segunda-feira, 31 de agosto de 2009

Moção de repúdio do Pão e Rosas frente às novas denúncias de assédio sexual na UFF

Em nosso último jornal denunciamos os recorrentes assédios, abusos sexuais e estupros que vem acontecendo no campus da UFF em Rio das Ostras e nos solidarizamos com as estudantes que “vêm praticando uma importante e árdua tarefa de denunciar esses casos absurdos, onde as vítimas têm seus corpos violados da forma mais perversa possível”. As autoridades, a reitoria e a burocracia acadêmica acabam sendo coniventes com uma estrutura de universidade que permite tamanha opressão contra as mulheres e, ao mesmo tempo, o silencio ensurdecedor das entidades estudantis e da comunidade em geral acabam sendo funcionais a essa situação.


Nessa semana, tomamos o conhecimento, pelos jornais O Globo, O Dia e Jornal do Brasil, entre outros, da denúncia feita de que estudantes foram assediadas sexualmente, também sofrendo coerção e discriminação machista na calourada da UFF Niterói. “Caloura teria sido obrigada a fazer sexo oral em veteranos”, esse é o subtítulo de notícia veiculada pelo G1. Entretanto, as notícias dos sites oficiais da UFF veiculam as denúncias como “trotes violentos”. A reitoria, a burocracia acadêmica e todas as instituições da universidade ignoram e tergiversam toda violência sofrida pelas mulheres estudantes, tentando englobá-la numa violência “geral e corriqueira”, também absurda ocorrida nos trotes universitários, mas não dizendo que se trata de uma brutal violência contra as mulheres, ignorando o fato de que no campus Rio das Ostras acontece o mesmo.


Nós do grupo de mulheres Pão e Rosas, repudiamos os trotes violentos e coercitivos, que inclusive já levaram alguns à morte. Entretanto, essa brutal violência contra as mulheres, não se restringe aos trotes. Nos colocamos ao lado das companheiras da UFF e acreditamos que é preciso romper o silêncio! As mulheres, estudantes, professoras e funcionárias, não podemos nos calar diante desse tipo de violência! Somente a partir de nossa organização e mobilização poderemos dar um basta! Chamamos as entidades e a comunidade a levantar suas vozes!


Colocar de pé um comitê contra a violência sexual conformado por estudantes, trabalhadoras (efetivas e terceirizadas) e professoras em todos os campi da UFF!


Chega de violência sexual contra as mulheres!

Punição dos culpados já!


Que as entidades, CA´s, DCE´s, sindicatos e associações ligadas às universidades levantem essa bandeira e essa Luta!

sexta-feira, 28 de agosto de 2009

"É preciso respeitar o direito da mulher ao seu próprio corpo"

Artigo de Gilson Dantas, médico e doutor em sociologia pela UnB e editor da revista Contra a Corrente, diante da 3ª Marcha Nacional da Cidadania pela Vida em Brasília

(Brasília, 28/08/09) O profissional de saúde que, como eu, já tirou plantão em Pronto Socorro de hospitais públicos sabe – e a população também sabe - que nenhuma mulher chega à situação de aborto com prazer ou com qualquer forma de satisfação. É tudo ao contrário.

São levadas a isso por contingências sociais espúrias. É justamente por terem que viver e morrer à míngua no seu cotidiano, que essas companheiras – em regra duplamente oprimidas, pelo patrão e eventualmente pelo parceiro machista – chegam ao extremo de irem parar em algum insalubre Pronto Socorro, onde irão passar pela dor, o constrangimento e até a morte por conta de uma gravidez indesejada. São milhares de mulheres todos os meses. Na Argentina, onde o aborto também é criminalizado, estima-se que morre uma mulher por dia em aborto clandestino (chegam demasiado tarde - quando chegam - à emergência médica); no Brasil a estimativa de mortes é muitíssimo maior. Sabemos que mulheres jovens nessa condição já chegam ao Pronto Socorro em estado desesperador.

Obrigadas a viver em condições desumanas em seu bairro e no trabalho, em meios de transporte desumanos, sem escolaridade e sem acesso fácil a um pré-natal, ao serviço ginecológico qualificado ou à orientação e métodos de prevenção à gravidez, as jovens mais pobres e trabalhadoras são empurradas para o aborto como porta de saída e última opção para uma gravidez que não escolheram; ao terem que chegar a esse extremo estão, em todo caso, tentando fazer valer seu direito básico, elementar e mais democrático ao próprio corpo. E aí, desesperadamente se dão conta que assim como mal tiveram o direito à própria sexualidade (para além dos limites da reprodução e do comércio do corpo), ao lazer, ao trabalho, à assistência de saúde, vão ter cassado pelo governo o seu direito de optar ou não pela gravidez.

O que mais chama a atenção nisso tudo é que as mesmas forças conservadoras e/ou mistificadoras, que estiveram cem por cento ausentes na defesa incondicional do direito da mulher à própria sexualidade, a creches públicas e gratuitas, ao trabalho pleno e à assistência médica gratuita universal e de qualidade, costumam aparecer diante da mulher oprimida, nesse momento de desespero, de espada em riste e numa postura que lembra o pior da Idade Média, para berrar contra a mulher que deseja ser dona do que já é seu por natureza: seu corpo!

O exemplo vivo neste momento é o da manifestação antiaborto (intitulada “3ª. Marcha Nacional da Cidadania pela Vida”) programada para este domingo (30/8/9) aqui em Brasília, organizada pela santa aliança entre deputado do PT (Luiz Bassuma, PT-BA, da Frente Parlamentar contra o Aborto), Igreja católica (a CNBB tem divulgado o evento), uma ONG do Ceará (que propaga, dentre outras coisas, o espiritismo) e outras figuras afins em um ato de rua financiado com dinheiro público segundo noticia a imprensa.

Faz-se necessário que todos aqueles que defendemos os direitos da mulher trabalhadora, os sindicatos dos trabalhadores da saúde, os democratas em geral nos pronunciemos e manifestemos contra, a começar pelos companheiros e correntes políticas que se alinhem com as lutas democráticas ou com o socialismo (aliás, defender o socialismo não tem nada a ver com essa bandeira retrógrada antiaborto como faz Heloísa Helena do PSOL, ao mesmo tempo em que defender a cidadania não tem nada a ver com a negação do direito mais elementar da cidadã, no caso, de decidir sobre o seu próprio corpo, direito aliás permitido em 49 países do mundo sem restrição alguma).

Manifesto aqui o meu repúdio a essa marcha em Brasília ao mesmo tempo em que faço uma veemente saudação ao grupo de mulheres Pão e Rosas que bravamente vem lutando pelos direitos das mulheres e impulsionando a importante Campanha Latino-americana pelo Direito ao Aborto.

Racismo no Carrefour: nossas vozes não podem se calar!

No dia 7 deste mês o hipermercado Carrefour, em Osasco, foi cenário de uma violência brutal contra Januário Alves de Santana, um trabalhador negro de 39 anos. Ele aguardava a família, que fazia compras no mercado, em seu carro EcoSport quando foi abordado por um cerco de seguranças não uniformizados. Januário, que é trabalhador da USP, foi acusado de tentar roubar o próprio carro. Ele foi levado até uma “salinha” onde foi espancado por cerca de 20 minutos. A violência prosseguiu com a chegada dos policiais ao local, que falavam coisas como: “Cala a boca, seu neguinho” ou “Sua cara não nega. Você deve ter pelo menos três passagens pela polícia”.

Enquanto os discursos de intelectuais, políticos burgueses e dos meios de comunicação afirmam veemente “Não somos racistas”, vem à tona um caso escandaloso de como o racismo se reproduz nas formas mais violentas e repugnantes. Todo a falácia da democracia racial cai por terra frente a casos como este – e poderíamos listar tantos outros que ganharam repercussão e depois foram esquecidos, na maioria das vezes marcados pela impunidade.

Os seguranças envolvidos foram afastados e o Carrefour divulgou uma nota dizendo repudiar o acontecimento, que define apenas dizendo que um cliente foi confundido com um bandido, omitindo toda a violência que se desencadeou desde que Januário foi abordado repentinamente no estacionamento. Nós, mulheres do Pão e Rosas colocamos nossas vozes para repudiar esse acontecimento e denunciar a hipocrisia do Carrefour, que tenta se safar da sua responsabilidade sobre o caso com uma mera nota pública. Também colocamos nossas vozes para repudiar uma vez mais a ação da polícia, essa instituição que a burguesia utiliza para garantir sua segurança, nos prendendo, humilhando, agredindo e matando.

Januário é um exemplo de que ser negro nos dias de hoje ainda significa encontrar semelhanças tão duras com o período escravocrata. O chicote ainda estrala em nossos corpos! Para a burguesia, os negros servem para serem explorados em suas empresas – como bem demonstra a situação das trabalhadoras de atendimento dos hipermercados que trabalham longas jornadas por salários de fome e com recorrentes ataques aos direitos trabalhistas. Mas nós negros somos sempre suspeitos: por estar parado, por estar andando, por estar correndo ou por estar ao lado de um Eco Sport. E essa lógica do “elemento suspeito” rege a ação da polícia e regeu a ação dos seguranças do Carrefour.

Não podemos nos calar! O Pão e Rosas se coloca ao lado de todos que se indignam com a violência racista e não aceitam o esquecimento com o passar do tempo.

