Por Andrea D'Atri
Em julho do 2005 as tropas da ONU no Haiti dispararam contra a comunidade de Cité de Soleil, causando um efeito devastador, deixando 22 mil buracos de bala e impedindo, mais tarde, a entrada da Cruz Vermelha em flagrante violação das normas internacionais. No dia 22 de dezembro de 2006, também em Cité de Soleil, as forças da ONU atacaram a população que se mobilizava, disparando contra civis desarmados desde helicópteros. Nessa ocasião, assassinaram 30 pessoas, entre as quais mulheres e crianças.
Estes são somente dois exemplos, mas que sob o regime imposto pela missão da ONU no Haiti são abundantes, onde as tropas internacionais da MINUSTAH tem sido acusadas, junto à Policia Nacional Haitiana, de praticar execuções sumárias e prisões arbitrárias. quantos serão as arbitrariedades e crimes que cometerão estes mesmos soldados durante os próximos meses, agora quando o Haiti se encontra mais devastado do que antes? O governo de Lula enviou recentemente, facões, bombas de gás lacrimogêneo e armas com balas de goma para “colaborar” com a “missão humanitária” que ocupa todas as capas dos jornais do mundo desde o terremoto. Mas estas tropas não estão somente no Haiti. Suas “missões de paz” e sua “ajuda humanitária” se entendem por todo o planeta, onde atuam como verdadeiras “forças de ocupação” imperialistas. E em todos os lados, se levantam acusações contra as tropas que a ONU vestiu de capacetes azuis, em sinal de paz e amizade.
No ano de 2006, 63% das acusações contra as forças multinacionais dos capacetes azuis da ONU estavam relacionadas com delitos sexuais, abusos, estupros, etc., e um terço das mesmas se referiam à prostituição. No Haiti, os casos de meninas, meninos e mulheres prostituídas em troca de alimentos ou dinheiro, estupradas e abusadas pelas tropas da MINUSTAH eram corriqueiros, ainda antes desta terrível tragédia que somente deve ter piorado a trágica situação a qual estão submetidas as pessoas desamparadas, órfãs e que perderam tudo durante o terremoto.
Na Libéria, a “missão de paz” da ONU foi acusada de aproveitar sua posição para oferecer benefícios em troca de sexo aos mais pobres, especialmente meninas e meninos. Na República do Congo, os soldados da ONU foram acusados de estar vinculados a uma rede de pedófilos e se falta de 140 casos de exploração sexual. No Kosovo, o escândalo provocado pela descoberta de que as tropas da ONU participavam em redes de prostituição de mulheres somente durou o que duram as notícias nas primeiras manchetes dos jornais. Na Costa do Marfim, foi denunciado que as tropas “humanitárias” não somente submetiam sexualmente meninas e meninos em troca de alimento, mas também produziam “pornografia infantil com crianças que estão especialmente desprotegidos como refugiadas, órfãs, ou crianças de rua”, segundo a declaração de alguns funcionários. Também são conhecidas acusações de estupros e pedofilia no Paquistão, Uruguai, Marrocos, Tunísia, África do Sul e Nepal.
Como acontece na Igreja, nos exércitos de todo o mundo, entre os círculos de altos funcionários, magistrados e políticos que gozam da maior impunidade, todos os acusados que pertencem aos capacetes azuis ou missões da ONU são repatriados a seus paises de origem, onde desfrutam de um recolhimento silencioso e sem julgamento. A ONU somente recomenda congelar os salários de seus membros acusados de crimes sexuais, enquanto promove a “criação de um fundo para ajudar as mulheres e meninas que puderam ter deixado grávidas”.
Um cinismo inaudito e repugnante. O fato é que, segundo um informe da ONU sobre o comportamento dos capacetes azuis, seus militares estão cheios de “disfunções” e “as medidas adotadas durante os últimos anos para erradicar esta cultura sexual permissiva não têm sido suficientes”. Enquanto isso, milhares de meninas, meninos e mulheres estupradas, abusadas, espancadas e reprimidas, continuam sobrevivendo em suas pobres terras dizimadas e espoliadas pelo imperialismo, pelas guerras e pela destruição imposta pelas classes dominantes. E o fazem sob as piores condições e arrastando em seus corpos e suas almas as feridas que as “missões de paz” deixaram marcadas a fogo com seus crimes de lesa-humanidade.
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