Dia 25/11- dia internacional de luta contra a violência contra as mulheres
Rita Frau,
professora, militante do Pão e Rosas e da Executiva Nacional do MML
Os casos mais recentes que ganharam a mídia
como o caso de Jandira, morta pela máfia do aborto clandestino no Rio de
Janeiro e os estupros na Faculdade de Medicina na USP ecoaram o grito entalado
na garganta de milhares que sofrem com a realidade da violência contra as
mulheres no Brasil. Todos os dias em cada canto do país milhares de mulheres
são vítimas de abortos clandestinos que
levam à morte, femicídios, mutilações, estupros, assédio moral e sexual,
estupros corretivos, violência policial, exploração e precarização do trabalho.
Á cada 2 dias uma mulher morre por aborto
clandestino, a cada 12 segundos uma mulher sofre violência. São ao menos 50 mil
mulheres estupradas por ano, sem contar os casos que não chegam à ser
denunciados.
As alianças e os lucros são mais importantes
que a vida das mulheres
No Rio de Janeiro, a Operação Herodes,
conhecida como a maior operação contra a máfia das clínicas clandestinas, arma
o palco para a impunidade dos que matam e lucram bilhões a partir do sofrimento
de mulheres e sequelas de abortos. A polícia tentou indiciar o ex-marido de
Jandira e uma amiga por apoiarem a decisão de Jandira pelo aborto, mas foi
negado pelo Ministério Público. Mais uma demonstração da grande hipocrisia das
instituições estatais que estão envolvidas nas diversas formas de violência
contra as mulheres, como o envolvimento de policiais no crime de estado contra
Jandira.
Não esqueceremos jamais dos assassinatos dos
filhos e maridos das mulheres negras e pobres das periferias e favelas, como os
casos de DG e Amarildo no Rio de Janeiro. E
Claudia, trabalhadora precária negra, pobre e arrastada como um objeto pela
polícia nas ruas da Zona Norte do Rio.
No Haiti, o governo do Brasil segue servindo
à dominação imperialista norte-americana e beneficiando os lucros das
multinacionais que sugam o suor dos trabalhadores haitianos, com a manutenção
das tropas brasileiras no Haiti que são recorrentemente acusadas de estupros
contra as mulheres haitinas.
A
burocracia acadêmica para abafar os casos de estupros na faculdade de
Medicina da USP, finge que nada acontece mesmo diante do sofrimento de jovens
estudantes que viviam no silêncio e com medo, comprovando que os privilégios e
interesses de uma casta de professores são mais importantes do que o combate à
violência que sofriam as estudantes.
A violência contra as mulheres também se
expressa na precarização do trabalho quando as mulheres ocupam os postos de
trabalho mais precários, na maioria das vezes recebendo salários mais baixos do
que os homens, e no caso das mulheres negras mais ainda. Trabalhos tercerizados, temporários e
precários que levam as mulheres a adoecerem e não terem dirireitos trabalhistas
garantidos.
A violência à serviço da exploração
capitalista
Os assassinatos são o último elo da cadeia de
violência que sofrem as mulheres. Toda as outras formas atingem diretamente a
forma como nos constituímos como sujeito. Sofremos agressões verbais com o
machismo dentro e fora de casa, na escola somos subjugadas e condicionadas à um
comportamento, somos vítimas de um padrão de beleza que nos adoece, nos leva a competição com outras mulheres e
nossos corpos são vistos como mercadorias e propriedade que podem ser usados,
descartados e violentados.
Esta ideologia surge no desenvolvimento da
propriedade privada, que também se expressa nas relações sociais à serviço da
dominação da burguesia e manutenção do sistema capitalista que reproduz e se
sustenta através da exploração e opressão.
Quando essa ideologia é reproduzida no seio da classe trabalhadora
através de preconceitos, machismo, homofobia, racismo, fortalece a exploração
da burguesia. Dizemos que quando uma trabalhadora é violentada por um
trabalhador, é um passo atrás na luta contra este sistema de opressão e
exploração.
A recente campanha dos trabalhadores da USP
contra os estupros na faculdade de Medicina mostram um grande exemplo de como
deve ser tomada a luta contra a violência contra as mulheres pelas organizações
e a base dos trabalhadores. A luta
contra a exploração e pelos direitos da classe trabalhadora não é separada da
luta contra toda a forma de opressão e violência contra as mulheres.
Esta campanha nos mostra que cada passo da
classe trabalhadora em luta contra a violência é um passo para o fortalecimento
dos trabalhadores contra a divisão da classe tomando para si a luta contra toda
forma de opressão e contra a exploração e deve ser tomada de exemplo por todas
as organizações de trabalhadores.
Sejamos milhares de mariposas lutando por
nossos direitos
O dia 25 de novembro surgiu em homenagem as
irmãs Mirabal, conhecidas como Mariposas, no I Encontro Feminista Latino
Americano e Caribenho realizado em Bogotá, contra a Violência contra as
mulheres. Patria, Minerva e Maria Teresa Mirabal foram assassinadas dia 25 de
novembro de 1960 pela ditadura de Rafale Trujillo. Elas se auto-identificavam
como Mariposa 1, Mariposa 2 e Mariposa 3 militando em resitência contra o
regime militar e foram assassinadas por serem
valentes lutadoras contra a ditadura. O repúdio ao assassinatos delas
abriu o caminho para a caída do ditador Trujillo.
É com espírito e o exemplo dessas lutadoras
encaramos mais um dia 25/11. A experiência de 12 anos do governo do PT e a reeleição
de uma mulher já mostraram que para as mulheres, leis como a Lei Maria da Penha e programas
sociais, seguem sendo papel molhado, e
que tentativas de responder os setores oprimidos com política reformistas e
paliativas não apagam a realidade do trabalho precário, assédios, mortes e
sequelas por abortos clandestinos.
Precisamos de um forte movimento de mulheres
que não alimente ilusões no governo Dilma pois este só governará para mulheres
como Katia Abreu (PMDB) e outras que se beneficiam da miséria e exploração da
classe trabalhadora e do povo pobre das cidades e do campo.
Apenas um movimento de mulheres com milhares
de Mariposas independentes dos governos, patrões, Igreja e burocracias sindicais
e aliando à classe trabalhadora que organize a luta contra a violência as
mulheres nos locais de trabalho e de estudos para ganharmos as ruas, será capaz
de arrancarmos nossos direitos.
Neste 25 de novembro o grupo de
mulheres Pão e Rosas participará em várias cidades da América Latina e Caribe
das atividades para exigir um basta de violência contra as mulheres! Pelo
direito ao aborto legal, seguro e gratuito! Contra os estupros, feminicidios, a
redes de tráfico de mulheres! Por todos os direitos das mulheres trabalhadoras!
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