quarta-feira, 31 de julho de 2013

Declaração do grupo de mulheres Pão e Rosas USP sobre acusação de machismo



Nós, do grupo de mulheres Pão e Rosas USP, gostaríamos de esclarecer algumas questões acerca da acusação de machismo contra o companheiro André Boff, militante da LER-QI e da Juventude Às Ruas. No dia 28 de junho, aconteceu em Osasco mais um ato chamado pela Frente Democrática e Popular de Luta pelo Transporte Público. A Juventude às Ruas e militantes do grupo de mulheres Pão e Rosas estiveram presentes nesse processo contribuindo com a discussão política e apoiando a população de Osasco na luta por um transporte público e de qualidade. 

Depois destes atos surgiu uma acusação contra Bof. Os acusadores diziam que ele teria agido com brutalidade contra uma militante do movimento neste dia, sendo acusado de apontar o dedo contra a cara dessa militante e a segurar pelo braço impedindo que expressasse sua opinião, o que foi negado por Bof e Matheus (também militante da Juventude Às Ruas e delegado do comando de mobilização), que escreveram uma declaração esclarecendo os fatos e se colocando a disposição para discutir no movimento, leia aqui http://juventudeasruas.blogspot.com.br/2013/07/nota-de-esclarecimento-sobre-acusacao.html

Nós do Pão e Rosas USP temos uma visão bastante distinta de qual é a forma de tratar os casos de machismo dentro do movimento, dentro da luta de classes. Ao contrário dos grupos feministas que neste momento também estão acusando Bof, nós consideramos que o método mais correto no movimento é ouvir as duas versões, dar espaço para o debate, tirar instâncias que possam averiguar o ocorrido e dessa forma, fazer avançar o conjunto do movimento.

Neste sentido, nós, que militamos cotidianamente com o companheiro Bof em diversas lutas em defesa dos direitos das mulheres como nas greves das trabalhadoras terceirizadas da USP, levamos em consideração a posição do companheiro e de Mateus, testemunha do ocorrido, e ainda assim propusemos em reunião da Frente Feminista da USP que se conformasse uma Comissão de Mulheres para averiguar a acusação de forma democrática e aberta, para fazer avançar o movimento.

Além disto, os companheiros Bof e Mateus e nós do Pão e Rosas USP, estivemos no dia 14/07, como medida discutida em reunião ocorrida com a acusadora na USP, em Osasco para, em discussão na Frente Democrática, buscar organizar da forma mais democrática esta discussão, levando em conta as posições distintas, a fim de estabelecer uma comissão para o caso. Tais propostas foram negadas.

Neste sentido, a negativa a este método democrático e o fato de assumirem como verdade incontestável a posição da companheira que está acusando, só pode nos levar a considerar que se trata de uma calúnia, pois não se coloca a questão à prova do próprio movimento, para que o movimento averigue e decida coletivamente suas posições. A maior prova disso é que a informação divulgada é que a carta da Frente Democrática de Osasco foi votada justamente em uma reunião em que o companheiro Bof não pôde comparecer – a diferença de todas as outras – e mesmo solicitando que esta pauta passasse pra reunião seguinte, o tema foi votado a sua revelia.

Por isso, não temos nenhuma opção senão repudiar as notas lançadas pela Frente de Osasco e pelo grupo Feminismo Sem Demagogia, que colocam como machista o alvo de uma acusação que não foi sequer amplamente discutida ou averiguada, declarando culpado, acusado e desmoralizando um companheiro pelo fato de que houve uma acusação. Neste lamentável episódio não se apresentam apenas posições equivocadas de como tratar o machismo dentro do movimento e da luta de classes, mas diferenças de estratégia na luta contra a opressão às mulheres, onde os homens passam a ser inimigos. Não concordamos com esse feminismo que não está a serviço de fazer avançar a luta contra o sistema capitalista, mas de se contentar com a punição de um ou outro homem do movimento, sem nem ouvi-lo. Somos contra tal método persecutório, sobretudo quando se trata de discutir casos no movimento, que “acusa, julga e pune”, sem qualquer chance de debate e averiguação democráticos.

