terça-feira, 27 de janeiro de 2015

Regiane, presente!


O grupo de mulheres Pão e Rosas traz neste texto uma pequena homenagem à companheira Regiane Brant, que aos 45 anos de idade, no dia de hoje, faleceu vítima de um câncer de mama e no pulmão, doença que atinge tantas mulheres. Regiane nos últimos anos veio sendo parte de nossa agrupação na luta contra toda forma de opressão e dando um grito de liberdade contra as amarras que impedem as mulheres de viverem suas próprias vidas. Acompanhamos sua dura batalha e tivemos a oportunidade, e também o privilégio, de conhecer uma mulher cheia de vida e energia. Uma mulher que já com filhos adultos não achou que era tarde pra se tornar uma militante e ser parte da luta contra a opressão que tantas mulheres vivem nesta sociedade. Hoje choramos pela morte de nossa companheira, mas Regiane vai continuar viva em todos os nossos gritos por liberdade. Porque ela entendia perfeitamente porque lutamos pelo pão, mas também pelas rosas. Companheira Regiane, presente! Agora e sempre!


Sei que há léguas...
Mas é tanto mar, tanto mar (que transborda sobre as areias da praia)...
Sei também quanto é preciso: navegar, navegar! 
Canta primavera....


































Este texto também é uma homenagem à Adriano, filho da companheira Regiane, quem lhe apresentou o caminho da militância e da luta pela liberdade, tendo sido até o último momento seu melhor amigo.

sexta-feira, 23 de janeiro de 2015

Sente-se, companheiro: greve contra a General Motors de 1936

Por Celeste Murilo
Em 30 de dezembro de 1936 explode a greve na General Motors e autopeças de Flint (Michigan, EUA). Pela primeira vez, um sindicato combativo decide enfrentar a empresa que parecia invencível. Greves sentadas, ocupações, reuniões clandestinas e táticas militares para enfrentar a polícia.




Feliz Ano Novo? Começa greve


Um ditado popular dizia: "Uma vez que atravessa as portas da General Motors, esqueça a Constituição dos Estados Unidos”. Flint era uma “company town”, uma cidade onde tudo era de propriedade da empresa. Se a General Motors parava, parava tudo. A empresa estava acostumada à cumplicidade da burocracia sindical e dos funcionários.
Na cidade de Flint havia 45 mil operários da indústria automotiva, mas apenas 122 eram filiados ao jovem UAW (sindicato dos operários da indústria automotriz). O UAW queria estabelecer a negociação coletiva no sindicato, foram classistas, combativos e, embora fosse um sindicato minoritário quando começou a luta, não cederam frente a empresa.
Em 30 de dezembro se fez a primeira greve sentada na planta número 1 da Fisher Body da General Motors. O turno da noite deixou de trabalhar, a fábrica foi trancada e começou a ocupação. O método utilizado foi a greve sentada (greve de braços cruzados onde os trabalhadores sentavam sobre as máquinas para impedir que os fura-greves trabalhassem e desse modo mantinham o controle da fábrica).
O método mais utilizado até esse momento nos Estados Unidos eram os piquetes, mas os empresários contratavam pelegos e os piquetes nem sempre eram eficazes. Desta vez, os trabalhadores se trancaram na fábrica. Com a sentada, embora dependessem da ajuda externa para sobreviver, a greve foi transformada em um centro de resistência contra a empresa que controlava a cidade, o governo, a justiça e a polícia.
Um dos principais jornais, o Flint Journal, um porta-voz da General Motors, amdrontava com manchetes sensacionalistas que alertavam a "invasão dos russos”. Nas escolas se faziam trabalhos com o título "Por que a greve é errada", muitas vezes filhos e filhas dos trabalhadores eram obrigados a escrevê-los. Algo parecido acontecia nas igrejas e nos tribunais. Isso não impediu as iniciativas do sindicato e dos partidos de esquerda que acompanhavam e incentivavam a greve. Crescia a resistência dos trabalhadores.

