terça-feira, 10 de novembro de 2009

Manifestação na Uniban repudia violência contra Geisy Arruda


Nesta segunda feira, 09/11, nós do grupo de mulheres Pão e Rosas estivemos presentes no ato em frente à Uniban, convocado para manifestar repúdio à violência sofrida pela estudante Geisy Arruda no último dia 22, quando foi humilhada e ameaçada de estupro por estudantes da própria universidade. Estiveram presentes diversas organizações como Marcha Mundial de Mulheres, PSTU, UNE, entre outras.

Sob um clima tenso, enquanto uma parte dos estudantes se pronunciava gritando contra Geisy Arruda, nós manifestantes mantivemos o protesto contra a violência machista que se expressou de forma tão brutal nos corredores da Uniban.
Entre as entidades que se pronunciaram no ato, Mara Onijá falou em nome do Pão e Rosas ressaltando que não podemos nos contentar com a revogação da expulsão de Geisy.. “A expulsão foi revogada, mas como Geisy e outras alunas poderão estudar sabendo que os culpados seguem tranqüilamente dentro da Uniban?”, questionou Mara, chamando ainda os estudantes a se voltarem contra a diretoria da Uniban que legitimou a violência contra a estudante, enquanto segue lucrando rios de dinheiro com as mensalidades que todo estudante é obrigado a pagar.

Seguimos gritando pela expulsão dos culpados e chamamos as estudantes, trabalhadoras e professoras da Uniban que não abaixem a cabeça frente ao machismo e a violência contra a mulher que imperam mesmo dentro da universidade.

Por uma comissão de mulheres para investigar e punir os culpados!
Pela punição e destituição da direção da Uniban que se revelou extremamente autoritária e machista!
Pelo fim do vestibular e estatização das universidades privadas!

domingo, 8 de novembro de 2009

Nós mulheres do Pão e Rosas gritamos por Geisy Arruda: Abaixo à ditadura da UNIBAN! Nem burcas, nem inquisição, queremos a reincorporação!

Ontem, dia 7 de novembro, a Universidade Bandeirantes - UNIBAN, divulgou nota à imprensa anunciando a expulsão da estudante Geisy Arruda, após o absurdo ocorrido no dia 22 de outubro, onde esta mesma estudante foi terrivelmente violentada, humilhada e ameaçada de estupro por estar usando um vestido curto.

A posição da instituição, além de absurda e opressora, demonstra exatamente como funcionam os interesses da burguesia e da propriedade privada no sistema capitalista, assim como as diversas formas de barbaridade que este modo de produção proporciona às mulheres. O capitalismo, que fortalece e potencializa todas as formas existentes de machismo, à medida que impõe padrões de beleza às mulheres, de sermos diariamente submetidas a posições de objeto tendo nossos corpos constantemente vendidos como mais uma mercadoria qualquer, este mesmo sistema impõe que simplesmente por sermos mulheres devemos ser submissas e aceitar (sempre que possível caladas e sem causar muito incômodo) os mais variados tipos de violência. Chegando ao absurdo de que quando são vítimas dessas violências, são apontadas como culpadas!

A Uniban, além de impedir que a aluna estude, transformou a vítima do ocorrido em culpada, explicitando que assim como qualquer outra empresa, seu único interesse se configura na “boa imagem” de seu nome, em detrimento de qualquer um dos seus alunos que por sua vez a mantêm, reproduzindo uma lógica patriarcal, conservadora e machista, que leva milhares de mulheres a serem vítimas de estupros, espancamentos, e até assassinatos (crimes passionais). Com justificativas de que Geisy mantinha uma “postura incompatível com o ambiente, ensejando de forma explícita os apelos dos alunos” e de que a aluna “sempre gostou de provocar os meninos”, a instituição simplesmente responsabiliza Geisy por ser violentada e ameaçada de ter seu corpo estuprado por uma multidão de pessoas que a humilhavam.

Desta forma, a Uniban e sua comissão sindicante, expressam a conivência e cumplicidade a práticas de violência contra a mulher, enquanto em muitos outros lugares esse tema se constitui como objeto de estudos e pesquisas acadêmicas exatamente por ser uma questão tão presente na realidade e que devemos enfrentar e combater. Devemos lutar para que a universidade esteja a serviço dos trabalhadores e do povo pobre, para que possamos, estudantes junto aos trabalhadores/as, transformar a realidade, o que ficou claramente expresso não ser possível numa universidade que somente visa o lucro e a reprodução do conhecimento a serviço dos empresários e patrões.

Justamente quando nos aproximamos do dia 25 de novembro, Dia Internacional de luta contra a violência à mulher, nos deparamos com um fato lastimável como este.

Que os estudantes de todas as universidades, públicas e privadas, os CA’s, DCEs, assim como a ANEL, somem suas forças para expressar nosso repúdio à mais um ato de violência contra Geisy, contra as mulheres, que partamos desse fato, para questionar essa universidade que produz todo conhecimento aos capitalistas enquanto reproduz e legitima esse sistema patriarcal, machista, que não só nos oprime, como nos explora. Tudo isso porque queremos uma universidade a serviço dos trabalhadores e do povo, lutando contra todas as formas de opressão às mulheres.

O Pão e Rosas estará no ato amanhã 09/11 as 18h na porta da UNIBAN em São Bernardo do Campo e gritaremos por:

Reincorporação imediata de Geisy Arruda!

Punição e destituição da direção da UNIBAN responsável pela expulsão!

Contra o monopólio das universidades privadas, pelo fim dos vestibular e pela estatização das universidades privadas!

Expulsão dos que ameaçaram Geisy de estupro!

Colocar de pé uma comissão de mulheres estudantes, trabalhadoras efetivas e terceirizadas e professoras para investigar e punir efetivamente os verdadeiros culpados!


Construir um amplo e impactante 25 de novembro, dia contra a violência às mulheres, com toda a juventude da UNIBAN, rompendo essa divisão que querem nos impor!

Não nos calamos frente ao caso da Uniban!