Punição ao Carrefour, responsável por essa agressão racista!
Abaixo a violência policial contra os negros!

quinta-feira, 27 de agosto de 2009

Nosso canto é o espanto dos que nos julgaram mortas!

Programa Pão e Rosas na Rádio Muda. Toda quinta às 19h30. Apresentado pelas companheiras do Pão e Rosas Campinas. Hoje apresentaremos um programa experimental. Ouça nosso programa através do site da Rádio Muda. Entre em contato pelo email paoerosas.campinas@gmail.com. Lançamento oficial com Mara Onijá na próxima quinta num programa especial contra o golpe em Honduras.

quarta-feira, 26 de agosto de 2009

Mais um ataque em Araraquara

Nós, estudantes da UNESP Araraquara, mais uma vez somos vítimas do autoritarismo da direção do campus. No último dia 17 o Restaurante Universitário amanheceu com o seguinte aviso: "Foram suspensas a partir de 17/08/09 as bolsas alimentação autorizadas pela direção. Os bolsistas que sentirem necessidade poderão solicitar o benefício via NAE". O processo seletivo para todas as bolsas de permanência estudantil é aberto logo que inicia o ano letivo e, teoricamente, deve ser concluído até – no máximo – o mês de abril. A cada ano que passa, entretanto, ele é mais lento. Nesse ano o processo da bolsa alimentação – que pra muitos estudantes é a única forma de assegurar suas refeições diárias – não havia sido concluído até a volta das férias do meio do ano. Esse é só mais um exemplo do descaso da direção com os alunos que necessitam da permanência estudantil.

O que é permanência estudantil? A permanência estudantil é a garantia que os filhos da classe trabalhadora e do povo pobre têm de manutenção de suas necessidades básicas durante a graduação. Todos os que entram na universidade pública passaram por um filtro social chamado vestibular, filtro esse que é a maneira de manter a classe menos abastada fora do espaço universitário. Ainda assim, mesmo depois de se submeterem a tal seleção, continuam a serem privados dos seus direitos mais mínimos, numa rotina de constantes privações.

Alguns dos ataques arbitrários de uma diretoria autoritária contra os estudantes:
2006 – votado em Congregação o fim da Moradia Estudantil;
2007 – votado em Congregação a invasão da tropa de choque no campus para prisão dos estudantes em ocupação e greve;
2008 – corte de metade do número de auxílios alimentação e suspensão de três estudantes por perseguição política;
2009 - Janeiro – descaso com os estudantes da Moradia no período de reforma dos blocos (que inclusive continua), onde os mesmos tiveram que se acomodar sendo cerca de 100 estudantes em duas casas, nas quais caberiam não mais que 64; Março – tentativa de expulsão e depois de suspensão de estudantes que perderam o prazo da rematrícula; Agosto – suspensão das bolsas alimentação.

Uma universidade de qualidade – e que dá aos estudantes o direito à permanência plena para que possam estudar – só será alcançada com a mobilização estudantil.Por isso nós, do grupo de mulheres Pão e Rosas, nos colocamos na luta. E convidamos todos os estudantes a se unirem e reivindicarem uma universidade verdadeiramente democrática, pública e aberta aos trabalhadores e seus filhos!

Ane, Aline, Elenir e Laís, estudantes da UNESP Araraquara e militantes do Pão e Rosas

Nenhuma demissão na empresa Kraft-Terrabusi!

"Queremos que nossas mães e nossos pais voltem a trabalhar em Terrabusi"

(Argentina, 19/08/09) A patronal norte-americana Kraft* Terrabusi lançou em sua unidade de Pacheco um ataque aos trabalhadores/as com mais de 160 demissões aos novos delegados e trabalhadores/as da fábrica, que no mês passado estiveram à frente das mobilizações onde reivindicavam condições seguras de trabalho e proteção contra o vírus da gripe A, travando assim uma luta que resultou em uma paralisação de 5 dias em defesa da saúde dos/as trabalhadores/as e da saúde de suas famílias,e neste processo mais do que justo de luta as mulheres trabalhadoras cumpriram um papel fundamental.

No dia de hoje, em meio a indignação e um enorme espírito de combatividade, os trabalhadores e trabalhadoras realizaram uma primeira assembléia que votou continuar em estado de assembléia permanente até a reincorporação de todos os despedidos/as, entre eles/as os membros da Comissão Interna e do corpo de delegados do setor.

Nós da agrupação Nosotras - Pan y Rosas chamamos a todas as organizações de direitos humanos, sindicais, estudantis e toda a comunidade a cercar de solidariedade esta grande luta contra a multinacional ianque que segue embolsando milhões e não está em crise, já que o que busca é desmembrar e enfraquecer a nova direção de delegados/as combativos/as de Terrabusi violando os direitos do/as trabalhadores/as.

Reincorporação de todos/as despedidos/as!
Toda nossa solidariedade à luta!

*A multinacional Kraft Foods no Brasil é produtora, entre outros produtos, das bolachas Trakinas. Texto traduzido por Bruna Bastos do Pão e Rosas Franca.

terça-feira, 25 de agosto de 2009

Mulheres da América Latina, de pé até que caiam os golpistas!

Abaixo o golpe em Honduras! Nenhuma negociação com os golpistas! O imperialismo, os empresários, os militares, a Igreja pró-golpista não passarão! O Pão e Rosas se coloca na perspectiva de estar na linha de frente da mobilização, gritando bem forte que hoje, no Brasil, somos todas hondurenhas, e que acreditamos na força da mobilização em toda a América Latina, assim como na força da luta e da resistência das mulheres, dos trabalhadores e do povo pobre hondurenho para derrotar os golpistas sem nenhuma negociação! Chamamos todas as mulheres a participarem ativamente desta mobilização. Entre em contato conosco pelo email paoerosasbr@gmail.com

quarta-feira, 19 de agosto de 2009

Em Zanon lutadores e lutadoras expropriaram os capitalistas! Viva a luta de Zanon!

Por Lívia Barbosa, assistente social formada pela Unesp-Franca

Após anos de intensa luta e forte resistência das trabalhadoras e trabalhadores da fábrica ceramista em Neuquén, Argentina, no dia 12 de agosto Zanon é definitivamente expropriada, representando uma grande vitória para a classe trabalhadora argentina e um grande exemplo a ser seguido pelos trabalhadores latino-americanos.

A fábrica sob controle operário há cerca de 8 anos, hoje intitulada Fasinpat (Fábrica sin Patrones), não mais pertence ao seu antigo dono, Zanon. Esta luta, contou desde o início do processo com a solidariedade de centenas de estudantes, artistas, intelectuais, trabalhadores empregados e desempregados, assim como as Mães da Praça de Maio, os índios Mapuches e o povo pobre de Neuquén. Essa é uma prova real de como a aliança operária e popular organizada de forma independente dos patrões e dos governos será capaz de derrubar a exploração, a opressão e a miséria a que estamos submetidos.

Ao longo da luta foram várias as conquistas, como a enorme redução de casos de acidentes de trabalho, redução da jornada com o aumento dos salários, crescimento dos postos de trabalho, sendo grande parte da produção voltada para a própria comunidade de Neuquén como hospitais, escolas e creches. Essa incrível vitória não teria sido possível sem a força dos trabalhadores e as mulheres trabalhadoras, essas que cumpriram papel importante em todo o processo até a expropriação da fábrica. Desde o início do período de ocupação companheiras de operários lutaram ombro a ombro com os operários em Zanon, enfrentando a repressão, ampliando toda a rede de solidariedade que a luta de Zanon acaudilhou, trazendo muitas vezes suas próprias famílias para a luta, representando um símbolo de coragem e bravura.

Essas mulheres, cansadas de serem exploradas e oprimidas assim como seus companheiros pelos freqüentes ataques da burguesia e do governo diante da crise que atacou brutalmente a Argentina em 2001, com ameaças e demissões em massa, fechamentos de inúmeras fábricas, se organizaram numa Comissão de Mulheres, afim de discutirem e propor ações concretas para enfrentarem todos os ataques que elas, juntamente com seus companheiros de luta, enfrentariam a partir dali.

Agora, mais do que nunca, frente à crise mundial que ainda começamos a enfrentar no Brasil, vendo milhares de demissões em todos os países, ataques das patronais com reduções de salários, demissões voluntárias, jornadas de trabalho extenuantes, imensa precarização e terceirização de trabalho (composta em grande parte por mulheres negras) enquanto são “repassados” pacotes bilionários do governo para ajudarem os banqueiros e capitalistas, vemos a necessidade de unirmos forças para que não sejam os /as trabalhadores/as e o povo pobre quem paguemos pela crise criada pelos parasitas capitalistas. E a partir da experiência de Zanon, vemos um modelo concreto de que é possível um outro modo de produção e de vida, que não esse. Zanon, mais que um exemplo de trabalho, é um exemplo de liberdade! É uma prova de que uma empresa não precisa de um patrão para sobreviver, pois ele é aquele que lucra às custas do suor e sangue dos trabalhadores e trabalhadoras!

Nós, do grupo de mulheres Pão e Rosas, sabemos que a batalha está só começando. A luta pela expropriação de Zanon não está descolada da luta imensamente maior que estamos dispostas a travar, pois o modo de produção capitalista só pode oferecer a nós trabalhadores e trabalhadoras opressão, exploração, miséria e uma barbárie cada vez mais profunda.

