Por Livia Barbosa e Marie C.
No último dia 11 de julho, a classe operária
protagonizou um importante dia nacional de atos e protestos, com cortes de ruas
e paralisações. O dia nacional de lutas marcou sua entrada em cena, após um mês
de intensas mobilizações de massas, que balançaram a estrutura do governo
questionando a crescente precarização da saúde, da educação, do transporte e
das condições de vida da população, além dos gastos exorbitantes do Estado para
os mega eventos que o Brasil sediará. O governo do PT e a própria Dilma
enfrentam as inúmeras reivindicações da população, em meio ao país que prometia
ser a potência e oferecer a alternativa da crise que se abriu em 2008, já que
continua com a taxa de desemprego em 5,8%. Não sabem como responder ao
sentimento que os trabalhadores e o povo voltam a ter de que é preciso lutar e
é possível vencer. Depois da tentativa clara de desvio das mobilizações com a
proposta de um plebiscito nacional por uma reforma política, a presidente foi
obrigada a se pronunciar, alegando que “ouve a voz das ruas” e que as
manifestações são legítimas. Nada disso foi sem repressão.
É nesse cenário nacional que nos próximos dias
Dilma receberá de braços abertos o Papa argentino Jorge Bergoglio, de “mãos
dadas” com Cristina Kirchner e Sebastian Piñera (mestres em reprimir as
recentes mobilizações na Argentina e Chile e que também seguem proibindo o
aborto enquanto milhares de mulheres morrem diariamente). Este
Papa tão bem recebido pelo governo brasileiro foi aliado da sanguinária
ditadura argentina, inclusive entregando militantes de esquerda e membros da
própria Igreja que se colocavam contra ao Estado, e hoje expressa o auge da
hipocrisia e da contradição, ao dizer que apoia as manifestações da população,
desde uma instituição que possui banco cuja fortuna é avaliada em 6 bi. Assim,
espera-se milhares
de jovens que chegam ao Rio de Janeiro para a Jornada Mundial da Juventude, evento
organizado pela Igreja Católica e os governos federal e local.
Apesar da hipocrisia do Estado em se dizer laico,
sabemos que a igreja é um dos pilares fundamentais que sustentam o sistema
capitalista e prova disso é que os governos federal, estadual e municipal terão
nada menos que R$ 118 milhões dos cofres públicos gastos com a visita papal, e
segundo o próprio governo, a igreja deve arrecadar no mínimo cerca de R$140
milhões com as taxas de inscrições de “seus fiéis”! Uma das perguntas que temos
que nos fazer é pra onde vai toda essa fortuna? Irão para os cofres da igreja
católica e o modo de vida altamente suntuoso dos padres e bispos? Estes que
hipocritamente discursam em nome da “justiça social” e contra a miséria e
pobreza no mundo enquanto sequer trabalham, mantêm um grande contingente de
padres pedófilos e vivem banhados em ouro!
Tanto a FIFA, quanto o Vaticano, após a maior
mobilização da juventude das últimas décadas, que denunciavam a precariedade
dos serviços públicos e condições de vida, vem ao Brasil pra realizar mega eventos,
bancados a milhões pelo Estado brasileiro, enquanto as condições de vida da
população não se alteram. Não à toa, até mesmo o Papa tem que dizer que são
“justas” as reivindicações do povo brasileiro, querendo inclusive se colocar
como “parte” desta mobilização. Nada mais hipócrita.
Como não podia deixar de ser, Dilma, Cabral e Paes organizaram
um absurdo efetivo policial destacado para manter a ordem burguesa e reprimir
as manifestações que irão acontecer nos próximos dias no Rio de Janeiro. Oficialmente,
o “trabalho” da polícia na repressão das mobilizações de julho já contabiliza
15 mortos, dos quais 13 foram assassinados no Complexo da Maré, no próprio Rio
de Janeiro. A cidade que já antes se encontrava militarizada por conta dos
grandes eventos que o Rio já começa a sediar, contará com mais de 14 mil
policiais e militares, incluindo as Forças Armadas e soldados à paisana. Isso é
expressão de como o Estado, o Vaticano, e as megaempresas contratadas para o
evento se armam até os dentes para garantir seus lucros enquanto a população
sequer tem acesso a condições básicas de vida.
