Reproduzimos abaixo nossa contribuição encaminhada ao I Encontro Nacional do Movimento Mulheres em Luta, que ocorrerá nos dias 04,05 e 06 em Minas Gerais, que reunirão diversas mulheres de todo o Brasil para discutirmos em meio as explosões de protestos e de politização em nosso país, qual deve ser nosso plano de luta e nossa organização para avançarmos em nossa luta por nossa completa emancipação.
Saudações
companheiras!
Nós, militantes do
grupo Pão e Rosas Brasil gostaríamos, antes de tudo, saudar a iniciativa do
Movimento Mulheres em Luta de organizar este Encontro Nacional de seu
movimento, com mulheres trabalhadoras e estudantes após a convulsão de atos,
manifestações e a politização generalizada fruto das grandes mobilizações de
junho que incendiaram nosso país. A aliança de trabalhadoras e jovens nestes
dias 4, 5 e 6 serão fundamentais para conseguirmos conquistar nossos direitos,
passando por cima das direções dos sindicatos atreladas aos governos e aos
patrões, como CUT, CTB, UGT, Força Sindical e outras, que desde junho não
fizeram nada para forjar essa aliança e depois nos dias 11 de julho e 30 de agosto
ficou claro o papel de freio que quiseram impor (sem convocar assembleias,
tirar delegados de base, sem organizar nenhuma mobilização séria) aos
trabalhadores e trabalhadoras, que claramente gostariam de não só mais apoiar,
mas também ir às ruas e retomar seus próprios métodos.
Junho retomou o espírito
de luta que há muito tempo não se via. Ficou claro que somente indo para as
ruas, lutando contra os governos e contra os grandes empresários é que podemos
conquistar questões elementares para nossas vidas. Por isso, esse encontro que
acontecerá em Minas Gerais, que vem sendo palco de assassinatos brutais a
travestis e homossexuais, precisa servir para realmente termos um plano de
lutas a nível nacional para arrancar nossos direitos e lutar contra estes
sistema de opressão e exploração, o que somente se dará enfrentando os patrões,
os governos como o do PT com uma mulher è frente e suas burocracias sindicais.
Nesse sentido,
gostaríamos de nessa pequena contribuição apontar elementos que possam nos
ajudar a nortear a construção desse plano de luta para que seja eficaz e nos
faça triunfar. Partimos de que a opressão que nós mulheres, travestis e
transexuais vivemos são fruto do desenvolvimento humano baseado na propriedade
privada e na dominação do homem sob a mulher para garantir assim, o direito a
herança a seus descendentes. Que no sistema capitalista, se aprofundou com
novos elementos de opressão, ainda que mantenha exatamente esse atrelamento com
a propriedade privada, tornando-se um pilar importantíssimo desse sistema
sócio-economico-político.
Por isso é
preciso encararmos esse encontro a partir de uma perspectiva de classe, desde uma aliança da juventude universitária e
secundarista com as mulheres trabalhadoras, que sofrem com a dupla (quando não
tripla) jornada de trabalho, por conta da falta de serviços públicos. Que
sofrem com a violência doméstica e a precarização do trabalho (estando nos
piores postos de trabalho como a terceirização ou ainda a prostituição, como no
caso da maioria das travestis e transexuais). E que ainda que as opressões
perpassem todas as classes sociais, entendemos que nosso combate a opressão
precisa estar completamente associado a luta anticapitalista e antigovernista. Nesse
sentido, não nos basta apenas exigir do governo nossas demandas, mas que
consigamos construir um forte movimento de mulheres que não se ilude com Dilma,
Cristina Kirchner (presidente da Argentina), ou qualquer outra mulher que
defende os empresários e a manutenção desta sociedade. Queremos um forte
movimento de mulheres que lute não somente pelos nossos direitos, mas por uma
nova sociedade.