Por isso, saldamos nossos companheiros e companheiras, lutadores e lutadoras e unidos gritamos: “Viva a luta de Zanon, que viva o controle operário, porque essa fábrica é do povo, em Zanon não passarão!!!”

***

Reproduzimos abaixo extratos de depoimentos publicados na última edição do jornal La Verdad Obrera (Argentina).


“Eu abraço a cada um de vocês. Abraço-os cheia de felicidade, de alegria. Porque como os companheiros dizem, ‘Zanon é do povo’, este triunfo é do povo, é de todos nós, é belo tê-lo conseguido e isto faz com que nós assumamos um compromisso a seguir, não somente os companheiros de Zanon, mas todos os lutadores sociais, todos os que buscam que haja justiça, que não haja tanta desigualdade. Eu me sinto feliz porque aqui se reivindicam nossos filhos, a esses filhos nossos que eram revolucionários, maravilhosos, que tinham essa juventude que tem todos vocês. Jovens não só na idade, jovens de espírito, de convicção. Há muitos agora, também lutadores sociais, que buscam desesperadamente que isso seja uma realidade.
E eles, os companheiros de Zanon, junto com toda a sociedade tem nos demonstrado que se pode. E não apenas que se pode, se deve. Dizia-o um grande historiador, temos que ajudar o homem para que saiba o que vale, o que pode e o que deve. Isso é o que temos que ensinar a cada um de nossos companheiros. Nisso nos comprometemos todos. Isso conseguimos entre todos e podemos fazer para outros também. Sejamos solidários como nos mostraram os companheiros. Eu os amo.”
LOLIN RIGONI- Mães da Praça de Maio (filial Alto Valle)

“Essa fábrica que não somente produz cerâmica, mas produziu homens livres, que produziu um projeto, que produziu desde a Argentina, desde este lugar da Patagônia, para milhares de companheiros e companheiras em todo o mundo, que é o que nós trabalhadores somos capazes de fazer. (...) Companheiros, confiança nas próprias forças, para frente os operários de Zanon, viva a luta da classe operária, aqui e no mundo inteiro companheiros!”
RAUL GODOY, secretário adjunto do SOECN

terça-feira, 18 de agosto de 2009

Jornal do SINTUSP fala sobre dupla jornada e saúde da mulher

Reproduzimos abaixo texto publicado no jornal
do Sindicato dos Trabalhadores da USP.

Dupla jornada, dupla opressão

Muitas vezes ouvimos dizer que “política não é coisa de mulher”. E muitas vezes acreditamos nisso. Mas todas nós deveríamos buscar uma explicação melhor para o fato das mulheres serem minoria entre trabalhadores sindicalizados, minoria entre trabalhadores que freqüentam os sindicatos e, no nosso caso, terem sido minoria entre os trabalhadores em greve.

A opressão da mulher é algo que surgiu antes do capitalismo, mas que é apropriado por ele como forma de fortalecer a exploração dos trabalhadores. Isso porque, se em certo momento diziam que as mulheres deveriam ficar em casa cuidando dos filhos e dos maridos, foi também necessário incorporar essa mão-de-obra barata (mulheres e crianças) à produção. Entretanto, isso gerava uma contradição: ou as mulheres trabalham fora, ou cuidam da casa. O capitalismo resolveu essa contradição rapidamente, se utilizando da opressão da mulher para, por um lado garantir que pudesse incorporar sua mão de obra à produção, e por outro lado, naturalizando ainda mais a atividade doméstica como responsabilidade única e exclusivamente feminina.

Sempre foi e continua sendo, portanto, um senso comum que as mulheres são as responsáveis pelos afazeres domésticos, que nada mais são do que serviços que garantem a reprodução de todos (comida, roupa lavada, higiene, cuidado com as crianças, idosos e doentes). Então, o sistema em que vivemos resolveu não somente um, mas dois problemas: ao mesmo tempo em que incorporou a mulher à produção, contribuindo também para diminuir o salário de toda a classe trabalhadora, manteve a mesma atrelada aos serviços domésticos, obrigada a cumprir com um trabalho socialmente necessário para a reprodução dos seus familiares e que não é remunerado.

A essa contradição, de trabalhar fora de casa, mas também trabalhar dentro, chamamos “dupla jornada”. Hoje em dia, inclusive, muitos já falam sobre “tripla” ou “quadrúpla” jornada, em referência às mulheres que não somente trabalham e cuidam da casa, mas cuidam dos filhos, estudam, são militantes de sindicatos ou partidos. Mas o fato é que a maioria das mulheres, quando se deparam com essa vida, em que estão condenadas a dedicar as 24 horas de seu dia para outros (no trabalho para os patrões, em casa para os filhos, maridos, parentes), desistem de si mesmas. E desistir de si mesma é também acreditar que em sua vida não há espaço para política, para o sindicato, para a luta, para tomar seus destinos em suas mãos.

Mas, em nossa greve, muitas companheiras trabalhadoras participaram ativamente, dia e noite na luta pelos nossos direitos, contra as demissões e outras reivindicações, carregando em suas costas o peso de toda essa opressão. Para que cada vez mais mulheres se enxerguem como trabalhadoras que podem lutar, devemos incluir em nossa luta e na pauta do sindicato a exigência por restaurantes e lavanderias comunitárias, creches 24 horas, assistência a idosos e doentes, saúde e educação pública de qualidade, garantidos pelo Estado.


Diante da Gripe A: proteção às trabalhadoras grávidas!


O Ministro da Saúde que dizia que o país estava preparado para enfrentar a pandemia da gripe A mostrou que não é bem assim, já que as pessoas estão morrendo por complicações respiratórias. Segundo o Ministro as vacinas ainda vão chegar em dezembro e não vai ter para todo mundo, e o restante virá ainda em 2010 para serem preparadas no Instituto Butantã, o anti viral deveria ser distribuído em todos os hospitais públicos. As mais atingidas estão sendo as mulheres e quando grávidas acabam morrendo. Mesmo assim os governos, incluindo a USP e os empresários não estão se importando muito com isso e mantém as grávidas trabalhando. Mas é preciso respeitar o organismo das grávidas por sua imunidade fragilizada afastando-as o quanto for necessário e mantendo a remuneração. Dos casos confirmados as vítimas contaminadas em maioria são as mulheres e segundo dados do próprio Ministério da Saúde, até primeiro de agosto dos 71,5% de um total de vítimas contaminadas entre casos mais leves e mais graves 55,6% eram mulheres. A modernidade inventada pelo capitalismo que obriga as mulheres a continuarem com a dupla jornada e muitas vezes tripla, acaba fragilizando a saúde fazendo-as vítimas das doenças contagiosas com maior facilidade.

Proteção às grávidas, afastando-as do trabalho sem perda da remuneração. Assistência mais intensa no pré-natal. Garantia de alimentação e orientação necessária às mulheres trabalhadoras domésticas das periferias. Vacina para todas e todos já, não somente em dezembro. Distribuição de antivirais em todos os hospitais públicos. Política de proteção as trabalhadoras e trabalhadores das redes de saúde!

*Por Dinizete Xavier, funcionária do Centro de Saúde Escola Butantã e membro do CDB, e Diana Assunção, funcionária da Faculdade de Educação e integrante do GT Estadual de Mulheres da Conlutas. Ambas integram o grupo de mulheres Pão e Rosas e o Núcleo da Mulher Trabalhadora do SINTUSP.

segunda-feira, 17 de agosto de 2009

Mulheres, sozinhas, é muito difícil!

Vamos juntas lutar pelos nossos direitos e pelo fim deste sistema de opressão e exploração!

No momento em que estamos escrevendo este jornal, após nossa 2ª Plenária onde reunimos cerca de 80 mulheres estudantes e trabalhadoras, a América Latina revive os tempos da ditadura. Hoje, em Honduras, mulheres e homens do povo pobre e da classe trabalhadora se levantam contra o golpe de Estado do qual foram vítimas, em 28 de junho. Feministas hondurenhas pedem solidariedade a todas as mulheres da América Latina. Nós, do Pão e Rosas, não podemos deixar de dizer, em primeiro lugar que: SOMOS TODAS HONDURENHAS!
Jornal do Pão e Rosas, agosto de 2009. [Clique aqui para ver em Pdf.]
Nossa agrupação, desde seu surgimento, discute a opressão da mulher partindo da realidade em que vivemos. No estouro da crise financeira internacional, em setembro do ano passado, nós do Pão e Rosas nos levantamos para dizer: que a crise seja paga pelos capitalistas! No 8 de março e no 1º de maio, quando o Brasil já tinha altos índices de demissões e perdas de postos de emprego, enquanto a burocracia sindical cumpria um papel de cúmplice dos grandes empresários, saímos às ruas e dissemos “basta de acordos e de demissões, nós somos mulheres que enfrentam os patrões”. Quando um representante da Igreja Católica disse publicamente que “o aborto é um crime pior que o estupro”, diante da gravidez de uma criança de 9 anos estuprada pelo próprio padrasto, o que lhe conferia risco de vida, afinal eram gêmeos e a menina pesava 36 kg, gritamos com muito ódio “basta de estupros, de morte e de dor, hipócrita Igreja está com o estuprador”. Nas universidades, fomos contra a corrente do conhecimento que quer nos apagar da história, dissemos não e publicamos “Lutadoras. Histórias de mulheres que fizeram história”. Nas universidades, as estudantes do Pão e Rosas gritavam “incorporação imediata de todas as trabalhadoras e trabalhadores terceirizados”, porque todas nós entendemos que a “terceirização escraviza, humilha, divide”. Repudiamos a prisão de mulheres por terem recorrido a abortos clandestinos, enquanto os políticos corruptos seguiam em liberdade. Denunciamos a situação de miséria a que foi submetida a população do Norte e do Nordeste diante das enchentes. Demonstramos que o governo de Lula é o principal agente da permanência das tropas brasileiras no Haiti, que violentam, estupram e matam nossas irmãs haitianas.

