras, que tinha como objetivo discutir a “Saúde da Mulher Trabalhadora”. Nesta atividade contamos com a presença em grande parte de trabalhadoras e também de alguns trabalhadores dispostos a participar. Durante a apresentação percebemos que era um grupo heterogêneo, haviam trabalhadoras de diferentes setores. As terceirizadas e efetivas discutiram com o grupo os efeitos que a dupla jornada do trabalho precarizado acarretam à saúde, desde problemas relacionados à prevenção ao tratamento dos diagnósticos. Os relatos evidenciaram a negligência dos setores políticos relacionados à saúde da mulher trabalhadora. No entanto a discussão não serviu para desmotivá-las, o rico diálogo sobre a saúde da mulher proporcionou segurança para as trabalhadoras exporem e denunciarem outros problemas vinculados a realidade opressora que vivem, por exemplo: as péssimas condições de trabalho, a falta de projetos de assistência médica e pedagógica a elas e à família e a estrutura de poder antidemocrática dos órgãos de gestão institucional.

Companheira Isabela, residente multiprofissional e militante
do Pão e Rosas
Para o grupo Pão e Rosas – Marília, a experiência foi muito importante neste período de reestruturação do grupo na cidade, o contato com as trabalhadoras, a compreensão da luta das companheiras naquele contexto, gerou importantes reflexões e laços de luta para o grupo na cidade. Nesta semana, novas atividades com as trabalhadoras em greve da FAMEMA foram realizadas. Em geral, foi a união de mulheres em luta por causa das péssimas condições da saúde, do trabalho, da educação, que movem forças para o combate desta realidade capitalista e alienante em que todas fazem parte.
Companheira Thaís, residente multifuncional
e militante do Pão e Rosas
Nesta última terça-feira (24), as trabalhadoras e trabalhadores da FAMEMA novamente foram às ruas reivindicar melhores condições de trabalho e também pelo direito democrático de acesso a uma saúde gratuita e de qualidade a toda a população. Em ato na cidade, mais uma vez denunciaram a situação degradante que se encontra a saúde pública no Brasil e, mais uma vez se esbarraram com a falta de resolutividade do governo local, que no dia seguinte chamou “alguns trabalhadores” para uma reunião, em que alegou que nada pode fazer a não ser “ajudar politicamente”, tentando algum contato com o governador Geraldo Alckimin, seu aliado nas campanhas eleitorais e que, neste momento de greve parece estar tão distante. Para este ato nos organizamos junto à Juventude às Ruas! ajudamos na confecção de cartazes, faixas e camisetas para o ato, além de participarmos ativamente do mesmo!
Por entender que o direito pleno à saúde é uma das importantes conquistas para a emancipação das mulheres e que a luta da FAMEMA agrega diversos elementos do nosso programa (precarização do trabalho, sucateamento da saúde pública, direito à creches públicas, contra o assédio moral, etc) que tudo isso, o grupo de mulheres Pão e Rosas continuará levando toda a nossa solidariedade e apoio ativo a esse movimento. Em meio a precarização total de um direito mínimo básico da população, em meio a milhares de mortes diárias de mulheres e homens da classe trabalhadora que por falta de acesso a remédios gratuitos, atendimentos qualificados, exames adequados e a extrema restrição ao que possuímos de mais avançado na tecnologia em saúde, além da espera por exames e consultas que dura meses ou anos, a luta pela saúde e pelo direito de greve que hoje está sendo ameaçado, deve ser um dos eixos principais de nossas atuações.

Todo apoio a luta dos trabalhadores, professores, estudantes, residentes multiprofissionais e médicos da FAMEMA!
Por um sistema único de saúde 100% estatal, gratuito e sob controle da classe trabalhadora!
Basta de mulheres sem acesso a exames e informações preventivas sobre sua saúde e direitos.

Basta de mulheres sem tratamento adequado para suas enfermidades! Chega de demoras nas filas! Por condições reais de recuperação para a mulher trabalhadora e pobre!











Aurinelly, terceirizada da Caixa Econômica Federal se manifesta pelos seus direitos!


Fala da companheira terceirizada, Aurinelly, sobre a luta das mulheres e a necessidade de se rebelar contra os patrões para garantir nossos direitos. É fruto da força dessas mulheres e de sua luta que convidamos a todas a construir um forte movimento de mulheres que possa arrancar nossos direitos e colocar abaixo essa sociedade de exploração e opressão. Desde aí, nos dias 04, 05 e 06 de Outubro construir o Encontro Nacional do Movimento Mulheres em Luta!

Avante bancários, avante mulheres!

Construir o I Encontro Nacional do MML a partir da greve dos bancários!

Nós desde o Pão e Rosas junto com os bancários que compõem a agrupação Uma classe estivemos desde as 6 horas da manhã, no piquete do Brás, em São Paulo, na frente da caixa econômica federal. Nesse vídeo abaixo reproduzimos a fala de Virginia Guitzel, militante do Pão e Rosas no ABC e Edison Salles, bancário da agrupação Uma Classe, saudando a luta dos bancários e construindo uma unidade entre efetivos e terceirizados, como uma das principais bandeiras: a efetivação, sem a necessidade de concurso público!



