segunda-feira, 17 de agosto de 2009

2ª Plenária do Pão e Rosas

No dia 01/08, nós do grupo de mulheres Pão e Rosas, realizamos nossa segunda Plenária, com a presença de mais de 70 companheiras, entre trabalhadoras da USP que participaram ativamente da recente greve de trabalhadores, trabalhadoras do comércio, do Carrefour, do Tribunal de Justiça de São Paulo, terceirizadas da limpeza, professoras e donas de casa, e também estudantes da Unesp de Rio Claro, Araraquara, Marília, Franca, Bauru e Rio Preto, PUC-SP, USP, Fundação Santo André, Mackenzie, São Judas, Unicastelo Itaquera, Unicamp, estudantes do cursinho popular “Hebert de Souza” de Campinas, pós-graduandas da UFRJ e UEMG.
"Nós mulheres do Pão e Rosas nos colocamos na luta contra esta sociedade que nos diz que somos iguais, mas que a todo momento nos prova de que vivemos numa sociedade que nos oprime, nos explora, nos humilha. Nos incumbimos da tarefa de sermos um grupo que não pense a questão de gênero isolada da realidade a qual vivemos e de todo sistema de exploração a que somos submetidas, deste modo nos colocamos numa perspectiva de classe e de luta para rompermos com os grilhões que a nós é imposto. Para tanto vemos a necessidade de construirmos um grupo que se coloque ao lado das mulheres trabalhadoras, que lutemos por elas e com elas, levantando uma bandeira feminina e classista, e é neste sentido que o Pão e Rosas-Marília está se forjando, como um grupo que nasceu neste ano de 2009, mas que vê claramente a necessidade de ser um grupo combativo e de luta anticapitalista."
Sheila Lima, estudante da Unesp-Marília


"Eu achei a plenária interessante porque é um grupo de mulheres que estão lutando pelos seus direitos, porque no mundo em que a gente está hoje ainda tem muito preconceito contra a mulher, com a plenária do Pão e Rosas estamos tentando tirar um barreira da própria sociedade, acabar o machismo. Discutimos sobre a precarização do trabalho feminino, por exemplo, no trabalho terceirizado existem mais mulheres do que homem... e quantas supervisoras existem? Entre vinte supervisores, uma é supervisora, isso mostra machismo até dentro do trabalho mais precarizados. Por isso é importante nós nos organizarmos e nos unirmos contra as injustiças causadas dentro do sistema capitalista, entre elas o machismo. "
Patrícia, trabalhadora terceirizada da limpeza de uma EMEI de São Paulo

"Nós do Pão e Rosas, queremos forjar uma nova tradição na esquerda, no movimento estudantil e nos movimentos sindicais, que muitas vezes tratam da questão da mulher e da sua opressão de forma superficial ou menos importante. Queremos romper com essa tradição e sair do abstrato e irmos para o concreto. No dia 1º de agosto, na plenária do Pão e Rosas com várias companheiras presentes, de diversos locais, entre trabalhadoras, donas de casa e estudantes discutimos os nossos projetos, e trabalhos que já estamos realizando e que queremos avançar muito mais, como a campanha pelo fim da terceirização e incorporação imediata das/os trabalhadoras/es, pelo direito ao aborto legal e gratuito, abaixo ao golpe em Honduras...Mas ainda temos muito que avançar, e somos muito poucas, portanto, desejamos que todas as mulheres que assim como nós sentem a necessidade de romper com a lógica na qual estamos inseridas, que querem lutar pelos direitos das mulheres, entendendo que nossa opressão é o alimento desse sistema capitalista, e que portanto, lutar pelos nossos direitos é lutar pelo fim desse sistema, se somem a nós e nos ajudem a crescer, e sermos uma grande agrupação de mulheres que não se calam!"
Ariane Mendonça, estudante da Unesp-Marilia

"A plenária foi muito importante, principalmente pela participação das companheiras trabalhadoras, que tem o desafio de driblar a dupla jornada para militar todos os dias. Isso me motiva muito e é para nós estudantes, uma grande lição, demonstrando a importância de se ligar as trabalhadoras e que só junto a elas poderemos lutar contra o sistema capitalista que significa para nós mulheres: opressão e exploração."
Ana Carolina B. Nogueira
integrante do Diretório Acadêmico da Unesp-Rio Claro – gestão “Por uma questão de classe”

"Não imaginava que tanta gente viria à Plenária. Mulheres de todos os lugares, classes sociais e sotaques se reuniram para discutir problemas com que todas convivemos diariamente, como homofobia, terceirização, aborto clandestino e, em um tópico mais recente, a Gripe A. As diversas opiniões e pontos de vista enriqueceram o encontro e abriram espaço para debates e questionamentos. O depoimento das trabalhadoras terceirizadas emocionou a todos e confirmou que precisamos de mudanças. A festa de encerramento foi muito divertida e era possível perceber que muitos assuntos ainda estavam sendo discutidos, mesmo que em meio à música e à comida. O agradecimento das companheiras argentinas incentivou mais ainda nosso trabalho aqui no Brasil que, com certeza, vai continuar crescendo e representando a cada dia a força e a luta de cada mulher."
Maju, estudante da PUC-SP

"1ª Impressão: Pão e Rosas. Ao ver todos aqueles rostos muito jovens, senti-me lisonjeada por compartilhar com mulheres com capacidade de inovação! Nosso futuro não está assegurado, isto é um fato, contudo é imperativo trabalhar de modo estratégico para que ele aconteça, amenizando situações negativas, contraditórias e conflitos."
Selma Cristina B. Nogueira, contadora, trabalha na área da educação