Por Marina Fuser, socióloga e integrante do grupo de mulheres Pão e Rosas

Entre vaias e gritos eufóricos, uma multidão provoca um alvoroço nos corredores da UNIBAN. Uma jovem estudante teve que ser escoltada pra impedir que seja agredida sexualmente pelos rapazes mais afoitos, que gritavam em uníssono: “puta, puta”. O motivo é o mais banal possível: uma minissaia.

A minissaia, que já perfilava pelos figurinos esportivos em 1929 tornou-se um símbolo emblemático nos efervescentes anos sessenta, quando eclode aquilo que ficou conhecido como “revolução sexual”. No período em que estudantes e operários tomavam as ruas pra protestar contra as múltiplas formas de opressão e de exploração da sociedade capitalista, as mulheres tomaram a linha de frente, colocando em pauta também as suas demandas. Na França, as estudantes da Nanterre reivindicavam o direito a dormitórios mistos. Em Bercley na Califórnia, mulheres rasgaram seus sutiãs em protesto ao moralismo vigente na sociedade. Era o período da pílula anti-concepcional, da utopia de um amor-livre: livre de moralismos, livre das hierarquias que colocam a mulher no papel de submissas.

Mais de 40 anos se passaram e a nossa geração presencia um episódio vergonhoso, em que uma mulher é humilhada em um local público pelo simples cumprimento de sua saia. O mais paradoxal é o fato de isso ocorrer numa universidade: local de produção de conhecimento. Conhecimento nada tem a ver com o que ocorreu na UNIBAN na semana passada. Muito pelo contrário, foi uma demonstração de ignorância e machismo exacerbado. A moral de uma sociedade que divide as mulheres entre as esposas, aquelas que devem viver em função dos maridos, confinadas no lar, seguindo o mandamento da bíblia que diz: “crescei-vos e multiplicai-vos”; e aquelas outras, as “putas”, que só servem pro prazer contingente do homem. Objetificadas, estas não são dignas de respeito. São “putas”: a elas não cabe a dignidade de serem tratadas como seres humanos.

Por trás desse moralismo, está a supremacia da ordem patriarcal, tão proferida pela Igreja Católica, que condena o divórcio, que é contra todos os métodos anticonceptivos, que faz de tudo pra manter o aborto na ilegalidade “em nome da vida”, enquanto mais de 62.000 mulheres dos estratos mais pauperizados da sociedade morrem por ano por conta de abortos clandestinos. A hipocrisia da Igreja que condena o prazer mundano recai sobre as mulheres que ousam sair de sua imanência, como pecadoras. De acordo com essa lógica medieval, elas merecem ser queimadas na fogueira. E as chamas da inquisição são reanimadas a altos brados nos corredores da UNIBAN.

É lastimável que um episódio como esses tenha ocorrido em pleno século XXI. Isso demonstra que pouco aprendemos com as lutas travadas pelas gerações anteriores, ao passo que escancara o moralismo e o machismo ainda muito aflorados na atual sociedade.

quinta-feira, 5 de novembro de 2009

Grande vitória da chapa classista nas eleições da Comissão Interna de trabalhadores e trabalhadoras da Kraft-Terrabusi!

(Argentina, 05/11/2009) Duríssima luta, profunda e histórica, esse foi o triunfo da chapa classista, composta por militantes do PTS e independentes, na Kraft-Terrabusi. Nesta edição apresentamos orgulhosos as palavras dos delegados recém eleitos. Talvez amanhã alguns trabalhadores ainda distantes encontrem também a sua voz. Ninguém se surpreenda então, porque é disso que se trata. Também se trata de afirmar que é possível, e declarar que desde baixo as derrotas podem ser derrotadas; os triunfos voltam a ser descobertos, como foi na grande luta da Kraft-Terrabusi. Reproduzimos abaixo depoimento de Pamela Bulacio, delegada eleita da Comissão Interna do turno da noite na Kraft. Para ver mais depoimentos clique aqui e para assistir ao vivo na TV PTS entrevista com os delegados recém eleitos clique aqui.

“Isso não sai do nada. É uma profunda experiência que viemos fazendo com a antiga Comissão Interna. Dessa vez, aqui as mulheres trabalhadoras somos a maioria, e somos também as que mais trabalhamos e as que menos recebemos; sem esquecer que nossas reivindicações e demandas continuam postergadas. Entretanto, a partir da luta que se abriu com o problema da gripe A, nós mulheres começamos a mudar nossa localização, encarando ações e tomando posições mais comprometidas. Por isso, eu acho, se abrem novos momentos para nós, algo que temos que debater para começar a ser protagonistas de nosso destino. Na rebelião contra a gripe A fomos nós mulheres as que nos colocamos na frente, e na nova Comissão Interna somos 6 homens e 5 mulheres, divididos em 6 turnos. Nota-se que algo mudou e se abrem possibilidades para ganhar posições mais ativas; começamos a ser protagonistas”.

Pamela continua: “Sabemos que somos as que mais sofremos os ritmos e condições de trabalho abusivos. Por isso a grande tarefa a encarar será avançar em nossas reivindicações, denunciando os atropelos patronais e ganhar espaços na organização. Entre as propostas que impulsionamos como Comissão Interna, somamos a formação de uma Comissão da Mulher. É hora de abrir esta comissão junto a um debate democrático para que todas trabalhadoras possam participar. Assim como as companheiras terceirizadas da limpeza que têm negados seus direitos e sua voz”.

Pão e Rosas na mídia: Jornal PUCViva

(São Paulo, 23/09/2009) Nem mesmo o fato de os cartazes terem sido arrancados das paredes da PUC-SP, impediu que o debate sobre legalização do aborto acontecesse e reuni-se cerca de 80 pessoas no Museu da Cultura. O debate, organizado pela Frente de Mulheres da PUC-SP, aconteceu no dia 21/10, com a finalidade de discutir a questão do aborto. O debate foi bastante amplo, permitindo que muitos católicos, que compareceram ao evento colocassem suas opiniões contrárias à prática do aborto. (...) A palestrante do grupo feminista Pão e Rosas, Mara Onijá, pontuou a importância de o debate ocorrer na PUC-SP, universidade ligada à Igreja Católica e uma das principais forças contrárias à legalização. Mara também colocou que as mulheres não têm o controle sobre o próprio corpo, afirmando que "o Estado assume o papel de decidir sobre os corpos das mulheres". Clique aqui para ler matéria na íntegra.

quarta-feira, 4 de novembro de 2009

Trabalhadoras da USP chamam: Todas ao boicote!

