Wendy
Goldman: “Não poderia estar num lugar melhor que este”.
Sábado,
27 de setembro de 2014 – Edição do dia – A historiadora
estadunidense está na Argentina, convidada pelo grupo de mulheres
Pão e Rosas. Uma de suas atividades foi visitar à gráfica
ex-Donnelley de Garín que está funcionando sob controle operário.
Por Gabriela
Jaime e Clara Liz
Traduzido de http://laizquierdadiario.com/Wendy-Goldman-No-podria-estar-en-un-lugar-mejor-que-este
Terminada
a conferência de Wendy Goldman, para mais de 600 pessoas no
auditório da Faculdade de Ciências Sociais (Universidad de Buenos
Aires – UBA), [na quinta-feira, 25] Pão e Rosas (precursor da
primeira edição em castelhano do seu livro “La mujer, el estado y
la revolución”) a convidou para conhecer a experiência da fábrica
Madygraf, ex-Donnelley, hoje sob gestão de seus trabalhadores. E,
como não poderia ser de outra maneira, para conversar com a Comissão
de Mulheres.
Durante
a visita Wendy Goldman conversou com os trabalhadores sobre cada
detalhe do processo de produção, mas também sobre a organização
dos trabalhadores, sua história de luta e a situação atual da
fábrica sob gestão operária.
Uma
questão importante ressaltada pelos trabalhadores foi que a Madygraf
é uma das fábricas maiores e mais modernas da indústria gráfica,
por isso há interesse econômico de rematá-la, pelo alto valor do
maquinário.
Um
dos momentos mais interessantes deste diálogo com os trabalhadores
se deu quando Wendy lhes perguntou por que não se contentavam em
conseguir a legalização da cooperativa Madygraf e exigiam a
expropriação, para estatizar a fábrica sob controle operário. A
resposta foi contundente: “Porque somos trabalhadores e os
trabalhadores não querem se transformar em patrões”.
Os
trabalhadores a convidaram para tomar mate e comer petiscos
preparados na cozinha da Madygraf. Espertos, os trabalhadores
oferecem mate doce para ganhar sua simpatia, pois suspeitavam que os
amargos não seriam do agrado dos paladares estrangeiros que não
estão acostumados ao sabor da erva.
Nesse
momento da visita se juntam as primeiras integrantes da comissão de
mulheres que presenteiam Wendy com a jaqueta azul de Donnelley usada
por seus trabalhadores, bordadas com a frase: “Famílias nas ruas,
nunca mais!”
Depois
se dirigem ao lugar onde funcionará a futura creche da Madygraf.
Sol, da comissão de mulheres, explica que a urgência em organizar o
jardim infantil é porque as mães necessitam trabalhar, inclusive as
que até agora não trabalhavam fora, até que os trabalhadores da
Madygraf voltem a receber seus salários que estão retidos pelo
síndico da falência.
Wendy
pergunta quantas crianças atenderiam. São entre setecentos e mil
filhos de trabalhadores, mas Sol informa que estão organizando uma
pesquisa para conhecer melhor as idades, condições de vida de cada
família etc.
Em
seguida, escuta atentamente a história de vida e solidariedade
compartilhada pelos trabalhadores da [corrente sindical e política]
Bordó Gráfica e suas famílias, narrada pelas mulheres.
Mas
o relato mais incrível foi o das meninas dessas famílias operárias
que contaram com palavras comoventes o que sentiram ao viver esta
situação e acompanhar seus pais e mães nesta luta.
Uma
das mães presente nos mostrou seu celular, com um desenho feito por
sua filha de cinco anos. Após uma passeata em defesa do pagamento
dos salários, na qual a menina foi com a mãe e o pai, ela desenhou
os trabalhadores bravos. “Estão bravos porque querem que paguem
seus salários”, explicou a menina.
Maria
diz a Wendy que o nascimento da comissão de mulheres, no contexto da
luta contra as demissões, que ainda não terminou, fortaleceu a
unidade das famílias trabalhadoras e isso fez com que a comissão de
mulheres continuasse atuando. Todas concordam que isso foi porque
haviam entendido a necessidade não apenas de se organizar em defesa
do trabalho de seus maridos, mas também por suas próprias
reivindicações como mulheres.
Anahí
relata que conquistar esta organização foi custoso, tiveram que se
impor e fazer discussões políticas até com seus companheiros.
Contando casos divertidos, mas cheias de convicção, iniciaram a
mudança na relação de irmandade e solidariedade em suas famílias.
Como elas cantavam em uma de suas canções: “corações valentes,
dos patrões e dos maridos, independentes”.
Wendy
se despediu dizendo que o que viu diante de si é maravilhoso e que
não poderia estar num lugar melhor que este.
Os
trabalhadores e a comissão de mulheres da Madygraf estão escrevendo
uma história diferente de tudo o que nos têm ensinado que é
natural e inevitável. Um caminho de emancipação, de luta contra a
exploração e a opressão.
Veja o vídeo
com filhos e filhas de trabalhadores da Madygraf. Uma das crianças,
Priscila, de 11 anos, explica para Wendy que os trabalhadores votaram o nome
Mady para a cooperativa em homenagem a uma das crianças, filha de um
trabalhador, que tem paralisia infantil. Diz também que os filhos
estão em muitas passeatas com seus pais e mães, e decidiram
chamar-se “Pequenos de pé”, para mostrar que apoiam a luta dos
seus pais.
https://www.youtube.com/watch?v=x0RSGbifwXQ
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