Se a acusação é séria, como mínimo deveriam aceitar o debate amplo, a averiguação dos fatos antes de qualquer acusação formal. Não nos resta outra opção a não ser exigir a retratação do grupo Feminismo sem Demagogia e propor mais uma vez que a Frente Democrática e Popular de Luta pelo Transporte Público de Osasco debate o tema junto com o movimento, pois de forma irresponsável e leviana ambas declarações caluniam o companheiro Bof na internet através uma notas arbitrárias e acusatórias sem aceitar estabelecer qualquer espaço para discussão ou defesa, o que demonstra que longe de querer de fato apurar se houve machismo, demonstram mais interesse em atuar contra o companheiro.

O grupo de mulheres Pão e Rosas continua firme na luta contra a opressão às mulheres, em especial aquelas que são duplamente oprimidas e exploradas como as mulheres trabalhadoras pobre e negras, e lutando por uma sociedade sem opressão e exploração. Para esta tarefa queremos ganhar os homens do movimento, da classe trabalhadora, da juventude para que estejam ao nosso lado contra nossos verdadeiros inimigos: os patrões e o governo.

NESTE 6 DE AGOSTO: Barrar a Lei Mabel (PL 4330)! Basta de trabalho precário! Efetivar @s terceirizad@s!



A juventude rompe a passividade nacional levando para as ruas os anseios da população por direitos como transporte, saúde, educação e moradia. Colocou em pauta a luta pela liberdade sexual, com a luta contra o projeto de “Cura Gay” e também, a profunda insatisfação com governos e políticos que usam bilhões do dinheiro público em benefício próprio ou para eventos como a copa e a vinda do papa. Os governos perderam legitimidade. A aprovação de Dilma (PT) estava em queda e após as mobilizações a presidenta alcançou 69% de reprovação. O mesmo ocorre com os governadores Sérgio Cabral (PMDB-RJ), 88%; Geraldo Alckmin (PSDB-SP), 74%; Antônio Anastácia (PSDB-MG), 64% e outros.

Essa mesma juventude, que saiu às ruas, deu os primeiros passos para retomar a confiança na força das massas mobilizadas arrancando conquistas e desestabilizando a “paz social” instaurada quando Lula, que dizia falar em nome da classe operária, chega à presidência. A situação política mudou e contaminou os trabalhadores. Em cada conversa de bar, no ônibus ou nos locais de trabalho é possível ouvir o apoio dos trabalhadores às mobilizações, inclusive às ações mais radicais quando essas se dirigiam aos símbolos do poder que não os representa (como as prefeituras).  

É nesse cenário que as centrais sindicais se viram obrigadas à chamar uma greve geral no dia 11. Por um lado, porque o PT buscava usar seus braços (MST, CUT, CTB, UNE) nos movimentos de massas para tirar as manifestações das ruas canalizando para uma reforma política “segura”, por dentro da ordem buscando, ainda, reforçar a confiança no aparelho estatal. Por outro lado, porque as centrais (CUT, CTB, Força Sindical, UGT, CGTB, Nova Central) precisavam dar alguma resposta frente ao apoio massivo e crescente às mobilizações antes que a classe trabalhadora entrasse em cena por fora de seu controle, à exemplo das greves selvagens que ocorreram nos canteiros de obra de Jirau e Santo Antônio. Assim, a burocracia sindical fez uma ação nacional, com paralisações, atraso na entrada do trabalho, fechamentos de rodovias, de maneira ordeira e pacífica. Contudo, isso não diminui a importância e o peso na balança da luta de classes da enorme disposição dos trabalhadores em compor as mobilizações atendendo ao chamado de greve geral. Atenção que a classe operária está em cena!