Numa universidade onde o poder é concentrado na Reitoria e no Conselho Universitário, os mesmos que garantiram a invasão da polícia pra reprimir a nossa greve hoje organizam a troca de Reitores, para mudar a “cara”, mas não a estrutura anti-democrática da universidade. É nesse momento também em que o Sindicato dos Trabalhadores da USP vem sofrendo mais ataques após a greve, com ameaças de demissões, perseguição política a dirigentes sindicais e estudantes ativistas. Neste cenário, não acreditamos que haja nenhum candidato que seja capaz de questionar essa estrutura de poder, porque a verdade é que por dentro deste processo eleitoral não é possível mudar esta estrutura. Por isso, chamamos ao boicote ativo neste 10 de novembro, 2º turno das eleições, como continuidade da anti-candidatura de Chico de Oliveira. Chamamos todas as companheiras do Pão e Rosas, e todas as mulheres, estudantes e ativistas, a virem conformar na próxima terça-feira em frente a Reitoria esse importante ato de boicote às eleições pra Reitor na USP.

Trabalhadoras da USP que integram o Pão e Rosas

terça-feira, 3 de novembro de 2009

"Marxismo e Emancipação da Mulher", por Marina Fuser no Colóquio Marx e Engels

Publicamos abaixo artigo de Marina Fuser, socióloga e integrante do grupo de mulheres Pão e Rosas, sobre marxismo e a emancipação da mulher, a ser apresentado no dia 03/11 às 18h no Colóquio Internacional Marx e Engels, na Unicamp

Marxismo e Emancipação da Mulher

A questão da emancipação da mulher, na perspectiva marxista, está intrinsecamente ligada à questão da emancipação humana. Não se pode isolar a questão da mulher de seu contexto social, já que esta se desenvolve e se consolida segundo determinados parâmetros econômicos e sociais, envolvendo fatores tanto objetivos como subjetivos. Mas seria um equívoco pensar a emancipação humana sem compreender a necessidade histórica da emancipação específica da mulher. Quando um sistema é colocado em xeque, todos os valores engendrados pelo mesmo também o são; e uma nova gama de valores socialmente construídos substitui os antigos paradigmas e a revolução abriria caminho para modificar as bases sobre as quais se erige a sociedade. Para viabilizar esse processo, os embriões do que constituiriam esses novos valores e paradigmas precisam se sedimentar na consciência daqueles que tomam para si um projeto de transformação radical da sociedade. Trata-se de um questionamento mais profundo da vida em todos os seus aspectos – da vida que se almeja transformar e no que constituiria essa transformação, do fim último ao qual se destinaria um novo projeto de sociedade.
Segundo a socióloga Heleieth Saffioti, “a preocupação com o problema da mulher apresenta-se como uma constante do pensamento socialista” . Os marxistas tiveram que se debruçar sobre os entraves apresentados ao processo da emancipação da mulher. Se por um lado, a igualdade de direitos constituía uma de suas metas fundamentais, eles iam além, buscando criar condições concretas para viabilizar o fim da opressão da mulher.
Eis que François Maria Charles Fourier denunciou as condições miseráveis, tanto do ponto de vista material, como moral, que se proliferava no seio da burguesia nascente, apontando as mulheres como as principais vítimas dessa engrenagem. Seu projeto de sociedade apresentava como alicerce a igualdade absoluta entre homens e mulheres – e por igualdade absoluta, entende a supressão das diferenças entre os sexos para além do campo jurídico, mas também no que tange aos costumes. Para ele:

A evolução de uma época histórica é determinada pela relação entre o progresso da mulher e da liberdade porque relações entre o homem e a mulher, entre o fraco e o forte, fazem ressaltar nitidamente o triunfo da natureza humana sobre a bestialidade. O grau de emancipação feminina determina naturalmente a emancipação geral...

A idéia de igualdade entre o homem e a mulher é abraçada por Flora Tristán , que também compreende a emancipação da mulher e a emancipação humana como questões inseparáveis, uma vez que a educação das mulheres abriria caminho para a libertação dos trabalhadores. Comprometida com a causa das mulheres proletárias, Tristán não consegue levar a frente o seu projeto de conformar uma União Operária, encontrando obstáculos aparentemente instransponíveis impostos pela patronal. Segundo Heleieth Saffioti:

Embora o equacionamento que das idéias feministas e socialistas faz Flora Tristán seja tosco, deixando às vezes, entrever um privilegiamento da categoria sexo feminino em detrimento da classe social, constitui, inegavelmente, um refinamento da consciência proletária .

Não obstante, seu legado fornece subsídios socialistas às mulheres na luta por seus direitos em 1848, quando está em voga uma ebulição social que objetiva “varrer os últimos vestígios da antiga ordem social” . Em 1848, as idéias de Flora Tristán são assumidas por novos agentes sociais, como Jeanne Deroine, Eugenie Niboyet e Pauline Roland, comprometidas com a emancipação da mulher na luta de classes. Em uma análise acerca das produções teóricas e sua expressão na realidade em forma de lutas sociais, Zuleika Alambert esboça uma crítica que aponta para algumas debilidades que se sobressaíam nesse contexto histórico:

...Nenhuma delas sabia localizar acertadamente as raízes mais profundas das desigualdades das mulheres e indicar o caminho mais geral de sua emancipação. Uns localizaram essas raízes na inferioridade da instrução recebida pela mulher, outros no fato de os homens abusarem do poder que receberam de Deus; outros ainda, talvez os mais avançados, buscaram as essas raízes na miséria material e moral do mundo burguês. Mas essas raízes, no seu sentido mais profundo, seriam localizadas e trazidas à luz do dia, pela primeira vez, através das elaborações teóricas de Karl Marx, Friedrich Engels e August Bebel .