Estivemos na linha de frente da greve dos trabalhadores e trabalhadoras da USP, assim como nas universidades estaduais paulistas, na luta pelo fim do vestibular, contra essa estrutura de universidade elitista, racista e machista, nos enfrentando com a burocracia acadêmica, e até mesmo com a polícia do governo Serra. E hoje, frente às discussões que se abrem sobre as candidaturas para a presidência do país em 2010, em que o PT projeta a figura de Dilma Roussef e o PV convida Marina Silva a lançar uma candidatura, não podemos deixar de dizer que algumas mulheres ocupando cadeiras de comando dessa democracia dos ricos em nada significam a emancipação de nós mulheres. Ao mesmo tempo, não podemos deixar de dizer que uma mulher como Heloísa Helena, apesar de aparecer como mulher de esquerda para grande parte da população, não representa nossas demandas, sendo figura destacada de uma campanha reacionária ativa contra o direito ao aborto, enquanto tantas mulheres morrem por abortos clandestinos.

Por tudo isso não nos pode faltar o necessário repúdio dessa crise das “instituições do regime” da democracia em que vivemos, onde uma família Sarney é dona de um estado inteiro, submetendo toda uma população para manter seus privilégios, com o apoio do governo Lula, numa demonstração clara de que a democracia que muitos enchem a boca para defender é nada mais do que a democracia dos ricos. Enquanto o senhor Sarney, sua neta e o namorado dela passam muito bem com o dinheiro público, pelo menos 28 mulheres grávidas morreram pelas conseqüências da gripe A. Nas universidades, os estudantes e professores tiveram suas aulas adiadas por conta da pandemia, mas os trabalhadores não. Por acaso os e as trabalhadoras são imunes à gripe A? E aqueles que nos negam o direito ao aborto e dizem defender a vida, nada falaram sobre a morte do bebê de Manoela, no Rio de Janeiro, após o médico ter omitido seu atendimento, escrevendo indicações em seu braço, numa demonstração do que significa o sistema de saúde público brasileiro. Mas por que será que poderíamos ficar páginas e páginas enumerando as crueldades, os abusos, as violências contra as mulheres e a população pobre que vemos aumentar a cada dia? Trata-se de relações sociais onde predomina a maldade do homem? Não, companheiras. Trata-se de um sistema que tem como fundamento a exploração da maioria da população por uma pequena parcela de pessoas. E esse sistema se chama capitalismo.

É nesse cenário em que estamos apresentando a necessidade de construir um forte movimento de mulheres. Sim, acreditamos que é necessário lutar por todos os nossos direitos. Mas achamos que essa luta é indissociável da luta por uma outra sociedade, que possa nos dar as bases para acabar com a opressão. Isso porque, essa opressão, que antecede o capitalismo, aliada a ele se potencializa, multiplicando as amarras que relegam as mulheres às piores condições de vida. E as trabalhadoras sentem duplamente esse peso. É no capitalismo também onde vemos uma propaganda abusiva dos corpos das mulheres, não somente “vendendo” a idéia de um corpo feminino ideal e impossível de ser alcançado, mas também vendendo diretamente os corpos das mulheres, em poderosas redes de tráfico. Estupros dia e noite nas ruas, assédios sexuais nas moradias estudantis, e um grande silêncio e impunidade reina no país da repressão, com a polícia mais assassina do mundo, que é conivente com o assassinato de um jovem trabalhador negro e homossexual no dia da última Parada Gay em São Paulo. Sobre ele nós dissemos: Somos todas Marcelo Campos.

Não há emancipação possível enquanto a estrutura desta sociedade permanecer intacta, no seu fundamento de exploração de uma classe sobre outra, que utiliza a opressão da mulher para garantir a reprodução de sua força de trabalho através do trabalho doméstico não remunerado. É por isso que desde o nosso surgimento, como um movimento latino-americano, que existe na Argentina e no Chile, e também no Estado Espanhol, acreditamos que seria extremamente necessário dar respostas aos problemas das mulheres trabalhadoras, mas também da classe trabalhadora de conjunto, enxergando nela um aliado estratégico pelo fim deste sistema.

Levantemos todas, mulheres latino-americanas, assim como nossas companheiras hondurenhas, que são exemplo a ser seguido! Chamamos as mulheres de todos os países da América Latina, a construir um forte grupo de mulheres para lutar contra todas as formas de opressão e exploração que nos submete, subjuga e nos rouba a vida. Na 2ª Plenária do Pão e Rosas Brasil, a saudação das companheiras do Pan y Rosas da Argentina nos apontou que podemos e devemos nos colocar a perspectiva de juntas construir o Pão e Rosas em toda América Latina! Hoje, depois de uma atividade intensa do Pão e Rosas no primeiro semestre, acreditamos que estão dadas todas as condições para colocarmos de pé uma forte agrupação de mulheres, com centenas de companheiras trabalhadoras, estudantes, donas de casa, desempregadas... Venha construir conosco o Pão e Rosas!

Em nossa última plenária discutimos a necessidade e importância da periodicidade de nosso jornal e decidimos que nosso jornal será mensal. Agora você poderá ler as matérias do Pão e Rosas impressas todo mês.
Escreva para paoerosasbr@gmail.com e saiba como receber exemplares ou entre direto em contato com uma de nossas integrantes.

2ª Plenária do Pão e Rosas

No dia 01/08, nós do grupo de mulheres Pão e Rosas, realizamos nossa segunda Plenária, com a presença de mais de 70 companheiras, entre trabalhadoras da USP que participaram ativamente da recente greve de trabalhadores, trabalhadoras do comércio, do Carrefour, do Tribunal de Justiça de São Paulo, terceirizadas da limpeza, professoras e donas de casa, e também estudantes da Unesp de Rio Claro, Araraquara, Marília, Franca, Bauru e Rio Preto, PUC-SP, USP, Fundação Santo André, Mackenzie, São Judas, Unicastelo Itaquera, Unicamp, estudantes do cursinho popular “Hebert de Souza” de Campinas, pós-graduandas da UFRJ e UEMG.
"Nós mulheres do Pão e Rosas nos colocamos na luta contra esta sociedade que nos diz que somos iguais, mas que a todo momento nos prova de que vivemos numa sociedade que nos oprime, nos explora, nos humilha. Nos incumbimos da tarefa de sermos um grupo que não pense a questão de gênero isolada da realidade a qual vivemos e de todo sistema de exploração a que somos submetidas, deste modo nos colocamos numa perspectiva de classe e de luta para rompermos com os grilhões que a nós é imposto. Para tanto vemos a necessidade de construirmos um grupo que se coloque ao lado das mulheres trabalhadoras, que lutemos por elas e com elas, levantando uma bandeira feminina e classista, e é neste sentido que o Pão e Rosas-Marília está se forjando, como um grupo que nasceu neste ano de 2009, mas que vê claramente a necessidade de ser um grupo combativo e de luta anticapitalista."
Sheila Lima, estudante da Unesp-Marília


"Eu achei a plenária interessante porque é um grupo de mulheres que estão lutando pelos seus direitos, porque no mundo em que a gente está hoje ainda tem muito preconceito contra a mulher, com a plenária do Pão e Rosas estamos tentando tirar um barreira da própria sociedade, acabar o machismo. Discutimos sobre a precarização do trabalho feminino, por exemplo, no trabalho terceirizado existem mais mulheres do que homem... e quantas supervisoras existem? Entre vinte supervisores, uma é supervisora, isso mostra machismo até dentro do trabalho mais precarizados. Por isso é importante nós nos organizarmos e nos unirmos contra as injustiças causadas dentro do sistema capitalista, entre elas o machismo. "
Patrícia, trabalhadora terceirizada da limpeza de uma EMEI de São Paulo

"Nós do Pão e Rosas, queremos forjar uma nova tradição na esquerda, no movimento estudantil e nos movimentos sindicais, que muitas vezes tratam da questão da mulher e da sua opressão de forma superficial ou menos importante. Queremos romper com essa tradição e sair do abstrato e irmos para o concreto. No dia 1º de agosto, na plenária do Pão e Rosas com várias companheiras presentes, de diversos locais, entre trabalhadoras, donas de casa e estudantes discutimos os nossos projetos, e trabalhos que já estamos realizando e que queremos avançar muito mais, como a campanha pelo fim da terceirização e incorporação imediata das/os trabalhadoras/es, pelo direito ao aborto legal e gratuito, abaixo ao golpe em Honduras...Mas ainda temos muito que avançar, e somos muito poucas, portanto, desejamos que todas as mulheres que assim como nós sentem a necessidade de romper com a lógica na qual estamos inseridas, que querem lutar pelos direitos das mulheres, entendendo que nossa opressão é o alimento desse sistema capitalista, e que portanto, lutar pelos nossos direitos é lutar pelo fim desse sistema, se somem a nós e nos ajudem a crescer, e sermos uma grande agrupação de mulheres que não se calam!"
Ariane Mendonça, estudante da Unesp-Marilia