Pão e Rosas em apoio aos bancários e as terceirizadas da Higilimp




Saudação do nosso grupo de mulheres as lutas em curso e um convite a todas as mulheres trabalhadoras, estudantes, secundaristas, desempregadas e donas de casa, a se somarem conosco no I Encontro Nacional do Movimento Mulheres em Luta.

2003 - 2013: Dez anos de Pan y Rosas

Durante estes 10 anos, cruzamos com você, com sua amiga, sua cunhada, sua mãe, sua companheira de trabalho e sua noiva. Talvez tenham te falado do Pan y Rosas, te contaram quando nos conheceram em um Encontro Nacional de Mulheres. Talvez tenha vindo para uma conversa, nos visto em uma assembleia, em um corte de rua, nos conhecido na faculdade ou no trabalho. Ou tem uma amiga que te deu nosso jornal ou te entregou um panfleto de um ato, ou te deram na saída da escola, ou viu que sua companheira de trabalho tem um botton do Pan y Rosas na mochila, um adesivo no caderno. Alguém te deu ou te emprestou nossos livros, ou te fez uma cópia... Certeza que nestes 10 anos ao menos uma vez nos cruzamos e compartilhamos algo!

Tivemos uma ideia que se transformou em organização, que superou todas as nossas expectativas, que nos surpreendeu cada vez que uma trabalhadora, uma secundarista, uma estudante qualquer usa nosso logo, nossa cor, nossas canções para torná-las suas.
Construímos uma agrupação que transcendeu as fronteiras, primeiro as das cidades onde pusemos de pé o Pan y Rosas pela primeira vez, Buenos Aires, Rosario e La Plata. Depois transcendeu as fronteiras de nosso país, se mudou para o Chile, viajou para o México, foi morar no Brasil e a alguns anos decidiu que também estava no Estado Espanhol.
Nós marchamos, lutamos, cortamos ruas, fazemos piquetes de greve e damos apoio, organizamos comissões de mulheres, apoiamos as que já existem, fazemos fundos de greve, tomamos faculdades, ocupamos escolas, paramos contra o assédio sexual nas fábricas, em qualquer lugar de trabalho, apoiamos as lutas, as greve em lugares onde as mulheres são maioria, onde são minoria e onde não estão.
Escrevemos panfletos, jornais, folhetos, livros. Fazemos vídeos e peças de teatro. Tiramos fotos, documentamos as lutas de hoje e recordamos as de ontem. Debatemos ideias, refletimos, discutimos, queremos desmistificar os mitos, os preconceitos, contamos histórias de mulheres em todos os lugares onde uma mulher queira escutar, aprendemos com o passado, pensamos como deveria ser o futuro. Lutamos pelo direito ao aborto livre, seguro e gratuito. Contra a violência às mulheres. Pelos direitos das mulheres trabalhadoras. Pelo desmantelamento das redes de tráfico. Não pedimos nada a ninguém, não queremos que nos deem nada, exigimos o que nos pertence por direito.
Não confiamos em nenhum governo, nem na Igreja, nem nos patrões, seus partidos e seu Estado.
Somos trabalhadoras, estudantes, jovens, velhas, meninas, não tão jovens, donas de casa, professoras, desempregadas, homossexuais, heterossexuais, bissexuais, mães, filhas, esposas, irmãs, noivas. somos você, nós, elas.
Somos Pan y Rosas.

quinta-feira, 26 de setembro de 2013

Construindo o I Encontro Nacional do MML desde as lutas reais em nosso país

(Trabalhadoras terceirizadas do prédio da Caixa Econômica no Brás, São Paulo, durante o piquete da greve dos bancários - 26.09).

Hoje mais uma vez, nós desde o grupo de mulheres Pão e Rosas estivemos lado a lado dos bancários desde as 6 horas da manhã, construindo um forte piquete na frente da Caixa Econômica no Brás, em São Paulo, para fortalecer a greve deste ano que já tomou proporções maiores do que a histórica greve de 2011.  A expressão viva das manifestações da juventude em Junho nesta greve é nítido desde a moral dos trabalhadores como na confiança de sua própria força.

A unidade que a agrupação Uma Classe tem impulsionado com os trabalhadores terceirizados, defendendo sua efetivação sem a necessidade de concurso público tem sido uma importante bandeira para unificar as fileiras dos trabalhadores e para conseguir debater as demandas das mulheres em meio a esse processo.

Nós que estamos construindo ativamente o I Encontro Nacional do Movimento Mulheres em Luta desde nossos locais de trabalho e locais de estudos, achamos fundamental que participemos ativamente dos processos de luta de classes que se abrem em nosso país e construindo desde aí um forte movimento de mulheres que possa a partir desse Encontro Nacional tirar um sério plano de luta.

