quinta-feira, 26 de setembro de 2013

Carta de uma atendente comercial dos correios

Por Nati, atendente dos correios de Campinas e militante do grupo de mulheres Pão e Rosas, pelo Boletim Classista


Greve de novo?

Quem trabalha nos Correios ouve isso sempre, não só durante a greve. Se alguma conta ou encomenda não chegou, o pessoal já vem perguntar “mas o Correio tá de greve?”. A agência onde trabalho está constantemente lotada, com tempo de espera que frequentemente passa de 1 hora. A população que vai lá muitas vezes pergunta: “mas só tem vocês? O resto tá de greve?”. Só que não estão. Acontece que o quadro de funcionários é muito menor do que a real necessidade da empresa. Faltam atendentes, carteiros e operadores de triagem e transbordo. Sobra trabalho, dos mais variados.

No caso das agências, além das tradicionais cartas e Sedex, temos que fazer inscrição, regularização e alteração de CPF, vendas de Telesena, abertura de contas do Banco do Brasil, pedido de cartão de crédito, recebimento de contas, saques, depósitos, captação de doação pro Hospital do Câncer de Barretos, pedido de seguro DPVAT... Cada servicinho desses traz um lucrinho pra empresa, inclusive a doação. Para os atendentes, só metas e cobranças.

Por outro lado, o sistema e os computadores nunca funcionam, gerando trabalho dobrado, maior tempo no atendimento, “erros” que muitas vezes nos levam a tirar dinheiro do bolso pra cobrir diferenças no caixa. No caso da minha agência, temos que escolher se ficamos surdos com o barulho dos ventiladores ou assados com o calor, mas a medição da empresa diz que está tudo dentro dos padrões. No começo deste ano, carteiros de Americana tiveram que cruzar os braços e travar toda uma luta porque tinham que trabalhar num prédio sem água, com pouca iluminação, o que mostra que não é um caso isolado, mas é o jeito que a empresa nos trata.

Muitos ecetistas desenvolvem doenças de trabalho, em todo lugar tem gente de licença ou então que não pode mais levantar peso, não pode fazer determinados movimentos, que foi reabilitado por acidentes de trabalho. Tudo isso devido às condições de trabalho precárias e jornadas extensas (a minha e de muitos é de 44 horas semanais, sem contar o tempo de viagem, trânsito, ônibus que não passa, e principalmente, sem contar as horas extras obrigatórias, já que dificilmente saio no horário, pelo volume de trabalho).

Em troca de tudo isso a empresa oferece um piso salarial de R$1004,00, ticket e convênio médico. O ticket e o convênio médico não são complementos, são totalmente necessários pra que seja possível pagar as contas com este salário e garantir alguma qualidade de vida, em especial o convênio, considerando que tantos estão doentes. E agora, além de nos ter negado aumento real durante tantos anos, chegando a esse salário tão baixo, e ainda se recusar a minimamente cobrir a inflação, a empresa está tentando privatizar o convênio, seguindo o modelo de convênio já aplicado em outras estatais. A direção da ECT diz “nada vai mudar”. Só que se nada vai mudar, porque faz questão absolta de mudar? A gente sabe o porquê. Vai mudar aos pouquinhos, primeiro para os novos, e aos poucos pra todos. Enquanto a gente passa a pagar cada vez mais pelo convenio, uma nova empresa vai lucrar nas nossas costas.

POR TUDO ISSO, SIM, ESTAMOS EM GREVE DE NOVO! SÓ QUE ISSO NÃO QUER DIZER QUE É SÓ MAIS UMA GREVE...

Este ano os motoristas e cobradores de Campinas fizeram uma paralisação pelo mesmo motivo, ataque ao plano de saúde. Um pouco antes e ainda hoje, a juventude segue se mobilizando pelo direito e a qualidade do transporte, onde esses mesmos motoristas e cobradores trabalham. E os bancários (que no nosso caso, compartilham até o mesmo trabalho, com o Banco Postal) estão em luta em sua campanha salarial, como a nossa. Enquanto nós estamos nos organizando contra a proposta da empresa, os trabalhadores metalúrgicos já estão com assembleia marcada porque também não podem aceitar propostas de reajustes irrisórios.

Todos esses exemplos são claros: os trabalhadores são uma única classe. Só os que nos exploram e vivem dos altos lucros que o nosso suor produz querem nossa divisão, que nos enfraquece.
Não param de nos dividir, entre homens e mulheres, negros e brancos, efetivos e terceirizados. Dentro da própria categoria, nos dividem entre atendentes, carteiros e OTTs, grevistas e não grevistas. Agora, levam isso às últimas consequências e querem dividir nossa luta, contando com a valiosa ajuda das burocracias governistas e servis pra dividir a própria greve. Já prevendo que com a proposta ruim que a empresa queria bancar, a greve seria a única saída, a empresa, junto com alguns sindicatos, fez uma manobra. Apresentou uma proposta ridícula, de 5% de aumento. Os sindicatos dirigidos pelo PCdoB (aliados do PT que dirige o governo e a empresa) chamaram a greve (sabendo também que essa era a vontade legítima das bases de São Paulo, Rio, Bauru e Tocantins). Daí, sem nunca criticar esses mesmos sindicatos aliados, a empresa fez outra proposta, que parece melhorzinha, de 8% de aumento. Imediatamente os sindicatos impuseram no grito o acordo, e o fim da greve (exceto em Tocantins, onde não conseguiram e os companheiros seguem em greve!). Esses burocratas estão ligados a CTB e ao PCdoB, existem outros ligados diretamente ao PT e a CUT, que também fazem de tudo pra impedir nossa unificação e luta. E se olharmos para os trabalhadores de outras categorias, muitos sofrem com sindicatos que só fazem o jogo do patrão, ligadas a essas e outras centrais, como a Força Sindical.

Como nos disse a juventude brasileira em junho, somente com unidade e luta, e nenhuma confiança em quem nos explora e nos engana, podemos chegar à vitória. As grandes mobilizações barraram o aumento da passagem e de quebra questionaram todas as ilusões nos governos, derrubando a popularidade do PT de Dilma e Haddad, do PSDB de Alckmin, do PMDB de Eduardo Paes... Nessas mesmas mobilizações da juventude, muitos trabalhadores, inclusive ecetistas, participaram. No entanto, nas datas combinadas pelas centrais sindicais de serem dias de lutas dos trabalhadores, como o dia 11 de julho e o dia 30 de agosto, ainda que os trabalhadores claramente quisessem entrar em cena e mostrar toda sua força, o papel dessas mesmas centrais foi de freiar, controlar e desviar.

Por isso essa não será só mais uma greve. Temos que passar por cima desses sindicatos pelegos que só servem pra nos dividir e atrasar. Temos que nos organizar democraticamente a partir da base, discutindo em cada agencia, Centro de Distribuição e Centro de Triagem e colocando cada pauta específica. Temos que organizar atos nas ruas buscando apoio da juventude e dos outros trabalhadores que também querem uma sociedade totalmente diferente. Temos que unificar nossa luta com bancários e metalúrgicos, mostrando que somos uma única classe!
Queremos condições saudáveis de trabalho, condições de segurança, e aumento real de salário!

Queremos mais funcionários e com as mesmas condições de trabalho, por isso é preciso efetivar os terceirizados (se com condições rebaixadas eles realizam o serviço, já estão capacitados, por que não podem ter as mesmas condições?) e estatizar as agencias franqueadas (onde as condições também são piores e o lucro vai pra terceiros) e barrar todas as formas de terceirização e privatização que hoje existe também no setor de limpeza, caminhões, e agora com o plano de saúde!

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