segunda-feira, 20 de julho de 2009

Pão e Rosas no Encontro Nacional de Estudantes de Serviço Social

[clique aqui para abrir em PDF]

Nós, estudantes de serviço social, dia-a-dia nos perguntamos como articular as teorias à prática, em uma realidade social onde a grande maioria da população é explorada diariamente, enquanto os capitalistas enchem os bolsos às nossas custas, a miséria não pára de crescer, onde as mulheres perdem seus bebês por causa de um sistema “único” de saúde sucateado enquanto outras milhares morrem ensanguentadas na clandestinidade do aborto, isso somente para mencionar algumas das barbaridades próprias do capitalismo.

Todos os anos nas salas de aulas nossos professores dizem que temos que compreender “os limites” e enxergar “as possibilidades” da atuação profissional do assistente social. O que está por detrás desses dizeres? Que temos que nos “adequar” aos limites (que são impostos) e atuar dentro das possibilidades (cada vez mais estreitas)? Olhar somente para dentro das instituições, buscando nelas as “possibilidades” para enfrentar a dura realidade, significa desviar o olhar da luta de classes, o que leva muitos estudantes e profissionais a adotarem uma perspectiva pessimista em relação à transformação, por acreditar que ela se dará evolutivamente através dos aparatos estatais, do cumprimento ou melhoramento das leis.

O que queremos dizer, é que uma profissão não pode ser eminentemente transformadora, se é a transformação que almejamos. Os fatos históricos de dois séculos (XIX e XX) nos mostraram que a única força capaz de transformar radicalmente a sociedade é a classe trabalhadora unida com seus próprios métodos de luta (como paralisações, piquetes, greves gerais). Por isso acreditamos que não podemos somente adotar a postura de “ensinar” os direitos aos trabalhadores, precisamos também lutar ombro à ombro junto à classe trabalhadora, e nesse sentido a história também demonstrou o papel dos estudantes neste processo de transformação.

Nós enquanto um grupo de mulheres classistas, atuamos nesta perspectiva, pois compreendemos que a opressão da mulher, apesar de ser anterior ao capitalismo, não poderá se resolver nele por ser funcional à manutenção da exploração do trabalho que lhe é necessário. Lutamos pelos direitos das mulheres, mas não defendemos a democracia dos ricos. Também não acreditamos que mais mulheres nos cargos de poder poderiam mudar algo, como os exemplos que temos são emblemáticos: Suely Vilela, reitora da USP, junto ao governador José Serra, mandou a tropa de choque da PM para reprimir a greve dos trabalhadores e trabalhadoras da USP impedindo os piquetes; Condolezza Rice, a mulher que está a frente pelos EUA na guerra no Iraque, onde morrem homens, mulheres e crianças; Ana Julia Carepa (governadora do Pára – DS/PT), este estado é denunciado por diversas organizações de direitos humanos, de mulheres, pelos núcleos universitários por abrigar trabalho escravo, rede de prostituição infantil, tráfico e escravização sexual de meninas e mulheres; ou mesmo a Maura Verás, ex-reitora da PUC-SP que demitiu professores e funcionários em massa (2006) e também colocou a tropa de choque na universidade após 30 anos em que a polícia não pisava lá (2007), também demitiu uma das intelectuais feministas de mais tradição no Brasil, Heleieth Saffioti. Ainda temos as presidentas do Chile, Argentina, primeira-ministra da Alemanha. Mas não podemos deixar de mencionar que a “socialista” Heloisa Helena faz campanha ativa contra o direito ao aborto junto com a direita reacionária e a Igreja, e que o partido do qual é presidenta, o PSOL, além de ter votado o Super-Simples (lei que precariza o trabalho, colocando os trabalhadores como pessoas jurídicas para negociar eles mesmos com os patrões seus direitos), apóia as ocupações policiais nas comunidades, como o morro Dona Marta, no RJ... Mas o que mudou pra as mulheres trabalhadoras e pobres?!?!?