Achamos que os debates sobre a precarização do trabalho, o combate a violência doméstica e os assédios morais, a falta de sistemas públicos básicos como saúde, educação e moradia, assim como a luta pelo fim da dupla jornada de trabalho e pela efetivação de todas as terceirizadas sem a necessidade de concurso público, são apenas pontos iniciais para debatermos a luta das mulheres por sua emancipação. É ao lado dessas centenas de trabalhadoras nos inspiramos e avançamos na luta contra o machismo e contra todo o sistema capitalista.

Viva a greve dos bancários e a luta das trabalhadoras terceirizadas! Viva a aliança entre efetivos e terceirizados contra a precarização do trabalho e da vida! Viva a luta das mulheres trabalhadoras contra essa sociedade de exploração. Avante bancários, avante mulheres contra a arrogância dos banqueiros, da burocracia sindical e dos governos, pelos nossos direitos!

Carta de uma atendente comercial dos correios

Por Nati, atendente dos correios de Campinas e militante do grupo de mulheres Pão e Rosas, pelo Boletim Classista


Greve de novo?

Quem trabalha nos Correios ouve isso sempre, não só durante a greve. Se alguma conta ou encomenda não chegou, o pessoal já vem perguntar “mas o Correio tá de greve?”. A agência onde trabalho está constantemente lotada, com tempo de espera que frequentemente passa de 1 hora. A população que vai lá muitas vezes pergunta: “mas só tem vocês? O resto tá de greve?”. Só que não estão. Acontece que o quadro de funcionários é muito menor do que a real necessidade da empresa. Faltam atendentes, carteiros e operadores de triagem e transbordo. Sobra trabalho, dos mais variados.

No caso das agências, além das tradicionais cartas e Sedex, temos que fazer inscrição, regularização e alteração de CPF, vendas de Telesena, abertura de contas do Banco do Brasil, pedido de cartão de crédito, recebimento de contas, saques, depósitos, captação de doação pro Hospital do Câncer de Barretos, pedido de seguro DPVAT... Cada servicinho desses traz um lucrinho pra empresa, inclusive a doação. Para os atendentes, só metas e cobranças.

Por outro lado, o sistema e os computadores nunca funcionam, gerando trabalho dobrado, maior tempo no atendimento, “erros” que muitas vezes nos levam a tirar dinheiro do bolso pra cobrir diferenças no caixa. No caso da minha agência, temos que escolher se ficamos surdos com o barulho dos ventiladores ou assados com o calor, mas a medição da empresa diz que está tudo dentro dos padrões. No começo deste ano, carteiros de Americana tiveram que cruzar os braços e travar toda uma luta porque tinham que trabalhar num prédio sem água, com pouca iluminação, o que mostra que não é um caso isolado, mas é o jeito que a empresa nos trata.

Muitos ecetistas desenvolvem doenças de trabalho, em todo lugar tem gente de licença ou então que não pode mais levantar peso, não pode fazer determinados movimentos, que foi reabilitado por acidentes de trabalho. Tudo isso devido às condições de trabalho precárias e jornadas extensas (a minha e de muitos é de 44 horas semanais, sem contar o tempo de viagem, trânsito, ônibus que não passa, e principalmente, sem contar as horas extras obrigatórias, já que dificilmente saio no horário, pelo volume de trabalho).

Em troca de tudo isso a empresa oferece um piso salarial de R$1004,00, ticket e convênio médico. O ticket e o convênio médico não são complementos, são totalmente necessários pra que seja possível pagar as contas com este salário e garantir alguma qualidade de vida, em especial o convênio, considerando que tantos estão doentes. E agora, além de nos ter negado aumento real durante tantos anos, chegando a esse salário tão baixo, e ainda se recusar a minimamente cobrir a inflação, a empresa está tentando privatizar o convênio, seguindo o modelo de convênio já aplicado em outras estatais. A direção da ECT diz “nada vai mudar”. Só que se nada vai mudar, porque faz questão absolta de mudar? A gente sabe o porquê. Vai mudar aos pouquinhos, primeiro para os novos, e aos poucos pra todos. Enquanto a gente passa a pagar cada vez mais pelo convenio, uma nova empresa vai lucrar nas nossas costas.

POR TUDO ISSO, SIM, ESTAMOS EM GREVE DE NOVO! SÓ QUE ISSO NÃO QUER DIZER QUE É SÓ MAIS UMA GREVE...

Este ano os motoristas e cobradores de Campinas fizeram uma paralisação pelo mesmo motivo, ataque ao plano de saúde. Um pouco antes e ainda hoje, a juventude segue se mobilizando pelo direito e a qualidade do transporte, onde esses mesmos motoristas e cobradores trabalham. E os bancários (que no nosso caso, compartilham até o mesmo trabalho, com o Banco Postal) estão em luta em sua campanha salarial, como a nossa. Enquanto nós estamos nos organizando contra a proposta da empresa, os trabalhadores metalúrgicos já estão com assembleia marcada porque também não podem aceitar propostas de reajustes irrisórios.