Engels assinala que o surgimento da propriedade privada constitui a raiz do patriarcalismo e do Estado patrimonialista. A mulher passa a ser a primeira propriedade. À medida que os bens coletivos convertem-se em propriedade privada, é selada a supremacia do homem como pater familia, a partir da substituição da filiação feminina pela masculina e do direito hereditário materno pelo paterno. A família patriarcal nasce com a propriedade privada e modifica toda a estrutura da sociedade gentílica. A luta pela libertação plena da mulher, nessa perspectiva, é a luta contra a propriedade privada, no contexto de uma sociedade dividida em classes, em que a mulher das classes subalternas é duplamente oprimida: em casa e no trabalho.
O avanço das forças produtivas tornou o trabalho mais leve e suscetível a empregar a mão-de-obra de mulheres e crianças, o que amplia o exército industrial de reserva, acirra a concorrência entre trabalhadores e trabalhadoras e barateia o custo da força de trabalho.Os entraves à integração social da mulher impostos pelo Capitalismo nascente, como assinala Heleieth Saffioti, não são orquestrados no uníssono da uniformidade. Seu órgão regulador consiste na competição cada vez mais acirrada, em que a mulher é usada como objeto de barganha para o rebaixamento de salários e ampliação do que Marx chama de “exército industrial de reservas”. Trata-se de um elemento indispensável para o funcionamento do sistema, pois o desemprego estrutural acirra a concorrência e constitui um instrumento de barganha para o rebaixamento dos salários, de pressão para o aumento da produtividade e da decorrente extração de mais-valia. O fantasma do desemprego assombra o trabalhador, levando-o a se sujeitar a trabalhar até o limite de suas forças.
Saffioti observa que as oportunidades de trabalho oferecidas às mulheres “variam em função da fase de desenvolvimento do tipo social em questão ou, em outros termos, do estágio de desenvolvimento atingido por suas forças produtivas” . Seu grau de desvantagem na competição pelo trabalho na sociedade capitalista nascente permite aos capitalistas uma extração insaciável de mais-valia absoluta pela maximização da produtividade, ampliação da jornada de trabalho e rebaixamento de salários das mulheres.
A luz das novas idéias preconizadas pelo Iluminismo e pela Revolução Francesa, as mulheres que já haviam deixado suas marcas na História através das lutas contra os Estados absolutistas do Ocidente: eis que surge o primeiro movimento feminista, onde francesas e britânicas tomam para si a luta pelo voto feminino – o movimento sufragista. As idéias revolucionárias absorvem a questão de gênero e servem de motor para o período de efervescência que se segue, colocando as mulheres na frente de batalha pela transformação da sociedade na Revolução Francesa em 1789 e já com contornos de classe na Comuna de Paris em 1871 e na Revolução Russa em 1917. A Comuna de Paris sublinhou o protagonismo das mulheres, à medida que estas interpuseram frente aos canhões, impedindo que as tropas de Thiers desarmassem Paris; mas é na Revolução Russa que a dialética entre a exploração humana e a opressão da mulher se faz sentir com mais força. Surge no seio do Partido Bolchevique uma vanguarda de mulheres em defesa dos direitos da mulher, como Clara Zetkin, Alexandra Kollontai e Nadezhda Krupskaya, que refletem a questão de gênero na esfera da quebra de parâmetros deflagrada pela revolução.
Em A História da Revolução Russa, Leon Trotsky coloca em evidência o protagonismo orquestrado por esta vanguarda feminina no calor da efervescência social que culminou na eclosão da revolução russa em outubro de 1917. Em 23 de fevereiro, passando por cima das diretrizes dos comitês de bairro que desaconselhavam os trabalhadores a entrar em greve, frente à ameaça latente de um enfrentamento aberto, as operárias de algumas fábricas do ramo têxtil resolveram declarar greve. A greve se alastrou por outros setores da economia fabril, alcançando a adesão de 240.000 operários no perímetro de 48 horas. A greve foi marcada por manifestações de mulheres operárias com consignas que clamavam por pão e refutavam a autocracia e a guerra, sendo rapidamente incorporadas por uma quantidade massiva de trabalhadores insatisfeitos com os imperativos e a miséria imposta pelo regime autocrático do Czar. Nas palavras de Trotsky:

O soldado da cavalaria se eleva por cima da multidão, e seu espírito se ergue separado do grevista pelas quatro patas da besta. Uma figura vista desde baixo aparece sempre mais ameaçadora e terrível. A infantaria está ali mesmo, ao lado, mais próxima e acessível. A massa tenta se aproximar, olhá-la nos olhos, envolvê-la com seu alento inflamado. A mulher operária representa um grande papel na aproximação entre os operários e os soldados. Com maior audácia que o homem, penetra nas fileiras dos soldados, pega os fuzis com suas mãos, implora, quase ordena: ‘Desviem as baionetas e venham conosco’. Os soldados se comovem, se envergonham, parecem inquietos, vacilam; um deles se decide: as baionetas desaparecem, as fileiras se abrem, estremece no ar um urra entusiasta e agradecido; os soldados se vêem cercados de gente que discute, repreende e incita: a revolução dera outro passo a frente. .

No governo provisório de Alexandre Kerensky, as mulheres conquistaram o direito ao sufrágio, uma demanda ainda vigente em países mais desenvolvidos, como a Inglaterra e os EUA, que só realizariam essa proeza em 1918 e 1920, respectivamente. No campo dos direitos civis, houve muitos avanços, tal como assinala Andrea D´Atri:

Com a revolução proletária de outubro de 1917, as mulheres soviéticas conquistaram, antes das mulheres dos países capitalistas, o direito ao divórcio, ao aborto, à eliminação do poderio matrimonial, à igualdade entre o matrimônio legal e o concubinato, etc. (...) Porém a conquista mais importante da revolução não foram as leis, mas ter assentado as bases para pleno e verdadeiro acesso da mulher aos domínios culturais e econômicos .