"Vejo o grupo Pão e Rosas como uma oportunidade não só de expressão, mas também de ação, para todas aquelas mulheres que se indignam frente à opressão a que estamos submetidas e acreditam ser necessário dizer um alto e belo basta! E neste sentido o grupo surge como forma de unir as nossas vozes e mostrar para a sociedade que não aceitaremos caladas que mulheres sejam criminalizadas por praticarem aborto, que milhares de mulheres continuem morrendo devido a conseqüências de abortos praticados em condições insalubres, que nossos corpos sejam vistos como mercadoria, que continuemos a ser vítimas de violência doméstica, exploradas pela dupla jornada e ocupando os piores e mais precários postos de trabalho. São por essas e outras questões que acredito ser de fundamental importância impulsionar o grupo de mulheres Pão e Rosas que, a meu ver, tem um forte potencial para tornar-se um amplo movimento de mulheres. Afinal, se nós mulheres não nos unirmos para lutar contra a opressão e exploração que esta sociedade nos submete, quem o fará por nós?"
Camila Loures, estudante de pedagogia da Unicastelo-Itaquera e trabalhadora da educação no município de São Paulo

“O Capitalismo nos dá uma sensação de emancipação feminina, de direitos iguais, porém essa sensação é falsa, pois as mulheres ainda sofrem uma grande opressão social, como: a mercantilização do corpo feminino, os salários inferiores ao do homem, além de que a grande maioria das mulheres tem uma dupla ou tripla jornada de trabalho tendo que cuidar da casa, dos filhos e manter um emprego.
Assim, o grupo Pão e Rosas me agrada, pois chama para o debate questões políticas, não só pelo ponto de vista do machismo unicamente, mas com uma visão classista, criticando todo o sistema econômico, pegando o problema pela raiz. Sendo assim, creio que a questão não é unicamente a luta por direitos iguais para ambos os sexos, e sim a mudança do sistema econômico atual, e, por conseguinte, com um novo sistema produtivo todas as relações sociais vão se transformar, e entre outras, a questão da mulher.”
Fernanda M. M. Sarmento, estudante de Ciências Sociais da Unicamp

"Não basta irmos as ruas no 8 de março gritar palavras bonitas e depois voltarmos as nossas vidas normais. É preciso organizar a luta no ano todo, e para isso temos que buscar discutir e enfrentar a exploração, opressão e humilhações que nos mulheres sofremos no dia-a-dia em nossa casa, no trabalho, na escola e universidade. Para isso, temos que entender o funcionamento do capitalismo e seus mecanismos de dominação para que possamos nos armarmos contra nosso principal inimigo (a burguesia), que é quem mais se aproveita da nossa opressão. Logo, é fundamental resgatar a história da classe operária e das mulheres que deram suas vidas na luta contra o capitalismo, história que o inimigo tenta, não por acaso, esconder ou modificar. Mas essa luta não da pra ser feita sozinha, temos que nos unir e construir o Pão e Rosas, que hoje é o grupo que cumpre esse papel. Temos feito campanhas, atos e reuniões importantes frente aos últimos acontecimentos e as demandas da nossa classe e por isso estamos vendo o grupo amadurecer e crescer."
Celeste, professora municipal no ABC Paulista

"Decidimos fazer parte do grupo de mulheres Pão e Rosas por tantos motivos quantos podem ser englobados na ideia de uma abordagem do feminismo por uma perspectiva militante e classista. Temos uma identificação com o Pão e Rosas que não se deu com nenhum outro grupo de mulheres que se reivindica feminista. Nesse mote, podemos exemplificar o que (pra nós) diferencia o feminismo Pão e Rosas do feminismo burguês – que ora vê a mulher como a futura substituta na opressão de gênero, outra toma a questão feminista destacada do painel social. A diferença fundamental reside no que diz respeito à diversidade das questões que compõem as discussões, e que delimitam os contornos do contexto histórico no qual a opressão contra a mulher se inclui. Os debates são sempre muito abrangentes, mas sem perder o foco das demandas específicas das mulheres.
Em cada encontro há sempre uma troca de ideias muito profícua, o que nos traz o aporte teórico mais que fundamental à luta política organizada e militante. Além desse aspecto, também nos ajuda à trazer aqueles valores que nos são tão intrínsecos (como o repúdio ao preconceito) e, por isso, tão complicados de se discutir (por nos parecerem óbvios, não necessitando de quaisquer explicações) para um plano de argumentação fortalecida e persuasiva.
Na última plenária – realizada dia 1º de agosto – tivemos a oportunidade de entrar em contato com mulheres com as quais cruzamos todos os dias, mas – dessa vez – em um espaço dedicado somente a nós. Esse encontro nos comunicou com realidades muito diversas, naqueles detalhes e miudezas que fazem tanta diferença pra nós e que nos tornam tão semelhantes nas nossas diferenças.
A questão hondurenha, o aborto e a terceirização foram algumas das diretrizes das intervenções na plenária. Outro aspecto de muita importância pra nós, foi o contato com as trabalhadoras, que ajuda a fortalecer a tão quista aliança operário-estudantil. Além dessas bandeiras mais gerais do Pão e Rosas, foram discutidas demandas individuais dos diferentes núcleos que configuram o corpo do grupo, colaborando – assim – para a formação de uma visão concreta das nossas necessidades, qualidades e deficiências. Em cada uma dessas vivências aumenta a voz e a força para continuar a luta de nós, que somos tantas, e das mulheres que nos antecederam. Somos muitíssimo gratas às lutadoras Laís e Bianca que nos indicaram a possibilidade desse caminho, e reiteramos nossa apresentação com um detalhe que agora toma um espaço enorme em todas nós: nós somos todas Pão e Rosas."
Ane, estudante de Ciências Sociais da UNESP de Araraquara; Aline e Elenir, estudantes de Letras do mesmo campus; e Iaci, estudante pré-vestibular.

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