Publicamos abaixo declaração do Diretório Acadêmico da Unesp de Rio Claro, sobre o racismo nas universidades.
Nesta segunda-feira, dia 3 de maio, mais uma vez o racismo e o elitismo mostraram a face nas universidades brasileiras, dessa vez na UNESP de Rio Claro. Dois estudantes negros do primeiro ano da educação física e três jovens secundaristas também negros, moradores da cidade de Rio Claro, foram vítimas de um escandaloso caso de racismo em nosso campus.
Os estudantes e os jovens da cidade estavam utilizando o pólo computacional, juntamente com outros estudantes, quando um segurança da UNESP entrou na sala apontando apenas para eles perguntando se eram estudantes e o que faziam ali. Depois disse que iria chamar a polícia, deixou os outros estudantes (brancos) saírem e manteve os cinco trancados na sala por aproximadamente 40 minutos até que a guarda municipal chegasse para humilhá-los ainda mais, dizendo que na universidade acontece uso de drogas, furto e depredação, como se esses jovens fossem suspeitos. O segurança da UNESP ainda chegou a dizer para os dois estudantes que ele era autoridade ali e que eles deveriam ser da mesma “laia” que os outros três jovens. Um dos dois estudantes ligou para a polícia, mas esta se negou a ir até o local dizendo que isso poderia causar um desentendimento entre as “autoridades” e que o melhor seria que os estudantes fizessem um boletim de ocorrência, numa clara cumplicidade à GM e ao segurança racista, explicitando a serviço de quem está a “proteção do braço repressivo do Estado, o mesmo que cotidianamente persegue e mata jovens nas periferias de São Paulo a mando de Serra e no Haiti pelas tropas de Lula.
Se defendemos a punição ao segurança da UNESP frente a sua absurda atitude racista, queremos debater também a origem de tais ordens. Se fosse um fato isolado, tantos secundaristas negros, tantos jovens trabalhadores, tantos estudantes negros da UNESP não teriam relatos parecidos para nos contar ocorridos nas portarias, nos jogos de futebol aos fins de semana(que vem se tornando um ato de resistência os jovens da cidade ocuparem o campus junto com os estudantes da Unesp nesse momento de diversão, em enfrentamento com as diretorias), nas caminhadas pelo campus, nas festas, nos debates. Essas ordens vêm de quem? O elitismo da universidade pública brasileira é tamanho, que não basta à burocracia acadêmica, uma minoria de professores (que é em sua esmagadora maioria, branca), simplesmente naturalizar a presença das empresas privadas e a ausência dos jovens negros da periferia das salas de aula da universidade, é preciso retirá-los fisicamente dessa instituição pública, tirá-los de circulação, reprimi-los, TRANCÁ-LOS. É por isso que, em nosso Campus , Luiz Carlos diretor do IB, e Antônio Pião, diretor do IGCE, são também responsáveis diretos pelo absurdo caso e por todos os outros que já ocorreram em nosso campus e que foram abafados, com a conivência de ambos. Em reunião com as entidades estudantis ocorridas na última semana, ao contrário de repudiar tal caso, se apoiaram no ocorrido para justificar a necessidade de uma Universidade ainda mais fechada e repressiva, mostrando a verdadeira cara da atual estrutura anti-democrática das universidades!
Não podemos enxergar esse como um caso pontual e naturalizá-lo, como tentam nos impor dia-a-dia, já que é expressão de opressões necessárias para a manutenção da sociedade contraditória que vivemos, e de seu projeto de Universidade: a tentativa da guarda da UNESP Araraquara expulsar um estudante negro de dentro da faculdade ou o “FORA PRETOS” pichados no muro da UERJ são expressões dessa mesma contradição. Hoje o racismo em Rio Claro , ontem a homofobia na USP (estudantes da farmácia da USP através de um jornal ofereceram entrada gratuita em uma festa pra quem jogasse merda em um homossexual) e o machismo na UNIBAN (quando se persegue uma estudante por seu tipo de roupa).
Os estudantes não podem mais aceitar tal situação, e independentemente de sua cor, têm de se organizar e lutar contra o racismo e toda a forma de opressão. Esse é um ataque a toda a juventude: é necessário por de pé uma ampla campanha contra o racismo nas Universidades, basta! Chamamos ao conjunto de estudantes da UNESP, aos jovens trabalhadores e secundaristas de Rio Claro a denunciar e tornar público esse e tantos outros casos. Chamamos também, ao conjunto de funcionários e professores de nosso campus, assim como aos sindicatos, associações e organizações políticas de Rio Claro, a repudiar publicamente o ocorrido.
Basta de racismo na Unesp! Punição imediata aos responsáveis!
Pelo fim do vestibular!
Portões abertos para toda a juventude negra estudar e ocupar os espaços públicos!
Diretório Acadêmico dos Estudantes “XVI de Março”
gestão “Por uma questão de classe” – Unesp Rio Claro
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