Todo começo de ano
acontecem, nas universidades, as recepções dos ingressantes, conhecidas como “Calouradas”. Nós, do grupo de mulheres Pão
e Rosas, atuamos, construímos e intervimos nas calouradas que estão
acontecendo na USP, Unicamp e UFMG.
Desde
a universidade, pautamos nossa atuação sempre a partir da necessária e
fundamental aliança operário-estudantil! Sabemos que nas universidades as
opressões são reproduzidas entre professores, estudantes e
funcionários, mas principalmente tendo como base o machismo
institucional desde as reitorias e os governos por trás delas, que reproduzem
a opressão, se calam e são coniventes. São responsáveis pela falta de
estrutura física (iluminação, podas, circulares noturnos etc) e também de permanência, em que os mais afetados são os
jovens de escola pública que furaram o filtro social do vestibular e precisam
da assistência da universidade para permanecer estudando. A moradia estudantil
não atende à demanda todos os anos, a ajuda de custo das bolsas são baixas,
muitos tendo que trabalhar e estudar, sendo o caso de mães estudantes ainda
pior, pois não recebem licença maternidade, tendo que abandonar pesquisas e se
deparam com a inconciliável tripla jornada de trabalho: trabalho, estudo e
cuidado da criança. Também por política da estrutura de poder há o “uso
da terceirização como ferramenta”[i],
colocando em condições precárias de trabalho na universidade milhares de
trabalhadores, que são na maioria mulheres e negras, não por acaso.
Militamos
no Pão e Rosas para combater ao lado das estudantes e trabalhadoras a opressão
que enfrentam cotidianamente dentro e fora da universidade, como os trotes
opressores, ressaltando a importância de combatermos todas as formas de
opressão, pois a opressão não tem fim enquanto ainda
tivermos mulheres deixando a vida em trabalhos subvalorizados, sendo
invisíveis para a ampla maioria dentro da Universidade! Por isso nos
ligamos a essas trabalhadoras, aos trabalhadores de fora da
universidade e à toda ampla juventude que não furou o
filtro de classe do vestibular. É ao lado desses setores, dessas mulheres, que
o Pão e Rosas chama todas as estudantes a se organizar!
Em
2014, ano da Copa e último ano do mandato de Dilma – que é parte dos
dez anos de governo PT –, nossa intervenção nas calouradas não passou por
fora do que significou esse governo de uma mulher e o que significa a
organização das mulheres hoje, que sentem mais do que nunca os efeitos da
aliança do governo com a FIFA e dos investimentos públicos na Copa,
enquanto milhares de mulheres, jovens e trabalhadoras, em sua maioria negras,
seguem sendo agredidas, sofrendo com a precariedade e os assédios do transporte
público, morrendo por abortos clandestinos, morrendo e vendo seus filhos
morrerem nas filas do SUS, a falta de creches. Atuamos nas calouradas, também
como parte de nossa preparação para o 8 de março, colocando que da Copa abrimos
mão, lutamos pelos direitos das mulheres, contra a Dilma e o patrão!
Na USP, fomos parte
da organização do “Pedágio contra o trote machista!” no Curso de História e da
Faculdade de Educação, que foi parte da campanha financeira organizada para ajudar
no tratamento de Suzane, estudante de História que sofreu uma brutal violência
machista em 2013, e segue necessitando de fisioterapia devido às sequelas de
sua agressão. Organizamos também no curso de Letras uma importante roda de
apresentação do grupo, junto a companheiras trabalhadoras, militantes do Pão e
Rosas de fora da universidade, que contou com a presença de cerca de 50
estudantes e trabalhadoras, que se interessaram em discutir o combate à
opressão contra a mulher desde uma perspectiva classista e antigovernista,
buscando entender as raízes de nossa opressão na estrutura capitalista de nossa
sociedade, e a necessidade de nossa luta ser anticapitalista para conseguirmos
emancipar as mulheres e os trabalhadores. Também fizemos uma reunião aberta para
organizar o 8 de março, e chamamos todas as companheiras que buscam se colocar
de maneira classista, antigovernista e anticapitalista a compor nosso bloco
nesse 8 de março!