Esse XXXI Encontro Nacional de Estudantes de Serviço Social acontece quando vivemos e vemos se desenvolver com cada vez mais força uma crise histórica no sistema capitalista. E ao contrário do que afirma Lula, de que “o pior já passou”, observamos que enquanto este governo dá rios de dinheiro para salvar os capitalistas da crise, a classe trabalhadora segue com a corda no pescoço e sendo demitida ou tendo o salário reduzido pelas mesmas empresas que receberam subsídios do governo (pago com o dinheiro dos nossos impostos!). Isso porque a crise ainda não golpeou fortemente o Brasil, mas quando o fizer, o governo não hesitará em aprofundar sua política a favor dos patrões e também cortar as verbas já escassas dos programas sociais, da saúde, da educação, da assistência social.

...para além da miséria do possível!

Diante deste cenário, por um lado, viemos aqui para travar uma luta política, a fim de que nós estudantes de SeSo, construamos um verdadeiro programa de lutas para consquistar nossas demandas, dentro da universidade, mas também fora dela. Não podemos cair nas discussões sobre a organização que teremos, antes mesmo que tenhamos claro, para quê a ENESSO e os estudantes de todo país devem lutar. Devemos tomar como exemplo a luta exemplar dos trabalhadores, estudantes e professores da USP para seguir a luta por uma verdadeira democratização da universidade. Devemos articular desde já a solidariedade ativa dos estudantes aqui presentes à greve dos trabalhadores do INSS que completam mais de 40 dias num dura luta. E para tudo isso é necessário articular os estudantes nacionalmente, numa central verdadeiramente de luta, para além do que tem significado a direção da UNE, mas também onde diferentemente do que ocorreu no Congresso Nacional dos Estudantes, que a luta deva estar no centro de qualquer organização, executiva, entidade, CA, que construamos e atuamos cotidianamente.

Ao mesmo tempo, nós como futuros assistentes sociais não podemos resumir a nossa luta apenas à manutenção dos programas sociais, pois como estamos vendo nesta crise o governo injeta dinheiro para as empresas não falirem ou diretamente destina dinheiro para os empresários exploradores. Temos que lutar por uma educação de qualidade que todos tenham acesso, diferentemente da pretensa democratização da universidade apresentada pelo governo Lula, com projetos como o REUNI que sucateiam o ensino público, ou o PROUNI que injeta dinheiro público nas universidades privadas, ou até mesmo a UNIVESP (ou o CERDERJ no Rio de Janeiro) que pretende ampliar as vagas no ensino superior através da precarização do trabalho dos professores (que na universidade virtual são apenas “tutores”, ou seja, explicadores), e com um enorme prejuízo na qualidade do ensino. Contra essa falsa democratização da universidade, está na ordem do dia gritar com toda a força pelo fim do vestibular e expansão de vagas presenciais. Mais verbas para a educação e estatização de todas as universidades privadas. Mais nenhum jovem fora da universidade! Lutamos também por um sistema de saúde realmente único e para todos que necessitem. Não podemos permitir mais nenhuma gestante sem atendimento, mais nenhuma mulher com o feto morto em seu ventre, mais nenhum bebê morto por um incêndio em sua encubadora! Lutamos por moradia acessível garantida pelo Estado com condições de saneamento e infra-estrutra adequada, com fácil acesso aos locais de trabalho. E lutamos por todos os nossos direitos que os governos não tem sido capazes de responder, apresentando programas assistenciais que atingem uma parcela ainda muita pequena da população que sofre com todas essas mazelas.

Se a resposta capitalista para sua última grande crise foi aumentar a exploração da classe trabalhadora de todo o mundo em base ao neoliberalismo, garantindo assim seus lucros, enquanto tornaram vendável a saúde, a educação (até a água!) em função de enriquecer ainda mais às nossas custas, o que nos aguarda pela frente diante desta crise? Sabemos que a juventude e as mulheres, que ocupam em grande parte os empregos mais precários, são os primeiros a sofrerem demissões, virem aumentar as dificuldades para sustentar os lares, por isso diante da crise que não fomos nós quem geramos é preciso nos levantar e, assim como fizeram os estudantes em diversos países na Europa, dizer: Nós não vamos pagar pela crise dos capitalistas!


O Pão e Rosas veio lutar por...