O atrelamento do governo brasileiro à igreja católica
não é de hoje. Em 2008 foi reafirmado o Acordo Brasil Vaticano, que concede à
instituição a isenção fiscal e determina que todas as escolas públicas garantam
ensino religioso como extra-classe, combatendo o caráter laico do estado e da
educação. Além disso, a “Carta ao Povo de Deus”, dirigida à população evangélica
antes de sua eleição, marca Dilma rifando os direitos das mulheres e dxs
LGTTBIs em troca de bases aliadas e mais influência em áreas mais valiosas para
seu partido.
No último período, Dilma chegou ao nível absurdo de
ser conivente com a entrada na presidência da Comissão dos Direitos Humanos
(CDH) de um dos mais asquerosos e reacionários representantes da bancada
evangélica, o deputado federal e pastor Marco Feliciano (PSC-SP) que tem um
vasto histórico de declarações homofóbicas e racistas e é um dos maiores
entusiastas dos projetos de lei “Estatuto do Nascituro” e “Cura Gay”. Nesses
últimos dias, mais um escandaloso ataque aos direitos das mulheres surgiu por
parte da Conferencia Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), que exige que Dilma vete
um projeto que regulamenta o atendimento emergencial às mulheres vítimas de
violência sexual, impedindo assim que essas tenham acesso a profilaxia, ou
seja, medicamentos contra doenças sexualmente transmissíveis, coquetéis
anti-HIV, pílula do dia seguinte e
tratamento psicológico. Isso é um brutal ataque aos direitos humanos, e aos
direitos das mulheres!
Essa é só mais uma prova de que
para a igreja e esses setores ultra reacionários não importa que milhares de
mulheres morram em decorrência de abortos clandestinos anualmente, que sejam
violentadas e impedidas de terem cuidado médico ou obrigadas a carregarem em
seus corpos um fruto de uma brutal violência como é o estupro! As mulheres
seguem sem direitos para decidirem sobre seu próprio corpo! Seguem sendo
condenadas a morte por um Estado que lhes tira o direito da autonomia de
decisão e por uma Igreja que quer obrigar a tê-los mesmo fruto de uma
violência!
Respeitamos as mulheres, os trabalhadores e a
juventude em sua decisão religiosa mas denunciamos fortemente a igreja, o Papa
e o Vaticano que vivem no luxo às custas da fé da população pobre e
trabalhadora. Não devemos ter nenhuma confiança em um Estado que gasta milhões
para a vinda de um representante de uma igreja manchada de sangue, que dirige
diversos ataques à juventude, aos trabalhadores e condena as religiões africanas!
Que excomunga uma família por terem lutado pelo direito ao aborto de uma
criança de apenas 9 anos estuprada em Pernambuco como aconteceu em 2009! Um
representante responsável por perseguições políticas e aliado da ditadura
argentina, que se refere a relações homossexuais como "obras do
demônio"! Não se pode confiar na instituição que condena milhares de
mulheres à morte por abortos clandestinos! Não se pode confiar na instituição
que condena ao suicídio milhares de LGTTBIs!
Fora Papa
e Vaticano! Tirem as mãos de nossos corpos! Separação da Igreja do Estado! Fim
do acordo Brasil-Vaticano!
Basta de
mulheres mortas por aborto clandestino! Educação sexual em todos os níveis
escolares, distribuição de métodos contraceptivos de qualidade pelo Estado e
direito ao aborto legal, seguro e gratuito!
Fora
Feliciano e toda a Comissão de Direitos Humanos da Câmara! Arquivamento do
Estatuto do Nascituro (Bolsa-Estupro) e da “Cura-gay”!
Expropriação de toda a riqueza das Igrejas Evangélica
e Católicas! Destinar este dinheiro e os R$ 188 milhões para educação, saúde e
transporte gratuito e de qualidade! Basta de pri
vilégios aos padres, que comecem a trabalhar! Punição aos padres pedófilos!
Basta de assassinatos de homossexuais, travestis,
transexuais! Pela livre determinação dos corpos e construção física livre de
gênero!
Um comentário:
Acompanho o Blog de vocês e não vejo gasto dos caixas públicos pois todo o dinheiro arrecado para vinda do Papa ao Brasil foi retirada dos próprios peregrinos que participam e das Arquidioceses. O evento do tamanho que é a JMJ só traz mais um lucro para o governo Brasileiro se gabar de que tem capacidade de acolher eventos do tamanho, assim acalmando até mesmo a FIFA com a chegada da COPA em breve. Ao invés de mirar na Igreja Católica e em suas falhas, não consegue enxergar que o governo se fazendo de acolhedor só está ganhando em cima de toda essa mídia feita que está instalada nessa semana?
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