Quem Somos

Grupo de mulheres Pão e Rosas.
Surgimento: março de 2009.
Impulsionado pela Liga Estratégia Revolucionária - Quarta Internacional e independentes. Construímos a Conlutas e integramos o movimento latino-americano Pan y Rosas, com agrupações no Chile, na Argentina, na Bolívia, no México e no Estado Espanhol.

Para entrar em contato envie um email paoerosasbr@gmail.com

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Nosso nome é em homenagem às operárias norte-americanas de uma fábrica têxtil em Massachusetts, que no começo do século XX protagonizaram uma importante greve na luta pelos seus direitos e levavam como bandeira “O direito ao pão, mas também às rosas”. O pão representando não apenas a comida, mas condições necessárias para viver, e as rosas, o direito à cultura, arte, lazer, e a possibilidade de se desenvolver plenamente enquanto mulheres. E no ano de 2010 em que se completa os 100 anos do 8 de março, proposto pela revolucionária Clara Zetkin, numa conferência internacional de mulheres socialistas para celebrar o Dia Internacional da Mulher Trabalhadora, mais do que nunca temos que resgatar o espírito de luta internacionalista do movimento revolucionário do início do século XX.

O capitalismo funciona se sustentando, exclusivamente, nos braços de milhões de explorados e exploradas que a cada dia o fazem funcionar, mas como é possível? É possível porque essa minoria de parasitas está organizada: além das fábricas e as empresas, escolas e universidades, têm os meios de comunicação, os partidos políticos patronais, a burocracia sindical, e, por vias das dúvidas caso isso não funcione, têm a polícia e o exército para enfrentar os explorados. Mulheres e homens explorados do mundo, não têm essa organização que têm a classe dominante. E inclusive o capitalismo tira vantagem das religiões, das diversas culturas, do racismo e do patriarcado para nos dividir e nos desorganizar.

Sozinhas, é muito difícil lutar contra a violência, o patriarcado, a homofobia, o racismo, contra toda a miséria que nos é relegada e principalmente contra a exploração e portanto, contra o capitalismo. É por isso, que te chamamos para nos organizar e juntas lutar pelos direitos das mulheres e da classe trabalhadora, pela emancipação das mulheres, contra esse sistema que nos explora e nos oprime.

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“NOSSO CANTO É O ESPANTO DOS QUE NOS JULGARAM MORTAS. PÃO E ROSAS, PÃO E ROSAS.”
COMEÇAR POR ONDE...

Nós, mulheres do Pão e Rosas Brasil, após um ano de surgimento, já estivemos nas ruas, universidades, locais de trabalho, em atos, manifestações, greves, encontros sindicais, de estudantes e de mulheres. Travamos uma batalha cotidiana para fazer ouvir nossas vozes na luta pelos direitos das mulheres e da classe trabalhadora. Vivemos numa sociedade baseada na exploração de uma classe por outra e na opressão de milhões de pessoas em função de seu gênero, seu grupo étnico ou sua orientação sexual, sociedade chamada capitalismo, que é um sistema de discriminação na exploração, ao mesmo tempo que de exploração sistemática de toda forma de discriminação.

Ao contrário do que ouvimos dizer as mulheres das classes despossuídas sempre trabalharam. Para o capitalismo, desde seu surgimento, o trabalho das mulheres nas fábricas e empresas interessava para ser explorado duplamente, pagando menores salários do que o dos homens, e com isso também tendo margem para reduzir o salário de todos os trabalhadores, isso também se dá entre a classe trabalhadora de distintos países. Esse rebaixamento exigia que cada vez mais membros das famílias, inclusive crianças, ingressassem à produção. Mas para a mulher a extensa jornada nas fábricas, se soma ao trabalho doméstico não remunerado em suas casas, o que chamamos de dupla jornada.

O capitalismo se apropria da opressão patriarcal histórica da mulher para fortalecer a exploração, ampliar seus lucros, além de dividir a classe trabalhadora. Com o desenvolvimento da tecnologia poderíamos socializar as tarefas domésticas, tendo, por exemplo, creches, lavanderias e restaurantes comunitários. Entretanto, se isso não acontece, é porque no trabalho doméstico não remunerado está uma parte dos lucros do capitalista que, desta forma, fica isento de pagar aos trabalhadores e às trabalhadoras pelas tarefas que correspondem a sua própria reprodução como força de trabalho (alimentos, roupas, higiene, etc.). Incentivar e sustentar a cultura patriarcal na qual os afazeres domésticos sejam tarefas “naturais” das mulheres permite que esse “roubo” dos capitalistas fique invisível, constituindo para mulheres uma dupla jornada, uma dupla exploração.

