Entre vaias e gritos eufóricos, uma multidão provoca um alvoroço nos corredores da UNIBAN. Uma jovem estudante teve que ser escoltada pra impedir que seja agredida sexualmente pelos rapazes mais afoitos, que gritavam em uníssono: “puta, puta”. O motivo é o mais banal possível: uma minissaia.
A minissaia, que já perfilava pelos figurinos esportivos em 1929 tornou-se um símbolo emblemático nos efervescentes anos sessenta, quando eclode aquilo que ficou conhecido como “revolução sexual”. No período em que estudantes e operários tomavam as ruas pra protestar contra as múltiplas formas de opressão e de exploração da sociedade capitalista, as mulheres tomaram a linha de frente, colocando em pauta também as suas demandas. Na França, as estudantes da Nanterre reivindicavam o direito a dormitórios mistos. Em Bercley na Califórnia, mulheres rasgaram seus sutiãs em protesto ao moralismo vigente na sociedade. Era o período da pílula anti-concepcional, da utopia de um amor-livre: livre de moralismos, livre das hierarquias que colocam a mulher no papel de submissas.
Mais de 40 anos se passaram e a nossa geração presencia um episódio vergonhoso, em que uma mulher é humilhada em um local público pelo simples cumprimento de sua saia. O mais paradoxal é o fato de isso ocorrer numa universidade: local de produção de conhecimento. Conhecimento nada tem a ver com o que ocorreu na UNIBAN na semana passada. Muito pelo contrário, foi uma demonstração de ignorância e machismo exacerbado. A moral de uma sociedade que divide as mulheres entre as esposas, aquelas que devem viver em função dos maridos, confinadas no lar, seguindo o mandamento da bíblia que diz: “crescei-vos e multiplicai-vos”; e aquelas outras, as “putas”, que só servem pro prazer contingente do homem. Objetificadas, estas não são dignas de respeito. São “putas”: a elas não cabe a dignidade de serem tratadas como seres humanos.
Por trás desse moralismo, está a supremacia da ordem patriarcal, tão proferida pela Igreja Católica, que condena o divórcio, que é contra todos os métodos anticonceptivos, que faz de tudo pra manter o aborto na ilegalidade “em nome da vida”, enquanto mais de 62.000 mulheres dos estratos mais pauperizados da sociedade morrem por ano por conta de abortos clandestinos. A hipocrisia da Igreja que condena o prazer mundano recai sobre as mulheres que ousam sair de sua imanência, como pecadoras. De acordo com essa lógica medieval, elas merecem ser queimadas na fogueira. E as chamas da inquisição são reanimadas a altos brados nos corredores da UNIBAN.
É lastimável que um episódio como esses tenha ocorrido em pleno século XXI. Isso demonstra que pouco aprendemos com as lutas travadas pelas gerações anteriores, ao passo que escancara o moralismo e o machismo ainda muito aflorados na atual sociedade.
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