Por Ravenna Sanchez, estudante de Ciências Sociais da USP
Em dezembro de 2012 dois casos de estupro tomaram grande vulto na Índia , ambos terminados em mulheres mortas pela opressão. O governo indiano proíbe que se divulgue o nome das vítimas de estupro, mas a mulher morta após ser agredida com barras de ferro e sofrido um estupro coletivo em ônibus deve seguir viva nas memórias de todas as mulheres que se coloquem a tarefa de superar pela via da luta a opressão que sofrem. Assim como ela, outra jovem, essa de 19 anos, também vítima de estupro coletivo, suicidou-se após ouvir da polícia que estava provocando e que deveria se casar com um de seus estupradores.
Essas situações são historicamente comuns na Índia, que não apenas mantem um regime de castas não oficial, mas para a manutenção desse sistema segue com os casamentos arranjados dentro da mesma casta, ou seja, a base do sistema de castas indiano é a opressão à mulher, e esse sistema por sua vez é base para que a burguesia indiana, extremamente débil e retrógrada, perpetre o seu poder. Mais uma vez a elite se apóia nas costas das mulheres pobres para aprofundar o seu poder. Não fosse o bastante, ainda existe a questão do dote, pago pela família da noiva, o que gera alto grau de feminicídios desde a infância.
O governo tem políticas sistemáticas contra as mulheres, para mantê-las nessa situação de opressão. Desde Indira Gandhi nos anos 70 que, para o controle de natalidade, recorreu a esterilizações forçadas em massa, até os dias de hoje, quando a resposta que o governo indiano dá para a opressão é mais policiamento feminino e toque de recolher para as mulheres. Ou seja, agora colocará mulheres para dizer a outras mulheres que se casem com seus estupradores, colocará outras mulheres para reprimir as manifestações contra os estupros, pois é este o papel da polícia, independente de seu gênero, e além de presas pelo casamento arranjado as mulheres estarão presas em casa pelo próprio governo.
No entanto, a conjuntura mundial é distinta agora. Após o início da crise capitalista em 2008 a burguesia teve de garantir o pagamento de suas dívidas retirando direitos da classe trabalhadora, planos de austeridade, demissões, ataques a leis trabalhistas... Os últimos anos foram marcados por levantes em todo o mundo contra essa ordem econômica vigente, contra ditaduras que cumpriam um papel junto ao imperialismo. E agora o povo indiano, tomando o exemplo internacional de mobilizações, se levantou contra a opressão. Os atos de milhares de pessoas contra os estupros foram a maior mobilização que a Índia havia visto nos últimos tempos, todos os atos terminaram com feridos e confrontos com a mesma polícia que oprime e estupra as mulheres que tentam denunciar sua opressão.
Essa situação apenas clarifica algumas coisas. A opressão é uma questão de manutenção de uma classe no poder, e não um conflito entre um oriente retrógrado e o progresso ocidental, pois se a burguesia tradicional indiana insiste na manutenção não tão velada de suas castas, é aliada profunda do imperialismo ocidental, que baseado na opressão de gênero e de casta paga salários miseráveis a trabalhadoras e trabalhadores de suas fábricas e de seus call centers, o maior boom de trabalho precário e pouco remunerado da última década. E a burguesia descarrega a crise, gerada por ela mesma, nas costas desses trabalhadores e trabalhadoras. Esse processo indiano também nos ensina o papel que a polícia tem a cumprir diante das mulheres trabalhadoras e estudantes, a repressão e a opressão e que o programa correto para responder a tudo isso não se trata de mais opressores e opressoras fardados, mas de uma intervenção profunda e mobilização do movimento de trabalhadores, estudantes etc, reconhecendo que o que assassinou essas mulheres tem a mesma origem que a superexploração e a repressão que sofrem. Questionar o papel dos governos e da polícia abre para as mulheres o caminho de responderem à opressão junto a seus verdadeiros aliados: a população que se colocou nas ruas contra os estupros, os trabalhadores que recentemente entraram em 100 milhões de pessoas em uma greve geral contra esta mesma burguesia opressora que especula seu valor pela via de seu gênero e sua casta.
Por isso nós do Pão e Rosas declaramos toda a solidariedade às mulheres indianas, e por nenhuma confiança na polícia e nos governos!
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