No dia 28/09 realizou-se na praia de Copacabana na cidade do Rio de
Janeiro uma manifestação que reuniu cerca de 100 pessoas como parte
das atividades que ocorreram em várias cidades da América Latina em
referência ao dia Latino Americano e Caribenho pela
descriminalização e legalização do aborto. Este ato foi
organizado nas redes sociais e ocorreu em capitais como São Paulo,
Rio de Janeiro, Belo Horizonte e Porto Alegre. O ato foi composto por
feministas independentes, anarquistas e o grupo de mulheres Pão e
Rosas.
Este
mesmo dia foi marcado pelo enterro, na Zona Oeste do Rio de Janeiro,
de Jandira Magdalena dos Santos, de 27 anos, depois de quase um mês
do seu desaparecimento após sair de casa com R$ 4,5 mil para
realizar um aborto. No dia 24/09 foi confirmado que o corpo
carbonizado sem a arcada dentária e as digitais encontrado em um
carro na mesma região da cidade era o de Jandira.
Jandira
é mais uma vítima das condições inseguras em que mulheres
trabalhadoras, pobres e maioria mulheres negras, recorrem para
abortar e ficam à mercê de máfias que tratam do aborto como uma
“negócio” através clínicas clandestinas que funcionam em
quartos alugados de casas sem nenhuma condição higiênica. No caso
de Jandira, um dos acusados é um policial que cuidava da “segurança”
do local onde era realizado o aborto e o homem que realizava o
procedimento tinha falsa identidade se passando por médico.
No
Rio de Janeiro os dados escancaram a realidade das mulheres que
abortam em situações ilegais, só ano passado foram registrados 67
mil abortos .
Outro
caso recente bastante divulgado pela mídia foi o de Elisângela
Barbosa, de 32 anos, também do estado do Rio de Janeiro, que morreu
em um hospital de Niterói, após um aborto numa clínica clandestina
onde teve seu útero e intestino perfurados.
O
Pão e Rosas esteve presente no ato com camisetas estampadas com o
rosto de Jandira com a frase “Justiça para Jandira!” e “Pelo
direito ao aborto legal, seguro e gratuito já!” e denunciou como
mais uma vez esta questão vem sendo tratada na campanha eleitoral
tendo duas candidatas favoritas à presidência, Dilma Roussef (PT) e
Marina da Silva (PSB).
Rita
Frau, professora e dirigente do Pão e Rosas declarou: “hoje é um
dia marcante pois ao mesmo tempo que saímos às ruas para gritar
“Basta de mulheres mortas por abortos clandestinos”, Jandira está
sendo enterrada. São dois casos em menos um mês que tomaram
bastante evidência na mídia mostrando que a sociedade não pode
mais fechar os olhos ou tratar de maneira hipócrita a realidade de
milhares de mulheres. No Brasil a aliança no Congresso com bancadas
evangélicas e católicas faz com que nossos direitos continuem
relegados e mais uma vez vemos nas campanhas eleitorais que duas
mulheres candidatas não significa nenhum avanço, pois negam este
direito em detrimento da aliança com os setores reacionários desta
democracia dos ricos. Por isso o Pão e Rosas também veio afirmar
“Nem Dilma, nem Marina, somos todas Jandira e Elisângela”.
Frau
agregou: “infelizmente é um ato ainda pequeno pelo tamanho da
importância e urgência que se faz a aprovação de uma lei no país
que garanta o direito ao aborto legal, seguro e gratuito pelo Sistema
Único de Saúde (SUS) para que mulheres deixem de morrer. As
feministas que apóiam o governo e a candidatura de Dilma, como a
Marcha Mundial de Mulheres, não estão presentes pois tiveram uma
posição divisionista realizando no dia 26/09 um ato de 50 pessoas
sem nenhuma organização conjunta com os demais movimentos. E
infelizmente as agrupações feministas impulsionadas pelos partidos
de esquerda (PSOL e PSTU) também não vieram com sua militância
organizada. Ao mesmo tempo que candidatos destes partidos defendem no
programa eleitoral a legalização do aborto, eles mesmos não estão
presentes no ato e na prática infelizmente vemos que este programa
não é uma campanha real impulsionada pela maioria dos sindicatos e
entidades estudantis dirigidos pela esquerda nos locais de trabalho e
estudo”.
O
ato se concentrou no forte de Copacabana e percorreu a Av. Atlântica
onde os participantes cantavam “Neste dia se escuta um só grito!
Aborto legal, seguro e gratuito!” e “Jandira presente, Elisângela
presente, todas as mulheres que morrem por abortos clandestinos,
presentes!”. Encerrou-se na frente do Hotel Copacabana Palace com
intervenções.
Desiree
Carvalho, coordenadora do Centro Acadêmico do Serviço Social (CASS)
da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ) e militante do Pão
e Rosas, falou: “é importante que a gente debata esta questão em
todos os locais de estudo e trabalho, por isso esta semana fizemos
uma roda de conversa sobre o tema entre os estudantes do Serviço
Social, um curso que tem na sua maioria mulheres. Temos que denunciar
o Estado e os governos que ao mesmo tempo nos negam o direito ao
aborto legal, não dão condições para exercermos a maternidade,
como o direito à creche. Na UERJ esta é uma pauta concreta pois são
muitas estudantes que também são trabalhadoras e não têm acesso à
creche sendo obrigadas a deixar de estudar”.
Veja os vídeos das intervenções de Rita Frau e Desirée Carvalho:
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