Se bem a revolução russa brindou grandes conquistas no que tange às mulheres, o grau de emancipação tem como premissa fundamental a organização de mulheres comprometidas com a luta pela igualdade entre os sexos. Elas foram precursoras de lutas políticas no interior dos comitês de bairro, dos soviets e do Partido Bolchevique. Não é tarefa simples transformar valores há séculos enraizados no imaginário cultural de uma sociedade. Esse espaço tinha que ser conquistado. Nesse intuito, algumas mulheres se destacaram e deixaram a sua contribuição na malha de produções teóricas que problematizam a emancipação da mulher sob o prisma do marxismo.
Alexandra Kollontai inaugura um debate acerca das tarefas rumo à emancipação da mulher na URSS dentro e fora do PCUS, que se desenrolaram entre 1920 e 1928. O essencial de sua obra consiste na construção de uma nova moral baseada no reconhecimento dos direitos e da dignidade da mulher em pé de igualdade com relação ao homem em detrimento da moral sexual da velha sociedade que relegava a mulher à condição de escrava.

Ao examinar os efeitos da revolução russa sobre a temática da emancipação da mulher, Saffioti ressalta:

A experiência soviética demonstra que, se a libertação da mulher e a sua conseqüente integração plena na sociedade não se realizou completamente sob o regime socialista, foi neste regime que ela atingiu o seu maior grau. Deve-se destacar, nesse processo, que só nas sociedades de economia coletiva a maternidade pode, efetivamente, ser considerada um encargo social .

Dada uma escassez de recursos reais do Estado, em meio à miséria dos anos que se seguiram após a revolução de outubro em plena guerra civil, de acordo com Trotsky, a família não pode ser abolida, pois a emancipação da mulher era inviável no “terreno da miséria socializada ”. A ascensão da burocracia stalinista ao poder do Estado colocou em marcha uma guinada conservadora, que tratou de liquidar os principais direitos conquistados pelas mulheres na revolução de outubro. Segundo D´Atri:

A partir de 1926, sob o regime de Stalin, se instituiu novamente o matrimônio civil como única união legal. Mais tarde é abolido o direito ao aborto, junto à supressão da seção feminina do Comitê Central e seus equivalentes nos diversos níveis de organização partidária. Em 1934, é proibida a homossexualidade e a prostituição se converte em delito. Não respeitar a família se converte em conduta ‘burguesa’ ou ‘esquerdista’ aos olhos da burocracia termidoriana .

O conservadorismo da burocracia liquidou os direitos e a organização das mulheres, perseguiu e exterminou oposição, colocou sob ilegalidade os soviets , exaltando o papel da mulher enquanto mãe e dona de casa, impedindo as mulheres de se organizar politicamente. Porém, houve mulheres importantes, tanto no interior dos PC´s, como sobre bases autônomas, que travaram uma luta contra-hegemônica exaltando a necessidade histórica da emancipação da mulher em termos marxistas. As trotskistas Natália Sedova e Nadezhda Joffe se destacaram no combate ao stalinismo; Pen Pi Lan na China se postula contra a opressão de Chiang Kai Shenk no decorrer do processo revolucionário chinês na década de 1940, e depois se debruça sobre o combate à censura e à repressão desferida por Mao Tse Tung. No Brasil, Patrícia Galvão torna-se um ícone feminista a partir da década de 1930, por sua aspiração à libertação da mulher, em uma combinação entre o questionamento da ordem patriarcal e a centralidade da causa operária.
No período entre as duas revoluções que fizeram ecoar pelo mundo novas formas de se pensar a sociedade, o feminismo atravessa o oceano, chegando às Américas em grande estilo, precisamente no coração do que viria a ser a grande potência hegemônica mundial. Esse feminismo essencialmente europeu, que tinha como alicerce os sufragismos francês e inglês, vai de encontro com feminismo antiescravista já presente no território estadunidense, se colocado à prova na declaração de Sêneca Falls em 1848, que clamava pela igualdade entre os sexos e raças. A potência antagônica ao processo de inserção e superexploração do trabalho feminino no norte dos EUA, que se imprime sob as bases da divisão sexual do trabalho, pela assimetria salarial e a distinção de funções, se dá pela maneira como as mulheres passam a se organizar politicamente. Em Nova Iorque , em 8 de março de 1857, uma greve pela redução da jornada de trabalho e igualdade salarial entre homens e mulheres, protagonizada por operárias do setor têxtil, foi duramente reprimida, com o saldo de 130 mulheres queimadas vivas. O Dia Internacional da Mulher é instituído no dia 8 de março, prestando as suas homenagens.
A questão da emancipação da mulher ganha sobressalto nos debates com o despertar dos movimentos sociais na virada de 1960 para 1970. O maio francês em 1968 trouxe ao cenário os estudantes, que a partir das universidades Sorbonne e Nanterre se sublevaram em recusa à forma de existência social que lhes era imposta, despontando o despertar dos movimentos sociais, com bastante adesão do movimento operário, repercutindo internacionalmente, inclusive no Brasil. O documentário Classe de Luta , realizado pelo grupo Medvedkine, ilustra cenas do maio de 1968, acompanhando a greve da fábrica Yema e a criação de uma delegação sindical da CGT em uma fábrica de relógios – onde predomina a força de trabalho feminina, pois o labor exige a maleabilidade de pequenas mãos. Havia uma grande quantidade de mulheres mobilizadas, que passavam a se sindicalizar, a despeito das resistências e dos obstáculos impostos pela patronal e por seus próprios companheiros.
Os episódios que marcaram esse período serviram de estopim para o surgimento de novos atores sociais, nas universidades, nas fábricas e em múltiplos ramos da sociedade. Nos EUA, nesse mesmo período surgem o Black Power e os Black Panthers, que se levantam contra o racismo e em 1969, ganha força o combate à violência contra homossexuais, servindo de combustível ao movimento LGBT .
Para as mulheres, era o momento de “rasgar os sutiãs”; o ano de 1968 nos Estados Unidos, tendo como epicentro a Universidade de Berckley na Califórnia, foi palco de manifestações feministas; mulheres que refutavam o moralismo da classe dominante, impregnado por um ideário machista. Eclode uma série de manifestações, consagradas como “Revolução Sexual”, que visava subverter o status quo e rechaçar a guerra do Vietnã. Sua repercussão adquire dimensões internacionais. Na Itália, mulheres saem às ruas em manifestações massivas pelos direitos da mulher, tendo como eixo a luta pela legalização do aborto, que a despeito das pressões contrárias do Vaticano, obtém êxito em 1972. Eis a segunda onda do feminismo, que sela a insurgência de novas teorias, como o “feminismo radical”, de Shulamith Firestone, Kate Millet, Betty Friedman, etc.
Nesse momento, a resistência às ditaduras militares na América Latina se enfrenta com a repressão aberta aos movimentos sociais e ao movimento de massas. A luta de classes aparece no cenário brasileiro com muita força, sobretudo no período entre 1978 e 1980 quando emerge um processo de lutas do movimento operário, marcado por greves “selvagens” , ocupações de fábrica, piquetes, militância clandestina e intensa politização, culminando na greve política de 1979, quando a luta contra a ditadura alcançaria uma dimensão mais radicalizada e tendências revolucionárias se faziam sentir no calor dos acontecimentos que marcaram o período. A obra de Heleieth Saffioti está munida pela subjetividade transformadora que se alastra pela intelectualidade que se aproxima do marxismo, e deposita nesse processo as esperanças de uma revolução social. Engajada, ela demonstra como a questão da mulher se vincula visceralmente à questão operária, sobretudo quando mulheres são presas e torturadas pela militância política.
Confluindo com as idéias de Saffioti, que elucidam o binômio exploração-opressão como questões inseparáveis, Andrea D´Atri compreende que o período que se encerra em 1980 apresenta uma mudança na subjetividade que aponta para caminhos opostos. De acordo com a autora:

