Entrevista do Jornal Palavra Operária com Rita Frau professora da rede estadual de São Paulo, e Virginia Guitzel, estudante e ativista do movimento LGBTTI, sobre a ida de dezenas de militantes do grupo de mulheres Pão e Rosas ao I Encontro Nacional do Movimento Mulheres em Luta que integra a CSP-Conlutas a ser realizado nos próximos dias 04, 05 e 06 de outubro em Minas Gerais.
Por que o Pão e Rosas vai participar deste Encontro?
Rita: O grupo de mulheres Pão e Rosas, que integra a CSP-Conlutas e sua Setorial de Mulheres considera uma excelente iniciativa a construção de um I Encontro do Movimento Mulheres em Luta, aberto a sindicatos e outros grupos de mulheres. Nós somos um grupo que reúne estudantes, trabalhadoras, donas de casa, desempregadas e que considera que a luta das mulheres é inseparável da luta contra o capitalismo. Por isso temos uma perspectiva de classe, ou seja, não são os homens nossos inimigos, mas sim a burguesia, os patrões e seus governos – incluindo os que tem uma mulher à frente, como Dilma Rousseff no Brasil. Como sabemos, a opressão às mulheres perpassa as classes sociais, e por isso sempre interviemos nos movimentos de mulheres existentes buscando unidades programáticas em determinados pontos, como a luta pelo direito ao aborto ou contra a precarização do trabalho, mas sempre remarcando nossa perspectiva estratégica. No caso do Movimento Mulheres em Luta se trata de um espaço privilegiado pois reunirá mulheres que já se colocam num campo anti-governista e combativo.
Virginia: Exatamente, foi com esta perspectiva que participamos do I Encontro LGBTTI da CSP-Conlutas neste ano. Queremos ser dezenas de mulheres trabalhadoras e estudantes como parte da delegação do Pão e Rosas para levar adiante um plano de luta comum com todas as companheiras presentes no Encontro. Acreditamos de fato que pode ser um momento de fortalecimento da luta das mulheres. Ao mesmo tempo, queremos fazer um debate de estratégia sobre a luta das mulheres, desde as experiências internacionais até os novos desafios que estão colocados no Brasil após as jornadas de junho, que foram uma inflexão na situação nacional, que colocam não apenas a necessidade de enfrentar ataques como o Estatuto do Nascituro (Bolsa-Estupro!) e a chamada “Cura Gay”, como nos impõem o desafio de pensar que em tempos de crise capitalista não será a soma de conquistas parciais neste sistema que irá garantir a nossa emancipação. Por isso, é necessário que cada luta parcial, por cada demanda mais mínima que seja, se oriente contra toda sociedade capitalista, buscando superá-la.
Quais serão os principais pontos programáticos e debates que vocês consideram importante que sejam debatidos no Encontro?
Rita: Em geral consideramos muito boas as propostas de debate que as companheiras que organizaram o Encontro apresentaram. Para nós, por exemplo, é fundamental o peso que devemos dar na luta contra a repressão policial (e contra a polícia!), dando destaque para a luta pela aparição com vida de Amarildo e portanto a presença de Elizabeth, sua companheira, será um grande aporte. Ao mesmo tempo, para debater a luta das mulheres, é necessária uma perspectiva internacionalista. A presença de uma companheira indiana também será um grande aporte para a luta contra a violência às mulheres, pois se por um lado todas temos acordo que é uma campanha urgente, por outro há muitos debates entre o movimento feminista sobre qual programa levantar. Na nossa opinião nenhum programa que leve a ilusões no Estado e em suas instituições podem contribuir para a organização das mulheres junto a classe trabalhadora. Este é um grande debate. Ao mesmo tempo, o Pão e Rosas é conhecido nacionalmente pelo combate ao trabalho precário e esperamos poder levar com muita força este debate.
Virginia: Queremos também debater que é necessário uma estratégia revolucionária na luta das mulheres. Achamos fundamental expressar as especificidades das mulheres lésbicas, negras, travestis e transexuais, de forma que fortaleça a nossa unidade para atuarmos com mais força. Não se trata nem de se contentar com algumas melhorias e concessões nem a de deixar nas mãos das feministas reformistas as demandas sentidas das mulheres. Devemos conseguir ligar cada demanda com o enfrentamento a este sistema, e por isso a luta internacional das mulheres é um exemplo para nós. O Pão e Rosas é uma agrupação internacional que existe na Argentina, no Chile, México, Estado Espanhol e outros países e que se inspira na luta das mulheres indianas, afegãs e egípcias que expressam a força da auto-organização da classe trabalhadora. E mais que isso, nos inspiramos em nomes como Rosa Luxemburgo e tantas outras mulheres que protagonizaram dos mais importantes processos revolucionários do século XX, justamente por que não desconectavam a luta das mulheres de uma luta revolucionária.
