Por Pão e Rosas Araraquara
No dia primeiro de outubro, após quase um mês de mobilização dos estudantes da Unesp de Araraquara e dos moradores da Moradia Estudantil, a direção da FCL (ou como convém chamá-la, Burocracia Acadêmica) foi obrigada a orquestrar um desfecho ao caso de assédio sexual que tinha como principal demanda dos estudantes a expulsão do assediador. Isso só foi possível em primeiro lugar, pela coragem das alunas em denunciar o assédio e por toda mobilização que não se deu somente através dos moradores que lutavam pela sua expulsão, mas também junto a mais de 600 assinaturas de estudantes da Faculdade de Ciências e Letras (FCL) da Unesp, que demonstraram um posicionamento solidário fundamental, além do apoio de várias entidades como: a Associação de Professores da PUC-SP, Sindicato dos Trabalhadores da USP, Conlutas, grupo de mulheres Pão e Rosas, Diretório Acadêmico Honestino Guimarães da Fundação Santo André, Centro Acadêmico de Ciências Sociais da PUC-SP, Diretório Acadêmico da Unesp de Rio Claro, Movimento A Plenos Pulmões, Centro Acadêmico Benevides Paixão da PUC-SP, Centro Acadêmico Letras USP, Coletivo Wendo, Centro Acadêmico de Ciências Humanas da Unicamp, Coletivo Feminista, entre outros. A iniciativa de não restringir as demandas da Moradia somente aos moradores, mas buscar uma aliança com o conjunto dos estudantes e outras entidades e agrupações, demonstrou sua força ao obrigar a burocracia acadêmica a tomar medidas. À sua maneira, e é claro que sempre de acordo com seus interesses.
Bolsa-trabalho para um assediador!?
Não nos estranha que a burocracia acadêmica não somente buscou uma alternativa para desarticular a mobilização que havia sido organizada, mas principalmente para jogar pra debaixo do tapete o escandaloso caso de assédio ocorrido na Moradia. Tentando aparecer como a grande solução para o problema dos estudantes, como se fosse simples apagar todo seu histórico de perseguição aos estudantes como no início do ano, quando tentaram expulsar quase 20 estudantes por estes terem apenas perdido a matricula. O fato é que a saída apresentada pela burocracia foi simplesmente dar uma bolsa-trabalho para o assediador, em troca de sua saída da Moradia, para “evitar problemas”. Essa é a verdadeira cara da burocracia acadêmica e da Universidade que se demonstra cada vez mais antidemocrática, que mostra ter verbas para o que ela julga necessário (mesmo que seja um benefício para um assediador!), enquanto centenas de estudantes estão sem vagas na Moradia Estudantil, muitos que precisam de bolsas de estudos, com bolsa-alimentação pela metade, sem transporte gratuito até a Moradia.
Estudantes e mulheres, vamos por mais!
Nós do Pão e Rosas acreditamos que hoje é necessário mostrar para todos os estudantes que a força da nossa mobilização pode mudar a correlação de forças e obrigar a burocracia acadêmica a apresentar alguma alternativa para os problemas que estão colocados na Universidade. Por considerarmos um grande absurdo um assediador da Moradia ser “premiado” pela burocracia acadêmica, denunciamos esses metódos, e agora sim é que vamos por mais. Pois se é possível de um dia por outro lançar mão de uma bolsa-trabalho, porque não aumentar as vagas na Moradia? Porque não garantir transporte gratuito para todos os estudantes até a Moradia? Por que não retroceder com o corte das bolsas alimentação?
Exigimos que a gestão da Universidade não esteja mais nas mãos de uma minoria que faz o que bem quer com o dinheiro, sempre de acordo com seus interesses e não da comunidade universitária. Exigimos que a diretoria disponibilize acesso total às contas da Universidade, para que todos possam analisar quais são seus gastos e as condições para o atendimento das demandas dos estudantes, funcionários e professores. Não podemos mais aceitar que a diretoria, depois de invadir a Universidade com a PM em 2007 (abrindo um terrível precedente), suspender estudantes por lutar, quase expulsar 20 estudantes por terem atrasado sua matrícula, e tantos outros desmandos, siga governando essa Universidade a seu bel prazer.
Chamamos todos os estudantes a acreditar em suas próprias forças para que consigamos arrancar nossos direitos, aprofundando a auto-organização da Moradia e superando o hiato desta e do movimento estudantil com o conjunto dos estudantes. Chamamos também todos os estudantes que assinaram o abaixo-assinado, a darem um passo a frente para começar a refundar o movimento estudantil da Unesp de Araraquara, explicitando que em Araraquara o silêncio acabou, mas que não deixaremos de gritar na luta pelos nossos direitos, contra a opressão das mulheres e por uma nova Universidade e um novo movimento estudantil.
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