Todos esses exemplos são claros: os trabalhadores são uma única classe. Só os que nos exploram e vivem dos altos lucros que o nosso suor produz querem nossa divisão, que nos enfraquece.
Não param de nos dividir, entre homens e mulheres, negros e brancos, efetivos e terceirizados. Dentro da própria categoria, nos dividem entre atendentes, carteiros e OTTs, grevistas e não grevistas. Agora, levam isso às últimas consequências e querem dividir nossa luta, contando com a valiosa ajuda das burocracias governistas e servis pra dividir a própria greve. Já prevendo que com a proposta ruim que a empresa queria bancar, a greve seria a única saída, a empresa, junto com alguns sindicatos, fez uma manobra. Apresentou uma proposta ridícula, de 5% de aumento. Os sindicatos dirigidos pelo PCdoB (aliados do PT que dirige o governo e a empresa) chamaram a greve (sabendo também que essa era a vontade legítima das bases de São Paulo, Rio, Bauru e Tocantins). Daí, sem nunca criticar esses mesmos sindicatos aliados, a empresa fez outra proposta, que parece melhorzinha, de 8% de aumento. Imediatamente os sindicatos impuseram no grito o acordo, e o fim da greve (exceto em Tocantins, onde não conseguiram e os companheiros seguem em greve!). Esses burocratas estão ligados a CTB e ao PCdoB, existem outros ligados diretamente ao PT e a CUT, que também fazem de tudo pra impedir nossa unificação e luta. E se olharmos para os trabalhadores de outras categorias, muitos sofrem com sindicatos que só fazem o jogo do patrão, ligadas a essas e outras centrais, como a Força Sindical.

Como nos disse a juventude brasileira em junho, somente com unidade e luta, e nenhuma confiança em quem nos explora e nos engana, podemos chegar à vitória. As grandes mobilizações barraram o aumento da passagem e de quebra questionaram todas as ilusões nos governos, derrubando a popularidade do PT de Dilma e Haddad, do PSDB de Alckmin, do PMDB de Eduardo Paes... Nessas mesmas mobilizações da juventude, muitos trabalhadores, inclusive ecetistas, participaram. No entanto, nas datas combinadas pelas centrais sindicais de serem dias de lutas dos trabalhadores, como o dia 11 de julho e o dia 30 de agosto, ainda que os trabalhadores claramente quisessem entrar em cena e mostrar toda sua força, o papel dessas mesmas centrais foi de freiar, controlar e desviar.

Por isso essa não será só mais uma greve. Temos que passar por cima desses sindicatos pelegos que só servem pra nos dividir e atrasar. Temos que nos organizar democraticamente a partir da base, discutindo em cada agencia, Centro de Distribuição e Centro de Triagem e colocando cada pauta específica. Temos que organizar atos nas ruas buscando apoio da juventude e dos outros trabalhadores que também querem uma sociedade totalmente diferente. Temos que unificar nossa luta com bancários e metalúrgicos, mostrando que somos uma única classe!
Queremos condições saudáveis de trabalho, condições de segurança, e aumento real de salário!

Queremos mais funcionários e com as mesmas condições de trabalho, por isso é preciso efetivar os terceirizados (se com condições rebaixadas eles realizam o serviço, já estão capacitados, por que não podem ter as mesmas condições?) e estatizar as agencias franqueadas (onde as condições também são piores e o lucro vai pra terceiros) e barrar todas as formas de terceirização e privatização que hoje existe também no setor de limpeza, caminhões, e agora com o plano de saúde!

quarta-feira, 18 de setembro de 2013

GCM e Presidente da Comissão de direitos humanos celebram homofobia no Glorifica Litoral


Por: Elida Costa, Campinas - SP


No último final de semana presenciamos mais um triste episódio homofóbico, o qual foi protagonizado pelo veterano prol-homofobia, o Deputado Marco Feliciano, que bradou palavras de ordem contra 2 ativistas que se beijavam durante o evento “Glorifica Litoral”, realizado em São Sebastião, litoral norte de São Paulo. Joana Palhares, de 18 anos, e Yunka Mihura, de 20, foram detidas, agredidas (física e moralmente) e algemadas por agentes da GCM que, posteriormente, as levaram ao 1.º Distrito Policial de São Sebastião, onde foram realizados exames de corpo de delito. Exames os quais constataram, em Joana, hematomas nos braços e pernas. Vale ressaltar que o evento religioso em questão, ocorreu em área pública, logo, tanto a atitude do Deputado, quanto a atitude da GCM, caracterizou afronta aos direitos humanos e liberdade de expressão.