O processo revolucionário que sacudiu o Oriente e o Ocidente simultaneamente entre 1968 e o início dos anos 80 foi fechado mediante concessões às massas, reformas nos países centrais e por golpes contra-revolucionários e sangrentos nos países periféricos. Para tornar isso possível as classes dominantes contaram com a colaboração das direções do stalinismo, da social-democracia e do nacionalismo burguês, que impuseram desvios, derrotas e traições à mobilização revolucionária e que permitiu ao imperialismo se rearmar e, no início da década de 1980, lançar uma contra-ofensiva econômica, política e militar contra o seu próprio proletariado, as massas semicoloniais e os Estados operários burocratizados. Foi o início do que veio a ser chamado de a “ofensiva neoliberal”. Por meio do “neoliberalismo” (...) a burguesia mundial tentou sair da crise estrutural que primava no sistema capitalista nos últimos anos .

As lutas revolucionárias sofrem um desvio que brinda o triunfo das democracias no sistema capitalista. Prima um crescente desvio e cooptação do movimento de mulheres à iniciativa privada, pela via de organizações não-governamentais (ONG´s) e pela incorporação a partidos que disputam as eleições – se fazendo valer da questão da mulher para alavancar a propaganda eleitoral e angariar mais votos entre as cidadãs. Assim como as estruturas de trabalho, os grupos ditos feministas atomizam-se, e colocam em relevo o predomínio de políticas afirmativas, que buscam maior inserção de mulheres ao mercado de trabalho, nivelamento de salários e oportunidades sem questionar o sistema que oprime as mulheres nos postos mais precários de trabalho. Cláudia Mazzei Nogueira se inspira nas transformações neoliberalismo para compreender a mulher na atual divisão sexual do trabalho. Para ela:

Os resultados da reestruturação produtiva, no contexto da mundialização do capital, são complexos e contraditórios, atingindo de forma bastante diferenciada a trabalhadora e o trabalhador. (...) Essa presença feminina se dá mais no espaço dos empregos precários, em que a exploração, em grande medida, encontra-se mais acentuada (...) na Europa, na América Latina e no Brasil. O impacto das políticas de flexibilização do trabalho, nos termos da reestruturação produtiva, tem-se mostrado como um grande risco para toda a classe trabalhadora, em especial para a mulher trabalhadora .

O processo de reestruturação produtiva decorrente da ofensiva neoliberal aponta para uma nova dinâmica nas relações capital-trabalho, dando vazão a uma nova categoria de trabalho: o setor de prestação de serviços. Atomizado e disperso, o trabalhador de novo tipo encontra empecilhos para a sindicalização e a organização política. O contrato de trabalho é terceirizado e o trabalhador já não mais possui vínculo empregatício com o local de trabalho. Cresce a rotatividade, as leis trabalhistas são flexibilizadas, o desemprego estrutural é um elemento disciplinador, os contratos de trabalho são temporários e a demissão já não precisa ser justificada.
No Brasil a flexibilidade da jornada de trabalho feminino é justificada pela legitimação social acerca da compatibilização da mulher entre o núcleo familiar e o trabalho.Outra justificativa comumente aceita para precarizar o salário feminino é a idéia de um salário complementar à renda familiar, o que com a redução e a flexibilização de salários e o crescente desemprego, em grande medida não se sustenta, pois o trabalho feminino deixa de ser complemento, tornando-se indispensável para garantir a subsistência familiar.
O capitalismo e a emancipação da mulher caminham em vértices opostos, já que a preservação do sistema depende da força de trabalho feminina e de mecanismos que assegurem a sua submissão, como a hierarquização dos salários, os contratos flexíveis, etc. A chave para se compreender a questão da mulher está na gênese social e histórica que compreende um correlato duplo entre a exploração e a opressão da mulher. As duas questões não podem aparecer separadas. O Sujeito transformador deve resgatar o papel histórico da mulher nos processos revolucionários e nos momentos em que a sua luta se combina com a luta pela emancipação de toda a humanidade, tanto na teoria, como na prática.


Bibliografia:

ALAMBERT, Zuleika (1986). Feminismo – O Ponto de Vista Marxista.Nobel, São Paulo-SP.
D’ATRI, A.(2008). Pão e Rosas –Identidade de Gênero e Antagonismo no Capitalismo. Iskra, São Paulo-SP.
ENGELS, F. (1979). “A Origem da Família, da Propriedade Privada e do Estado”, 5ª Edição, Editora Civilização Brasileira, Rio de Janeiro – RJ
__________“Engels to Guillaume-Shak”, Marx and Engels on the Trade Union, Kenneth Lapides, www.marxists.org.
MARX, K.. A Santa Família ou Crítica da Crítica-Crítica. .In: Sobre a Mulher. Global. s/d
NOGUEIRA, C. M. (2004). A Feminização no Mundo do Trabalho. Autores Associados. Campinas-SP
SAFFIOTI, H.B. (1976). A Mulher na Sociedade de Classes – Mito e Realidade. Vozes, São Paulo-SP
TROTSKY, L (1985). Historia de la Revolución Rusa, Sarpe, Madri.
___________ (1938). La Revolución Traicionada. Claridad, Buenos Aires.
ZETKIN, C (1934). Lênin e a Questão Sexual In: Assim foi Lênin, Moscou

As mulheres do Pão e Rosas juntas ao CACH da Unicamp saem às ruas pra gritar: Fora Dom José Cardoso Sobrinho! Aborto é direito, estupro é crime!