Temos hoje de um avanço científico que permitiriam às mulheres disporem sobre seus próprios corpos. O desenvolvimento dos métodos contraceptivos com as pílulas, os dispositivos intra-uterinos (DIU), a laqueadura de trompas, e inclusive a possibilidade do aborto seguro e sem complicações para a saúde, são um fato inquestionável. Entretanto, se nós mulheres não podemos dispor de nosso próprio corpo, decidir não ter filhos ou quanto e quantos filhos ter, é porque a Igreja, juntamente ao estado capitalista, e os governos – como o atual governo Lula e seu pacto de benesses à Igreja assinado com o Vaticano em 2008 – , continuam se impondo sobre nossas vidas. Que em nosso país não exista direito ao aborto para nenhuma mulher, é uma mostra da opressão. Que em nosso país haja esterilização forçada para as mulheres negras, é uma mostra da opressão e do racismo. Que algumas mulheres, entretanto, possam realizar uma cirurgia sem risco pagando mais de mil reais e outras morram na tentativa, que algumas mulheres possam decidir quando e como ter filhos e outras são proibidas à força, é uma mostra de que nem todas as mulheres são iguais.

Querem que acreditemos que a vida de uma mulher só se completa se ela tem filhos, e se uma mulher decide por não ter filho, logo é vista como portadora de supostos problemas, disfunções. Entretanto essa é a mesma sociedade que nega cotidianamente nosso direito à maternidade. Somos ameaçadas de demissão pelos patrões para que não engravidemos, somos vítimas do precário sistema de saúde pública, somos vítimas do desemprego, da falta de saneamento básico em nossos bairros. E essa mesma sociedade que diz para a mulher que o auge de sua felicidade só é possível na maternidade, nega que casais homossexuais de mulheres e homens, tenham o direito a adotarem crianças; e também negam que possam viver juntos com todas as formalidades que a qualquer casal heterossexual é permitida. Além disso, essa é a mesma sociedade cujas instituições, tal como as escolas, igrejas, e o próprio Estado e suas forças repressoras, reforçam e legitimam a violência homofóbica que leva muitos homens e mulheres à serem assassinadas, espancadas, violentadas, quando em todos os espaços, inclusive nas famílias, reproduzem a heterossexualidade como norma e a homossexualidade como um desvio.

Uma a cada três mulheres no mundo é vitima de violência. A cada oito segundos, uma mulher é vítima de violência física. Somos violentadas, estupradas, recebemos os salários mais baixos que os homens, ocupamos a maioria dos postos de trabalho precarizados e temporários, ocupamos trabalhos à domicílio para maximizar os lucros dos capitalistas, somos a minoria entre os trabalhadores sindicalizados. Somos tratadas como mercadorias nas propagandas e escravas de um padrão de beleza inalcançável, de ser branca, eternamente jovem e esbelta. Somos proibidas de decidirmos sobre nossos corpos e nossa sexualidade, e ainda as principais responsáveis pelas tarefas domésticas como uma condição supostamente natural de nossas vidas. E se somos negras tentam nos vender como objeto sexual para turistas estrangeiros, ao mesmo tempo em que nos jogam ao desemprego com suas entrevistas e exigências de “boa aparência”, e quanto temos um trabalho recebemos menos do que homens e menos do que as mulheres brancas. Esse conjunto de fatores impostos pela sociedade nos faz vítimas de doenças físicas e psicológicas como estresse, depressão, anorexia, bulimia, síndrome do pânico. Isso é mais uma mostra de que o capitalismo é um sistema que para seu beneficio perpetua o patriarcado, o racismo, o heterossexismo e a homofobia, e os fundamentalismos. É por isso que afirmamos que o capitalismo é que é um sistema de discriminação na exploração, ao mesmo tempo que de exploração sistemática de toda forma de discriminação.

O patriarcado é anterior ao capitalismo, mas apesar de não ter surgido com o capitalismo, a opressão das mulheres neste modo de produção assume traços particulares, convertendo o patriarcado em um aliado indispensável para a exploração e manutenção do status quo. O capitalismo é um sistema baseado na exploração da força de trabalho de milhões de mulheres e homens da classe trabalhadora em todo o mundo.

