Mais de 300 trabalhadores e estudantes lotam a
Casa Socialista Karl Marx
No último sábado, dia 09 de março, como parte das atividades do dia internacional das mulheres, as Edições ISKRA e o grupo de mulheres Pão e Rosas, com apoio da Juventude Às Ruas organizaram o lançamento da 2ª edição do livro “A precarização tem rosto de mulher”. Com um auditório lotado, mais de 300 pessoas presenciaram o lançamento, apresentado por Letícia Parks e André Bof, estudantes da USP e militantes da Juventude Às Ruas que estiveram lado a lado às trabalhadoras da União em sua greve no ano de 2011, também retratado nesta 2ª edição.
O livro conta a história de luta das trabalhadoras terceirizadas da USP e de outros locais, como a grande luta dos operários da Façon no Metrô de São Paulo. Por isso a presença de trabalhadores e trabalhadoras terceirizadas de diversas empresas como Dima, União, Façon, BKM, Guima, Brazanitas, entre outros, trabalhadoras da luta das merendeiras em Campinas, trabalhadores de fábricas, mas também de dezenas de estudantes e secundaristas de São Paulo, Campinas, Franca, Marília, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, entre outros. Estiveram presentes também as agrupações Metroviários Pela Base, Professores Pela Base e Boletim Uma Classe dos bancários da Caixa Econômica Federal. Além disso contamos com a presença de diretores do Sindicato dos Trabalhadores da USP, bem como de Cida, mãe de Cícera Maria, trabalhadora terceirizada da USP assassinada em 2007, à quem dedicamos esta 2ª edição do livro.
Na mesa de abertura estiveram presentes Silvana Ramos, principal liderança da greve das trabalhadoras e trabalhadores terceirizados da Dima na USP em 2005 e militante do Pão e Rosas e Diana Assunção, dirigente da LER-QI e diretora do Sindicato dos Trabalhadores da USP, uma das trabalhadoras perseguidas pelo Ministério Público e pela Reitoria no caso da denúncia aos 72 estudantes e trabalhadores. A atividade teve início com uma breve apresentação de Letícia Parks e André Bof, demonstrando que a luta por construir uma juventude que lute pelo seu futuro é a luta por estar estrategicamente ao lado da classe trabalhadora em seus combates de classe contra este sistema capitalista. Uma saudação honorária foi feita as mulheres da Índia e da chamada “Primavera Árabe”, sendo fortemente aplaudida. Em seguida foi exibido um vídeo da luta das trabalhadoras da União em 2011.
Silvana abriu sua intervenção dizendo em primeiro lugar que o livro contava não apenas a história de sua luta, mas a história de nossa luta, da luta de todas as mulheres que estavam no lançamento e de tantas outras que não puderam vir. Contou toda a situação de exploração e opressão que viveu como trabalhadora terceirizada, bem como os primeiros passos de organização dos trabalhadores e a luta contra a burocracia sindical. Foi efusivamente aplaudida quando contou que conseguiram “dobrar a patronal” ao conquistar a aliança com os trabalhadores terceirizados que tinham sido contratados para substituir ela e outras trabalhadoras em greve.
“As trabalhadoras devem buscar se organizar e devem convencer seus maridos e companheiros para nos ajudarem em nossa luta. Durante a greve da Dima eu convenci meu companheiro a dividir as tarefas domésticas comigo, pois eu não conseguia ficar nas assembleias e depois dar conta de tudo sozinha. Mas isso não é suficiente. Temos que exigir que o Estado garanta creches, lavanderias e restaurantes públicos para que não tenhamos que continuar arcando de forma gratuita com o trabalho doméstico dentro das nossas casas, o que para as trabalhadoras significa uma dupla jornada de trabalho”, disse Silvana ao fim de sua intervenção, chamando todas as mulheres a se organizarem no grupo de mulheres Pão e Rosas em seus locais de trabalho e estudo.
