por Babi Dellatorre
A classe trabalhadora (empregados e desempregados), a juventude (estudantes secundaristas e universitários) e outros setores da população começam a se reorganizar e já mostram sua força e disposição para impedir o avanço dos ataques que Sarkozy pretende impor às/aos trabalhadoras/es e à juventude por meio das medidas de austeridade.
A greve geral do dia 12/10 foi a maior dos últimos 20 anos, com cerca de 3 milhões de pessoas, e deu início à uma greve geral por tempo indeterminado que conta com a aprovação de 71% da população. A mobilização teve início com a paralisação das refinarias de petróleo e logo recebeu apoio dos trabalhadores portuários, ferroviários, motoristas e, mais recentemente, dos estudantes.
O Estado francês apresenta um déficit público de 7,8% do PIB e a dívida pública subiu de 40% para 80% do PIB. A taxa de desemprego aumenta, principalmente entre a juventude, onde 23% das pessoas com menos de 25 anos estão desempregadas. A saída dada pelos Estados capitalistas à crise iniciada em 2008 endividou profundamente os Estados. Em resposta, acelera a implementação das políticas neoliberais de desmonte do Estado (corte dos direitos sociais, privatização e diminuição do corpo de funcionários) e flexibilização das relações de trabalho (precarização e retirada de direitos da classe trabalhadora) por meio do plano de austeridade para toda a Europa. O plano de ajustes francês congela os salários do funcionalismo público, congela pensões e aposentadorias, permite a demissão de funcionários públicos como forma de redução de gastos do Estado, diminui benefícios sociais, eleva os impostos sobre o consumo, aumenta a idade mínima para se aposentar (de 60 para 62 anos) e o tempo de contribuição etc. Desde a década de 80, com a crise do emprego, o número de postos de trabalho em tempo parcial proliferou, sendo que as mulheres ocupam mais de 80% desses empregos.[1] As mulheres, principalmente as mais jovens e com menor qualificação, também ocupam os empregos de contratos com duração determinadas (CDD) e os contratos financiados pelo Estado francês[2]. Por conseqüência, são também as mulheres a receberem os menores salários, terem menos ou nenhum benefício e segurança de emprego e, portanto, a terem maior dificuldade de participação na vida política e maior dependência dos direitos sociais oferecidos pelo Estado (como creches, seguro desemprego etc.).
Segundo constata a socióloga, Helena Hirata, as migrações internacionais femininas, na França, aumentaram a partir de 1999. Estas mulheres são parte constitutiva fundamental do processo de precarização do trabalho. Este processo esteve acompanhado pelo aumento do número de mães solteiras, o que combinado ao crescimento da taxa de desemprego e ao “reconhecimento de qualidades ditas femininas enquanto competência profissional”[3] (faxineiras, domésticas, babás, o cuidado com as pessoas idosas) colocam as mulheres, em especial as imigrantes, como importante elemento fortalecedor da precarização do trabalho e da super-exploração. Contudo, se a opressão das mulheres associada à exploração capitalista faz incidir de maneira mais intensa nas trabalhadoras as conseqüências da precarização do trabalho, também preconiza o objetivo da burguesia para toda a classe trabalhadora.
Em julho deste ano, foi aprovada uma série de medidas[4] contra os imigrantes na França com o falso discurso de combate ao crime e garantia de imigração legal. Sob o véu da legalidade, esconde-se a miserável política xenofóbica do governo francês. O preconceito com os imigrantes é uma expressão, assim como a opressão às mulheres, que encontra grande funcionalidade ao capitalismo, principalmente num momento de crise, pois descarrega nestes setores os trabalhos mais precarizados, a culpa pelo desemprego e a – tão desejada pelos burgueses – fragmentação da classe trabalhadora.
A juventude que vive nas periferias francesas (banlieues) – compostas, principalmente, por descendentes de imigrantes – já se manifesta contra as medidas de austeridade, o desemprego e a política repressiva de Sarkozy com os “planos banlieues”. A resposta da mídia é desligar as ações desses jovens das greves que se espalham pela França. Universidades são fechadas pelos reitores para que a juventude não se unifique, como já ocorreu antes, e seja linha de frente na luta dos trabalhadores contra os ataques neoliberais. A burguesia, os partidos reformistas e as direções burocráticas tremem diante da aliança entre trabalhadores e estudantes e das greves gerais que unificam as categorias e os setores mais explorados da população.
Os trabalhadores franceses devem unificar suas reivindicações às dos demais setores explorados da população nos quais também pesam a crise capitalista, utilizando os métodos próprios da classe trabalhadora de auto-organização e coordenação democrática a partir de assembléias de base, com o objetivo fazer convergir as lutas numa forte greve geral capaz de barrar a tentativa de fazer a classe trabalhadora e a juventude pagarem pela crise.
As bases do capitalismo degeneram e a burguesia busca desesperadamente uma sobrevida fincando a humanidade na miséria. As lutas na França escrevem um primeiro esboço do por vir. É preciso tirar todas as lições para que a classe trabalhadora mundial avance rapidamente.
-------------------------------------------------------------------------------------------------------------
[1]http://diplomatique.uol.com.br/acervo.php?id=822&tipo=acervo&PHPSESSID=28912a2bce8feffbbb1bf42c85320e53 (Acesso em 21/10/2010)
[2]Estes contratos objetivam “permitir o acesso ou o retorno ao emprego às pessoas com dificuldades sociais e profissionais de acesso ao emprego.” Fonte: Ministério do Trabalho, das Relações Sociais e da Solidariedade. www.ddtefp35.travail.gouv.fr
[3] A precarização e a divisão internacional e sexual do trabalho, disponível em http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1517-45222009000100003#top6 (Acesso em 21/10/2010).
[4] Em julho de 2010, foi aprovado o projeto sobre imigração – elaborado pelo ministro da imigração Eric Besson – que prevê a deportação dos, cerca de 15, mil ciganos estrangeiros (maioria romenos e búlgaros); a retirada da nacionalidade de estrangeiros naturalizados na França que cometerem crimes contra policiais e funcionários públicos ou forem condenados a prisão por mais de cinco anos; retira a nacionalidade também de jovens delinquentes reincidentes nascidos na França, mas de origem estrangeira.
Nenhum comentário:
Postar um comentário