E esse é o maior dos medos de empresários e governos, em particular num momento em que os pilares da estabilidade  política (com as jornadas de mobilizações de junho e a desconfiança popular nos políticos corruptos) e econômica, que possibilitou o aumento no consumo e no emprego, começam a dar sinais mais evidentes de desgaste, ou seja, o ritmo do crescimento da economia e da geração de riqueza diminui, com redução das exportações e dos investimentos,  a inflação aumenta o custo da cesta básica das famílias e serviços e a indústria com tudo  isso, começa e contratar menos e aumentar as demissões, embora ainda estejamos longe do caos que vive a Europa mergulhada na crise mundial. Os ataques, que visam aumentar os lucros dos capitalistas que temem a crise, as custas dos trabalhadores e da juventude, como é a Lei Mabel, mostra que é hora de se organizar e sair à luta, seguindo o exemplo dos trabalhadores e da juventude que sai em luta na América do Sul!

Em todos os momentos de crise econômica é na carne das mulheres e dos setores mais precarizados que se faz sentir mais profundamente o corte da navalha dos capitalistas. Inspiradas pela confiança da juventude em construir seu futuro com as próprias mãos que arrancaram seus direitos é que as mulheres devem se organizar para lutar por suas demandas, superando os movimentos feministas que dizem para confiar que uma mulher na presidência poderia, por dentro do governo e do capitalismo, alcançar direitos reais das mulheres trabalhadoras.

Dilma iniciou seu mandato reafirmando o acordo Brasil–Vaticano que Lula fez em 2008, que dá isenções de impostos às Igrejas e permite o ensino religioso nas escolas, e garantindo que não avançaria na legalização do aborto. Seguiu cedendo à pressão dos setores religiosos e suspendeu o chamado “kit-anti-homofobia” que pretendia combater o preconceito dentro das escolas públicas, frente aos numerosos e desumanos casos de violência homofóbica. Chegou ao absurdo de colocar na presidência da comissão de direitos humanos o deputado e pastor Marco Feliciano (PSC-SP) que, além de diversas declarações homofóbicas, tem no seu histórico a defesa dos projetos de lei “Estatuto do Nascituro” e o “Cura Gay”. Dilma é responsável pelos ataques aos direitos das mulheres e LGBTTI’s. A experiência com uma mulher no governo foi feita. Se não governa para as mulheres e homens trabalhadores, se faz aliança com os patrões, não basta ser mulher para lutar pelos direitos das mulheres.

No próximo dia 06 de agosto, as centrais sindicais chamam uma grande mobilização para barrar o PL 4330 do deputado e latifundiário Sandro Mabel (PMDB-GO), um dos protagonistas do escândalo de corrupção do “mensalão”, que permite a terceirização em todas atividades produtivas de uma empresa, ou seja, permite que haja produção sem nenhuma contratação efetiva, direta. Chamamos todas as mulheres a se organizarem desde seus locais de trabalho e estudo para construir uma forte resistência para que seja arquivada esta “Lei Mabel”, mas principalmente para construirmos um amplo movimento contra a precarização do trabalho e da vida, combatendo a terceirização em todos os níveis e locais.

A terceirização é “escravidão” e tem rosto de mulher!

Uma conversa rápida com uma trabalhadora da limpeza terceirizada revela a face precária da terceirização, é comum afirmações como a de que o trabalho terceirizado é a escravidão moderna com carteira assinada. É a escravidão dos mais de 10 milhões de trabalhadoras[1] e trabalhadores que estão submetidos a condições de trabalho marcadas pela humilhação, assédio moral, salários e direitos diferenciados e reduzidos, estes se encontram, em sua maioria no subemprego e no trabalho informal. E ainda essas mulheres, imensa maioria dos terceirizados em muitas universidades de excelências e repartições públicas do país, enfrentam dupla ou às vezes tripla jornada de trabalho ao chegarem em suas casas, tendo que cuidar dos filhos e ou idosos e realizar outras tarefas do lar, como limpeza em geral, lavar roupas e alimentação. O machismo em nossa sociedade, em meio a miséria capitalista, é responsável pela concentração das mulheres em atividades e serviços de cuidado, como vemos em serviços terceirizados, recebem os menores salários e ainda passam por assédio moral e sexual dos patrões. 