Na semana passada aconteceu, em Campinas - SP, o 4º Encontro de Bioética da Igreja Católica, organizado pela Comunidade Católica Pantokrator, cujo um dos objetivos é impulsionar um movimento contra a descriminalização do aborto e contra o casamento homossexual. Um dos eventos mais escandalosos deste encontro foi o debate sobre o aborto, com a presença do ex-arcebispo de Olinda e Recife, D. José Cardoso Sobrinho, que diante da gravidez de uma criança de 9 anos, que esperava gêmeos, em decorrência de estupros do padrasto, disse publicamente que o "o aborto é um crime pior do que o estupro", em que segundo a própria organização do evento o clérigo esclareceria "a verdade sobre o caso da menina de Alagoinha".

Nós, mulheres do grupo Pão e Rosas, prontamente atendemos ao chamado do Centro Acadêmico de Ciências Humanas (CACH) da Unicamp para organizarmos um ato em defesa do direito democrático do aborto. Ao lado de mais de 40 estudantes universitários e secundaristas, professores da rede estadual, trabalhadores, organizações de esquerda como a LER-QI e o PCB, e das companheiras do Coletivo Feminista de Campinas, gritamos em alto e bom som: "Direito ao nosso corpo, legalizar o aborto!". Lamentamos a ausência neste ato dos demais setores que também se colocam em defesa dos direito das mulheres, como as companheiras do Movimento Mulheres em Luta, da Conlutas, assim como partidos como PSTU e PSOL, mas esperamos que nos próximos passos esses e outros setores possam se somar a essa luta. Sabemos que no último período há uma ofensiva contra não só os direitos dos trabalhadores, como as demissões e a precarização em decorrência da crise econômica, mas também sabemos que os setores mais conservadores de nossa sociedade têm se organizado contra os direitos das mulheres. Prova disso são as marchas, cada vez mais comuns, contra o direito ao aborto, como a que aconteceu em Brasília, no final de agosto deste ano, contando, inclusive, com financiamento do dinheiro público. É preciso, desde já, organizarmos uma ampla frente única de grupos de mulheres, partidos e organizações de esquerda, centrais sindicais e sindicatos, movimentos populares e entidades estudantis para colocarmos de pé uma forte campanha em defesa dos direitos das mulheres! Nesse sentido, saudamos o CACH - Unicamp que tem levantado as bandeiras das mulheres e se colocado de maneira ativista em sua defesa.

Basta de mulheres mortas por abortos clandestinos!! Abaixo a ofensiva contra os direitos das mulheres! Aborto é direito, estupro é crime!! Basta de violência contra as mulheres!

segunda-feira, 2 de novembro de 2009

Sobre o caso da Uniban em São Bernardo do Campo

Por Iaci Maria, estudante pré-vestibular e militante do grupo de mulheres Pão e Rosas (Araraquara)

No último dia 22 um acontecimento grotesco – na falta de outro adjetivo que descreva o fato – parou a Uniban, Universidade Bandeirantes de São Paulo, localizada em São Bernardo do Campo: uma estudante chegou à faculdade com uma roupa curta, vista como “inapropriada” pelos demais universitários. Isso foi suficiente para despertar a selvageria da massa de estudantes que ali se encontravam. Os estudantes (tanto homens, quanto mulheres) perseguiram a aluna enquanto entoavam em coro “Puta! Puta!”, tendo alguns chegado até ao absurdo de incitar o estupro! A jovem teve que se esconder em sua sala de aula, de onde chamou a polícia, e só conseguiu deixar a Universidade vestindo um jaleco de professor, escoltada por seis policiais.

É, no mínimo, um absurdo que em pleno século XXI estudantes universitários tenham uma atitude tão incivil, reacionária e coberta de falso moralismo. Isso mostra o quanto o machismo é naturalizado em nossa sociedade e, o mais alarmante, em nossas mulheres.

Diante disto, fica cada vez mais claro que o fim do capitalismo é o primeiro passo para o fim da opressão da mulher, pois é este sistema que impõe um padrão de beleza e se apropria do nosso corpo, mercantilizando- o. Mostram mulheres seminuas em propagandas de bebidas, desodorantes, entre outras dezenas de produtos como uma jogada de marketing, e a sociedade aprova. A mídia abusa do uso de mulheres nuas em filmes e novelas para aumentar o ibope, e a sociedade aprova. Mas, quando uma estudante chega à sua Universidade (que mesmo sendo particular é um espaço público) usando roupas curtas, desaprovam, dizendo que ela está “inapropriada”, “provocando”, “querendo ‘causar’”, e a insultam, hostilizam, ameaçam estuprá-la, obrigando-a a se retirar da Universidade cercada por policiais e a base de spray de pimenta.

Eu, enquanto mulher e cidadã, fico chocada com essa sociedade que adora vangloriar as conquistas das mulheres ao longo dos anos (dentre estas, o direito de usar roupas curtas e justas) e oprime tanto, de forma tão animalesca uma mulher que decide usufruir deste seu direito. Dessa forma, dão margem à violência, justificando- a e ainda culpando a própria mulher pelo assédio que sofre.