Outro debate que
avaliamos como muito importante é em relação qual programa devemos defender
para acabar com a violência “doméstica”. Acreditamos que a exigência de
mais delegacias de mulheres (mais polícia?) e lutar apenas pela efetivação da
lei Maria da Penha acabam por não contribuir em nossa luta para acabar com o
machismo, que passa inevitavelmente pela luta contra o sistema capitalista. A
luta contra a violência não pode apontar no sentido de gerar mais ilusões no
regime burguês ou então de colocar como alternativa a polícia que mata nas
favelas, estupra, reprime as manifestações e desaparece com os Amarildos de
nosso país. Acreditamos que devemos
colocar um forte combate, exigindo sim como mínimo a implementação da Lei Maria
da Penha, mas isso deve estar acompanhado pela organização das mulheres em seus
locais de trabalho e estudos, pra que todos os Sindicatos e Centros
Acadêmicos organizem Comissões ou Secretarias de Mulheres que tratem dos temas
de violência “doméstica” a partir de amplas campanhas que demonstrem que não se
trata de um problema “que não se mete a colher”, mas de uma questão social que
toda a classe trabalhadora deve tomar pra si.
Achamos importantíssimo combater o machismo do dia a
dia nas universidades e escolas, que
cumprem um papel social de correio de transmissão da ideologia burguesa, que
reproduz todos os valores machistas, homofobicos e racistas para perpetuar a
divisão entre os trabalhadores e manter a produção do conhecimento a serviço
dos capitalistas. Desde as calouradas nas universidades, o conteúdo das aulas
nas escolas, as piadas do dia-a-dia, os eventos de “Miss Bixete” e outros,
achamos é preciso atuação cotidiana e consequente para combater em todos os
âmbitos as expressões do machismo e sua raiz.
Para responder
sobre a precarização do trabalho,
como uma das formas da precarização da vida das mulheres, travestis e transexuais,
achamos que para além de lutar por “igual trabalho, igual salário”, seria
indispensável a luta contra a terceirização, que, no momento em que estamos que
ainda tentam aprovar uma ampliação dessa precarização, com a conhecida “Lei
Mabel”, defender concretamente os setores oprimidos, negros, LGBTs e mulheres é
preciso levantarmos de forma consequente: efetivação de todos os
terceirizados, sem a necessidade de concurso para cargos públicos. Pois,
somente acabando com a terceirização – e tendo um programa que a ataque
diretamente – é que podemos garantir efetivamente um salário igual para todos
os trabalhadores, principalmente as mulheres. E que não fosse imposto o
concurso público, pois sob o contrato de terceirizados realizam já o trabalho
que realizarão quando forem efetivados. Não permitiremos que tirem nossos
trabalhos, com justificativas como estas.
Para combater a dupla jornada de trabalho, é preciso termos claro que foram séculos para
consolidar os trabalhos domésticos como trabalhos naturais das mulheres. Que a
serviço de custear o gasto da vida dos trabalhadores, as casas se
industrializaram com máquinas menores para reprodução individual das famílias.
Que são responsáveis por si mesmas em sua subsistência. As mulheres
trabalhadoras além de terem de vender sua força de trabalho por horas sem ter
acesso ao que produzem - apenas a um salário de fome -, ainda tem que realizar
todas as demais tarefas domésticas para a subsistência de si mesma e toda sua
família. É preciso que gritemos Basta de Trabalho gratuito! Que ampliemos nossa exigência não apenas
para as creches, mas também para lavanderias e restaurantes públicos, gratuitos
e de qualidade, para que o Estado e os patrões tenham de arcar integralmente
com nossos custos de vida.
Sobre o direito
ao aborto, achamos necessário
reafirmar essa demanda histórica durante este encontro, pois o índice de mortes
por abortos clandestinos só tem aumentado e segue sendo a 4º principal causa de
morte materna em nosso país. Mas ainda pior, esse ano, para além de todas as
mulheres que já morrem (chegando a totalizar 200.000 mortes), foi o ano em que
setores conservadores e religiosos desde o parlamento querem aprovar o projeto
da “Bolsa Estupro” como é conhecido, o Estatuto do Nascituro. Esse projeto
legitima o estupro e dá mais direitos ao estuprador e ao feto do que as
mulheres que são abusadas. Esse absurdo só evidencia a necessidade de
ampliarmos nossas forças para lutar pelo direito ao aborto, para que não
deixemos mais mulheres mortas na América Latina por falta de saúde publica de
qualidade. Que lutemos contra os governos que permitem e impulsionam esses
ataques, que vem desde as instituições e o parlamento. Não nos garantem nosso
direito a maternidade, com péssimos e escassos serviços públicos, não podem nos
impedir de determinarmos nossos próprios corpos e nem tem moral para nos impor
mais filhos que não temos condições para criar. Por isso achamos que esse
direito precisa ser parte da hierarquia do plano de luta que devemos tirar
neste encontro.
