terça-feira, 4 de março de 2014

Pão e Rosas nas calouradas


Todo começo de ano acontecem, nas universidades, as recepções dos ingressantes, conhecidas como “Calouradas”. Nós, do grupo de mulheres Pão e Rosas, atuamos, construímos e intervimos nas calouradas que estão acontecendo na USP, Unicamp e UFMG.

Desde a universidade, pautamos nossa atuação sempre a partir da necessária e fundamental aliança operário-estudantil! Sabemos que nas universidades as opressões são reproduzidas entre professores, estudantes e funcionários, mas principalmente tendo como base o machismo institucional desde as reitorias e os governos por trás delas, que reproduzem a opressão, se calam e são coniventes. São responsáveis pela falta de estrutura física (iluminação, podas, circulares noturnos etc) e também de permanência, em que os mais afetados são os jovens de escola pública que furaram o filtro social do vestibular e precisam da assistência da universidade para permanecer estudando. A moradia estudantil não atende à demanda todos os anos, a ajuda de custo das bolsas são baixas, muitos tendo que trabalhar e estudar, sendo o caso de mães estudantes ainda pior, pois não recebem licença maternidade, tendo que abandonar pesquisas e se deparam com a inconciliável tripla jornada de trabalho: trabalho, estudo e cuidado da criança. Também por política da estrutura de poder há o “uso da terceirização como ferramenta”[i], colocando em condições precárias de trabalho na universidade milhares de trabalhadores, que são na maioria mulheres e negras, não por acaso. 

Militamos no Pão e Rosas para combater ao lado das estudantes e trabalhadoras a opressão que enfrentam cotidianamente dentro e fora da universidade, como os trotes opressores, ressaltando a importância de combatermos todas as formas de opressão, pois a opressão não tem fim enquanto ainda tivermos mulheres deixando a vida em trabalhos subvalorizados, sendo invisíveis para a ampla maioria dentro da Universidade! Por isso nos ligamos a essas trabalhadoras, aos trabalhadores de fora da universidade e à toda ampla juventude que  não furou o filtro de classe do vestibular. É ao lado desses setores, dessas mulheres, que o Pão e Rosas chama todas as estudantes a se organizar!

Em 2014, ano da Copa e último ano do mandato de Dilma – que é parte  dos dez anos de governo PT –, nossa intervenção nas calouradas não passou por fora do que significou esse governo de uma mulher e o que significa a organização das mulheres hoje, que sentem mais do que nunca os efeitos da aliança do governo com a FIFA e dos investimentos públicos na Copa, enquanto milhares de mulheres, jovens e trabalhadoras, em sua maioria negras, seguem sendo agredidas, sofrendo com a precariedade e os assédios do transporte público, morrendo por abortos clandestinos, morrendo e vendo seus filhos morrerem nas filas do SUS, a falta de creches. Atuamos nas calouradas, também como parte de nossa preparação para o 8 de março, colocando que da Copa abrimos mão, lutamos pelos direitos das mulheres, contra a Dilma e o patrão!

Na USP, fomos parte da organização do “Pedágio contra o trote machista!” no Curso de História e da Faculdade de Educação, que foi parte da campanha financeira organizada para ajudar no tratamento de Suzane, estudante de História que sofreu uma brutal violência machista em 2013, e segue necessitando de fisioterapia devido às sequelas de sua agressão. Organizamos também no curso de Letras uma importante roda de apresentação do grupo, junto a companheiras trabalhadoras, militantes do Pão e Rosas de fora da universidade, que contou com a presença de cerca de 50 estudantes e trabalhadoras, que se interessaram em discutir o combate à opressão contra a mulher desde uma perspectiva classista e antigovernista, buscando entender as raízes de nossa opressão na estrutura capitalista de nossa sociedade, e a necessidade de nossa luta ser anticapitalista para conseguirmos emancipar as mulheres e os trabalhadores. Também fizemos uma reunião aberta para organizar o 8 de março, e chamamos todas as companheiras que buscam se colocar de maneira classista, antigovernista e anticapitalista a compor nosso bloco nesse 8 de março!