Como vocês estão encarando o dia 28 de setembro?
Virginia: Nós encaramos o dia 28 de setembro como um dia fundamental na luta pelo direito ao aborto, e neste ano para nós deve ser parte da construção do Encontro. Queremos fazer toda unidade contra o Estatuto do Nascituro e uma grande campanha contra a naturalização do estupro. Devemos denunciar fortemente o Estado que não garante o direito a maternidade, sem garantir creches, lavanderias e restaurantes comunitários e permite a morte de mais de 200 mil mulheres todos os anos por abortos clandestinos. É preciso conquistar um Estado Laico de fato para que o direito das mulheres não seja submetido às religiões que hoje tem grande influencia na política nacional. Para isso, o movimento de mulheres precisa responder uma das bandeiras centrais que foram levantadas em junho: o direito a saúde de qualidade. Se conquistarmos um único sistema de saúde, estatizado, sob controle dos trabalhadores e usuários poderemos impedir a patologização (visão de doença), poderemos garantir as diversas expressões de sexualidade, a identidade de gênero das travestis e transexuais e principalmente garantir o controle de qualidade dos contraceptivos (combatendo o grande lucro capitalista das farmácias) e conquistando o direito do aborto às mulheres para que não morram mais. Achamos fundamental que no Encontro seja votada uma campanha como esta.
JPO: Como o grupo de mulheres Pão e Rosas está se preparando para a ida ao Encontro?
Rita: Estamos organizando feijoadas, festas, brechós, saraus e rifas, e sobre o dia 28 de Setembro, estamos impulsionado rodas de conversa nas universidades, além de participarmos dos atos que estão sendo convocados e organizando seminários teóricos sobre gênero e marxismo. Nas últimas semanas construímos importantes reuniões, como na Zona Oeste de São Paulo com mais de 40 mulheres. Estamos construindo o Encontro entre as trabalhadoras da USP, professoras, metroviárias, bancárias, trabalhadoras dos correios, terceirizadas, trabalhadoras do comércio, de creches e em diversas universidades do país, como Unesp, USP, Unicamp, UFMG, UERJ, UFRJ. Todas estão fazendo grandes esforços e militando para participar deste encontro com o objetivo de fazermos emergir um grande movimento de mulheres para acabar com esta sociedade de opressão e exploração!
Secretaria de Mulheres do Sintusp vota ida ao I Encontro do Movimento Mulheres em Luta!
“A partir da Secretaria de Mulheres do Sintusp vamos organizar a ida de uma delegação de companheiras pra participar deste importante espaço. Nós consideramos que a luta das mulheres deve ser uma luta anti-capitalista e queremos dar muito peso pro debate sobre os direitos das mulheres trabalhadoras, como creches, lavanderias e restaurantes comunitários, bem como dar prioridade para a luta internacional das mulheres. Basta de violência contra as mulheres em todo o mundo! Basta de opressão imperialista! Fora as tropas brasileiras do Haiti!”
Diana Assunção, diretora do Sintusp e da Secretaria de Mulheres
Por uma campanha nacional contra o trabalho precário!
“Fui liderança de uma greve de trabalhadoras terceirizadas que virou um livro que até hoje é uma ferramenta pra difundir as lições de nossas lutas. Quero neste Encontro de Mulheres contribuir pra luta contra o trabalho precário, pra debater qual reivindicação temos que fazer. Precisamos derrubar a Lei Mabel (PL 4330) e precisamos exigir igual salário por igual trabalho, não à diferenciação entre homens e mulheres, entre negros e brancos, entre heterossexuais e homossexuais. Mas também temos que exigir que os terceirizados sejam efetivados sem necessidade de concurso público, porque nós já fazemos todo o serviço e não precisamos de uma prova pra comprovar isso!”
Silvana Ramos, liderança das greves das trabalhadoras terceirizadas da USP
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