Diana Assunção, também organizadora do livro, abriu agradecendo à Natália Viskov, diretora das Edições ISKRA e toda a equipe de militantes desta publicação, bem como aos professores Jorge Luiz Souto Maior, Maria Beatriz Costa Abramides e Claudia Mazzei Nogueira que escreveram as apresentações do livro. Diana iniciou sua intervenção falando sobre as características da precarização do trabalho como uma política de Estado para dividir e enfraquecer a classe operária, e o papel que governos como o do PT cumpriram “Nesta década de PT no governo, as “grandes terceirizadoras”, empresas onde cotidianamente morrem trabalhadores por péssimas condições de trabalho como a Camargo Corrêa, Andrade Gutierrez, Odebrecht, foram as empresas da construção civil que mais lucraram com o chamado “Programa de Aceleração do Crescimento” (PAC). Uma tendência que deve aumentar diante dos megaeventos como a Copa e as Olímpiadas em 2014. Estas empresas são ao mesmo tempo as grandes financiadoras do PT e do PSDB nas eleições – e em São Paulo, com Fernando Haddad não é diferente”.
A uma situação nacional de aparente passividade, e onde a crise capitalista ainda não atingiu profundamente, Diana fez um contraponto a partir destas pequenas lutas de trabalhadores precários e a própria situação em países da Europa onde a burguesia tenta descarregar os efeitos da crise que ela mesma criou nas costas dos trabalhadores e da juventude, que por sua vez começam a dar suas respostas. Pontuou também uma perspectiva marxista revolucionária sobre a opressão às mulheres que se opõe ao feminismo burguês (e também à sua versão menos escancarada que é o feminismo pequeno-burguês) pois considera que a luta contra a opressão é uma luta para destruir pela raiz esta sociedade, abrindo espaço para a verdadeira possibilidade de emancipação das mulheres.
Diana buscou também pontuar cada processo de luta e como foi a confluência entre a combatividade e espontaneidade de centenas de trabalhadores terceirizados, com um Sindicato combativo e classista como o Sintusp e o programa e prática política de militantes revolucionários trotskistas, que colocando toda sua força conseguiram transformar pequenas lutas em verdadeiras batalhas de classe, forjando amplos setores da universidade na luta pela efetivação dos trabalhadores precários sem necessidade de concurso público.
Por fim, Diana fez um amplo chamado:
“Como dizia Leon Trotsky, um dos dirigentes da Revolução Russa ao lado de Lenin ‘Se queremos transformar a vida, temos que aprender a enxergá-la através dos olhos das mulheres’. A partir da publicação da 2ª edição do livro “A precarização tem rosto de mulher” fazemos um chamado a todas as mulheres, a toda a juventude, a todos os trabalhadores a se organizarem conosco, no grupo de mulheres Pão e Rosas e nas agrupações de trabalhadores e estudantes que impulsionamos na USP, no Metrô, entre professores, trabalhadores bancários, dos Correios, das fábricas, terceirizados e nas universidade, e que a partir da difusão deste livro organizemos um amplo movimento contra a precarização do trabalho, por nossos direitos e pelo fim desta sociedade de opressão e exploração. Porque exigimos o nosso direito ao pão, mas também às rosas!”.
A atividade foi encerrada com Fabiana Leite, estudante de teatro e professora de Artes da rede estadual de São Paulo declamando o poema “Pão e Rosas” de Mara Onijá. A atividade contou com exposições sobre a luta das trabalhadoras da União e sobre o levante das mulheres na Índia, bem como com um impactante grafitte feito por Joks, Difavela, Sapiens e Populacho com as imagens de Karl Marx e Rosa Luxemburgo. Depois seguimos com uma grande confraternização com um delicioso yakissoba, bebidas e samba da melhor qualidade com o samba dos amigos Tiaraju, Vitor, Juninho, Thiago e Pirulito durante toda a noite para encerrar esse dia tão especial.
Em breve vídeos e entrevistas exclusivas sobre o lançamento. Para adquirir o livro envie email para a Editora Iskra(iskra@ler-qi.org) ou entre em contato com um de nossos militantes no seu local de trabalho ou estudo.
Nenhum comentário:
Postar um comentário