Na Unicamp e na UFMG, atuamos nas calouradas também desde as entidades militantes que compomos: o CACH (Centro Acadêmico de Ciências Humanas) e o CAFCA (Centro Acadêmico da Filosofia), respectivamente. Somos partes dessas gestões por acreditar na necessidade de entidades estudantis militantes e combativas, que se coloquem na linha de frente do combate ao machismo, racismo e homofobia; aos trotes que reproduzem essas opressões, e ao lado dos trabalhadores terceirizados, lutando por suas efetivações, sem necessidade de concurso público.

Com essa perspectiva, organizamos na Unicamp a Mesa “Queimando Armários”, que contribuiu com o debate no combate às opressões homofóbicas, com um diálogo aos constantes episódios de homolesbobitransfobia[ii] e como esses setores devem se ligar aos trabalhadores para combater a opressão. Nessa Mesa contamos com a presença de Virgínia Guitzel na mesa, militante travesti do Pão e Rosas, e, após, também organizamos uma festa com o mesmo tema, que ocorreu de maneira auto-organizada, livre e sem expressão de opressões. Somos parte também, da Frente Feminista da Unicamp e, junto às outras companheiras que compõem essa frente, organizamos uma mesa de lançamento da FFU. Desde o Pão e Rosas, compomos a mesa com Silvana Araújo, militante do grupo que foi linha de frente da luta das terceirizadas da USP, e que dialogou com a necessidade da aliança entre as estudantes e as trabalhadoras e deixou claro que o governo Dilma, mesmo sendo uma mulher, não governou para as mulheres, e sim para o patrão!

Na UFMG, onde estamos a frente das Secretaria de Mulheres e LGBTTI e Secrataria da Questão Negra do CAFCA, compusemos a mesa “Da Copa abrimos mão! Queremos saúde, transporte e educação!”, parte da calourada organizada pelo CAFCA. Colocamos nossa perspectiva da necessidade das mulheres se organizarem de maneira independente dos governos e reitorias, desde a perspectiva classista e antigovernista, pelos direitos das mulheres desde os mais históricos e urgentes, como o direito ao aborto legal, e que este seja garantido por um SUS 100% estatal, que seja controlado pelas trabalhadoras e usuárias. Colocamos também a necessidade de lutarmos contra o trabalho precário, pela efetivação das trabalhadoras terceirizadas, tudo isso se aliando aos trabalhadores e todas mulhere e juventude de fora da universidade. Como parte da calourada da Filosofia, colaboramos com a organização a festa “Korpo de Batalha”, em homenagem a Kaique Augusto, jovem negro e homossexual assassinado em SP em janeiro deste ano. Intervimos na assembleia da Filosofia, que votou a composição de um bloco para o 8 de março com os eixos centrais: legalização do aborto, SUS 100% estatal sob controle dos trabalhadores e usuários, efetivação dos trabalhadores terceirizados sem concurso, a partir de uma organização antigovernista e aliada aos trabalhadores. Também tivemos uma importante intervenção na calourada governista organizada pelo DA FAFICH, onde deixamos bem claro que a saída para o combate às opressões se da a partir da organização independente das estudantes aliadas às trabalhadoras, sem nenhuma confiança nas diretorias e reitorias, em resposta a intervenção da professora Marlize Matos, intelectual do PT e da MMM, professora do curso de Ciências Sociais, que disse que o combate às opressões deve ser dado de maneira institucional, e é por isso que as estudantes devem se organizar.

Chamamos todas as mulheres, estudantes e trabalhadoras, que participaram das calouradas, viram nossa intervenção e acreditam na necessidade da aliança operário-estudantil e na organização desses setores de maneira classista e antigovernista, independente dos governos, reitorias e patrões, a conhecer e militar no Grupo de Mulheres Pão e Rosas! Pelo fim do vestibular, contra o trabalho precário, pela efetivação de todas as trabalhadoras terceirizadas, sem concurso público! Venham fazer parte também de nosso bloco nesse 8 de março, pois da Copa eu abro mão! Pelos direitos das mulheres, contra a Dilma e o patrão!




[i] Foi assim que o reitor da USP, Zago, usou esse termo ao responder um questionamento sobre a terceirização na universidade, que completou dizendo que não importa as condições precárias desses milhares de trabalhadores
[ii] Refere-se à situações de violência/opressão aos setores homossexuais, lésbicas, bissexuais, transexuais e transgêneros. 


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