por Andrea D'Atri
(traduzido de http://www.pyr.org.ar/Un-nuevo-feminismo-obrero)
A greve de fome da lendária Domitila
Barrios, na Bolívia, junto aos mineiros e ao Comitê de Donas de Casa, é um dos
exemplos mais conhecidos. Também existe uma forte tradição de comitês de apoio
de mulheres nos Estados Unidos, desde a mítica greve do Pan y Rosas de
1912, aonde se organizaram reuniões de crianças dentro do sindicato, para lhes
explicar por que suas mães e seus pais estavam lutando, combatendo assim a
propaganda anti operária feita nas escolas e na imprensa. Nesta luta também se
destacou uma grande organização de família solidárias, o que permitiu que
enviassem as crianças para distintas cidades, enquanto se desenvolvia o
conflito, para que fossem cuidadas por outras pessoas, e para que os grevistas
tivessem a tranquilidade necessária para prosseguirem em sua luta.
Nos anos 30, o Comitê Auxilar das esposas
dos caminhoneiros norte americanos teve uma importância muito relevante: não
somente organizou o plantão de telefones na sede do sindicato, um refeitório
para centenas de gevistas e um hospital hospital de campanha para os feridos
pela repressão, como também foi crucial para que fossem conhecidas as manobras
que preparavam os patrões e os políticos contra os trabalhadores, através de
uma rede de secretárias que colaboravam anonimamente com a causa operária.
Nos mesmos anos, a Briga Auxiliar de
Mulheres – constituída pelas famílias dos operários das automotoras – conseguiu
torcer o braço de que ninguém menos que a General Motors.
Os exemplos são muitos. E se prolongam até
nossos dias. Estamos vendo nos últimos meses, na Panamericana, as mulheres
trabalhadores e as esposas dos operários despedidos da Lear enfrentando a
repressão comandada por Sergio Berni. Vemos estas operárias confraternizando
com as mulheres de Kraft-Mondelez, com trabalhadores telefônicas e servidoras
estatais, com as professores de suas filhas e filhos que também se solidarizam
com a tenda montada em frente a multinacional de auto peças.
E agora os meios de comunicação descobrem a
existência da Comissão de Mulheres de Donnelley, uma fábrica aonde quase não
trabalham mulheres! Mas aonde as companheiras, irmãs e familiares dos operários
gráficos, com o apoio da comissão interna da fábrica, se organizam desde muito
tempo.
O novo sindicalismo combativo e classista
que enfrenta as direções tradicionais burocratizadas do movimento operário,
também se distingue destas velhas direções pela importância transcendental que
dá à organização das mulheres.
A Comissão de Mulheres de Donnelley se
distingue de outras porque, ainda que hoje se unam para conquistar a
estatização da fábrica que já funciona sob controle operário, não se
organizaram por este motivo. Sua unidade é o resultado de um longo caminho de
confraternização entre as família operárias construído em churrascos, jogos de
futebol, brincadeiras e campeonatos, festivais para o Dia da Infância e
aniversários. E as mesmas celebrações compartilhadas se convertem em cadeias
operárias de solidariedade toda vez que alguma família necessita, enfrentando
juntas inundações, incêndios, acidentes, problemas de saúde e outras
dificuldades da vida operária.
Além de tudo, o que anuncia a chegada e
algo novo é que esta Comissão de Mulheres também debate e se organiza para
denunciar as redes de tráfico de mulheres, exige a legalização do aborto, que
impediria a morte de centenas de jovens mulheres, e enfrenta a violência
machista.
O que fizeram em agosto de 2012 é um
exemplo entre tantos. Quando os meios de comunicação anunciaram um triplo
feminicídio ocorrido em Benavídez, os operários de Donnelley logo advertiram
que o criminoso teria sido, tempos atrás, empregado da fábrica. Então a
Comissão de Mulheres conjuntamente à Comissão Interna aproveitaram o clime
gerado pela notícia e publicaram uma declaração contra a violência machista.
Esse panfleto, distribuído em toda fábrica pelos delegados, dizia: “queremos
aportar à organização das mulheres, de nossas esposas, das trabalhadoras
gráficas e de toda a classe trabalhadora, para lutarmos juntos contra a
violência machista”.
Hoje estas mulheres se dirigem a outras
empresas gráficas, buscando a solidariedade das trabalhadoras e trabalhadores
do grêmio gráfico. Impulsionam um fundo de luta para que suas famílias possam
sobreviver à quebra fraudulenta declarada por Donnelley. Mas também se
organizam para comparecer em conferências feministas e nos Encontros Nacionais
de Mulheres.
Depois de
longas décadas de individualismo e “tolerância” liberal que deixaram aos
movimentos sociais alguns poucos
direitos costurados e muita fragmentação, despolitização e assimilação,
transformando o feminismo em um objeto de consumo cultural para algumas poucas,
será a Comissão de Mulheres de Donnelley o gérmen de um novo feminismo operário
que ainda está por vir á luz?
Nenhum comentário:
Postar um comentário