A ação da GCM foi legitimada pela prefeitura de São Sebastião que em nota justificou a ação da guarda como “necessária” mediante ao que foi alegado pela delegacia local, que classificou o beijo como "perturbação de cerimônia religiosa". Porém, aos casais héteros presentes que também se beijavam durante o culto, nada foi feito, afinal, o beijo entre 2 pessoas de sexos opostos trata-se apenas da celebração do amor, enquanto o beijo entre 2 pessoas do mesmo sexo, é tratado como ato abusivo e de zombaria contra determinadas crenças. Esse tipo de repressão só demonstra o quanto as instituições religiosas e o Estado atuam em comum acordo, já que a própria polícia foi a responsável de legitimar os discursos homofóbicos realizados pelo pastor, por isso lutamos contra a violência, coerção e discriminação em razão de orientação sexual, identidade de gênero e raça. Por um estado laico que garanta a cidadania e diretos humanos às minorias e contra as bizarras imposições da bancada evangélica no Congresso Nacional. Não podemos deixar de citar o papel da policia, sujeitos os quais estão e são situados "na ponta dos interesses do Estado", treinados para a guerra com táticas delineadas ainda na ditadura militar, cujos inimigos alvo são os trabalhadores e principalmente os setores oprimidos como os LGBTs.


A ação da polícia, quase sempre, violenta e sanguinária, garantirá aos que possuem o poder, sua constante “manutenção” e como consequência, a expropriação do povo. Qual o subterfúgio aplicado para justificar tais ações? "Tudo em nome da moral e dos bons costumes" e é claro que um "pouquinho" de imunidade parlamentar não faz mal a ninguém, estas são as costumeiras práticas de sujeitos facínoras.
 E assim, o estado consolida, de forma cada vez mais explicita, o seu poder incontestável sobre a minoria diariamente rechaçada, afinal, os gays são doentes e os negros amaldiçoados, este é o direcionamento ideológico receitado pelo sistema às massas. Lutemos contra a democracia burguesa que diariamente deslegitima nossa luta para que nossos direitos não se concretizem efetivamente, lutemos contra as alianças com bancadas religiosas para fortalecimento do governo Dilma em detrimento de nossa dignidade, da dignidade da pessoa humana, pela separação do Estado da Igreja que são apenas veículos de propagação de passividade e servidão. Busquemos quebrar os alicerces do estado, fundados em autoritarismo e imposição, para que sejamos de fato livres de dogmas, preconceitos e regras, que nos regram, oprimem e matam.

Assista aqui os vídeos da agressão: http://noticias.uol.com.br/cotidiano/ultimas-noticias/2013/09/16/apos-expulsar-garotas-que-se-beijaram-em-culto-feliciano-diz-que-ato-foi-baderna.htm#fotoNav=199

Carta de estudante secundarista convida para Reunião do Pão e Rosas Zona Oeste!


Nas últimas semanas, o desconforto gerado por declarações preconceituosas em sala de aula se alastrou entre os 3°s anos, gerado uma mobilização de alunos que se manifestaram à direção da escola contra as atitudes de uma professora. Como já era de se esperar, houve relutância de alguns alunos em se posicionar, por medo ou por terem naturalizado situações de opressão por parte dos professores, reconhecendo essa como mais uma forma de violência legítima. Entre os que se posicionaram contra a opressão, as meninas eram linha de frente. Isso se deve não apenas a pequena quantidade de garotos entre os 3°’s anos, mas também ao fato de que somos nós, garotas, que sofremos diariamente com o machismo e suas consequências. Independente do desfecho de nossa luta contra os preconceitos de nossa professora, devemos nesse momento enxergar nossa evolução e nossa força. Nós nos cansamos da opressão que sofremos por nossas escolhas pessoais, nos mobilizamos não só por ofensas dirigidas a nós, mas também em solidariedade à colegas de outras classes, e acima de tudo, nos organizamos enquanto aluem nossa luta, sem interferência de nenhum adulto.

Apesar dos traços importantes dessa mudança, devemos reconhecer que de forma alguma podemos parar por aqui. O machismo, o racismo, a homofobia e toda forma de opressão não se encontra apenas em uma professora, mas na escola, no sistema educacional e no Estado capitalista. Somos, todos os dias, treinadas para abaixar nossas cabeças aos futuros patrões e maridos. Somos ensinadas a evitar a violência reprimindo nossos desejos. Somos incentivadas a mudar nossos corpos, não por vontade própria, mas por pressão da sociedade. Somos restringidas à concordar sem questionar, somos adestradas, domesticadas. Aprendemos que enquanto homossexuais, devemos ser discretas; enquanto mulheres, devemos ser recatadas; enquanto pobres, devemos sonhar pouco; enquanto negras, devemos enfrentar sempre situações de precarização; e enquanto pessoas, devemos seguir as regras que oprimem nossas mentes e corpos. Devemos então, entender a necessidade de nos posicionarmos diariamente contra todo tipo de opressão às mulheres, lutando por nós, por nossas mães e por nossas companheiras. Pelo direito de decidirmos o que fazemos com nossas vidas e corpos. Pela liberdade das nossas mentes, que vem sendo oprimidas pelo sistema educacional. Convido todas a conhecerem o grupo de mulheres Pão e Rosas. Discutimos formas de combater diariamente a opressão às mulheres nos locais de trabalho e estudo, e construímos um movimento que possa unir estudantes e trabalhadoras numa única luta contra o machismo, o racismo e a homofobia.

