NAS GREVES E LUTAS COMBATENDO O MACHISMO, A VIOLÊNCIA E A EXPLORAÇÃO!
Aconteceu nos dias 16 e 17 de agosto em São Paulo o Seminário
Nacional do MML. Estavam presentes delegações de várias regiões do país e de
várias categorias (metroviárias, construção civil, rodoviárias, químicas,
professoras, aposentadas, estudantes).
O seminário contou com uma mesa de abertura que expressou as
lutas em curso, com Camila Lisboa, metroviária demitida e Barbara,
representando a Secretaria de Mulheres do SINTUSP, em greve agora há quase 100
dias. Barbara também é do grupo de mulheres Pão e Rosas e colocou um pouco
de como está à histórica greve de trabalhadores da USP, particularmente em seu
local de trabalho - Hospital Universitário - que não entrava em greve há 19
anos e hoje estão dando um exemplo de combatividade com os piquetes e reuniões
de unidade para fortalecer a greve. Lá eles fizeram várias medidas de aliança
com a população, com atos denunciando a precarização do HU, que não
dá conta de atender a demanda, com 800 mulheres na fila de espera de um exame
tão simples como o papanicolau, também saíram em ato pelas ruas da comunidade
ao lado (São Remo) denunciando a demissão de terceirizados na USP,
reivindicando a efetivação sem concurso público, e também fizeram uma campanha
de doação de sangue dos trabalhadores da USP com o lema “Enquanto o reitor dá o
sangue ao governo, nós damos o sangue pela população”.
Bárbara, membro do Comando de Greve pelo Hospital Universitário da USP, representando a Secretaria de Mulheres do Sintusp, no Seminário Nacional do MML. |
Nós do Pão e Rosas, juntos aos companheiros da Juventude às Ruas
viemos ajudando a impulsionar o “Cantinho das Crianças”,
onde ficam os filhos das mães e pais grevistas para eles participarem
das atividades, pois sabemos que o trabalho de cuidar dos filhos
recai em sua maioria das vezes sobre as mães e achamos fundamental o apoio da
juventude para garantir que todas as mulheres trabalhadoras estejam ativamente
na luta sendo sujeitas políticas e linha de frente.
O seminário foi organizado para votarmos um Estatuto para o MML e
reorganizar a Campanha contra a Violência a Mulher que votamos no ultimo
Encontro. Nós achamos que frente ao desgaste físico e financeiro para garantir
esse espaço nacional, reunindo centenas de mulheres de todo o Brasil, saímos
muito aquém do que poderíamos. Tanto a proposta de Estatuto, como as propostas
para a Campanha contra a Violência a Mulher foram encaminhadas para todas as
companheiras pouquíssimos dias antes, não havendo tempo hábil de companheiras
independentes e os grupos organizados elaborarem em cima das propostas suas
posições.
Intervenção de Marília, militante da agrupação Pão e Rosas e demitida política da greve dos metroviários, no Seminário Nacional do MML. |
Nós do Pão e Rosas defendemos algumas
questões fundamentais do ponto de vista da orientação para o próximo
período para os rumos do MML. O debate a cerca das delegacias de mulheres foi
um deles. O setor majoritário do MML, as mulheres do PSTU, que antes defendiam
um programa apenas de “mais delegacias de mulheres” como forma de melhorar o
acolhimento, investigação e punição das denúncias de violência, passaram nesse
seminário a defender Centros de Referência para acolher as denúncias da mesma
forma que as delegacias. Partimos de reivindicar a mudança de
posição das companheiras, mas seguimos o debate em relação ao MML continuar
defendendo mais delegacias para a mulher, mesmo sendo principalmente
voltadas para investigação e punição. Frente aos inúmeros relatos de mulheres
que são constrangidas e assediadas nas delegacias quando vão denunciar, além da
repressão policial que inundam os noticiários, em particular contra as mulheres
(Claudia Ferreira que foi arrastada pela policia no Rio, mais recentemente mulheres
que denunciaram policiais de estupros também no Rio), um grupo de mulheres
classistas não pode seguir reivindicando o braço armado do estado, que reprime
as greves e população pobre e negra, no seu programa de combate a violência
contra a mulher. Ao mesmo tempo, não somos contrárias ao programa contra a
violência que levanta o PSTU, de ampliação e aplicação da Lei Maria da Penha e
maior investimento público no combate à violência contra a mulher. Porém,
achamos que é insuficiente, pois não podemos confiar que uma lei desse estado
burguês, que se apropria e reproduz a opressão às mulheres, possa solucionar o
problema da violência. Por isso apresentamos um programa independente que parte
da organização das mulheres junto à classe trabalhadora para combater a
violência.
Outra questão muito importante para nós do Pão e Rosas que nós
defendemos no seminário que fizesse parte do plano de lutas ligado ao tema da
violência é a defesa do direito ao aborto, que mata milhares de mulheres todos
os anos. Há muito tempo nós viemos defendendo que o MML tome essa pauta como
central frente ao abandono dessa bandeira histórica das mulheres por parte do
movimento feminista governista.
Colocamos também a necessidade de que o MML se integrasse às lutas em
curso, como parte da luta das mulheres trabalhadoras, defendendo uma maior
participação e apoio à greve das estaduais paulistas, participando e
construindo conosco do Pão e Rosas o “Cantinho das Crianças”, organizando
atividades para arrecadação financeira para o fundo de greve e colocando suas
forças nas mobilizações, atos e atividades. Além disso, defendemos que o MML tivesse
uma postura internacionalista de apoiar uma grande luta que está havendo da
classe trabalhadora na Argentina na gráfica Donnelley, onde frente ao
fechamento e ameaça de demissão, os trabalhadores ocuparam a fábrica e
começaram a produzir sob controle operário.
Intervenção de Odete, militante da agrupação Pão e Rosas e estudantes da Letras-USP, no Seminário Nacional do MML. |
Por fim, reivindicamos o esforço das companheiras da comissão que
elaborou a proposta de Estatuto, no entanto era uma proposta que ia muito além
do conteúdo de um estatuto, pois continha definições políticas, princípios
e pontos programáticos, o que necessitaria mais debate na base do
movimento. As companheiras preferiram seguir a votação do estatuto
até o capítulo V, ou seja, nem aprovamos o estatuto por completo
e gastamos mais tempo do debate que poderia ser utilizado para debater
propostas para a Campanha contra a Violência à mulher, medidas de solidariedade
as lutas em curso, etc. Nós do Pão e Rosas defendemos uma proposta que
infelizmente não foi aprovada de que fosse levada a proposta de estatuto para
as bases e aprovado numa plenária ampla e democrática em novembro, com
delegadas eleitas nos locais de trabalho e estudo. Essa seria a melhor forma de
aprovar um estatuto profundo, com qualidade no debate e de forma democrática,
ao mesmo tempo em que priorizaríamos as campanhas políticas no combate a todas
as formas de violência contra a mulher.
Pão e Rosas no Seminário Nacional do MML.
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