"A plenária foi muito importante, principalmente pela participação das companheiras trabalhadoras, que tem o desafio de driblar a dupla jornada para militar todos os dias. Isso me motiva muito e é para nós estudantes, uma grande lição, demonstrando a importância de se ligar as trabalhadoras e que só junto a elas poderemos lutar contra o sistema capitalista que significa para nós mulheres: opressão e exploração."
Ana Carolina B. Nogueira
integrante do Diretório Acadêmico da Unesp-Rio Claro – gestão “Por uma questão de classe”

"Não imaginava que tanta gente viria à Plenária. Mulheres de todos os lugares, classes sociais e sotaques se reuniram para discutir problemas com que todas convivemos diariamente, como homofobia, terceirização, aborto clandestino e, em um tópico mais recente, a Gripe A. As diversas opiniões e pontos de vista enriqueceram o encontro e abriram espaço para debates e questionamentos. O depoimento das trabalhadoras terceirizadas emocionou a todos e confirmou que precisamos de mudanças. A festa de encerramento foi muito divertida e era possível perceber que muitos assuntos ainda estavam sendo discutidos, mesmo que em meio à música e à comida. O agradecimento das companheiras argentinas incentivou mais ainda nosso trabalho aqui no Brasil que, com certeza, vai continuar crescendo e representando a cada dia a força e a luta de cada mulher."
Maju, estudante da PUC-SP

"1ª Impressão: Pão e Rosas. Ao ver todos aqueles rostos muito jovens, senti-me lisonjeada por compartilhar com mulheres com capacidade de inovação! Nosso futuro não está assegurado, isto é um fato, contudo é imperativo trabalhar de modo estratégico para que ele aconteça, amenizando situações negativas, contraditórias e conflitos."
Selma Cristina B. Nogueira, contadora, trabalha na área da educação

"Vejo o grupo Pão e Rosas como uma oportunidade não só de expressão, mas também de ação, para todas aquelas mulheres que se indignam frente à opressão a que estamos submetidas e acreditam ser necessário dizer um alto e belo basta! E neste sentido o grupo surge como forma de unir as nossas vozes e mostrar para a sociedade que não aceitaremos caladas que mulheres sejam criminalizadas por praticarem aborto, que milhares de mulheres continuem morrendo devido a conseqüências de abortos praticados em condições insalubres, que nossos corpos sejam vistos como mercadoria, que continuemos a ser vítimas de violência doméstica, exploradas pela dupla jornada e ocupando os piores e mais precários postos de trabalho. São por essas e outras questões que acredito ser de fundamental importância impulsionar o grupo de mulheres Pão e Rosas que, a meu ver, tem um forte potencial para tornar-se um amplo movimento de mulheres. Afinal, se nós mulheres não nos unirmos para lutar contra a opressão e exploração que esta sociedade nos submete, quem o fará por nós?"
Camila Loures, estudante de pedagogia da Unicastelo-Itaquera e trabalhadora da educação no município de São Paulo

“O Capitalismo nos dá uma sensação de emancipação feminina, de direitos iguais, porém essa sensação é falsa, pois as mulheres ainda sofrem uma grande opressão social, como: a mercantilização do corpo feminino, os salários inferiores ao do homem, além de que a grande maioria das mulheres tem uma dupla ou tripla jornada de trabalho tendo que cuidar da casa, dos filhos e manter um emprego.
Assim, o grupo Pão e Rosas me agrada, pois chama para o debate questões políticas, não só pelo ponto de vista do machismo unicamente, mas com uma visão classista, criticando todo o sistema econômico, pegando o problema pela raiz. Sendo assim, creio que a questão não é unicamente a luta por direitos iguais para ambos os sexos, e sim a mudança do sistema econômico atual, e, por conseguinte, com um novo sistema produtivo todas as relações sociais vão se transformar, e entre outras, a questão da mulher.”
Fernanda M. M. Sarmento, estudante de Ciências Sociais da Unicamp

"Não basta irmos as ruas no 8 de março gritar palavras bonitas e depois voltarmos as nossas vidas normais. É preciso organizar a luta no ano todo, e para isso temos que buscar discutir e enfrentar a exploração, opressão e humilhações que nos mulheres sofremos no dia-a-dia em nossa casa, no trabalho, na escola e universidade. Para isso, temos que entender o funcionamento do capitalismo e seus mecanismos de dominação para que possamos nos armarmos contra nosso principal inimigo (a burguesia), que é quem mais se aproveita da nossa opressão. Logo, é fundamental resgatar a história da classe operária e das mulheres que deram suas vidas na luta contra o capitalismo, história que o inimigo tenta, não por acaso, esconder ou modificar. Mas essa luta não da pra ser feita sozinha, temos que nos unir e construir o Pão e Rosas, que hoje é o grupo que cumpre esse papel. Temos feito campanhas, atos e reuniões importantes frente aos últimos acontecimentos e as demandas da nossa classe e por isso estamos vendo o grupo amadurecer e crescer."
Celeste, professora municipal no ABC Paulista

"Decidimos fazer parte do grupo de mulheres Pão e Rosas por tantos motivos quantos podem ser englobados na ideia de uma abordagem do feminismo por uma perspectiva militante e classista. Temos uma identificação com o Pão e Rosas que não se deu com nenhum outro grupo de mulheres que se reivindica feminista. Nesse mote, podemos exemplificar o que (pra nós) diferencia o feminismo Pão e Rosas do feminismo burguês – que ora vê a mulher como a futura substituta na opressão de gênero, outra toma a questão feminista destacada do painel social. A diferença fundamental reside no que diz respeito à diversidade das questões que compõem as discussões, e que delimitam os contornos do contexto histórico no qual a opressão contra a mulher se inclui. Os debates são sempre muito abrangentes, mas sem perder o foco das demandas específicas das mulheres.
Em cada encontro há sempre uma troca de ideias muito profícua, o que nos traz o aporte teórico mais que fundamental à luta política organizada e militante. Além desse aspecto, também nos ajuda à trazer aqueles valores que nos são tão intrínsecos (como o repúdio ao preconceito) e, por isso, tão complicados de se discutir (por nos parecerem óbvios, não necessitando de quaisquer explicações) para um plano de argumentação fortalecida e persuasiva.
Na última plenária – realizada dia 1º de agosto – tivemos a oportunidade de entrar em contato com mulheres com as quais cruzamos todos os dias, mas – dessa vez – em um espaço dedicado somente a nós. Esse encontro nos comunicou com realidades muito diversas, naqueles detalhes e miudezas que fazem tanta diferença pra nós e que nos tornam tão semelhantes nas nossas diferenças.
A questão hondurenha, o aborto e a terceirização foram algumas das diretrizes das intervenções na plenária. Outro aspecto de muita importância pra nós, foi o contato com as trabalhadoras, que ajuda a fortalecer a tão quista aliança operário-estudantil. Além dessas bandeiras mais gerais do Pão e Rosas, foram discutidas demandas individuais dos diferentes núcleos que configuram o corpo do grupo, colaborando – assim – para a formação de uma visão concreta das nossas necessidades, qualidades e deficiências. Em cada uma dessas vivências aumenta a voz e a força para continuar a luta de nós, que somos tantas, e das mulheres que nos antecederam. Somos muitíssimo gratas às lutadoras Laís e Bianca que nos indicaram a possibilidade desse caminho, e reiteramos nossa apresentação com um detalhe que agora toma um espaço enorme em todas nós: nós somos todas Pão e Rosas."
Ane, estudante de Ciências Sociais da UNESP de Araraquara; Aline e Elenir, estudantes de Letras do mesmo campus; e Iaci, estudante pré-vestibular.

Diante da Gripe A:

Exigimos nosso direito à maternidade e à vida, e saúde para todos!
Por Milena Bagetti, Bruna Bastos e Clarissa Menezes
A gripe A (H1N1) que já se espalhou por todo o globo está atingindo com maior letalidade as crianças, idosos e mulheres grávidas em função de o sistema imunológico ser mais frágil. Mas não é somente esse o grupo de risco que é atingido, a população mais pobre do Brasil já sofre e morre diariamente em conseqüência de doenças causadas pelas péssimas condições de moradia e saneamento, alimentação e nutrição, e com essa pandemia, é atingida fortemente.
No Brasil, segundo dados do Ministério da Saúde, das 192 mortes registradas pela doença no país até 8 de agosto, 28 eram de gestantes (14,5%). De todos os casos confirmados de gripe H1N1 no país, 8,5% são gestantes.
A gravidez não é doença, que isso esteja claro. Acontece que nós mulheres ao engravidar nosso organismo se adapta para nos manter e ao feto. Temos então o bombeamento de 30 a 50% a mais de sangue para o coração, respiramos mais rápida e profundamente para obter mais oxigênio. ficamos mais vulneráveis às doenças que atacam o sistema respiratório, pois como nosso útero aumenta, ele pressiona os pulmões reduzindo sua capacidade, fazendo com que, no caso de infecção pelo vírus da gripe A, nosso sistema respiratório fique ainda mais comprometido. Além disso, uma alimentação saudável com todos os nutrientes necessários é imprescindível para o fortalecimento do sistema imunológico. No entanto, milhões de mulheres brasileiras pobres não obtêm acesso a alimentos de qualidade e em quantidade suficiente, ficando ainda mais suscetíveis às diversas enfermidades, entre elas a gripe A.
No Sistema Único de Saúde (SUS), diante dessa pandemia, os e as profissionais da saúde sequer têm acesso aos insumos necessários para sua proteção, como máscaras “bico de pato” e materiais para higiene. Além disso, o tratamento para gripe A requer o uso dos medicamentos que são comprados por custos altíssimos de empresas multinacionais ávidas por lucro e estão sendo insuficientes para o tratamento em muitos locais. Enquanto o governo federal afirma que o país está preparado para enfrentar a pandemia, as filas nos hospitais revelam uma realidade desesperadora. Além de muitas horas de espera, em grande parte dos casos de suspeita da gripe A, o paciente não tem acesso ao teste, já que a orientação do governo é restringir o teste aos casos de maior gravidade. Dessa forma, o vírus se espalha ainda mais e os pacientes não são tratados a tempo. Reivindicamos que sejam produzidos medicamentos genéricos, para baratear o tratamento da gripe A e que os governos distribuam toda medicação necessária nos hospitais públicos e todos os estabelecimentos de saúde com profissional qualificado para diagnóstico e prescrição.
Hoje, enquanto poucos governos postergam o início das atividades de creches, escolas e universidades, os/as trabalhadores/as destes locais não são todos dispensados, mostrando que para as empresas e governos, a vida dos trabalhadores vale menos. Em milhares de locais de trabalho as trabalhadoras grávidas seguem exercendo seu trabalho apesar dos altos índices de mortalidade. Sem contar as grandes fábricas, empresas de telemarketing, supermercados, entre outros, que continuam com a produção e o trabalho a todo vapor em ambientes fechados, com um conglomerado de mulheres e homens, com quase nenhuma circulação de ar, nenhum tipo de higienização periódica, em locais como estes o mesmo objeto passa na mão de dezenas ou centenas de pessoas (sejam peças, dinheiro), caracterizando assim um ambiente propício para a proliferação da doença.
O nosso direito à maternidade é negado cotidianamente, pois as trabalhadoras e o povo são diariamente colocados em situações e condições de risco, passando por privações alimentares, morando em locais sem condições de saneamento, sem água potável, sem emprego, ou com trabalhos precários, sem acesso a uma saúde pública e de qualidade que atenda às suas necessidades, e esse conjunto de fatores influencia diretamente em sua condição de saúde.
O caos na saúde pública em nosso país há anos se arrasta, enquanto isso presenciamos uma explosão de denúncias de corrupção no Senado, e em governos estaduais como o do Rio Grande do Sul. Todo dia temos notícias de mais esquemas de corrupção e o arquivamento descarado dos processos (quando são abertos). O dinheiro público que deveria ser destinado às demandas da população, em saúde, educação, moradia, acaba alimentando a farra nas instituições políticas brasileiras enquanto outra parte é destinada ao pagamento de dívidas que não criamos. Passamos por um momento histórico em que o neoliberalismo aguçou todo individualismo, mas não podemos nos deixar contaminar, por isso devemos nos colocar em pé de luta, para juntas lutar e conquistar nossos direitos!
Por isso, diante da gripe A, em defesa da vida das trabalhadoras grávidas, exigimos afastamento de todas trabalhadoras, efetivas e terceirizadas, sem nenhum desconto salarial e de benefícios! Assistência mais intensa ao pré-natal. Mais verbas para a Saúde Pública! Contratação de profissionais da saúde efetivos, médicos, enfermeiros, farmacêuticos, fonoaudiólogos, fisioterapeutas, dentistas, entre outros profissionais da saúde! Garantia de alimentação, orientação e medicação necessária às mulheres trabalhadoras das periferias, trabalhadoras domésticas, donas de casa, a todas trabalhadoras informais e desempregadas! Vacina para todas e todos já! Distribuição de antivirais em todos os postos de saúde e hospitais públicos, em base à quebra da patente e distribuição gratuita para todas e todas que necessitem! Abertura gratuita à população das clínicas e hospitais privados imediatamente! Mais nenhuma morte por Gripe A!

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Depoimentos sobre a gripe A e a saúde pública

“Por mais comida e menos Tamiflu.
Em tempos de gripe A (inicialmente chamada de gripe suína) faz-se necessária uma reflexão sobre qual modelo de sistema de saúde queremos. Nos postos de saúde, na rede de atenção primária, nos hospitais referência ao atendimento de moléstias infecciosas, o que se observa é o mesmo cotidiano caótico de sempre. O alarde da mídia não foi acompanhado de capacitação dos recursos humanos na área da saúde, muito menos de uma reorganização na assistência capaz de conter a crescente demanda de uma população que se desespera com o passar dos dias. Quem dita realmente as prioridades na assistência à saúde? A necessidade? A mídia? O que se observa na prática, é que se existisse uma estrutura de atendimento satisfatória para doenças do “terceiro mundo” (diarréia, pneumonias, desnutrição...), não precisaríamos de todo esse dispêndio de recursos para conter uma epidemia obscura, com dados conflitantes e de magnitude controversa. Enquanto isso, crianças continuam a morrer de fome, mulheres de complicações relacionadas a abortos clandestinos, nos prontos-socorros faltam gaze e soro. (...)”
Eduardo Falcão, estudante 6º ano de medicina- Universidade Estadual de Ciências da Saúde de Alagoas e estagiário do Programa de Saúde da Família Virgem dos Pobres, Maceió-AL.

“Fomos pegos meio no susto, um dia era algo localizado no México, depois algo terrível que na era do avião poderia matar mais que a gripe espanhola que matou mais de 50 milhões de pessoas, o susto vai aumentando de acordo com cada novo alerta da OMS. Começam a chegar normas diárias, cuidados com os viajantes, cuidados com os vizinhos... e de repente o vírus se espalha de uma maneira não autorizada por pessoas que achavam que com panfletos e normas iam ajudar a explicar ao vírus como ele devia se comportar... Devemos nos preparar, devemos triar e prevenir, decidir a quem dar um remédio que a CONVISA confiscou... Mas é igual ao vírus que sempre vimos, como diferenciar??? Fomos pegos de surpresa, nos preparamos a cada dia com a nova norma que sai a cada minuto. Mas, como me preocupar tanto com uma doença, quando vejo milhares de pessoas ainda morrendo de catapora, malária, gravidez de risco ...”
Raquel, médica do PSF da zona sul na periferia de São Paulo

Moção de Apoio do Pão e Rosas às estudantes da UFF Rio das Ostras

Por Gabriela Fonseca, estudante da UNESP- Rio Claro

Reforçando as denúncias feitas pelo movimento estudantil do estado de SP, relatando inúmeros casos de violência sexual na comunidade acadêmica que deliberadamente caem no esquecimento, viemos conhecer agora algo pior acontecendo em um dos estados mais visitados do Brasil; Rio de Janeiro. O litoral fluminense, com sua paisagem convidativa, vem se mostrando um lugar cada vez mais hostil para as mulheres.

Companheiras/os da Universidade Federal Fluminense-UFF, campus Rio das Ostras, vêm praticando uma importante e árdua tarefa de denunciar casos absurdos de assédio sexual, onde as vítimas têm seus corpos violados da forma mais perversa possível. As estudantes universitárias convivem com o medo diário de sair de suas casas e serem estupradas, dormindo com facões do lado de suas camas para se proteger, escondendo até suas roupas íntimas do varal. São mulheres que mudam toda sua rotina para não passar por determinados lugares, não andarem sozinhas. São privadas de sua liberdade por um estuprador que até o meio de junho já tinha atentado contra 13 mulheres, sendo suspeito de pelo menos mais 4 casos em cidades da região. O último caso na segunda metade de junho, quando duas estudantes ingressantes no campus andavam pela rua e foram abordadas por um homem que as levou a um terreno baldio, ameaçando-as de morte todo tempo, marcando de forma dura e cruel suas vidas. Elas ainda esperam por justiça...

Em resposta ao silêncio das autoridades, da burocracia acadêmica e da reitoria, vemos o movimento estudantil organizando-se e gritando contra a barbárie e o estado de sítio já normatizado em Rio das Ostras. Nós do grupo de mulheres Pão e Rosas apoiamos as companheiras e companheiros em luta contra a violência e estupro contra as mulheres e para que o silêncio seja rompido!
Chega de violência sexual contra as mulheres!
CONTRA A BANALIZAÇÃO DA VIOLÊNCIA!
PUNIÇÃO DOS CULPADOS JÁ!

SOMOS TODAS HONDURENHAS!

ABAIXO O GOLPE EM HONDURAS!

O golpe em Honduras e a perspectiva classista e internacionalista do Pão e Rosas

por Rebeca Costa (estudante da Unesp-Marília) e Paula Berbert (estudante da Unicamp)

Há quase dois meses aconteceu, em Honduras, um golpe militar organizado pelas Forças Armadas hondurenhas e com o apoio do poder judiciário e legislativo, dos setores mais reacionários da burguesia daquele país e das igrejas católica e evangélica. Este é o primeiro golpe militar que acontece nos marcos da atual crise econômica, cuja saída apresentada pelas classes dominantes e pelos governos é aprofundar a exploração e a miséria da maior parte do povo, com demissões, diminuição de salários, retirada de direitos.