Como mostram dados do Ministério do Trabalho de 2010, o trabalho terceirizado no estado de SP é composto por 46 % de mulheres, com salários que vão de 1 a 2 salários mínimos, ou seja, até cerca de 1300 reais, porém, muitas denúncias de trabalhadores nas universidades públicas dão conta de que muitos terceirizados recebem salários líquidos abaixo de um salário mínimo (R$ 678,00), um escândalo, que se soma ao fato de que o trabalho terceirizado, que traz uma enorme redução nos custos de contratação por parte dos empresários, instituições e empresas públicas, é responsável por 8 em cada 10 acidentes de trabalho, pela ampliação da jornada de trabalho, pela flexibilização dos direitos e instabilidade no emprego com alta rotatividade, ou seja, um baixo tempo médio de permanência no trabalho.
                                                                                                           
Regulamentar não! É preciso acabar com a terceirização!  Construir dia 6 de Agosto pela base e nas ruas como dia nacional de luta pela efetivação de todas e todos os terceirizados e pelo fim do trabalho precário!

A terceirização tem rosto de mulher, precariza e divide a classe trabalhadora entre efetivos e terceirizados, subcontratados e emprega a população mais pobre das periferias das cidades, homossexuais, travestis, negras e negros, assim, a luta pelo fim da terceirização deve ser parte da luta das mulheres contra a precarização do trabalho e da vida que os capitalistas e os governos querem impor ao conjunto da classe trabalhadora.  Não é possível um combate profundo ao machismo enquanto existir trabalho precário e semi-escravo, nas fábricas e universidades que serve aos lucros dos empresários e do capital estrangeiro com o total apoio do governo do PT e PSDB.

A CUT (Central Única dos Trabalhadores), dirigida pelo PT, está convocando o dia 6 de Agosto como dia nacional pelo arquivamento do PL 4330/2004 de Sandro Mabel (PMDB/Goiás) (“Lei Mabel”), reivindicando a regulamentação da terceirização do trabalho a partir do Projeto de Lei (PL) de Vicentinho do PT/SP, que proibiria a terceirização das atividades centrais da uma empresa e garantiria salários e direitos iguais entre efetivos e terceirizados. O projeto de Mabel visa também, legalizar uma prática que já existe em várias indústrias, inclusive grandes empresas estrangeiras no país, como a Toyota e a Samsung, que já terceirizam (hoje ilegalmente) a produção e montagem de seus veículos e celulares, que inclusive recebem incentivos em impostos pelos governos.  No entanto, por trás dessa política que supostamente defende os interesses dos trabalhadores, a CUT, se omite com relação à necessária denúncia ao governo do PT que mais avançou, desde a Era FHC, na geração de empregos terceirizados sob condições de criminosa precariedade, o governo Dilma tem responsabilidade no financiamento de empresas terceirizadas em programas como o Minha Casa, Minha Vida, nas obras do PAC (Programa de Aceleração do Investimento) – Jirau, Belo Monte, nas obras dos estádios da Copa e nos escândalos de mortes de terceirizados nas refinarias e plataformas da Petrobras. A CUT e seus burocratas, afirmam de forma descarada, estarem na luta contra a precarização do trabalho, porém essa burocracia atrelada ao governo e aos patrões não  será jamais capaz de levar até as últimas consequências a luta contra a precarização. Se limitam a uma estratégia falida de regulamentação das leis burguesas, ou seja, a regulamentação da escravidão capitalista, por cima da organização de base dos trabalhadores e trabalhadoras em cada local de trabalho, essa burocracia criminosa não pode organizar as mulheres terceirizadas enquanto sujeitos de suas lutas de forma independente.

