DECLARAÇÃO DO GRUPO DE MULHERES PÃO E
ROSAS SOBRE O DIA INTERNACIONAL DE COMBATE A VIOLÊNCIA À MULHER.
As mulheres têm que se enquadrar no papel da “boa esposa, mãe e dona de casa” e
quando não são, são classificadas como “putas”. Quando estupradas, somos
questionadas sobre as vestimentas que usávamos. Somos violentadas nos locais de
trabalho através dos assédios sexual e moral. Ainda somos as que temos nossos
corpos mercantilizados, vítimas do trafico de mulheres e da prostituição.
A realidade das mulheres lésbicas e trans também é ainda mais gritante no país mais
homofóbico do mundo, onde não podem exercer livremente sua sexualidade e
construção de gênero. São vários assassinatos, espancamento, mutilações sem
registros ou estatísticas, e ataques da bancada reacionária, através da
Comissão de Direitos Humanos que tenta aprovar projetos como o “Cura Gay”,
enquanto seguimos com a identidade trans classificada como disforia de gênero.
Em mais de dez anos de governo Petista, sendo os últimos quatro, com uma mulher
a frente, não apenas não avançamos em nossos direitos, como a possibilidade do
Estatuto do Nascituro, conhecido como Bolsa Estupro, nos faz caminhar pra trás
na luta pelo direito ao aborto. O feminicidio, a precarização da vida, a
transfobia que também é uma violência de gênero, a naturalização do estupro,
são de inteira responsabilidade de um governo de promessas vazias que vendeu
nossos direitos em troca de votos e acordos com setores mais conservadores do
parlamento e se alia com os grandes capitalistas que precisam da opressão as
mulheres para manter seus lucros.
São diversas as formas de violência contra as mulheres sendo o feminicídio o
extremo dessa cadeia que é perpetuada pela ideologia patriarcal e pelo sistema
capitalista com sua moral burguesa e machista que faz das mulheres objetos
sexuais e obrigadas a exercer uma sexualidade heteronormativa, sendo a
reprodução da vida com trabalho doméstico e a maternidade um “destino natural”.
A violência contra as mulheres é parte estruturante do capitalismo e divide a
classe trabalhadora. Cada vez que uma mulher é violentada, estuprada e
assassinada, a classe trabalhadora inteira dá um passo atrás na luta pela sua
libertação e contra seus verdadeiros inimigos, a classe burguesa. A violência
tida como doméstica, não pode ser encarada como algo do âmbito privado e sim
social, que precisa ser combatida em sua raiz e não na luta entre as mulheres
contra os homens.
A lei Maria da Penha foi um avanço ao escancarar que a violência não é uma
questão fechada entre quatro paredes e trouxe uma série de medidas de proteção
estatal para as mulheres. Mas não podemos ter ilusões no Estado e na justiça
burguesa, pois por mais progressista que sejam as leis, não são capazes de
modificar esta realidade estrutural. Não foram poucas as vezes que Eliza Samúdio
ou Mara Rúbia buscaram a delegacia de mulheres e foram ignoradas, humilhadas
até serem silenciadas de vez. Não podemos confiar que a polícia que mata e
reprime todos os dias é capaz de proteger as mulheres da violência. A
violência não é um problema individual somente nos organizando poderemos dar um
basta à violência doméstica, psicológica e estatal que nos atinge!
Discordamos das feministas governistas da Marcha Mundial de Mulheres (MMM), que
exaltam a chegada de Dilma no poder, como o avanço nas leis e confiança no
estado burguês levará à emancipação das mulheres. Falam de um mundo mais justo
e democrático, mas é essa mesma democracia de Dilma em aliança com os
empresários, a Igreja e a bancada reacionária, que mantém as tropas brasileiras
no Haiti que reprimem e estupram as mulheres haitianas à serviço dos países
imperialistas e se silenciam diante de tantas mortes por abortos clandestinos.
Também discordamos das companheiras do PSOL que tratam a questão da
violência como uma mera questão de reivindicação de serviços estatais de
denúncia e repressão aos agressores eficientes. E fazemos um debate sincero com
as companheiras do PSTU, como fizemos no I Encontro Nacional do MML em outubro
deste ano, que não podemos limitar a luta contra a violência as mulheres
através da exigência ao governo Dilma pela ampliação e aplicação da lei Maria
da Penha, levando à ilusão que essas leis bem aplicadas podem dar um basta à
violência.
Tampouco
que podemos ter ilusões nas instituições burguesas, reivindicando mais
delegacias de mulher, uma vez, que as marchas de Junho que mudaram nosso país
denunciavam o papel nefasto da polícia, a mais assassina do mundo, que
torturou, matou e reprimiu greves.
Tomamos
como exemplo não uma mulher no poder, mas as centenas de indianas que saíram as
ruas organizadas para combater a violência e os estupros!
A luta contra a violência as mulheres deve ser tomada pelo conjunto da classe
trabalhadora e juventude, através de suas organizações como o sindicatos,
entidades estudantis e organizações de esquerda e contribuam para que homens e
mulheres lutem juntos contra a opressão as mulheres e exploração e impulsionem
uma campanha nacional ampla contra a violência as mulheres. E também tomem para
a si a luta contra a homo-lesbo-transfobia!
Somos
todas Mercia, Camile, Eloá, Eliza! Somos Kathalina Friedman, ativista
transexual chilena, brutalmente espancada no dia 15 de novembro por dez
indivíduos organizados na porta de sua casa! Somos Mara Rúbia que teve os olhos
furados por apenas querer seguir sua vida longe “dele”! Somos tantas meninas e
adolescentes vítimas do assédio sexual dentro das escolas cometidos pelos
professores e alunos!
Por uma campanha nacional contra a violência contra as mulheres impulsionada
pelos sindicatos, organizações de esquerdas, entidades estudantis, grupos de
mulheres e direitos humanos.
Basta de mulheres mortas por abortos clandestinos! Abaixo à Bolsa Estupro!
Aborto legal, seguro e gratuito!
Basta de homofobia e assassinatos de TRANS* e lésbicas!
Pela Livre Sexualidade e Construção de Identidade de Gênero!
Refúgio e casas transitórias para mulheres vítimas de violência e seus filhos e filhas, garantidos pelo Estado e sob controle das próprias vítimas, organizações de mulheres e trabalhadoras, com profissionais e sem a presença da polícia e da justiça burguesa.
Criação de comissões de mulheres, independentes dos patrões, que deem atenção
aos casos de assédio sexual e trabalhista ou de casos de discriminação às
trabalhadoras, avançando para uma verdadeira democracia operária onde @s
trabalhador@s debatam e decidam inclusive os casos de punição.
Subsídios de acordo com o custo de vida para as vítimas de violência que
estejam desempregadas, acesso à moradia e trabalho para todas.
Licenças remuneradas para as trabalhadoras que atravessam situações de
violência, com acesso à saúde pago integralmente pela patronal.
Exigimos prisão nos casos de estupro,
mutilação e assassinato e confisco das grandes fortunas pois sabemos que muitos
são empresários ligados ao tráfico de mulheres e redes de prostituição, para
que seja revertido em mais investimentos para o combate a violência as
mulheres, travestis