Jornalista, atriz, poetisa, mãe, extravagante, companheira, comunista, socialista, inconformada, mulher... Conhecida por muitos como apenas a esposa de Oswald de Andrade ou por ser a musa do antropofagismo, Patrícia Rehder Galvão era bem mais do que isso. Nascida em 1910, Pagu, assim apelidada por Raul Roop, chamava atenção por sair fora dos modelos convencionais da época. Casou-se em 1930 com Oswald de Andrade, mesmo ano em que teve Rudá, seu primeiro filho e mesmo ano também em que filiou-se ao Partido Comunista do Brasil. Em Santos aderiu à causa dos estivadores participando ativamente da greve, motivo pelo qual foi presa pela primeira vez. Sai da cadeia e tempos depois deixa o país, rumo à Europa. Em 1935 foi presa em Paris por ser comunista e estrangeira com identidade falsa. É torturada na cadeia durante 5 anos. Após deixar a prisão rompe com o partido comunista. Cursa a escola de Artes dramáticas voltando à Santos e incentivando grupos amadores de teatro.
*Aline Pagu é estudante do 1º ano de História da Fundação Santo André e integrante do Pão e Rosas
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NOTHING
NOTHING
Pagu/Patricia Rehder Galvão
Publicado n'A Tribuna, Santos/SP, em 23/09/1962
Nada nada nada
Nada mais do que nada
Porque vocês querem que exista apenas o nada
Pois existe o só nada
Um pára-brisa partido uma perna quebrada
O nada
Fisionomias massacradas
Tipóias em meus amigos
Portas arrombadas
Abertas para o nada
Um choro de criança
Uma lágrima de mulher à-toa
Que quer dizer nada
Um quarto meio escuro
Com um abajur quebrado
Meninas que dançavam
Que conversavam
Nada
Um copo de conhaque
Um teatro
Um precipício
Talvez o precipício queira dizer nada
Uma carteirinha de travel's check
Uma partida for two nada
Trouxeram-me camélias brancas e vermelhas
Uma linda criança sorriu-me quando eu a abraçava
Um cão rosnava na minha estrada
Um papagaio falava coisas tão engraçadas
Pastorinhas entraram em meu caminho
Num samba morenamente cadenciado
Abri o meu abraço aos amigos de sempre
Poetas compareceram
Alguns escritores
Gente de teatro
Birutas no aeroporto
E nada.
UM PEIXE
Pagu/Patricia Rehder Galvão
Um pedaço de trapo que fosse
Atirado numa estrada
Em que todos pisam
Um pouco de brisa
Uma gota de chuva
Uma lágrima
Um pedaço de livro
Uma letra ou um número
Um nada, pelo menos
Desesperadamente nada.
Leia também o artigo Patrícia Galvão de Diana Assunção e Marina Fuser no livro Lutadoras. Histórias de mulheres que fizeram história da Coleção Mulher das Edições ISKRA.
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