Nesse sentido, é um exemplo de luta para todas as mulheres, a luta das trabalhadoras terceirizadas da União na USP (Universidade de São Paulo) que em 2011[2], protagonizaram com o apoio ativo do SINTUSP (Sindicatos dos trabalhadores – efetivos – da USP), do grupo de mulheres Pão e Rosas e de estudantes da USP, uma greve para recebimento se seus salários atrasados e cesta básica que reivindicou os instrumentos de luta e organização da classe trabalhadora com piquetes e assembleias de trabalhadoras, essa luta arrancou da Reitoria da USP, responsável pela terceirização na universidade, o pagamento dos salários.  Essa luta se soma a muitas outras, como a recente greve das trabalhadoras da empresa Centro, terceirizada da limpeza da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas), onde a partir do Pão e Rosas pudemos levar solidariedade ativa a essa luta, mas que infelizmente não pôde avançar para conquistas, devido a atuação mafiosa de sindicatos patronais (Siemaco) que impedem a autorganização independente dos trabalhadores a partir de seus próprios métodos de luta, de modo que esses sindicatos nada servem como ferramenta de luta e organização dos trabalhadores mantendo os interesses dos patrões.

Por isso, nós do Grupo de Mulheres Pão e Rosas, também fazemos um chamado as mulheres a construírem ativamente o dia 6 de Agosto, pela base e independente da burocracia sindical, em cada local de trabalho e estudo, como um dia nacional de luta contra a precarização do trabalho por meio da terceirização, que tem rosto de mulher, que escraviza, humilha e divide a classe trabalhadora! Queremos neste dia 6, gritar contra qualquer forma de diferenciação salarial: igual trabalho, igual salário, iguais direitos! Queremos gritar contra as precárias condições impostas para as operárias: basta de deixar as vidas nas fábricas! E que o dia 6 seja um dia para lutarmos pela efetivação de todas e todos os terceirizados sem concurso público ou processo seletivo e o fim da máfia das empresas terceirizadas que desviam dinheiro público e enchem os cofres dos empresários e políticos corruptos!

Dia 10/08, Plenária Nacional do Grupo de Mulheres Pão e Rosas: construir uma organização classista e anticapitalista para conquistar os direitos das mulheres

Dessa forma, o Grupo de Mulheres Pão e Rosas chama à todas a sua Plenária Nacional para construirmos uma organização classista e anticapitalista para colocar de pé um amplo movimento combativo por nossos direitos e pelo fim da precarização do trabalho e da vida. Mulher, sozinha é muito difícil: as mobilizações nacionais mostraram que é nas ruas e na luta que vamos arrancar dos governos e dos patrões nossos direitos, dentre eles o fim da terceirização, e mostraram também que sem que estejamos organizadas a partir de nossos locais de estudo e trabalho, retomando os sindicatos como ferramentas de lutas das trabalhadoras, não é possível avançarmos em nossas conquistas!

 

[1] Segundo estudo sobre terceirização do Dieese para a CUT “é possível observar que os trabalhadores terceirizados perfazem cerca de 25,5% do mercado formal de trabalho. Destaca-se que parte considerável desses trabalhadores está alocada na informalidade e que, portanto, esse número está subestimado. São 10.856.000 terceirizados formais segundo dados do Ministério do Trabalho e Emprego - RAIS 2010”.

[2] Leia sobre a luta das trabalhadoras terceirizadas da União em A Precarização tem rosto de mulher: história das trabalhadoras e trabalhadores terceirizados da USP. Org. Diana Assunção. Edições ISKRA.

terça-feira, 30 de julho de 2013

Para quem assistiu o vídeo “As 5 contradições da Igreja e do Papa no Brasil”

Por Rita Frau

Em 2 dias mais de 5 mil pessoas assistiram o vídeo “As 5 contradições da Igreja e do Papa no Brasil”, produzido pelo grupo de mulheres Pão e Rosas. Com este texto queremos debater com estas e outras milhares de pessoas sobre a luta pelo direito ao aborto e por um Estado laico, apresentando quais são as ideias do grupo de mulheres Pão e Rosas. 