Batalhas fabris
Passou o Ano Novo, os primeiros dias de janeiro, e os trabalhadores seguiam firmes. O governador democrata Frank Murphy tentou, em vão, desocupar as plantas com a polícia estadual. Tentaram desocupá-los com a ordem de um juiz. O sindicato fez sua própria investigação buscando contestar a decisão e descobriu que o juiz era um acionista da General Motors. Então o juiz foi cassado e os trabalhadores ganharam sua primeira batalha legal.
A greve se estendeu por todo janeiro de 1937. Dentro da fábrica, os trabalhadores instalaram "salas de estar", com assentos dos futuros automóveis e organizavam salas de leitura e discussão com todos os jornais, periódicos de esquerda e livros de história. Estabeleceu-se uma organização interna que permitiu desenvolver a greve: administradores, encarregados da comunicação, logística, um mundo próprio dentro da fábrica.
À medida que os dias passavam, os piquetes contra os pelegos e a polícia tornavam-se massivos: homens, mulheres e crianças se colocavam nas entradas dia e noite. Para evitar serem acusadas de porte de armas, as mulheres da Brigada Auxiliar de Mulheres levavam em seus bolsos uma barra e meia de sabão, para responder às provocações dos fura-greve e bate-paus.

O primeiro ataque sério da polícia foi em 11 de janeiro na planta número 2 da Fisher Body. Eles planejaram sufocar os trabalhadores com bombas de gás lacrimogêneo para forçar a saída. De dentro, os trabalhadores abriram as mangueiras contra incêndio e apontaram contra a polícia, enquanto também jogavam peças de carro. Do lado de fora, as mulheres da Brigada de Emergência quebraram as vidraças da fábrica para deixar o ar entrar.

Quatorze trabalhadores ficaram feridos por balas. A polícia fez várias tentativas, mas depois de seis horas de resistência, recuaram. Após a vitória, batizada de batalha onde "fizemos a polícia correr", a empresa queria que o governador usasse a Guarda Nacional (semelhante ao exército) para expulsar os grevistas.
A participação das mulheres nos confrontos era fundamental, nas palavras de um grevista: "Nas principais batalhas da greve, as mulheres desempenharam um papel fundamental no sucesso do sindicato... deixavam tudo nos piquetes, desafiando a General Motors a passar por cima delas”.
Momento decisivo

Terminava janeiro de 1937 e a greve estava em um impasse. Ninguém cedia. Havia que dar um golpe decisivo. Na planta número 4 estava o coração da fábrica: a fábrica de montagem que, apesar de ter reduzido drasticamente sua produção, seguia funcionando com os fura-greves.
A ala esquerda do sindicato propôs a ocupação da planta 4. Foram várias discussões, mas finalmente votou-se e o sindicato discutiu em uma reunião pública marchar até a planta 9, na qual os espiões comunicaram a ação à polícia.
Em 1° de fevereiro milhares de trabalhadores marcharam até a planta 9 para enfrentar a polícia que os esperava na porta. Eles entraram e a polícia os seguiu disparando gás lacrimogêneo; os grevistas responderam com tudo o que tinham em mãos. Do lado de fora acontecia uma batalha campal, as mulheres da Brigada foram preparadas: levavam paus e quebraram todos os vidros para sair o gás lacrimogêneo.
Enquanto isso, outro grupo de trabalhadores e mulheres entrava na planta 4. Mal chegaram e se enfrentaram com os pelegos e a segurança. A Brigada começou a discutir com a polícia: "O que você faria se sua esposa que estivesse aqui? Não queria que te defendesse?". Piquetes e barricadas foram formados, se ouviam gritos "Defender o forte", "Sobre nossos cadáveres."
No dia seguinte, um juiz ordenou o despejo, as áreas que eram não controladas pelos trabalhadores, foram controladas pela Guarda Nacional. As cartas estavam lançadas, o sindicato reuniu todos os reforços possíveis e começaram a chegar os contingentes de trabalhadores de todo o país. O momento decisivo se aproximava.

Em 11 de fevereiro de 1937, a empresa concordou com o sindicato e aceitou, pela primeira vez, o direito à negociação coletiva, reconhecendo o UAW como interlocutor para negociar salários e condições de trabalho. A partir desse momento a General Motors deveria contratar apenas os trabalhadores sindicalizados em suas 17 plantas e recontratar todos os grevistas, sem perseguição. O UAW passou de 30 mil a 500 mil afiliados em todo o país. O triunfo dos métodos combativos contra a General Motors desencadeou uma onda de greves em fábricas, oficinas e lojas, que deixaram a sua marca própria.