São essas trabalhadoras e trabalhadores que produzem toda a riqueza social existente. Produzem os alimentos, as roupas e calçados, constroem as casas, as pontes, os aviões, abastecem as cidades com água e luz, extraem o petróleo e o transformam em plástico, gasolina e gás de cozinha, fazem funcionar os telefones, os bancos, os trens e metrôs, as escolas, os hospitais. Além disso, também fabricam as máquinas e ferramentas que servem para fabricar outras máquinas. Por isso, para nós do Pão e Rosas, essas mulheres e homens da classe trabalhadora que produzem toda a riqueza social que é apropriada pelos capitalistas são a força capaz de acabar com esse sistema de exploração e opressão. Afinal do que adianta meia dúzia de mulheres no poder, como Yeda Crusius, Ana Júlia Carepa, Hillary Clinton, Ângela Merkel, Michele Bachelet, Cristina Kirchner, Dilma Rousseff, se estas mulheres representam o interesse dos patrões, dos ricos e da burguesia? De que adianta votarmos a cada eleição em políticos burgueses sejam homens e mulheres que não representam os interesses das mulheres e homens da classe trabalhadora e dos oprimidos pelo sistema capitalista, que nos demitem, aprovam leis anti-greve, que não nos permitem ser mães e pais, que legislam, mandam e desmandam segundo interesses dos patrões, da Igreja, da burguesia, que decidem por nossas vidas no dia-a-dia?

Para nós do Pão e Rosas, não basta que mulheres ocupem os espaços de poder, quando toda a organização e as instituições do Estado capitalista servem e atuam na perpetuação da exploração e das opressões. Entre as mulheres e homens burgueses ou representantes dos interesses e idéias dos capitalistas (como as burocracias sindicais) e as mulheres e homens da classe trabalhadora, existem interesses antagônicos. Enquanto os primeiros fazem de tudo para nos explorar mais e mais a cada dia para aumentar suas riquezas; a classe trabalhadora que produz toda riqueza social faz de tudo para sobreviver com salários de miséria. É por isso que em nossa luta para conquistar nossos direitos mais elementares, para que sigamos em condições para aumentar nossas forças, lutar contra a divisão das nossas fileiras, para que, com energia travemos uma luta de morte ao capitalismo, temos que manter toda nossa independência política dos patrões, dos governos e da burguesia tenham eles rosto de mulher, a pele negra ou sejam homossexuais, pois não representam e nem podem representar nossos interesses e necessidades. Temos que nos aliar com todos os setores da sociedade cujos objetivos e necessidades não podem ser concretizados por esse sistema, como os camponeses e sua luta pela reforma agrária e contra o latifúndio, desempregados e sem-tetos, na luta por trabalho e moradia. Com os estudantes que lutam por ensino público de qualidade e pela estatização das universidades privadas para que todos possam estudar. Com o movimento negro, para combater o racismo cotidiano, para junta(o) snos defender  da violência policial, para lutar pela saúde integral das mulheres negras, para lutar para que o povo negro esteja nas universidades, recebam iguais salários, e que se levantem contra nossos exploradores e opressores. Com o movimento LGBT, contra o preconceito, discriminação, homofobia e pelo direito a terem filhos e adotarem crianças, direito a se unirem e terem todos os direitos formais que têm os heterossexuais.

No capitalismo o desenvolvimento tecnológico avançou como nunca antes visto, dispomos técnicas avançadas de agricultura, de construção civil, de diagnósticos, medicamentos, métodos contraceptivos, eletrodomésticos, na produção de meios de transportes, entre outros. Com esse desenvolvimento seria possível que todos tivessem trabalho, que as tarefas domésticas fossem socializadas. Seria possível erradicar a fome no mundo e reduzir as mortes por doenças que já são diagnosticáveis, tratáveis e/ou curáveis. Poderíamos reduzir próximo a zero a mortalidade materna e infantil, acabar com o analfabetismo, e ter moradias com toda a infra-estrutura para que ninguém vivesse nas ruas. Entretanto, enquanto milhões de pessoas padecem de fome no mundo, em períodos de crises econômicas assistimos queimas e descartes de alimentos, os governos darem milhões para as empresas e bancos que nos pagam salários de miséria e lucram sobre nossas costas, se gasta bilhões de dólares na indústria bélica, nas guerras e em invasões militares. Essa é a barbárie e irracionalidade do capitalismo, que provoca catástrofes climáticas, cria novas doenças como a gripe A, rouba e destrói países inteiros, como o Haiti, cria alimentos transgênicos, mas condena milhões de seres humanos à fome. Chega à Lua, mas provoca mortes, desabrigados, famintos, com as enchentes, secas, terremotos e tsunamis aqui na Terra.

“Rasgando os véus e suas regras que nossas vidas destroçam. Já não aceito seus preceitos, sou também Pão e Rosas”