A vinda do papa ao Brasil teve uma grande repercussão onde a mídia internacional deu grande destaque todos os dias. Nosso intuito com este vídeo não foi questionar a fé religiosa das mulheres e população, e sim, mostrar o que está “por trás” deste grande evento financiado pelos governos municipal, estadual do RJ e pelo governo federal. Ao mesmo tempo, que o papa Francisco[1], aparece mundialmente como uma figura humilde, que construiu sua carreira eclesial “junto aos mais pobres”, discursando por justiça social e reivindicando as mobilizações de junho e julho tendo a juventude à frente, foi aliado da ditadura militar na Argentina, uma das mais sangrentas da América Latina.

Não podemos apagar seu passado com uma borracha diante de uma ditadura que matou 30 mil militantes de esquerda e roubou bebês desses militantes entregando nas mãos das famílias de generais e de empresários vinculados à ditadura militar. Com um pouco mais de 33 anos, o papa Francisco militou em uma organização de direita chamada Guarda de Ferro (Guardia de Hierro) e teve relação estreita com generais da ditadura, como Emilio Massera, responsável pela tortura e mortes de pelo menos 3 mil opositores do regime militar argentino. Além disso, após a ditadura o papa Francisco se colocou contra a anulação das leis de impunidade defendendo a reconciliação com os genocidas da ditadura.

Se no seu discurso de retorno ao Vaticano disse que os homossexuais não devem ser “julgados ou marginalizados”[2], na Argentina se colocou contra a Lei de Matrimônio Igualitário dizendo que era “uma guerra de Deus” contra “uma movimentação do diabo”, além de censurar toda a possibilidade de educação sexual nas escolas e políticas de saúde reprodutiva. E no Brasil, sua Igreja distribuiu mais de 70 mil cartilhas contra o casamento igualitário LGBTTI, contra o direito a adoção de crianças por casais homoafetivos e contra o direito ao aborto.

Esta mesma Igreja que excomungou familiares e médicos que realizaram o aborto de uma criança que havia sido estuprada em Recife, que faz campanha para que o governo deixe de entregar pílulas do dia seguinte às mulheres estupradas no país, é a que está envolvida em escândalos de pedofilia e vive sem trabalhar banhada de ouro e prata. Enquanto foram gastos mais de R$ 118 milhões com a vinda do papa em detrimento de dinheiro público para saúde e educação, o Vaticano tem sua riqueza estimada em US$ 6 bilhões. A população continua sem os mínimos serviços básicos com qualidade, como saúde, moradia, educação e transporte – como se viu com a enorme luta da juventude pela revogação do aumento que teve amplo apoio popular.

É em aliança com este papa e a Igreja católica e evangélica que Dilma vem rifando os direitos das mulheres e homossexuais, e lava a cara do passado do papa Francisco, pois apesar de ter sido torturada pela ditadura, se coloca contra a punição dos torturadores em nosso país, que andam livremente em seus carrões e moram em condomínios de alto luxo enquanto ex-militantes e familiares vivem as sequelas das torturas e mortes. Desde as eleições presidenciais, onde Dilma se calou em relação à defesa do direito ao aborto, por pressão da base aliada (com partidos burgueses e conservadores), abre cada vez mais espaço para ataques e a interferência das Igrejas no Estado. Apesar da constituição de 1988 garantir o Estado laico, cada ano vemos este direito ser jogado no lixo por Dilma através de suas alianças com os setores conservadores. O Acordo Brasil-Vaticano, assinado por Lula (2006), que segue no governo Dilma, é um dos exemplos desta relação íntima entre Estado Brasileiro e Santa Sé. Este acordo além de estabelecer que a Igreja católica seja beneficiada de isenções de impostos para construir seus templos em território brasileiro, estabelece que nas escolas públicas sejam ministradas aulas de ensino religioso.