terça-feira, 17 de setembro de 2013

A emancipação das mulheres em tempos de crise mundial (II)



Por Andrea D’atri e Laura Liff

No primeiro número de Ideas de Izquierda assinalamos que o neoliberalismo reconfigurou a situação das mulheres em escala mundial: novos direitos vieram acompanhados de maiores prejuízos, junto à feminização da pobreza e da força de trabalho precarizada. Hoje, quando assistimos à emergência de um novo período de crise econômica, social e política, como fazer com que a “ampliação de direitos” conquistada não cristalize como estratégia última de integração, senão que se transforme em ponto de apoio para uma luta radical pela emancipação das mais amplas massas femininas?
A italiana Carla Lonzi e o coletivo Rivolta Femminile denunciaram, nos anos ’70, que “a igualdade é uma tentativa ideológica para subjugar à mulher a níveis mais elevados (...) Para a mulher, liberar-se não quer dizer aceitar idêntica vida à do homem, que não é possível viver, mas expressar seu sentido da existência”(1). O feminismo indicativo que emerge na chamada segunda onda, com a radicalização do fim dos anos ’60 e princípio dos ’70, com sua política igualitarista – em suas variadas alas que abarcaram desde tendências liberais até tendências anticapitalistas e socialistas -, era criticado por propor a assimilação a uma ordem social e simbólica distinta, partindo do pensamento da diferença sexual e da materialidade da condição feminina.
A questão de fundo desta controversa era a incipiente incorporação da agenda feminista na política pública dos Estados, dos governos e dos organismos financeiros internacionais. Obtendo reconhecimento a troco de integração, o feminismo havia passado de questionar as bases do sistema capitalista a legitimar a democracia burguesa como o único regime no que se pode lograr, paulatinamente, maior equidade de gênero, através de algumas reformas parciais que não questionem seus fundamentos. Mas o feminismo da diferença terminou reconceptualizando o gênero, reduzindo-o a uma categoria essencialista: postulava que a feminidade era portadora de determinados valores, inferiorizados no discurso hegemônico masculino que se pretende universal. Este novo feminismo, que surgia – em certa medida – como uma reação contra a assimilação ao sistema do feminismo da igualdade, desestimulou a disputa política, recorrendo-se à criação de uma contracultura baseada em novo valores, surgidos da diferença sexual. E junto com o rechaço ao feminismo igualitarista, terminou impugnando o projeto de uma sociedade igualitária, liberada da exploração e da opressão.
Enquanto avança a restauração conservadora, nem a integração à democracia capitalista do feminismo igualitarista, nem a resistente contracultura do feminismo da diferença puderam evitar que se seguisse reproduzindo, e aumentando a escalas globais impensadas, a violência e a opressão de milhões de mulheres em todo o mundo.
Tempos depois, mulheres lésbicas, mulheres negras, mulheres dos países do chamado “Terceiro Mundo”, questionaram esta “celebração” dos valores femininos, que inviabilizava as diferenças existentes entre as próprias mulheres, estabelecidas como hierarquias opressivas. Denunciaram que estes supostos valores femininos não eram mais que a forma universalista, e, portanto, normativa, em que se expressava a idiossincrasia particular das mulheres brancas, anglo-saxônicas, heterossexuais, de classe média e de países centrais. A diferença sexual se desfez, então, em múltiplas e cruzadas diferenças entre as mulheres, abrindo caminho a variadas identidades nómades e a um sujeito político fragmentário.
Logo, o pós-feminismo foi mais além. De tantas e singulares identidades, derivou a impossibilidade de estabilização de toda identidade. Para o pós-feminismo, toda identidade é normativa e excludente, porque no mesmo ato em que estabelece os limites que abarcam – enunciando aquilo que define – institui o excluído. O gênero não constitui uma essência; não é “natural”, nem pode ter pretensões de classificação universalizante. Os comportamentos teriam um poder constitutivo sobre nossos corpos; o gênero seria uma “posição” instável, atos de fala, uma performance auto produzida, um enunciado pré-formativo. Não cumprir com o “livreto” cultural que se nos impõe através da linguagem, nos privaria dos status de sujeito, nos excluiria das convenções hegemônicas que o poder institui, nos desumanizaria, nos transformaria em “o abjeto”. A heterossexualidade normativa poderia desafiar-se, portanto, desde as múltiplas formas paródicas do gênero e da sexualidade. As “imitações” do feminino e do masculino encarnadas no transgênero, na travesti, na transexual, transgrediriam as normas e estereótipos do gênero em seu fracasso ou instabilidade, convertendo-se em prática política subversiva. Ressignificar o discurso normativo, por meio da paródia, seria uma forma de política que socavaria a hegemonia e abriria novos horizontes de significados.
