Frente Pão e Rosas - Marília/SP
Na
última segunda-feira (14/10) iniciou-se o Torneio de Futsal “Panelas
Vazias” na Unesp de Marília, realizado pela Comissão de Esportes
da unidade. Na abertura do campeonato, em que ocorreriam duas
partidas, estava prevista a participação do time do Cursinho
Alternativo da Unesp de Marília (CAUM), que possui, em sua equipe,
uma jogadora, esta também militante do Grupo Pão e Rosas.
O
fato da estudante ser mulher já havia feito com que o presidente da
comissão negasse sua participação no campeonato, alegando que não
se responsabilizaria por possíveis assédios ou danos físicos que
aquela viesse a sofrer. Consciente de que tal impedimento não consta
no regulamento do torneio e de ser a única responsável por sua
própria integridade, a militante decidiu jogar com seu time naquele
dia. No entanto, ao ver a participação da aluna em campo, o
presidente interrompeu a partida e expulsou a jogadora, gerando uma
reação espontânea de indignação tanto por parte dos demais
jogadores, quanto por parte das torcidas. Como se não bastasse a
atitude do presidente, a estudante ainda foi hostilizada pelo juiz da
partida que, ao empurrá-la para que se retirasse da quadra, agiu
como se a simples presença de uma mulher naquele espaço fosse um
insulto.
As
atitudes do presidente e do juiz refletem a maneira sexista com que
nossa sociedade ainda concebe o esporte e naturaliza o machismo. Essa
visão é constituída, em grande parte, na própria escola, em cujas
aulas de educação física as separações por gênero indicam uma
suposta fragilidade das meninas em relação meninos. Essa construção
vem de tempos muito anteriores à conquista das mulheres ao direito
de praticar esportes, pois, historicamente, características como
força física e agilidade foram impostas como masculinas (cabendo
aos homens esportes com mais contatos físicos e possíveis
machucados como futebol, basquete e judô), enquanto fragilidade e
delicadeza foram como femininas (cabendo às mulheres atividades
delicadas como ginástica e dança, que não representavam um risco
de causar lesões aos seus órgãos reprodutores). Coube, então, à
mulher, um resguardo que garantisse seu papel como reprodutora (outra
imposição social), tendo sido, nesse caso, sua falsa condição de
“sexo frágil” um estabelecimento de ordem social, e não
biológica.
Nós
do Pão e Rosas repudiamos totalmente a forma como a questão foi
tratada por este Professor, onde também se expressa a perspectiva
opressora de que a mulher é a causa dos assédios logo deve ser
retirado de inúmeros espaços públicos e atividades sociais.
Sabemos que este problema não se centra na figura apenas de um
indivíduo, mas se reflete em toda a sociedade, sendo extremamente
latente na Universidade, que é elitista, racista, homofóbica e
machista. Ademais, estamos cientes de que está de fundo um projeto
de universidade, legitimado por uma estrutura de poder
antidemocrática, que não colocará que tenhamos acesso a todos os
espaços que quisermos, pois a exploração da mulher, contribui para
a perpetuação da sociedade de classes.
Na
sua grande maioria, os espaços acadêmicos só expressam o projeto
de sociedade capitalista imposto. Vemos todo dia inúmeros casos de
violência física e psicológica contra a mulher nestes ambientes e
sempre as posturas da reitoria e direções é de tentar tapar o
fato, como por exemplo, na própria UNESP o caso ocorrido no “Rodeio
das Gordas”, a não colocação de ônibus que façam o trajeto da
Universidade-moradia, além de inúmeros casos em inúmeras
universidades brasileiras de assédios de professores à alunas, de
estupros em mediações das universidades e moradias, na negligência
das opressões nos trotes, no descaso com as trabalhadoras
terceirizadas ultra-precarizadas, na falta de permanência para as
mulheres da classe trabalhadora se manterem na universidade (creches,
moradias, restaurantes universitários, assistência médica e
outros).
O
grupo Pão e Rosas se coloca radicalmente contra qualquer ato de
caráter machista e lutamos por um mundo em que ser mulher não seja
um impedimento em nenhuma circunstância. Nos colocamos na
perspectiva de pensar e debater, com outros estudantes e grupos,
ações que contribuam nesse sentido.
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