Há 103 anos da greve por Pão e Rosas

por Celeste Murilo


Uma mancha de tinta se expande na tela porque penetra profundamente suas fibras. Uma ação decidida muda a suas protagonistas porque penetra, como a tinta na tela, profundamente as fibras de suas vidas. Essa é a história das mulheres de Lawrence.



A greve de Lawrence

Há 103 atrás, numa cidade chamada Lawrence, no estado de Massachusetts (EUA), longe das festas de ano novo, as trabalhadoras têxteis iniciaram uma greve que será conhecida como a greve por “pão e rosas”. A greve culminaria com a implementação da redução da jornada, aumento de salários e reconhecimento dos sindicatos.

A primeira década do século XX começou com uma onde de greves nos Estados Unidos, concentradas no ramo têxtil, a indústria que mais crescia na época. As jornadas intermináveis, os salários miseráveis e as condições desumanas de trabalho lançaram milhares à greve.

Em 1908 as trabalhadoras do vestido de Chicago fizeram uma ampla campanha pela redução da jornada laboral e pela melhora das condições de trabalho. No ano seguinte, em 1909, Nova York viu a primeira ação operária de grande magnitude da história da cidade, liderada pela “veterana” Clara Lechmil de 23 anos. E 1911 foi o ano da famosa greve têxtil que terminou em desastre, devido ao incêndio provocado pelos donos da Triangle Shirtwaist Company.

Ano novo de 1912

No ano novo, longe dos banquetes das famílias ricas, trabalhadoras e trabalhadores de Lawrence entravam em greve. Uns dias antes, se havia votado uma nova legislação que reduzia a jornada de trabalho de 56 para 54 horas por semana para as mulheres e menores de 18 anos.

A indústria têxtil empregava mão de obra imigrante, feminina e infantil. Mais da metade eram mulheres e muitas eram menores de 18 anos. Uma de suas bandeiras principais era conquistar o pão (simbolizando os direitos trabalhistas) e as rosas (como símbolo da exigência de melhores condições de vida).

A enorme maioria das operárias de Lawrence não estava organizada em sindicatos, já que a AFL (American Federation of Labor, central sindical oficial) só filiava operários qualificados, isto é, homens brancos. Portanto, a indústria têxtil estava totalmente desorganizada.

Organização e luta, com as mulheres na frente

À frente da greve estava a IWW (Industrial Workers of the World), que foi uma das primeiras organizações operárias que ajudou as mulheres a ocuparem postos dirigentes e que lutava por métodos democráticos nas lutas. Buscou seguir os passos dos Cavaleiros do Trabalho, que inauguraram a tradição de sindicatos mistos (integrado por trabalhadores brancos e negros) e a incorporaram as mulheres.

Em 10 de janeiro se realizou a primeira reunião na IWW, onde mil operárias, que acabavam de receber seu cheque com um salário menor (pela redução de horas), decidiram chamar greve. Horas depois, tudo estava em marcha. As primeiras a sair foram as operárias polonesas da Everett Mill, em 11 de janeiro. No dia 12, foram seguidas pelas operárias de American Wollen Company (uma das maiores empresas). E se estendeu para a maioria das fábricas.

Elegeu-se um comitê de greve com 56 titulares e 56 suplentes, para representar os titulares no caso de serem presos, algo comum durante as greves. O comitê representava todas as nacionalidades; nas reuniões se falava 25 idiomas e 45 dialetos, e havia interpretes de  todos eles. Todos os dias se realizavam assembleias ao final do dia, onde se fazia um balanço e se resolvia os passos a seguir.

As primeiras medidas votadas foram: fundo de greve e piquete massivo ao redor das fábricas. Os enfrentamentos com a polícia e as milícias do governo local eram cada vez mais violentos e se fazia difícil bloquear a entrada dos fura-greve. Resolveu-se formar uma linha “infinita” ao redor das oficinas, um piquete que se mantinha 24 horas e se movia constantemente. Desta maneira era impossível entrar na fábrica.

Em poucas semanas, os dirigentes são presos, acusados de incitar a violência e pela morte de uma trabalhadora. A IWW envia a Elizabeth Gurley Flynn, Joe Hill e Carlo Tresca, para substituir os dirigentes presos.

Novas medidas para aumentar a participação feminina


O novo comitê de greve instalou restaurantes e creches comunitários para filhos e filhas das trabalhadoras. As medidas buscavam facilitar a participação das mulheres. Também realizavam reuniões só de mulheres, já que também é necessário combater o machismo entre os trabalhadores, incluindo os ativistas. Uma das impulsionadoras mais entusiastas desta política foi Elizabeth Gurley Flynn.

