Educação, precarização e opressão às mulheres
Por Julia Borges, professora do
estado de SP na ZO, capital
No mês de maio estive presente
representando o Grupo de Mulheres e Diversidade Sexual Pão e Rosas e a agrupação Professores Pela
Base no 2º Encontro de Pedagogia da PUC – SP. Com o tema “A condição da mulher
no mundo contemporâneo”. A discussão foi aberta pela Professora Priscila, do
curso de Pedagogia e representante da APROPUC, que colocou todo um panorama
histórico do surgimento da opressão à mulher intrinsecamente relacionada com o
surgimento da propriedade privada, e de como o
capitalismo se apropriou da situação de opressão já sofrida, obrigando as
mulheres a estar sempre nos mais precarizados postos de trabalho, com os piores
salários, sofrendo frequentes humilhações, cumprindo mais de uma jornada ,
tanto no trabalho como em casa, colocando que a única saída para o fim
de toda a opressão à mulher é a emancipação da classe trabalhadora e o fim da
sociedade capitalista, que se organiza de tal forma que a as opressões, às
mulheres, os negros e aos homossexuais sejam pilares da ideologia que sustenta
esse sistema de exploração, que somente a classe trabalhadora organizada é
capaz de colocar abaixo.
Nós do Pão e
Rosas, que estivemos compondo a mesa do encontro, também achamos que a plena
emancipação da mulher só vai se dar com a derrubada do capitalismo e lutamos ao
lado da classe trabalhadora. Hoje, vivemos num país onde temos uma mulher no
poder, e onde nossos direitos continuam sendo rifados e usados como moedas de
troca de um governo que precariza o trabalho, implementa por meio da
terceirização em massa dos postos de trabalho, onde a maioria quem ocupa são
mulheres e negras, a precarização da vida, com salários irrisórios, nenhum
acesso aos direitos mais básicos conquistados pelos trabalhadores, total
fragilidade nos contratos de trabalho, dividindo e humilhando a classe
trabalhadora, que continua proibindo o aborto, sendo o responsável por milhares
de mulheres trabalhadoras que morrem por abortos clandestinos, onde não temos o
direito de exercer livremente nossa sexualidade e que nossa igualdade perante
os homens é somente jurídica e não se dá na prática.
Ligado a isso falamos um pouco do
livro “ A precarização tem rosto de mulher” que conta a historia de luta de
trabalhadoras terceirizadas da limpeza da USP, que sofrem todos os tipos de
opressões diariamente e que deram exemplo de luta pelos seus salários e pelos seus
direitos. Um ótimo exemplo para ilustrar
a discussão sobre ao precarização de trabalhos feitos pelas mulheres e por como
as mesmas podem se levantar contra esse sistema, as trabalhadoras retratadas
nos livros, dão exemplos não apenas por exigirem seus salários, mas sim por
lutar contra o machismo que sofrem em suas casas e contra todo esse sistema de
trabalho que coloca a mulher cada vez mais como maior alvo de opressão.
Outro ponto é que nos meses de
abril e maio, professores do Estado de São Paulo se colocaram em luta numa
greve contra as péssimas condições de trabalho e os ataques do governo do
Estado aos professores e à educação pública, que se torna cada dia mais
precária. A categoria de professores é formada ainda, em sua maioria, por
mulheres, que levam duplas e triplas jornadas de trabalho, que para conseguirem
se sustentar e sustentar suas famílias com o salário que recebem os
professores, tem que se desdobrar dando aulas em diversas escolas, nos três
períodos e ainda ao chegarem em casa enfrentam mais um jornada de trabalho com
suas tarefas domesticas. Nessa greve os professores mais precários, os
categoria O, tomaram a linha de frente dessa mobilização, se enfrentando com a
burocracia sindical traidora que enterrou a nossa greve e diretamente
com o a polícia, que ao lado da burocracia, reprimiu os professores em sua
última assembleia. Essa greve e o protagonismo dessas professoras ficam como um
exemplo para aqueles que estão estudando a educação e buscam perspectivas para
muda-las. Durante toda a mobilização, a agrupação Professores Pela Base colocou
como somente da união entre professores, estudantes, funcionários e comunidade
é capaz de somar forças para derrotar os ataques à educação, estivemos atuando
não só dentro das pautas da greve, mas denunciando também a precarização geral
na educação, de como o exclui a classe trabalhadora das escolas e da
universidade, de como o sucateamento do ensino acontece e de como esses fatores
tornam nosso trabalho e o ensino cada vez mais precarizados. Lutamos também
pelo fim da categoria O, para que os direitos sejam iguais a todos os
professores, que exercem a mesma função e foram essas reflexões que buscamos
passar também no 2º encontro de Pedagogia da PUC, buscando contribuir com
experiência concretas para a reflexão dos alunos. E mostrando como a opressão e
exploração à mulher trabalhadora também está fortemente presente na categoria
de professores.
As mulheres trabalhadoras dão, em
todo mundo, exemplos de mobilização e de luta pelos seus direitos. Na Índia
milhares saem às ruas contra a violência, no Egito tomaram a linha de frente da
Primavera Árabe, no Chile em defesa da educação pública, gratuita e de
qualidade. Esses exemplos dessas
mulheres, por dentro dos exemplos da luta de classes, que devem ser seguidos
por àquelas que buscam a emancipação da mulher e entendem que, não são os
homens os nossos inimigos, mas a burguesia e os patrões que exploram e dividem
a classe trabalhadora. Assim, como disse profª Priscilla em sua intervenção,
nós do Pão e Rosas acreditamos e lutamos pela total emancipação das
mulheres, mas da classe trabalhadora de conjunto, e por isso lutamos pelo fim
do capitalismo que sustenta essa opressão.
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