E é por isso que nós, mulheres, militantes ou não, feministas ou não, devemos nos empenhar em abrir um diálogo com essas mulheres que oprimem sem notar o quanto são oprimidas, e fazê-las enxergar essa realidade feminina. Devemos denunciar a violência contra a mulher, tão intrínseca e recorrente! Devemos lutar pelo fim do sistema capitalista, esse sistema opressor, tendo em vista que somente o fim deste abrirá caminhos para a real libertação feminina! Mulheres, lutemos para nos tornarmos livres da violência, da opressão e, principalmente, da culpa!

domingo, 1 de novembro de 2009

Honduras: "Retomar o caminho de luta e mobilização"

La Verdad Obrera entrevistou Andrea D’Atri, dirigente nacional do PTS(Partido dos Trabalhadores Socialistas), que encontra-se em Tegucigalpa.

Na última sexta-feira, depois de um novo ultimato de Zelaya o qual não teve nenhuma repercussão entre os golpistas, a equipe de negociação do presidente deposto deu por concluído o denominado Diálogo Guaymuras. A quatro meses do seqüestro e expulsão de Manuel Zelaya, o regime golpista encabeçado por Roberto Micheletti e o próprio presidente deposto tinham chegado em vários acordos. Este último – que já havia aceitado quase todos os pontos exigidos pelos golpistas no diálogo – chegou, inclusive a cojitar a possibilidade de ser restituído depois das eleições fraudulentas. Contudo, a intransigência dos golpistas no que concerne a sua restituição voltou a atravancar a situação.

No marco deste novo impasse nas negociações e quando se completam quatro meses de golpe, chegaram a Tegucigalpa, Thomas Shannon – secretário de Estado adjunto para América Latina dos EUA – e Dan Restrepo – conselheiro adjunto da Segurança Nacional da Casa Branca. Após a visita da OEA (Organização dos Estados Americanos), que se retirou na semana passada sem resultados, chega esta nova missão para pressionar por um novo acordo que sane a crise aberta pelo golpe cívico militar. As missões dos EUA e da OEA não têm outro objetivo senão o de dar o golpe final para fechar um acordo reacionário no qual a restituição de Zelaya termine endossando o resultado eleitoral fraudulento, legitimando o regime golpista.

Qual a situação das negociações entre Zelaya e os golpistas?

Como puderam ver na mídia, na sexta passada a comissão de Zelaya deu por concluída as negociações do chamado Diálogo Guaymuras. As comissões de ambas as partes tinham chegado em vários acordos, porém finalmente voltou a travar um diálogo em torno da restituição de Zelaya. E, ainda que a imprensa golpista hondurenha relacione este resultado à intransigência dos zelayistas, o certo é que Zelaya quem vem aceitando todas as exigências colocadas pelos golpistas na mesa de negociações. Por começar, aceitando este diálogo mesmo quando ainda havia estado de sítio; mas aceitando também as exigências de marchar para um governo de unidade nacional, a impunidade para os golpistas e a renúncia de convocar uma assembléia constituinte. Apesar de todas estas concessões, os golpistas continuam relutantes em aceitar a restituição de Zelaya e, até agora, mantêm a proposta de um governo de transição, encabeçado por uma terceira pessoa, ou seja, nem Zelaya nem Micheletti.

Depois de quatro meses, os resultados obtidos por negociação – impulsionada pela OEA, o imperialismo e os governos da região – mostram que o diálogo só serviu para fortalecer os golpistas. E, ainda que, no início vários governos tenham dito que desconheciam o resultado das próximas eleições de 29/11, à medida em que o tempo passa e as eleições se aproximam, alguns já começam a manifestar seu repúdio à fraude eleitoral. Há um mês, por exemplo, na assembléia de emergência da OEA, tanto os EUA como outros países se abstiveram de definir qual será sua posição frente aos resultados das próximas eleições, deixando aberta a possibilidade de dar legitimidade internacional.

Entre o diálogo e a repressão, os golpistas avançam na campanha eleitoral. Não é assim?

O que se pretende impor é um clima de normalidade e canalizar todos para as eleições fraudulentas de final de novembro. E, ainda que se tenha terminado formalmente o estado de sítio, a repressão se mantém. O exemplo mais recente é o massacre na colônia Ramón Amaya Amador, onde quatro jovens foram mortos a tiros; um crime que a impresa tratou de vincular à suspeitos ajustes de conta de delinqüentes, mas que ninguém acredita, já que dois dos assassinados eram irmãos e tinham uma barbearia no bairro, o terceiro era um trabalhador amigo dos anteriores e o quarto foi assassinado por ter passado no lugar e presenciado o ocorrido.

Além disso, alguns deles eram filhos de uma conhecida ativista antigolpista e este bairro, localizado à leste de Tegucigalpa, se destacou por sua resistência. Nos últimos dias, em circunstâncias não esclarecidas, foram assassinados o sobrinho de Micheletti, um coronel das Forças Armadas e, também, foi seqüestrado o empresário e político Alfredo Jalil, que é o pai do vice ministro de Defesa do regime golpista. Todo aquele, no marco da repressão seletiva contra a resistência, pode ser utilizado pelo mesmo regime para desencadear uma verdadeira “caça as bruxas” contra o ativismo antigolpista. Por isso, a insistência de Zelaya na resistência “pacífica” e em confiar numa saída negociada, não faz outra coisa que desarticular qualquer possibilidade de resposta da resistência hondurenha e promover a desmobilização.

Quais perspectivas se apresentam a partir desta situação?

Parece-me que o que temos visto em cada rodada de negociação é que, em todos os casos, é o regime golpista que sai fortalecido. Significa que os acordos são uma variante que os setores que têm se mobilizado contra o golpe, sofrendo a repressão, não devem aceitar. As professoras e professores, os sindicatos que estão em resistência, a juventude da universidade e dos bairros, as mulheres e o povo que se mobilizam contra o golpe não alcançarão, com estes diálogos, nenhuma resposta à suas demandas. Por isso, é preciso redobrar as mobilizações e o apoio do povo hondurenho contra a armadilha das negociações e da saída eleitoral fraudulenta, que não busca outra coisa que proteger o regime político oligárquico de Honduras. Para isso, é necessário que a Frente Nacional de Resistência rompa definitivamente com qualquer expectativa de diálogo e retome o caminho de luta e mobilização nas ruas, com a perspectiva de organizar um boicote ativo às eleições. É indispensável que, em nossos respectivos países, redobremos a mobilização e apoio à luta do povo hondurenho.