A IWW também se dirigia especialmente às crianças, que suportavam ataques na escola no bairro, a cidade estava dividida pela greve. Começaram a realizar reuniões infantis no sindicato e numa escola onde se discutiam o motivo da greve. A medida deu tão certo que foi usada novamente durante a greve de Paterson, em 1913.

Pela crescente violência se decidiu enviar as crianças a outras cidades, onde seriam abrigados por famílias solidárias. No primeiro trem saíram 120 crianças. No momento em que sairia o segundo trem para Nova York, a polícia desatou uma repressão desmedida na estação. Este episódio levou a greve às paginas dos jornais nacionais e ao Congresso.


Todos falavam de Lawrence. Os dirigentes da central sindical oficial tiveram que se pronunciar, porém não apoiaram a greve: tacharam as trabalhadoras de esquerdistas, anarquistas e revolucionárias, diziam não ter nenhuma relação com os comitês de greve. Porém as trabalhadoras de Lawrence contavam com um apoio amplíssimo. Realizavam-se manifestações de solidariedade em todo o país. As universidades próximas, como a renomada Harvard, tinham comitês estudantis que colaboravam com a greve e se precisavam se ausentar das provas, a universidade os davam  por aprovados. As estudantes universitárias mulheres recolhiam dinheiro, difundiam a luta e viajavam à Lawrence para colaborar diretamente com o comitê de greve.

A grande difusão, a firmeza das trabalhadoras, e o medo de que a greve se estendesse, fez os empresários ceder: aceitaram a jornada laboral reduzida e o aumento dos salários. Depois de uma longa luta, durante quase todo o inverno, em 12 março a greve por  “Pão e Rosas” termina com uma das primeiras vitórias do movimento operário nos Estados Unidos. Em 30 de março, os filhos e filhas dos trabalhadores voltam para Lawrence.

Sua vitória não se limitou a suas demandas. Transformou completamente a ideia de como lutar para ganhar. A história do movimento operário até então associada ao rosto de um homem valente, sem dúvida, foi superada pela ação das mulheres lutando dias e noites junto a seus companheiros, greves como a de Lawrence mostram isso claramente.



quarta-feira, 21 de janeiro de 2015

CARTA DE UMA OPERÁRIA DA JBS-FRIBOI

Carta sobre a minha demissão

Andreia Pires



Como muitos devem saber, na última sexta-feira fui demitida por justa causa, segundo o supervisor porque levei muitas suspensões. Apesar de ainda estar com a estabilidade da CIPA. A última suspensão que levei foi na quinta, porque na segunda tinha pedido para sair 1h mais cedo. O supervisor esperou dois dias (terça e quarta) para “decidir” que não tinha sido avisado que eu sairia mais cedo e aplicou a suspensão. É claro que avisei, sabemos que a demissão não foi por causa disso.

Todos que me conhecem nessa fábrica sabem que não fico quieta frente a tanta coisa errada que fazem, seja com o trabalhador ou com o alimento que produzimos. Essa semana estávamos passando um abaixo assinado para não cobrarem nossas refeições, quase 200 assinaram e eu estava ajudando. Por isso é que fui demitida, porque não querem aceitar nem o mínimo que podemos fazer para nos defender. Eles tiram dentista, encarecem o convenio, tiram várias coisas de benefícios e quem fala alguma coisa é mandado sem direitos?!

Fazem 3 anos que trabalho aqui, foram muitas noites de trabalho pesado junto com a equipe do terceiro turno. Assim como vários colegas, também tenho buraco de sabão corrosivo na mão, muitas vezes tive que correr pra torneira com os olhos ardendo, trinquei um dedo em acidente, arrastamos peso, esfregamos chão, parede, placas pesadas da formax, damos o sangue toda noite para essa fábrica ficar limpa e agora o que recebo em troca quando tento me defender?

Durante a minha atuação na CIPA conseguimos melhorar a situação, com bastante atenção a todos no chão de fábrica, acompanhando, falando para usar luva, óculos, viseira, não só no meu turno, mas em todos os turnos. Sempre levei muito a sério meu trabalho na higienização e como cipeira, isso ninguém pode duvidar.

