Núcleo Pão e Rosas da cidade de Marília/SP
Manifestação em 30/08 na cidade de Marília/SP |
Esta
precarização é mais que vivida e estampada! Na história do Brasil
nunca houve de fato uma política de saúde universal e de qualidade
para a classe trabalhadora e o povo pobre. A criação do SUS pela
Constituição Federal de 1988 teve sua origem na luta dos movimentos
sociais, políticos e sanitários iniciados na década de 70, que
além de combater a ditadura militar exigiam melhores condições de
vida para a classe trabalhadora. Porém, o SUS já nasce degenerado e
cheio de contradições devido ao seu processo de implantação que
não correspondeu a proposta inicial de radicalização democrática.
Afastou-se das bases
populares junto ao enfraquecimento e adaptação dos movimentos
sociais após a abertura do regime. Os governos não priorizaram o
SUS. Pode-se dizer que o SUS é uma reforma parcial, incompleta, que
não conseguiu universalizar a atenção à saúde. É necessário
ampliar o acesso e qualificar os serviços de saúde, expandir a
cobertura da atenção básica e também garantir que exista
integração entre esta e os hospitais.
Manifestação FAMEMA no dia 30/08 |
A panela
de pressão do caos na saúde pública já vem estourando em alguns
lugares do Brasil, no início deste ano houve uma greve estadual dos
trabalhadores do SUS, porém não com toda a força que poderia;
basta ligar a tv para ver que constantemente exploram as imagens
desumanas dos serviços de saúde e de forma cínica denunciam às
“autoridades” o que ocorre. E é o que se passa na cidade de
Marília. A situação dos serviços hospitalares do “complexo
FAMEMA” (Faculdade de Medicina de Marília), rede de serviços
ambulatoriais e hospitalares, que cobre a demanda de 62 cidades da
região de Marília, responsável pela assistência ao SUS e pela
formação de médicos e enfermeiros na graduação e outros
profissionais na pós graduação, está extremamente precária.
Faltam materiais básicos para procedimentos, a alimentação para
pacientes bem como nos
refeitórios está escassa, o salário dos funcionários está
defasado em 30%, e o sobre-trabalho
se intensifica ainda mais com as horas extras que estes precisam
fazer para suprir a insuficiência de funcionários contratados. A
biblioteca é extremamente desatualizada e faltam professores, além
de vários outros problemas. Ao final de Junho, em meio às
históricas e exemplares manifestações das “Jornadas de Junho”,
os trabalhadores em ato na cidade denunciaram toda essa situação
que já faz parte de reclamações recorrentes dentre a população
pobre usuária dos serviços.
A partir
daí, exigindo o apoio do sindicato, os funcionários que representam
o segundo maior segmento em número de trabalhadores da cidade
entraram em greve no dia 26 de agosto. A greve expandiu-se a
estudantes, residentes multiprofissionais, residentes médicos e
professores. Esta luta desmascara o descaso dos governos estadual,
federal e municipal, o sucateamento da saúde pública destinada à
população pobre e a precarização do trabalho.
As
mulheres tem sido a maioria na linha de frente da greve. A área da
saúde é uma das áreas que mais concentra trabalhadoras mulheres.
E, por sua vez, as mulheres, sobretudo as mulheres negras, são a
grande maioria que ocupam os postos de trabalho precarizados,
ganhando menos que os homens e sofrendo diversos tipos de assédio
moral dos patrões até para não engravidarem e, consequentemente
não tirarem licença do serviço, ou então pressionando aquelas que
desenvolvem lesões em consequência da sobrecarga de trabalho para
que peçam demissão.
Roda de debate organizada pelo Pão e Rosas: "A Saúde da Mulher Trabalhadora" |
Companheira Isabela, residente multiprofissional e militante do Pão e Rosas |
Para o grupo Pão e Rosas – Marília, a experiência foi muito
importante neste período de reestruturação do grupo na cidade, o
contato com as trabalhadoras, a compreensão da luta das companheiras
naquele contexto, gerou importantes reflexões e laços de luta para
o grupo na cidade. Nesta semana, novas atividades com as
trabalhadoras em greve da FAMEMA foram realizadas. Em geral, foi a
união de mulheres em luta por causa das péssimas condições da
saúde, do trabalho, da educação, que movem forças para o combate
desta realidade capitalista e alienante em que todas fazem parte.
Companheira Thaís, residente multifuncional e militante do Pão e Rosas |
Por entender que o direito pleno à saúde é uma das importantes
conquistas para a emancipação das mulheres e que a luta da FAMEMA
agrega diversos elementos
do nosso programa (precarização do trabalho, sucateamento da saúde
pública, direito à creches públicas, contra o assédio moral, etc)
que tudo isso, o grupo de mulheres Pão e Rosas continuará levando
toda a nossa solidariedade e apoio ativo a esse movimento. Em meio a
precarização total de um direito mínimo básico da população, em
meio a milhares de mortes diárias de mulheres e homens da classe
trabalhadora que por falta de acesso a remédios gratuitos,
atendimentos qualificados, exames adequados e a extrema restrição
ao que possuímos de mais avançado na tecnologia em saúde, além da
espera por exames e consultas que dura meses ou anos, a luta pela
saúde e pelo direito de greve que hoje está sendo ameaçado, deve
ser um dos eixos principais de nossas atuações.
Todo apoio a luta dos trabalhadores, professores, estudantes,
residentes multiprofissionais e médicos da FAMEMA!
Por um sistema único de saúde 100% estatal, gratuito e sob controle
da classe trabalhadora!
Basta de mulheres sem acesso a exames e informações preventivas
sobre sua saúde e direitos.
Basta de mulheres sem tratamento adequado para suas enfermidades!
Chega de demoras nas filas! Por condições reais de recuperação
para a mulher trabalhadora e pobre!
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