Honduras é o terceiro país mais pobre da América Latina, atrás somente do Haiti e da Nicarágua. 27,5% de sua população está desempregada e 49% de seus habitantes vivem no campo, em condições miseráveis devido, tal como no Brasil, à existência do latifúndio. Sua economia é completamente dependente dos EUA - 69,5% das exportações são destinadas a este país e 55,3% das suas importações são de produtos estadunidenses. Essa dependência fica ainda mais explícita quando pensamos sobre a composição de seu PIB: 25% é constituído por remessas de imigrantes hondurenhos que trabalham fora do país e os 75% restantes, dependentes de investimentos externos, estão, fundamentalmente, na indústria têxtil, na produção de bananas e café, destinados ao consumo norte-americano.

Em um contexto de crise econômica, os interesses e a dominação de uma burguesia claramente atrelada ao imperialismo estadunidense ficaram ameaçados e as divergências e as tensões políticas daí derivadas entre as diferentes frações das classes dominantes hondurenhas se acentuaram, bem como a sua intolerância a qualquer medida que pudesse aprofundar sua instabilidade. A aproximação de Zelaya, presidente deposto, com Chavéz e Morales, expressa na incorporação de Honduras na ALBA (Aliança Bolivariana para as Américas) e também no PetroCaribe (acordo de cooperação energética proposto pelo governo venezuelano entre os países caribenhos), além de um pequeno aumento salarial por ele proposto, desagradou os setores mais reacionários e pró-imperialistas do país. Finalmente, no dia 28 de junho, após a tentativa de fazer uma consulta aos eleitores sobre a possibilidade de alterar a constituição para que ele pudesse se reeleger presidente, Manuel Zelaya foi seqüestrado de sua casa e mandado para a Costa Rica pelos militares.

Mal os militares instituíam seu governo, com Micheletti, antigo presidente do Congresso, à sua frente, o povo hondurenho tomava às ruas da capital Tegucigalpa para lutar contra o golpe. Inúmeras manifestações massivas aconteceram, enquanto a classe trabalhadora, a juventude e as mulheres de Honduras se organizam bravamente para resistir. Enquanto isso, Zelaya tentava negociar sua volta com os golpistas, se dispondo, inclusive a concedê-los a anistia, com o aval da Organização dos Estados Americanos (OEA) e do imperialismo ianque, em um intento claro de desmoralizar a resistência do povo e naturalizar o golpe. E os golpistas respondiam as mobilizações com ainda mais violência, reprimindo os protestos, prendendo líderes sindicais e populares, além de assassinar ativistas como o Roger Adrian Vallejo Soriano.

Destacamos, nesta edição do nosso jornal, a heróica atuação das mulheres hondurenhas, que diante da truculência da burguesia e do exército agiram com ainda mais coragem e abnegação, organizando a frente Feministas em Resistência de Honduras, que congrega vários grupos de mulheres. Nós, do Pão e Rosas Brasil, saudamos nossas irmãs hondurenhas, prestamos nossa solidariedade juntamente com nossas companheiras do Pão e Rosas da Argentina e do Pão e Rosas Teresa Flores do Chile, e estamos ao lado destas valentes lutadoras pela derrota do golpe. As mulheres hondurenhas são um exemplo de organização e de luta para todas nós – trabalhadoras, donas-de-casa e estudantes –, demonstrando a força das mulheres, sobretudo quando nos colocamos ao lado dos trabalhadores.

O golpe militar em Honduras nos faz recordar dos piores momentos políticos da América Latina, as ditaduras militares. Historicamente, as ditaduras foram aqui instauradas pelos setores mais reacionários da burguesia de nosso continente, que não hesitam em recorrer a golpes e à repressão do povo quando sentem seus interesses econômicos e políticos ameaçados. Isso demonstra a todos os entusiastas da democracia dos ricos que somente a classe trabalhadora, munida de seus métodos de luta, é capaz de salvaguardar uma verdadeira democracia, a democracia dos trabalhadores e trabalhadoras. Ao mesmo tempo, chamamos a mais ampla frente única de todos os setores que se colocam contra o golpe para colocar de pé uma forte e ativa campanha internacional. O sangue do povo hondurenho não pode continuar sendo derramado!

Sabemos que a nossa luta contra a opressão machista é também uma luta contra o capitalismo, que só nos trás exploração e miséria. Nesse sentido, é preciso que tenhamos clareza que muito mais do que um diferencial em relação a outras agrupações de mulheres, o nosso classismo é a nossa principal arma. Vamos juntas quebrar os grilhões do capitalismo, acabar com a exploração, opressão e machismo. Lutar contra este sistema que nos exclui dos nossos principais direitos. Sistema de lógica patriarcal, que mantém as mulheres haitianas reféns das tropas militares, que ignora mortes de mulheres por abortos, estupros, que não respeita e tira nosso direito a maternidade e as escolhas sobre nosso próprio corpo, assim como nossa sexualidade. O fim da opressão de todas nós só será garantido com o fim deste sistema, que deve ser derrubado internacionalmente pela classe trabalhadora. Por isso, nos colocamos ao lado dos trabalhadores e de suas lutas. Hoje a tarefa mais imediata da classe trabalhadora na América Latina é a derrota do golpe militar em Honduras pela força de sua mobilização e pela solidariedade internacional dos trabalhadores. Por fim, nós enquanto grupo de mulheres que integramos a Conlutas, acreditamos que é urgente a tarefa de colocar de pé a mais ampla e ativa solidariedade à resistência das trabalhadoras, trabalhadores e do povo hondurenho, a começar pela própria Conlutas e os sindicatos e movimentos sociais que a integram, fazendo o mais amplo chamado a todos os sindicatos, centros acadêmicos, movimentos populares, feministas, de direitos humanos, para que organizemos no Brasil um grande pólo de solidariedade às trabalhadoras e trabalhadores de Honduras.

Nós, mulheres do Pão e Rosas Brasil, gritamos em alto e bom som:
SOMOS TODAS HONDURENHAS!
TODO APOIO À RESISTÊNCIA DOS TRABALHADORES E DAS MULHERES DE HONDURAS!
ABAIXO AO GOLPE!

quinta-feira, 6 de agosto de 2009

Diante da Gripe A: Proteção às trabalhadoras grávidas!

Proteção às trabalhadoras grávidas (efetivas e terceirizadas) afastando-as do trabalho sem perda de remuneração. Não ao tratamento diferenciado da Reitora Suely Vilela com a comunidade universitária que obriga os trabalhadores a permanecerem na universidade durante o recesso! Nós trabalhadoras da USP chamamos todas as mulheres a exigirem esse direito em seus locais de trabalho, e as estudantes a lutarem ao lado das trabalhadoras nas suas universidades. Não vamos permitir que tratem nossa saúde dessa forma, sobretudo das mulheres grávidas que são as principais vítimas da Gripe A. Mais nenhuma morte por Gripe A!

Corpos femininos, mais uma mercadoria no capitalismo

Publicamos abaixo artigo escrito por Diana Assunção, Livia Barbosa e Babi Dellatorre para o Jornal Palavra Operária da Liga Estratégia Revolucionária.