MAIS VERBAS PARA A EDUCAÇÃO, FIM DO VESTIBULAR E EXPANSÃO DE VAGAS PRESENCIAIS
- Nenhum jovem fora da universidade. Pela estatização das universidades privadas. Lutar por uma verdadeira democracia universitária.

PELOS DIREITOS DAS MULHERES
- Direito ao aborto legal, livre, seguro e gratuito. Direito à maternidade num sistema único de saúde. Não a todas as formas de precarização do trabalho. Basta de violência contra as mulheres e os homossexuais! Creches 24 horas em todas as universidades e locais de trabalho.


DEMOCRATIZAÇÃO DO CURSO DE SERVIÇO SOCIAL
- Incorporação do marxismo nos currículos dos Cursos de Serviço Social. Incorporação de disciplinas ou núcleos que tratem da opressão da mulher desde uma perspectiva de classe. Curso de Serviço Social na USP já!


ABAIXO O GOLPE EM HONDURAS!
Há poucas semanas houve em Honduras um golpe de estado, e o governo golpista tem reprimido ferozmente as mobilizações contra o golpe, deixando mortos, feridos e prendendo os manifestantes. Às mulheres em luta e ao povo trabalhador de Honduras , e a todos os que hoje se mobilizam na América Latina e no mundo, devemos expressar nosso forte repúdio, por isso chamamos a todos estudantes presentes neste encontro a repudiar o golpe em Honduras e a realizar neste encontro um ato em solidariedade aos que lá resistem, dizendo: Abaixo o golpe! Nenhuma negociação sobre o sangue derramado! Liberdade imediata a todos os presos e presas! Greve geral até que caiam os golpistas! Fora o imperialismo de Honduras!


O NOSSO CANTO É O ESPANTO DOS QUE NOS JULGARAM MORTAS!
PÃO E ROSAS!


O Pão e Rosas para mim complementa o curso na relação da questão da mulher, já que nele discutimos a questão do aborto, a terceirização e outros aspectos da vida da mulher. Estes pontos citados não são discutidos em sala de aula, o que é muito ruim. Por isso construo o Pão e Rosas, pois tentamos não ficar somente na discussão, mas também tentamos agir de alguma forma!
Carol, estudante de Serviço Social da PUC-SP


Eu faço parte do grupo de mulheres Pão e Rosas porque nele, juntamente com as companheiras do grupo, além de acabar com o mito de que a mulher é fraca e incapaz de se defender sozinha, aprendo o verdadeiro potencial que nós mulheres temos e posso estudar, discutir, e agir de um modo que abrange mais pessoas. O Pão e Rosas consegue enxergar mais profundamente problemas como, por exemplo, a exploração do trabalho, os preconceitos e desrespeitos e a pobreza que assola muitas mulheres. À mulher, são impostas funções como ser mãe, dona de casa e empregada do marido e na maioria das vezes ela nem teve o oportunidade de dar sua opinião sobre qual rumo quer tomar na própria vida e nem recebe as condições necessárias para cumprir o que lhe é imposto. A união das mulheres em um grupo é necessária para que ocorra o fim da desvalorização e das injustiças que as mulheres sofrem e as tornam propriedades dos homens e do sistema capitalista, pois juntas, a força para lutar pelos nossos direitos se multiplica.
Carla, estudante de Serviço Social da Unesp – Franca

Nós, do grupo Pão e Rosas, defendemos que a discussão referente à mulher é intrínseca com os problemas de uma sociedade de classes, pois as mulheres são as mais atingidas com a precarização como um todo, principalmente no mundo do trabalho, que é a principal discussão de toda a esquerda, ainda que esta discuta muito pouco sobre a mulher. Sou estudante de Serviço Social, e como existem muitas mulheres no curso, vejo diariamente que, apesar de termos muita força, muitas das próprias mulheres não discutem um assunto tão pertinente como esse, em que tantas mulheres, crianças, sofrem cotidianamente não somente violência doméstica, mas violência dessa própria sociedade em que vivemos.
Márcia, estudante de Serviço Social da Unesp – Franca

Nenhum comentário: