sexta-feira, 27 de setembro de 2013

Declaração do Pão e Rosas contra o Estatuto do Nascituro do Rio de Janeiro (PL 416/11)

Pão e Rosas do Rio de Janeiro

Nos últimos meses temos recebido uma série de ataques e retrocessos no que diz respeito à questão da mulher e dos LGTTBI’s através do governo federal, de Dilma e do PT junto aos setores mais conservadores e religiosos aliados a sua base, seja com a liderança de Marco Feliciano(PSC-SP), um deputado racista, homofóbico, extremamente conservador e religioso na Comissão de Direitos Humanos e Minorias da Câmara, seja com a tentativa de um projeto de “Cura-gay”, seja com o Estatuto do Nascituro e até mesmo com a grande campanha contrária a um direito fundamental que é o atendimento emergencial às mulheres que sofreram violência sexual, impedindo assim que essas tenham acesso à profilaxia.
No Rio de Janeiro, onde sofremos ainda com enorme repressão por parte dos governos de Cabral, Paes e da policia em decorrência das jornadas de junho/julho/agosto, uma ofensiva na criminalização às manifestações, com a proibição do uso de máscaras e as inúmeras prisões políticas e criação da CEIV, recebemos mais um ataque brutal ao direito das mulheres com o PL 416/2011 Programa Estadual de Prevenção ao Aborto e Abandono de Incapaz. Projeto este que consiste na criação de Casas de Apoio à Vida para dar assistência a mulheres que sofreram estupro, gravidez indesejada ou acidental, que na verdade garantiriam que a mulher levasse adiante essa gravidez traumática e sugere até que esta casa se disponibilize a levar a criança à adoção.
Esse projeto proposto claramente por uma bancada de parlamentares evangélicos e conservadores, camuflada sob a forma de assistencialismo implica em criminalizar ainda mais o aborto e colocá-lo como causa, e não, consequência de um problema social muito maior. Deixando de lado questões como a falta de educação sexual nas escolas e a distribuição de contraceptivos seguros gratuitamente. Defendem demandas como atendimento de saúde de qualidade e pré-natal que na verdade já deveriam ser garantidos a qualquer gestante. Pensar a realidade das mulheres que abortam hoje no país deve passar necessariamente por questionar e refletir a situação concreta das mulheres trabalhadoras (a imensa maioria que sofre com os abortos clandestinos), num cenário onde as mulheres sequer ganham os mesmos salários em relação aos homens e são as mais afetadas com a pobreza e a miséria, como provam as estatísticas. Isso significa que lhe é totalmente negado o direito à maternidade pois o Estado e os governos do PT e Dilma não garantem  as condições necessárias para a maioria da população como salários dignos, saúde e educação de qualidade.
Os criadores do projeto preocupam-se, supostamente, com a vida da criança sem pensar que os abortos clandestinos que levam a morte materna são feitos em sua maioria por mulheres pobres e negras que não tiveram oportunidade de se tornarem sujeitas de suas vidas em meio à opressão e marginalização em que vivem. Em última instância, essas possíveis crianças “amparadas” pelo projeto, crescerão em condições tão precárias quanto a de suas mães, e poderão ter o mesmo triste destino.
 Na questão do estupro, além de negligenciar todo o trauma de levar a gravidez resultante de um crime, coloca mais uma vez sobre a mulher a responsabilidade de ter sido estuprada, criminalizando-a por não querer ter esse filho. Enquanto nos últimos quatro anos os casos de estupro no estado do Rio de Janeiro aumentaram 56,7%, não por coincidência nas regiões mais carentes e periféricas como a Baixada Fluminense e Zona Oeste [1]. Devemos cobrar que esses casos sejam investigados por comissões independentes de mulheres e que haja políticas de combate ao estupro.  
Não aceitaremos nenhum ataque aos direitos das mulheres por parte dos governos e dos setores religiosos! Precisamos somar nossas forças para barrar o PL 416 e para que essa seja parte de uma forte luta pelo direito ao aborto legal, livre, seguro e gratuito!!! Chamamos as organizações feministas e LGTTBI´s, partidos e coletivos de mulheres e direitos humanos para lutarmos juntos contra essa ofensiva! Que os partidos de esquerda como o PSOL e o PSTU se coloquem de forma ativa contra esse ataque, e que o Encontro do Movimento Mulheres em Luta tenha como uma de suas pautas principais essa luta e sirva para nos organizar de fato por esse direito fundamental das mulheres.

Pela organização de mulheres em comissões independentes de investigação de casos de violência contra mulher, sem a presença da policia ou da justiça burguesa! Que os sindicatos e as entidades estudantis tomem para suas mãos a luta das mulheres!
Basta de mortes e violência contra as mulheres!
Abaixo a Bolsa-estupro! Ao Programa de prevenção ao aborto do RJ!
Pela separação da Igreja do Estado! Pela revogação do acordo Brasil-Vaticano!
Pelo direito à maternidade! Garantia dos direitos e condições para as mulheres terem seus filhos, como saúde, educação e moradia! Licença-maternidade de 1 ano e creche 24 horas em todas os locais de trabalho, de estudo e nos bairros!
Por um único sistema de saúde, estatizado, sob controle dos trabalhadores que garanta: Educação sexual em todos os níveis escolares, Distribuição e controle de qualidade de métodos contraceptivos nos hospitais públicos, Aborto legal, seguro, livre e gratuito realizado pelo SUS em todo o Brasil!


[1] Dossiê Mulher 2013. Instituto de segurança pública.

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