Sabemos que o movimento estudantil é visto com maus olhos por muitos estudantes e acreditamos que em muitos aspectos estes têm razão. Se o movimento estudantil hoje não é capaz de lutar pelos problemas da universidade a partir de um programa que o ligue à juventude e aos trabalhadores, essa certamente é uma origem deste repúdio. Outras são o repúdio às assembléias, por estas serem altamente burocratizadas, e a falta de direções democráticas capazes de permitir a expressão dos distintos setores do movimento estudantil e dos estudantes em geral. Hoje vivemos uma crise profunda do capitalismo que dá sequência a um longo período de ataques ideológicos do neoliberalismo, que deixou marcas profundas na esquerda em geral, fragmentada e, até agora, incapaz de uma auto-crítica que lhe permita superar sua esterilidade. Ao invés disso o que vemos é uma marcação de feudos dentro da esquerda que insiste em reinvidicações que nada tem a ver com a luta concreta que se coloca, o que tem como causa e resultado, simultaneamente, o corporativismo no movimento estudantil e no de trabalhadores. É como parte de tentar superar estes problemas que lançamos uma chapa para o CEUPES como continuidade de nossa luta do primeiro semestre, e que faremos um debate a partir de polêmicas abertas no movimento estudantil (...).
Por um Centro Acadêmico militante: contra a opressão à mulher. Por fim, como mais um exemplo de como romper com o corporativismo, achamos que uma entidade militante e combativa tem que se colocar ao lado de todos os setores oprimidos e explorados. Não podemos deixar passar em branco o caso da jovem estudante da Uniban que foi expulsa da universidade pelo fato da diretoria desta considerar que usar roupas curtas é imoral e que a tentativa de estuprá-la e linchá-la foi um ato de defesa do ambiente escolar. A jovem foi expulsa e os envolvidos na tentativa de estupro da garota foram somente suspensos. Desta forma, a Uniban e sua comissão sindicante expressam a conivência e cumplicidade a práticas de violência contra a mulher. Achamos que a direção universitária da UNIBAN tem que ser punida, não a jovem. No entanto, as universidades públicas não estão isentas das mesmas práticas, e não a toa poucos sabem quão frequentes são os casos de assédio sexual a mulheres nas moradias universitárias – respondidas por essa estrutura de poder com advertências e suspensões, mais preocupadas em manter sob os tapetes os abusos que as estudantes sofrem nessas moradias. Esta questão escancara a necessidade de que entidades estudantis militantes coloquem-se lado a lado das mulheres nas moradias estudantis, organizando estudantes, professoras, trabalhadoras, organizações feministas, Sintusp e C.A.s militantes contra a perpetuação da opressão à mulher.
Nós, do Movimento A Plenos Pulmões e do Pão e Rosas estamos organizando a chapa Canto de Guerra para o Centro Acadêmico de Ciências Sociais da USP. Queremos um centro acadêmico militante que tome com toda centralidade a luta contra a opressão das mulheres, sabendo que nesta universidade é preciso acabar com a tradição de "mulheres no poder" como Suely Vilela que colocou a polícia pra nos reprimir e que oprime tantas outras mulheres, mas também é preciso combater a tradição de professoras como Eva Blay, que desde a década de 1960 enche a boca para falar sobre as operárias industriais enquanto fundava um dos principais partidos da burguesia brasileira, o PSDB. Contra esse feminismo burguês, nós estudantes queremos colocar nosso Centro Acadêmico a serviço de resgatar a história das grandes lutadoras socialistas dos séculos passados para hoje forjar uma nova tradição dentro da universidade, a tradição das mulheres trabalhadoras, das terceirizadas da limpeza, das estudantes combativas, das moradoras do CRUSP, das donas de casa e trabalhadoras da São Remo. Flávia Vale, estudante da Ciências Sociais da USP
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