Enquanto o individualismo se impunha globalmente, da mão das políticas econômicas que empurrava a milhões ao desemprego, que estabelecia a fragmentação e o deslocamento da classe trabalhadora, o feminismo foi se distanciando cada vez mais de um projeto de emancipação coletiva, encerrando-se cada vez mais em um discurso solipsista, limitando a influenciar a uma elite que exigia seu direito a ser reconhecida em sua diversidade, tolerada e integrada na cultura do consumo.
A “cumplice oposição” do pós-feminismo
Se o feminismo da igualdade teve o mérito de conceituar o gênero como uma categoria social, relacional e vinculada ao conceito de poder, visibilizando que a situação de opressão das mulheres tem um caráter histórico e não é a consequência “natural” das diferenças anatômicas, o feminismo da diferença teve, por sua parte, a qualidade de resistir à assimilação a um sistema fundado na subordinação, discriminação e opressão de tudo o que difere do modelo “universal” forjado sob o domínio patriarcal. E se o feminismo da diferença caiu, facilmente, em um essencialismo biologicista, as teorias pós-feministas vieram questionar à sexualidade como uma invariável, voltando a conceber o desejo como algo situado. O mérito, neste caso, de rechaçar a ideia de que a diferença se transforme em identidade fixa, imóvel, abre um caminho potente na cultura e na construção de subjetividade, ainda que, mostra-se limitado ou impotente politicamente para a constituição de um movimento de luta pela emancipação do conjunto dos que são oprimidos pela heteronormatividade obrigatória.
Mas nem os graus de igualdade política conquistados nas democracias capitalistas dissolvem a desigualdade social, nem os padecimentos compartidos pelo pertencimento à mesma classe social dos explorados dissolve as desigualdades que geram a opressão das diferenças. Como imaginar uma igualdade que não equivalha ao reino do idêntico e uniforme, e uma diferença que não se constitua como identidade e hierarquia?
Longe de tomar uma posição sem ambiguidades pela igualdade, o marxismo propõe uma leitura materialista e dialética das diferenças: questiona a abstração metafísica da igualdade formal que aprisiona as diferenças concretas em um universalismo vazio. Porque, no capitalismo, a igualdade só pode existir formalmente, sob a força de abstrair os elementos particulares da existência social. O Estado capitalista consegue esse divórcio fetichista da política e da economia, oferecendo-nos o resultado de um ser humano escindido: proprietário ou despossuído, por um lado, ou seja, com diferenças; mas igualmente cidadão, por outro. As teorias pós-modernas, que pretendem que as diferenças sejam tão igualitariamente reconhecidas em sua especificidade ao ponto que se dissolvam como categorias identitárias (ou não tenhamos necessidade delas), referem ao excluído.
Mas ao não levar em conta as relações de produção capitalistas nas que apoiam estas exclusões, conclui em uma luta pela “inclusão” que, em vez de subverte-las, termina ajustando-se e sendo funcional à nova tolerância mercantil da diversidade. Sem assinalar a inextrincável relação que existe entre o modo de produção capitalista e as múltiplas fragmentações que coadunam à dominação, ao questionamento radical à estabilidade das identidades sexuais e da heteronormatividade perdem sua potencialidade subversiva. Daí que Terry Eagleton definiu o pós-modernismo como “politicamente opositor [no melhor dos casos], mas economicamente cumplice”(2).
A reivindicação da diferença enquanto tal ou a mera proclamação da eliminação das identidades binárias em um mundo onde tais diferenças são motivo fundante de brutais ofensas e injustiças, termina-se parecendo mais um discurso autocomplacente para uma pequena minoria ilustrada e progressista que à crítica de um movimento potente e radicalmente transformador. Pelo contrário, para o marxismo, trata-se da atenção igualitária das diversas necessidades: a única maneira na qual diferença não é hierarquia e a igualdade, uniformidade, algo que nenhuma “ampliação de cidadania” outorga pelas democracias capitalistas poderá oferecer (menos ainda em tempos de crise econômica, social e política como a que estamos atravessando). Só uma sociedade de livres produtores pode ser uma sociedade onde a igualdade se fundamente, não no atraso de uma medição despótica que busque ocultar as diferenças, senão no respeito igualitário das diferenças que estabelecem os elementos particulares da existência social.
Através dos olhos das mulheres
A crise econômica, social e política que atravessa o mundo, é o resultado da impotência do capitalismo para sobreviver senão às custas de maiores penúrias para as massas e maior degradação e esvaziamento político de seus regimes democráticos. O período da restauração conservadora, que desembocou nesta nova crise capitalista, deixou colocado um cenário contraditório: cooptação e integração de amplos setores das classes médias e de parte classes trabalhadora junto à exclusão – chegando à mais extrema marginalidade – para as mais amplas massas; fragmentação inusitada da classe trabalhadora, e ao mesmo tempo, da imposição do assalariamento para milhões de seres humanos empurrados às grandes urbes e de países inteiros incorporados ao mercado mundial.