Faço essa carta para denunciar a todos essa grande injustiça que fizeram comigo. Agradeço aos colegas de todos os turnos com os quais pude trabalhar, continuarei lutando com unhas e dentes, seja onde estiver, por melhores condições de trabalho, contra tanta exploração.



segunda-feira, 19 de janeiro de 2015

Os encochadores e o machismo de cada dia

Por: Letícia Oliveira

Após horas e horas de expediente de trabalho, mulheres em todo o país são forçadas pela péssima qualidade do transporte público a pegar ônibus, trens e metros extremamente lotados. FOTO UOL.


Nos últimos dias recebemos a denúncia de que havia um grupo público do Facebook intitulado "Encochadores" divulgando matérias e histórias repugnantes de casos de assédio sexual nos transportes públicos. Tal grupo defende e propagandeia essa prática livremente pela web sem nenhum tipo de punição ou investigação.
Os encochadores e o machismo de cada dia
Após horas e horas de expediente de trabalho, mulheres em todo o país são forçadas pela péssima qualidade do transporte público a pegar ônibus, trens e metros extremamente lotados. A prática de assédio sexual, a qual faz referência esse grupo do Facebook, é um dos maiores medos de cada trabalhadora em nosso país. É certo dizer que quase toda mulher já passou por isso em uma ida ou volta ao trabalho, e que sentiu-se totalmente indefesa para evitar tal abuso. De fato, o que se pode fazer? Em um transporte tão lotado, não há muito para onde fugir, e por vezes diversas mulheres, como me foi testemunhado a partir das denúncias que abrimos no Facebook, desistem de fazer qualquer coisa e torcem para que o abuso da "encochada" acabe o mais rápido possível.
Os "encochadores" relatam livremente a sua repugnância: "meu junior durasso pra fora da cueca... só sei que na plataforma da estação anhangabaú eu já estava cutucando a polpa da bunda esquerda dela bem a vontade esfregando de leve... quando entramos lá dentro me posicionei e já mergulhei meu pau deitando no meio da bunda dela... a que sensação d bem estar maravilhoso... rs... dai eu deixei ele reto e entuxava no meio dela a calça entrou mais ainda... rs... ela quieta o tempo todo até a estação carrão na saida apertei a bunda dela... aaaahhhhhhh... fiquei com essa ecochada até agora no pensamento... rs".
Independentemente das denúncias realizadas por uma série de mulheres, o Facebook mantém a página ativa, alegando que "não fere os princípios de comunidade do Facebook".
Ao fazer uma alegação como essa o Facebook nos leva a compreender ainda melhor uma triste realidade: no machismo de cada dia, que perpassa todas as relações, principalmente as de trabalho, abusos como este estão muito longe de ser considerados por qualquer empresa ou grande coorporação como uma violência como de fato é.
O prazer que estes homens sentem não é nem de longe um desvio social. É apenas uma expressão mais aguda do que a sociedade nos educa todos os dias através das relações de trabalho e da ideologia dominante presente em cada filme, novela, propaganda ou jornais produzidos pelas grandes coorporações de imprensa. Aprendemos em todos esses espaços que a mulher vale muito pouco ou quase nada, recebendo em média 2/3 do salário de um homem, e se for negra, menos da metade do salário de um homem branco.
Reagir ou não reagir, eis a questão
As mulheres vivem todos os dias de sua vida com a ameaça constante de algum tipo de violência moral, sexual ou doméstica. O Brasil lidera os rankings de casos de violência, tendo totalizado no primeiro semestre do ano passado mais de 260 mil denúncias de violência doméstica. No ano passado, o IPEA revelou que a cada 90 minutos uma mulher é assassinada no Brasil vítima de violência doméstica. Em 2013, o Sistema Único de Saúde brasileiro recebeu cerca de 2 mulheres por hora com sinais de violência sexual, totalizando mais de 2300 casos, sem contar as mulheres atendidas no sistema privado e as multidões de mulheres que por vergonha deixam de procurar auxílio médico nesse tipo de situação.
Por essa realidade, não são poucas as mulheres que evitam andar sozinhas durante a noite, usar roupas curtas ou envolver-se com pessoas desconhecidas. Apesar de corretas em sua prevenção, essas medidas dão a entender que o problema da violência sexual é culpa da própria mulher. Que seus hábitos e vestuário são os grandes culpados por aquele trauma, quando na verdade o culpado por toda essa violência que sofremos é um sistema econômico que desenvolve uma ideologia machista totalmente favorável a sua dominação.
