Neste final de semana, nos dias 04, 05 e 06 de outubro mais de duas mil mulheres se organizaram no I Encontro Nacional do Movimento Mulheres em Luta. Nunca desde a chegada de uma mulher na presidência se reuniram tantas mulheres de todo o país para discutir como arrancar nossos direitos, sem nenhuma confiança no governo, nos patrões e nos sindicatos vendidos.
Elizabete, mulher guerreira. |
A presença de Elisabete, mãe de 6 filhos, viúva de Amarildo, demonstrou o perfil de mulheres lutadoras que não se calam diante de sua opressão, denunciando fortemente o papel assassino e repressor da polícia. A presença também de uma companheira indiana demonstrou não só que é possível, mas também necessário a organização das mulheres junto aos trabalhadores, contra o governo que naturaliza e legítima o estupro e a polícia que com discurso de "mais segurança" tenta controlar a liberdade das mulheres com toque de recolher e impedir a organização das mulheres de forma independente. Terminou reivindicando mulheres revolucionárias como Clara Zetkin e Alexandra Kollontai como mulheres que entendiam que a luta contra a opressão precisava ser organizada dentro dos partidos e que a emancipação só poderia se dar se fosse coletiva.
Desde a chegada de Dilma Rousseff na presidência do Brasil, os movimentos de mulheres abaixaram suas cabeças com suas demandas históricas como a luta pela legalização do aborto, saindo das ruas e das bases desde os locais de trabalho e estudo que se organizavam e adotando uma estratégia puramente de conquistar cargos parlamentares para assim negociar nossos direitos.
As mobilizações de junho demonstraram a abertura de um novo período em nosso país. Um pouco mais de sincronia com o resto do mundo que já se levantava contra os governos, os ataques de austeridade por conta da crise capitalista, a indignação da juventude. Quatro meses depois, em meio a greve dos bancários em São Paulo, a greve dos professores do Rio de Janeiro que no começo da semana novamente reuniu milhares nas ruas tendo um ato em São Paulo em solidariedade, estas mulheres se reuniram. As mobilizações estudantis com ocupação como na universidade de São Paulo e a universidade de Campinas demonstram que a organização é o elemento fundamental que combinado com o espírito das marchas de centenas de milhares poderia colocar em cheque esse sistema de opressão e exploração.
Nós, do grupo de mulheres Pão e Rosas somos parte ativa desse processo de reorganização do movimento de mulheres. Consideramos extremamente progressivo que a CSP-Conlutas, da qual somos integrante, impulsione ofensivamente um movimento de mulheres classista, independente dos governos, da burocracia e dos patrões. Construímos com tudo este Encontro e na Plenária final nossa companheira Rita Frau, professora da rede estadual de São Paulo, em luta contra o governo e a burocracia petista, anunciou a entrada oficial do Pão e Rosas neste movimento.
Partindo dos inúmeros acordos programáticos que se expressaram no Encontro, com uma importante presença de mulheres trabalhadoras, buscamos aportar com a elaboração de um Jornal do Pão e Rosas, com nossa delegação de mais de 100 mulheres, com o debate sobre a precarização do trabalho, luta contra o PL 4330 e pela efetivação dos terceirizados sem necessidade de concurso público, campanha encabeçada pelas nossas companheiras Silvana Ramos, linha de frente da luta das terceirizadas da USP, e Diana Assunção, Diretora do Sintusp ameaçada de demissão por lutar com as terceirizadas.
Silvana Ramos participou da mesa de abertura ocorrida na cidade de Belo Horizonte na sexta-feira. saudando o encontro e demonstrando a força que tinha tantas mulheres trabalhadoras, negras, se colocando na linha de frente da luta contra o sistema capitalista e o machismo. Saudou a luta dos professores do Rio de Janeiro e defendeu que o Encontro soltasse uma enorme solidariedade a luta exemplar que estes trabalhadores da educação tem protagonizado. Virginia Guitzel, militante travesti do Pão e Rosas, participou da mesa de Organização do Encontro no Sábado, demonstrando a importância da organização das mulheres junto ao conjunto da classe trabalhadora, da necessidade dos sindicatos e das entidades estudantis tomarem nas suas mãos as bandeiras das mulheres, e a importância que se tem a unidade entre travestis, transexuais com as mulheres trabalhadoras, estudantes, secundaristas, donas de casa, desempregadas na luta contra toda a forma de opressão e a exploração que nos atinge diretamente. Seguimos durante todo o Encontro buscando colocar as demandas das travestis e transsexuais com bastante visibilidade, tanto nos grupos de discussão que fizemos parte, mas também em nossas intervenções e em nosso jornal especial para o I Encontro Nacional do MML.
Também buscamos colocar nossas divergências para fazer avançar este movimento como, por exemplo, o questionamento em relação a consigna "por mais delegacias de mulheres" como parte do programa de enfrentamento a violência às mulheres. Como podemos pedir "mais polícia" pra nos defender quando sabemos que esta polícia reprime os professores do Rio de Janeiro, mata os Amarildos Brasil afora e estupra as mulheres? Ao mesmo tempo, demos uma luta política para que a questão da luta pelo direito ao aborto legal, seguro e gratuito fosse uma campanha de tanta hierarquia quanto a luta contra a violência as mulheres. Seria fundamental que um encontre de mulheres classistas e revolucionárias desse este recado a todas as feministas governistas que abaixaram a cabeça quando Dilma vendeu nossos direitos por votos. Em vista de um ano eleitoral como 2014, seria fundamental, mas infelizmente a luta pelo direito ao aborto ficou diluída no Encontro. Ou ainda sobre a conjuntura internacional, que ficou bastante desiearquizada nas discussões do Encontro, sem permitir a possibilidade do conjunto daquelas mulheres saíssem com a clareza necessária das posições existentes e da importância que esses processos da Primavera Árabe tem e o papel que nosso movimento de mulheres deve cumprir. Continuaremos debatendo e expressando nossas posições, como uma agrupação dentro do Movimento Mulheres em Luta, com textos que devem ser publicados como posição minoritária nos blogs e sites do Movimento.
Como Pão e Rosas faremos parte da Executiva Nacional do Movimento Mulheres em Luta com nossas companheiras Rita Frau e a Dinizete Xavier, militante do Pão e Rosas e integrante da Secretaria de Mulheres do Sindicato dos Trabalhadores da USP. Voltamos agora para as fábricas, salas de aula, universidades, escolas, comércios, com mais certeza de que a nossa luta contra a opressão precisa ser parte do nosso dia-a-dia, fazendo com que as entidades estudantis e os sindicatos tomem para si nossa luta. Voltamos também com a certeza que somente uma perspectiva revolucionária, que questione esta sociedade de opressão e exploração pode ser efetiva na luta pelos direitos das mulheres.
Sou Pão e Rosas
Mulheres em Luta já!
O Estado capitalista não vai nos emancipar!
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