Marco Feliciano como presidente da Comissão de Direitos Humanos com apoio de Dilma, à cada dia tenta passar um novo ataque as mulheres e homossexuais. Este pastor racista, machista e homofóbico é porta-voz dos setores reacionários que querem fazer passar projetos como a “Cura Gay”, “Estatuto do Nascituro” e mais recentemente a tentativa de setores da Igreja tentam passar um projeto que impede a “profilaxia de gravidez” para as mulheres vítimas de estupros. Além desses ataques, a aliança com a Igreja católica e evangélica legitima a discriminação às religiões de origem africanas que são parte da história da população negra e classe trabalhadora de nosso país que vive cotidianamente na pele o racismo e a exploração. Por isso, para garantir que possamos escolher qualquer religião ou ainda não ter nenhuma, é preciso lutarmos pela separação da Igreja do Estado! Fora Papa e Vaticano! Fim do Acordo-Brasil Vaticano que dá isenção fiscal para a Igreja Católica e estabelece o ensino religioso na escolas!

Enquanto esses setores reacionários ganham espaço, a realidade das mulheres, negros e homossexuais é a de violência, miséria e mortes. No Brasil quase 1 milhão de mulheres realizam abortos na clandestinidade, sendo que apenas as mulheres ricas ou que se endividam financeiramente podem pagar por um aborto em uma clínica clandestina, que chega a custar 3 mil  reais para mais. A maioria das mulheres, trabalhadoras, pobres e negras realizam de maneira precária, tomando remédios ou métodos improvisados que chegam a levá-las a morte. O aborto clandestino é uma verdadeira prática de tortura contra as mulheres, e ao contrário do que dizem, não se trata de método anticonceptivo, mas da possibilidade de decidir sobre seu próprio corpo – e não morrer! – numa sociedade que só nos relega miséria e opressão. Como dizia o dirigente da Revolução Russa Leon Trotsky, o aborto é um triste direito.

A criminalização do aborto está relacionada à uma ideologia cristã que considera como  papel fundamental da mulher apenas sua capacidade biológica de reprodução. Esta ideologia dá base à opressão das mulheres e está à serviço da aliança entre Estado, Igreja e patrões para manter a divisão entre homens e mulheres e sustentar este sistema de opressão e exploração onde mulheres, homossexuais, travestis, transexuais e negros são super explorados e discriminados  cotidianamente. Por isso atacam o direito da livre escolha da sexualidade e o direito de decidir sobre o próprio corpo, tratando como vida um embrião e não tratando da vida das mulheres que são estupradas, violentadas e morrem todos os dias na clandestinidade do aborto.

Ao mesmo tempo que o Estado, governos,  patrões em aliança com as Igrejas,  impõem as mulheres o destino da maternidade, não garantem este direito. As mulheres trabalhadoras, pobres, negras, são as que ocupam os postos de trabalho mais precários e recebem salários de miséria, são as que não têm acesso à um sistema de saúde público de qualidade e são obrigadas e enfrentarem filas para serem atendidas e realizarem o pré-natal, são demitidas para que os patrões não paguem os direitos da licença maternidade, não têm acesso as creches públicas para seus filhos e a licença maternidade de 1 ano ainda é um direito a ser arrancado em nosso país. São as que perdem seus filhos todos os dias com a violência policial nas periferias e favelas! Sem contar nos mal-tratos que recebem vítimas de estupros e são obrigadas a carregar em seu corpo o fruto desta violência, e muitas são presas e obrigadas a pagarem suas penas com serviços voluntários em creches, como uma forma de se reconciliarem com a maternidade que “outros” decidiram por nós. Não aceitamos mais a morte de milhares de mulheres por abortos clandestinos. Enquanto as mulheres ricas podem pagar as caríssimas clínicas clandestinas, nós continuamos sendo 200.000 mortas, todos os anos. Não aceitaremos que dedicam mais por nós, o corpo e a mente são nossos! Educação sexual laica para decidir, contraceptivos gratuitos para não engravidar, direito ao aborto legal, seguro e gratuito para não morrer! Arquivamento do Estatuto do Nascituro!

Para nós do grupo de mulheres Pão e Rosas a luta pelos direitos das mulheres deve ser de forma independente dos governos, patrões e das Igrejas pois só assim conseguiremos arrancar nossos direitos. Respeitamos a fé dos trabalhadores e da população, mas denunciamos fortemente a hipocrisia da Igreja, do Papa e do Vaticano. Tirem suas mãos de nossos corpos e vidas! Sabemos que sozinhas é muito difícil e por isso chamamos a todas a construirmos um forte movimento de mulheres pelos nossos direitos e contra esta sociedade de opressão e exploração. Não basta uma mulher no poder, sejamos milhares nas ruas!