Enquanto escrevemos esse artigo, 4 milhões de mulheres, meninas e meninos são explorados sexualmente no mundo inteiro. O Brasil é o primeiro país no ranking latino-americano em relação ao tráfico de mulheres[1]. É também líder na lista de países com maior incidência de crimes de pornografia pela internet, e o terceiro colocado dentre os países com índice de abusos sexuais de crianças e adolescentes[2]. Ao mesmo tempo, a sociedade patriarcal na qual vivemos naturaliza uma imagem abusiva das mulheres enquanto objetos sexuais para desfrute de terceiros, incentivando a busca de um estereótipo de beleza caro, muitas vezes inalcançável para a maioria de nós, reforçando a idéia de que as mulheres já se “emanciparam” sexualmente. Mas a sexualidade, especialmente a feminina[3], é reprimida sempre e quando não está diretamente relacionada com a reprodução. Também, a decisão e autonomia das mulheres sobre seu próprio corpo são consideradas crime pela justiça burguesa de nosso país, resultando na morte de milhares de mulheres todos os anos por conta dos abortos clandestinos. É desta ordem patriarcal que o capitalismo se apropria para perpetuar a sua ordem de exploração.
Patriarcado e propriedade privada
Nas sociedades patriarcais sempre se transmitiu a idéia de que há um modelo normal e regular de estruturas familiares e relações sexuais que deveriam ser seguidas. Isso porque, como demonstra Friederich Engels, em A origem da família, da propriedade privada e do Estado, a opressão das mulheres foi e segue sendo extremamente funcional para a perpetuação da propriedade privada dos meios de produção, no caso das famílias proprietárias, e para a reprodução da força de trabalho, no caso das famílias expropriadas. Olhando para o desenvolvimento histórico das estruturas familiares a partir da perspectiva materialista, Engels argumenta que a ordem social em que vivem os homens de determinada época está condicionada pelo desenvolver-se das forças produtivas, do trabalho humano. Isso significa que a organização política e até mesmo familiar do homem se dá, com inúmeros nexos e mediações, a partir da garantia do suprimento das necessidades mais fundamentais da reprodução da vida – desenvolvimento das forças produtivas e reprodução/perpetuação da espécie humana. A necessidade histórica de perpetuar dentro do núcleo familiar, passando de pai para filho, os instrumentos de caça e coleta e o rebanho criado pelo homem e, por isso, alterando a anterior divisão das famílias em gens matrilineares para famílias patriarcais monogâmicas, pontua, segundo Engels, a origem da opressão da mulher. Nesse sentido, o domínio dos homens sobre suas casas e mulheres coincide com o desenvolvimento da idéia de propriedade, materializada no que chamamos de herança, como uma forma de repassar aos seus filhos (e apenas os seus) os bens acumulados. Isso significou a obrigatoriedade de garantir a legitimidade dos filhos. É como parte deste processo que vai surgindo com grande força na sociedade o direito paterno e a monogamia, que conformam o chamado patriarcado. O que então surgiu séculos antes do capitalismo, combinado a ele se transforma num pilar da exploração capitalista, pois o papel da mulher na família permite aos exploradores que não tenham que arcar com a manutenção da vida dos operários, que será garantida pelas mulheres (alimentação, roupa limpa, cuidado com as crianças).
Com esses contornos, durante séculos, as mulheres se configuraram como um grupo socialmente subordinado, cuja sexualidade, para garantir a eficiência da herança, sempre foi especialmente reprimida. A idéia de que as mulheres pudessem ter autonomia sobre seus corpos e também sobre sua sexualidade, questionando o papel que cumprem em seus lares, subjugadas a uma estrutura familiar opressora, sempre pareceu perigosa para a classe dominante. Estes temiam que as mulheres tomassem consciência de sua potencialidade revolucionária ao perceber que a sociedade capitalista é incapaz de acabar com a opressão de gênero e por isso seria necessário se aliar a única classe capaz de subverter a ordem, a classe trabalhadora. A história nos mostrou que nos grandes processos de luta de classes as mulheres fizeram importantes experiências na divisão do trabalho cotidiano e político avançando na conquista da consciência política que a sociedade burguesa jamais nos permitirá. Aliado a isso, a idéia de que a mulher, seu corpo e subjetividade, devem ser exclusividade do marido está relacionada ao fato desta ser considerada mais uma das propriedades privadas do homem em seu núcleo familiar, sendo assim um ser cuja vontade a ele seria submissa. Ainda que essa opressão se dê, em diferentes contextos históricos, de forma mais aberta ou mais dissimulada, o fato é que muitas mulheres seguem vivendo de forma frustante, muitas vezes como “proletárias do proletário”, nas palavras de Flora Tristán, uma importante lutadora do século XIX, que utilizou essa frase para exemplificar a relação de desigualdade que existia dentro dos matrimônios entre a classe trabalhadora.
Do corpo ideal ao corpo vendido
Toda essa estrutura patriarcal subordina as mulheres ao papel de objeto: se antes a mulher era vendida como uma reprodutora pelos pais à um marido, hoje seu corpo é vendido em comerciais de cerveja, por exemplo. A democracia burguesa não nos deu o direito de não ser “coisa”, ao contrário, naturalizou sermos comparadas a animais irracionais e objetos (“éguinha pocotó”, “cachorras”, “mulher melancia” etc.). Isso porque a sexualidade feminina é definida segundo o prazer masculino (muitas vezes à força), tendo seus corpos estigmatizados por um modelo de beleza alucinante e inalcançável, que também acaba reforçando outras opressões, pois se trata de um esteriótipo de beleza pautado nas pelas brancas, cabelos lisos, o corpo esbelto, e, além disso, na juventude.
O capitalismo abre as portas então para uma apropriação mercadológica dos corpos femininos, a começar por essa ditadura do padrão de beleza, que se expressa desde produtos que não atendem a pessoas fora desse padrão, até as relações de afetividade, cujo valor principal em nossa sociedade são as aparências e estes mesmos padrões. Desde aí o corpo feminino passa a ser um objeto sempre a se modernizar conforme as “novas tendências” ditadas pela indústria da moda e do “comportamento”. Por trás dos corpos “perfeitos” nas revistas, estão cada vez mais casos de jovens (quase crianças) vítimas da anorexia, ou mulheres com deformações e mutilações por conta de cirurgias na busca por um corpo “perfeito” – o que já levou muitas mulheres a perderem a vida.

Mas essa é somente uma das facetas que podemos falar. A idéia de que somos propriedade dos homens se expressou, por exemplo, em Minas Gerais, com o assassinato, aparentemente sem motivo, de diversas mulheres desde o começo do ano. As investigações encontraram um padrão nas escolhas das vítimas: eram todas mulheres. Somamos a isso os casos de assédio sexual nos locais de trabalho, que são utilizados como forma de chantagem com as trabalhadoras. E também os escandalosos casos de assédio e estupro nas moradias estudantis da USP e dos campi da UNESP que permanecem no “silêncio dos corredores” dessas moradias. Mas é preciso entender ainda mais profundamente essa questão. No capitalismo, não somente se “vende” a idéia de um corpo feminino ideal e de que somos propriedade dos homens... no capitalismo se vendem os corpos femininos. Mulheres são vítimas de poderosas redes de tráfico de mulheres, que contam muitas vezes com a cumplicidade de orgãos do governo ligado a indústria do turismo que incentivam a idéia da “mulata” brasileira como “patrimônio histórico” do país, mulheres essas que são destituídas da opção de terem uma vida e um emprego pleno, mas transformadas em mais uma mercadoria para aumentar as riquezas de um punhado de empresários. Os dados referentes ao tráfico internacional são estarrecedores: dos brasileiros que cruzam o Atlântico vítimas do tráfico, 90% são do sexo feminino. Espanha, Holanda, Itália, Portugal, Suíça e França são os principais destinos das brasileiras, e suas origens são majoritariamente dos estados de Goiás, São Paulo, Ceará, Minas Gerais e Rio de Janeiro. Na Europa cerca de 500 mil mulheres são traficadas por ano, sendo desse total, 75 mil o equivalente a mulheres brasileiras, ou seja, 15% das vítimas. Em relação às redes de tráfico dentro do país, as regiões mais atingidas pelo tráfico de mulheres, crianças e adolescentes são a Norte e a Nordeste, as mais pobres do Brasil. Amazonas, Maranhão e Pernambuco lideram o ranking nacional, onde milhares de mulheres são levadas para zonas de garimpo e para o turismo sexual, assim como países vizinhos como Guiana Francesa, Venezuela, Bolívia e Suriname segundo a Pesquisa Sobre Trafico de Mulheres, Crianças e Adolescentes para Fins de Exploração Sexual Comercial no Brasil (Pestraf).

Nós somos sujeito, e não objeto

O fato de milhões de seres humanos serem explorados para que se mantenha no poder uma minoria é um princípio que potencializa ainda mais essa estrutura patriarcal. Por isso, toda e qualquer forma de divisão dentro da classe trabalhadora é muito útil à classe dominante, pois dificulta que as trabalhadoras e trabalhadores se enxerguem enquanto uma mesma classe. Ao mesmo tempo, é uma forma de fortalecer a exploração da classe dominante, que se utiliza de todas as formas de opressão para disseminar os piores preconceitos, naturalizando diferenças salariais e condições de trabalho pelo sexo, por exemplo. Queremos dizer um não a tudo isso. Queremos dizer que o fato das mulheres viverem nessa miséria, condena a sociedade a não poder avançar nas suas mais mínimas necessidades. Que é por isso, então, que as mulheres devem se colocar como sujeito de suas próprias vidas, se organizando politicamente e se levantando contra esta ordem. E, particularmente, devem enxergar na classe trabalhadora um aliado estratégico. Porque, como demonstramos acima, essa ordem patriarcal que nos condena a ser propriedades de terceiros, hoje é garantida pelo capitalismo que potencializa assim nossa opressão, nos explorando duplamente, em nossos locais de trabalho e também em nossa segunda jornada, por meio do nosso trabalho não pago em nossos lares.

Por isso, exigimos educação sexual em todos os níveis do ensino público, sem intervenção da Igreja, para que as jovens possam conhecer e desfrutar de sua sexualidade como decidam. Exigimos punição a todos os estupradores e violentadores que seguem impunes em nosso país. Exigimos o direito ao aborto legal, livre, seguro e gratuito para que as mulheres possam decidir sobre seu próprio corpo com a autonomia que devem ter. Exigimos o direito à maternidade plena, com possibilidade de atendimento de qualidade nos hospitais públicos. Exigimos o fim das redes de tráfico de mulheres e crianças e a conivência dos governos. Exigimos o fim das ditaduras de uma beleza inalcançável, de padrões racistas, da propaganda abusiva. Mas acreditamos que a luta por todas essas reivindicações é inseparável da luta pelo fim desse sistema social e seu Estado, ou seja, é inseparável da luta por uma outra sociedade livre de toda a exploração e opressão que hoje condenam a humanidade, mas que aprisionam de forma mais cruel a nós mulheres.

*Diana Assunção é trabalhadora da USP e dirigente da LER-QI. Livia Barbosa é assistente social e Babi Dellatorre estuda na UNESP de Rio Claro. Todas integram o grupo de mulheres Pão e Rosas.

[1] Escritório das Nações Unidas contra Drogas e Crimes (Unodc)
[2] Agência de Notícias dos Direitos da Infâncias (ANDI)
[3] Também a homossexualidade de homens e mulheres.