Como assinalamos na primeira parte deste artigo, pela primeira vez na história da humanidade, este novo período de crise capitalista encontra uma força de trabalho altamente feminizada e com uma inserção urbana que supera à força de trabalho feminina no campo (3). Mas enquanto a situação mundial empurra as mulheres, e aos setores oprimidos, ao desenvolvimento de seu potencial subversivo – demonstrando em todos e cada um dos momentos históricos de grandes crises ou cataclismos sociais, econômicos e políticos -, o feminismo se encontra divorciado das massas, majoritariamente distante da perspectiva de um projeto emancipatório coletivo.
Recuperar essa perspectiva nos exige reconhecer que se a classe operária tem o poder (potencial) de jogar ao vento os propulsores da economia capitalista, essa posição estratégica não é razão suficiente para revolucionar a ordem dominante, se não conquista e acaudilha uma aliança com outras classes e setores oprimidos pelo capital, incluindo a unidade das fileiras proletárias altamente feminizadas. Levantar um programa para a liberação da mulher é vital para as grandes massas trabalhadoras, por sua própria composição e pela necessidade de estabelecer uma aliança com outros setores e camadas sociais empurradas a uma vida miserável, arruinadas pelo grande capital, mas também condenadas à discriminação e à marginalidade, a ser “o objeto” para uma cultura dominante que lhes nega o acolhimento.
Frente essa situação, grande parte das correntes de esquerda não tem feito mais que modelar-se ao status quo das últimas décadas de restauração conservadora. Partindo de uma visão cética, segundo a qual a derrota importa pela contra-ofensiva imperialista não poderia ser revertida, estabeleceu-se, como estratégia a última, a ampliação de direitos na democracia burguesa. Se as classes dominantes se viram obrigadas a incorporar estas demandas para desativar a radicalização, cooptar e integrar amplos setores no regime, estas correntes de esquerda ao invés de considerar estas conquistas como um ponto de apoio, estabeleceram-na como todo o horizonte último. Seu programa anticapitalista foi trocado por um programa antineoliberal, ou seja, com o objetivo mínimo defensivo de limitar os alcances mais pérfidos da restauração conservadora.
No polo oposto, para outras correntes de esquerda, desestimular a necessidade de um programa e uma política pela emancipação feminina que parta dos direitos democráticos conquistados, foi outra forma de adaptação: por omissão, os “assuntos” de opressão são deixados nas mãos dos movimentos sociais policlassistas, enquanto que se aprofunda o corporativismo e o sindicalismo no movimento operário. Em última instância, abandonar a estratégia de hegemonia proletária, pela via da abstenção sectária.
Pelo contrário, quem aqui escrevemos, consideramos que uma crítica desferida às misérias que engendra o capitalismo, também no terreno da subjetividade  e das relações interpessoais, tem que ser parte integral de nossa visão marxista do mundo, de nosso programa e nossa estratégia na luta por mudar radicalmente a sociedade de classes. Enquanto acompanhamos todas as lutas por arrancar do sistema capitalista as melhores condições de vida para milhões de pessoas submergidas na humilhação mais inimaginável, nosso objetivo é a conquista de uma sociedade sem Estado, sem classes sociais; uma sociedade liberada das cadeias da exploração e de todas as formas de opressão que hoje fazem do ser humano o “lobo” de seus congêneres.
Quem ansiamos a liberação da humanidade hoje sumida na miséria e na ignominia, não podemos senão nos posicionar desde o ponto de vista dos setores mais vulneráveis entre os explorados. Para transformar a vida desde a raiz tem que olha-la através dos olhos das mulheres, e é desde este ponto de vista, que tentamos retomar o método do bolchevismo para pensar, inclusive as profundas mudanças sociais que tiveram lugar no último século e que colocam novos problemas a serem levados em conta.
Sabemos que o comunismo não surge da mera ânsia, ainda inclusive quando se trata da ansiedade de uns milhares de milhões de explorados. É necessário não só desejar outra ordem de coisas, mas derrotar a ordem existente. Daqui a necessidade de que toda conquista parcial, hoje obtida nas estreitas margens das democracias degradadas, seja posta em função desta estratégia última.
É o único antídoto realista contra a utopia pós-feminista das democracias radicais e da distopia dos totalitarismos burocráticos com os que a revolução foi traída e convertida em seu contrário. Nesse caminho, o da luta das massas femininas por sua emancipação e a crítica marxista enriquecida pelos aportes das correntes feministas, surgirá um renovado feminismo socialista que ainda espera ver a luz.

Notas
(1) Manifiesto de Rivolta Femminile, Roma, julio de 1970.
(2) Terry Eagleton, Las ilusiones del posmodernismo, Buenos Aires, Paidós, 1998.
(3) Andrea D’Atri y Laura Lif, “La emancipación de las mujeres en tiempos de crisis mundial”, Ideas de Izquierda 1, Buenos Aires, julio 201