Na Unicamp e na
UFMG, atuamos nas calouradas também desde as entidades militantes que compomos:
o CACH (Centro Acadêmico de Ciências Humanas) e o CAFCA (Centro Acadêmico da
Filosofia), respectivamente. Somos partes dessas gestões por acreditar na
necessidade de entidades estudantis militantes e combativas, que se coloquem na
linha de frente do combate ao machismo, racismo e homofobia; aos trotes que
reproduzem essas opressões, e ao lado dos trabalhadores terceirizados, lutando
por suas efetivações, sem necessidade de concurso público.
Com
essa perspectiva, organizamos na Unicamp a Mesa “Queimando
Armários”, que contribuiu com o debate no combate às opressões
homofóbicas, com um diálogo aos constantes episódios de homolesbobitransfobia[ii] e
como esses setores devem se ligar aos trabalhadores para combater a opressão.
Nessa Mesa contamos com a presença de Virgínia Guitzel na mesa, militante
travesti do Pão e Rosas, e, após, também organizamos uma festa com o mesmo
tema, que ocorreu de maneira auto-organizada, livre e sem expressão de
opressões. Somos parte também, da Frente Feminista da Unicamp e, junto às outras
companheiras que compõem essa frente, organizamos uma mesa de
lançamento da FFU. Desde o Pão e Rosas, compomos a mesa com Silvana Araújo,
militante do grupo que foi linha de frente da luta das terceirizadas da USP, e
que dialogou com a necessidade da aliança entre as estudantes e as
trabalhadoras e deixou claro que o governo Dilma, mesmo sendo uma mulher, não
governou para as mulheres, e sim para o patrão!
Na UFMG, onde
estamos a frente das Secretaria de Mulheres e LGBTTI e Secrataria da Questão
Negra do CAFCA, compusemos a mesa “Da Copa abrimos mão! Queremos saúde,
transporte e educação!”, parte da calourada organizada pelo CAFCA. Colocamos
nossa perspectiva da necessidade das mulheres se organizarem de maneira
independente dos governos e reitorias, desde a perspectiva classista e
antigovernista, pelos direitos das mulheres desde os mais históricos e
urgentes, como o direito ao aborto legal, e que este seja garantido por um SUS
100% estatal, que seja controlado pelas trabalhadoras e usuárias. Colocamos
também a necessidade de lutarmos contra o trabalho precário, pela efetivação
das trabalhadoras terceirizadas, tudo isso se aliando aos trabalhadores e todas
mulhere e juventude de fora da universidade. Como parte da calourada da
Filosofia, colaboramos com a organização a festa “Korpo de Batalha”, em
homenagem a Kaique Augusto, jovem negro e homossexual assassinado em SP em
janeiro deste ano. Intervimos na assembleia da Filosofia, que votou a
composição de um bloco para o 8 de março com os eixos centrais: legalização
do aborto, SUS 100% estatal sob controle dos trabalhadores e usuários,
efetivação dos trabalhadores terceirizados sem concurso, a partir de uma
organização antigovernista e aliada aos trabalhadores. Também tivemos uma
importante intervenção na calourada governista organizada pelo DA FAFICH, onde
deixamos bem claro que a saída para o combate às opressões se da a partir da
organização independente das estudantes aliadas às trabalhadoras, sem nenhuma
confiança nas diretorias e reitorias, em resposta a intervenção da professora
Marlize Matos, intelectual do PT e da MMM, professora do curso de Ciências
Sociais, que disse que o combate às opressões deve ser dado de maneira
institucional, e é por isso que as estudantes devem se organizar.
Chamamos todas as
mulheres, estudantes e trabalhadoras, que participaram das calouradas, viram
nossa intervenção e acreditam na necessidade da aliança operário-estudantil e
na organização desses setores de maneira classista e antigovernista,
independente dos governos, reitorias e patrões, a conhecer e militar no Grupo
de Mulheres Pão e Rosas! Pelo fim do vestibular, contra o trabalho precário,
pela efetivação de todas as trabalhadoras terceirizadas, sem concurso público!
Venham fazer parte também de nosso bloco nesse 8 de março, pois da Copa eu abro
mão! Pelos direitos das mulheres, contra a Dilma e o patrão!
[i] Foi assim que
o reitor da USP, Zago, usou esse termo ao responder um questionamento sobre a
terceirização na universidade, que completou dizendo que não importa as
condições precárias desses milhares de trabalhadores
[ii] Refere-se à
situações de violência/opressão aos setores homossexuais, lésbicas, bissexuais,
transexuais e transgêneros.
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