Após anos de intensa luta e forte resistência das trabalhadoras e trabalhadores da fábrica ceramista em Neuquén, Argentina, no dia 12 de agosto Zanon é definitivamente expropriada, representando uma grande vitória para a classe trabalhadora argentina e um grande exemplo a ser seguido pelos trabalhadores latino-americanos.
A fábrica sob controle operário há cerca de 8 anos, hoje intitulada Fasinpat (Fábrica sin Patrones), não mais pertence ao seu antigo dono, Zanon. Esta luta, contou desde o início do processo com a solidariedade de centenas de estudantes, artistas, intelectuais, trabalhadores empregados e desempregados, assim como as Mães da Praça de Maio, os índios Mapuches e o povo pobre de Neuquén. Essa é uma prova real de como a aliança operária e popular organizada de forma independente dos patrões e dos governos será capaz de derrubar a exploração, a opressão e a miséria a que estamos submetidos.
Ao longo da luta foram várias as conquistas, como a enorme redução de casos de acidentes de trabalho, redução da jornada com o aumento dos salários, crescimento dos postos de trabalho, sendo grande parte da produção voltada para a própria comunidade de Neuquén como hospitais, escolas e creches. Essa incrível vitória não teria sido possível sem a força dos trabalhadores e as mulheres trabalhadoras, essas que cumpriram papel importante em todo o processo até a expropriação da fábrica. Desde o início do período de ocupação companheiras de operários lutaram ombro a ombro com os operários em Zanon, enfrentando a repressão, ampliando toda a rede de solidariedade que a luta de Zanon acaudilhou, trazendo muitas vezes suas próprias famílias para a luta, representando um símbolo de coragem e bravura.
Essas mulheres, cansadas de serem exploradas e oprimidas assim como seus companheiros pelos freqüentes ataques da burguesia e do governo diante da crise que atacou brutalmente a Argentina em 2001, com ameaças e demissões em massa, fechamentos de inúmeras fábricas, se organizaram numa Comissão de Mulheres, afim de discutirem e propor ações concretas para enfrentarem todos os ataques que elas, juntamente com seus companheiros de luta, enfrentariam a partir dali.
Agora, mais do que nunca, frente à crise mundial que ainda começamos a enfrentar no Brasil, vendo milhares de demissões em todos os países, ataques das patronais com reduções de salários, demissões voluntárias, jornadas de trabalho extenuantes, imensa precarização e terceirização de trabalho (composta em grande parte por mulheres negras) enquanto são “repassados” pacotes bilionários do governo para ajudarem os banqueiros e capitalistas, vemos a necessidade de unirmos forças para que não sejam os /as trabalhadores/as e o povo pobre quem paguemos pela crise criada pelos parasitas capitalistas. E a partir da experiência de Zanon, vemos um modelo concreto de que é possível um outro modo de produção e de vida, que não esse. Zanon, mais que um exemplo de trabalho, é um exemplo de liberdade! É uma prova de que uma empresa não precisa de um patrão para sobreviver, pois ele é aquele que lucra às custas do suor e sangue dos trabalhadores e trabalhadoras!
Nós, do grupo de mulheres Pão e Rosas, sabemos que a batalha está só começando. A luta pela expropriação de Zanon não está descolada da luta imensamente maior que estamos dispostas a travar, pois o modo de produção capitalista só pode oferecer a nós trabalhadores e trabalhadoras opressão, exploração, miséria e uma barbárie cada vez mais profunda.
Por isso, saldamos nossos companheiros e companheiras, lutadores e lutadoras e unidos gritamos: “Viva a luta de Zanon, que viva o controle operário, porque essa fábrica é do povo, em Zanon não passarão!!!”
Reproduzimos abaixo extratos de depoimentos publicados na última edição do jornal La Verdad Obrera (Argentina).
“Eu abraço a cada um de vocês. Abraço-os cheia de felicidade, de alegria. Porque como os companheiros dizem, ‘Zanon é do povo’, este triunfo é do povo, é de todos nós, é belo tê-lo conseguido e isto faz com que nós assumamos um compromisso a seguir, não somente os companheiros de Zanon, mas todos os lutadores sociais, todos os que buscam que haja justiça, que não haja tanta desigualdade. Eu me sinto feliz porque aqui se reivindicam nossos filhos, a esses filhos nossos que eram revolucionários, maravilhosos, que tinham essa juventude que tem todos vocês. Jovens não só na idade, jovens de espírito, de convicção. Há muitos agora, também lutadores sociais, que buscam desesperadamente que isso seja uma realidade.
E eles, os companheiros de Zanon, junto com toda a sociedade tem nos demonstrado que se pode. E não apenas que se pode, se deve. Dizia-o um grande historiador, temos que ajudar o homem para que saiba o que vale, o que pode e o que deve. Isso é o que temos que ensinar a cada um de nossos companheiros. Nisso nos comprometemos todos. Isso conseguimos entre todos e podemos fazer para outros também. Sejamos solidários como nos mostraram os companheiros. Eu os amo.”
LOLIN RIGONI- Mães da Praça de Maio (filial Alto Valle)
“Essa fábrica que não somente produz cerâmica, mas produziu homens livres, que produziu um projeto, que produziu desde a Argentina, desde este lugar da Patagônia, para milhares de companheiros e companheiras em todo o mundo, que é o que nós trabalhadores somos capazes de fazer. (...) Companheiros, confiança nas próprias forças, para frente os operários de Zanon, viva a luta da classe operária, aqui e no mundo inteiro companheiros!”
RAUL GODOY, secretário adjunto do SOECN
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