Venha conhecer, debater e construir o grupo de mulheres Pão e Rosas! Plenária do Pão e Rosas dia 10 de agosto! Em breve mais informações.

[1] http://www.ft-ci.org/Quem-e-Francisco-I-A-cumplicidade-de-Bergoglio-com-a-ditadura-militar?lang=pt_br

segunda-feira, 29 de julho de 2013

PÃO E ROSAS NA MARCHA DAS VADIAS - RJ


Aconteceu, no último sábado, dia 27/07 a Marcha das Vadias do Rio de Janeiro e o grupo Pão e Rosas participou formando um bloco denominado Pink Bloc. Organizamos esse bloco em homenagem ao Gulagi Gang (gangue de rosa) - grupo de mulheres na Índia que auto-organizam para combater a violência contra as mulheres e meninas. 
Além do impacto visual de dezenas de pessoas usando acessórios rosas, nosso objetivo também de expressar a auto-organização das mulheres na luta pelos seus direitos, mas não só enquanto marxistas achamos que nossa luta deve ir contra esse sistema que cotidianamente nos explora, humilha e nos divide. A faixa que levávamos denunciava a intervenção da Igreja nos direitos das mulheres e LGBTTI’s através do Estatuto do Nascituro e do incentivo à homofobia, além de exigir o direito ao aborto e questionar o desaparecimento de Amarildo, morador da Rocinha, desaparecido após ser levado à uma UPP por policiais no dia 16/07.
Durante a caminhada levantamos palavras de ordem como: “A verdade é dura, papa Francisco apoiou a ditadura”, “Não é mole não, a Igreja apoiou a escravidão”, “Não tá manero, o papa vem pro Rio e quem paga é o meu dinheiro”, “Pode rezar contra a pobreza, mas é melhor dividir sua riqueza”, "Nesse dia se escuta um só grito, aborto legal, seguro e gratuito","Eu sou mulher, sou radical, não sou capacho do papa e do Cabral" entre outros que criticavam diretamente o papel opressor que a Igreja  Católica cumpre historicamente, denunciavam a vinda do papa e os gastos públicos com a JMJ (Jornada Mundial da Juventude) e o descontentamento geral em relação ao governo de Cabral.  Além disso, denunciamos o papel que cumpre o PT e o governo Dilma com alianças à igreja católica e evangélica nesses 10 anos de governo não garantindo que o Estado seja laico.
 A marcha aconteceu em Copacabana, simultaneamente à programação da JMJ que foi transferida devido a fatores climáticos para esse local. Isso contribuiu para que as críticas realizadas a igreja tivessem uma maior repercussão, entre elas a polêmica gerada pela quebra de imagens religiosas numa performance teatral em meio a marcha. Não achamos esse o melhor método para denunciar a instituição, visto que grande parte da classe trabalhadora têm crença na igreja católica, porém denunciamos a perseguição e nos colocamos em defesa da livre expressão artística. Por isso, nos colocamos ao lado das companheiras da marcha que estão sofrendo ameaças por essa intervenção, não aceitaremos nenhum tipo de agressão a nenhuma companheiras da marcha!!!

Apesar de vermos algumas limitações na Marcha das Vadias por não fazer um questionamento à sociedade capitalista, à divisão de classes e a exploração que impõe às mulheres trabalhadoras, achamos que esse é um importante espaço para fortalecermos bandeiras  já levantadas pelas mulheres e pelos setores LGBTTI`s que compõe a marcha. Como por exemplo o direito ao aborto, fim da violência contra as mulheres e homossexuais, auto-determinação  dos corpos e além dessas reivindicações achamos imprescindível colocarmos as demandas das mulheres trabalhadoras, como a precarização do trabalho e da vida e a necessidade de lutarmos contra esse sistema de exploração e opressão.