Em relação as
mulheres lésbicas e as travestis e transexuais, consideramos que o movimento feminista em geral
tende a contribuir para a invisibilidade das demandas especificas dessas
mulheres e não contribui para forjar uma aliança concreta entre nós que
sofremos com o machismo. É preciso que avancemos em discussões profundas sobre
esse tema. Como, por exemplo, o projeto de lei Gabriela Leite, defendido pelo
deputado do PSOL no Rio de Janeiro, Jean Wyllys, que visa regulamentar a
cafetinagem, permitindo o lucro de até 50% sob o comercio de corpos em nosso
país. Assim como a precarização, também sofrem com a transfobia que se recusa a
emprega-las no mercado de trabalho, sendo fundamental que tenhamos um programa
que exija a repartição da jornada de trabalho, para que não tenhamos mais
desempregados e nem pessoas capazes de trabalhar sem vagas, servindo como
exercito industrial de reserva para baratear os salários médios.
Os estupros
corretivos que atingem diretamente as mulheres lésbicas, que neste ano, se
fortaleciam com o discurso homofobico de “cura gay”. Isso nos evidencia que precisamos
de uma forte campanha que diga que se já barramos a cura gay, Não permitiremos nenhuma tipo de
“correção”, e vamos garantir também
que as travestis e transexuais deixem de ser vistas como doentes, com
“distúrbio de identidade”.
Por fim, achamos
fundamental a partir dos processos abertos no Oriente Médio e em toda Europa,
que coloquemos uma discussão sobre a necessidade de um internacionalismo dentro
de nosso movimento, que em países como o nosso no Brasil e os países árabes que
passam por fortes convulsões de protestos e de exemplos de organização das
mulheres (como no Egito que dezenas de milhares se organizam nos atos contra os
estupros que vinham sofrendo, na Índia que vão centenas de milhares também
contra os abusos e na Síria que diversas mulheres são linha de frente dos
enfrentamentos com o governo de Al Assad) que coloquemos uma política séria
contra o imperialismo. Assim como desde já denunciemos a intervenção militar
que atacará profundamente as mulheres e todo o povo sírio com uma mascara de
democracia, como se os EUA que utilizaram armas químicas contra o povo
Vietnamita e contra Irã, agora pudessem falar em nome da democracia e dos
setores oprimidos. Também denunciamos a opressão Às mulheres afegãs que sofrem
com os estupros cotidianamente, bem as tropas brasileiras no Haiti, que nunca
devemos deixar de gritar para que saiam deste país, ainda mais pelo fato de
serem dirigidas pelo governo brasileiro.
Achamos que seria
muito importante resgatar a história das mulheres revolucionárias do século XIX
e XX, como Rosa Luxemburgo, Louse Michel, Alexandra Kollontai, e diversas
outras que possam nos ajudar a enxergar mulheres que no combate à opressão, se
tornaram grandes revolucionárias que conseguiam entender plenamente a relação
entre o capitalismo, e a necessidade de derrubá-lo, como a opressão é parte dos
pilares que o sustentam.
Por isso, nós
mulheres do Pão e Rosas estamos construindo este Encontro em nossos locais de
trabalho e estudo como parte de contribuir na organização das mulheres para
conquistar nossos direitos e triunfar sob os governos, os patrões e a
burocracia sindical. Queremos participar ativamente debatendo nossas
divergências e todas as propostas para tirarmos um serio plano de lutas que nos
espaços dos movimentos de mulheres que integram a CSP-Conlutas o que pode
propiciar a possibilidade de atuações em comum com diversos coletivos e grupos
na luta das mulheres.
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