Ao convencer o conjunto dos trabalhadores de que as mulheres são inferiores, facilitam a super exploração de metade da humanidade e economizam com serviços que, se não cumpridos pelas mulheres, sairiam bastante caros para esses que precisam de tanto lucro, como são os serviços de lavanderia, cuidado de filhos e idosos, alimentação, etc.
Contra a sua própria responsabilização sobre cada um desses casos de violência, o Estado burguês nos culpabiliza ao passo que cria Globelezas e mulheres submissas em suas novelas e, se durante o dia rouba nosso dinheiro, à noite tenta nos fazer escandalizar nos jornais com os casos de estupro.
Nenhuma mulher deve se envergonhar ao ser assediada nos transportes ou em qualquer outro lugar. A vergonha deve ser carregada por esses homens e pela burguesia que lucra todos os dias com a nossa opressão, inclusive com os transportes cada vez mais lotados que pagam suas festinhas privadas e seus ganhos extras com corrupção.
É possível que o transporte seja um lugar agradável?
Sim! A vontade de todo trabalhador ao sair do trabalho é pegar um metro, um trem ou um ônibus sem estresse. A qualidade de vida de uma realidade dessa é impensável para nós hoje em dia. A única justificativa para que o transporte siga sendo assim é o fato de que é gerido e administrado pelos que não usam o transporte como meio de locomoção e que dele não extraem nada a não ser os lucros exorbitantes.
Durante as recentes jornadas do transporte e as que colocaram o Brasil no cenário da juventude internacional em junho de 2013 já defendíamos que a única saída para que o transporte fosse de fato público, de qualidade e atendesse às necessidades dos trabalhadores era a partir da estatização sob controle dos trabalhadores e usuários.
Nesse espaço, a partir da clareza de que a opressão à mulher não deve ser reproduzida pelos trabalhadores pois a nós de nada serve essa ideologia, é possível que as mulheres trabalhadoras e usuárias do transporte possam pensar medidas efetivas de combate ao assédio sexual nos trens, metros e ônibus. Não houve por parte das administradoras públicas e privadas nenhuma medida efetiva de combate a essa prática a não ser campanhas estéreis e esparsas que jamais passaram pela solidariedade entre as trabalhadoras e as usuárias ou em campanhas de vigilância dos próprios usuários para denunciar e repreender cada caso que presenciassem.
Os homens são parceiros na luta contra o assédio?
Neste tipo de discussão é comum que as mulheres passem a encarar todos os homens como seus inimigos na luta contra a opressão. A verdade é que os homens, apesar de parcialmente beneficiados pelo machismo dentro de suas casas e pelo direito que recebem de nos insultar na rua, tocar em nossos corpos ou nos violar, não são os que verdadeiramente ganham com o machismo. Apenas a burguesia - proprietária dos meios de reprodução da vida como as fábricas, os bancos e outros - ganha qualitativamente não apenas com a opressão às mulheres, mas também com o racismo, a homofobia, a transfobia, a xeonofobia e todas as possíveis formas de opressão. Esse é o melhor caminho que ela encontra para dividir e enfraquecer a classe trabalhadora e lucrar mais ao determinar postos de trabalho mais precários para aqueles que não obedecem o padrão "homem, branco, heterossexual".
Portanto, a melhor luta contra a opressão é aquela que se faz lado a lado, trabalhadores e oprimidos, numa luta unitária contra toda forma de opressão e exploração, negando a divisão das fileiras operárias e abraçando a causa de todos aqueles, trabalhadores ou não, que sofrem cotidianamente da opressão de gênero, raça, etnia ou nacionalidade.
Assim, é possível reconhecer que em cada vagão de metro, trem ou em cada ônibus em todo o mundo as mulheres encontrarão nos trabalhadores e nas outras mulheres solidariedade para interromper o assédio que estiverem sofrendo, e que a tarefa de cada uma dessas mulheres é lutar para que possa, junto aos seus irmãos de classe e oprimidos, determinar o que será feito de cada um desses vagões e ônibus através de um controle operário e popular dos transportes.
Registros de telas usados para a denúncia de conteúdo feita ao Facebook:




Texto original : Palavra Operaria
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