por Rita Frau,
profa. da rede estadual de SP
Chegamos no dia 25 de novembro, dia internacional da luta contra a violência as mulheres, quase um mês depois de ter sido eleita a primeira mulher presidente do Brasil. A corrida eleitoral do segundo turno teve como um de seus temas centrais a questão do aborto e dos direitos aos homossexuais. No pós-segundo turno a Igreja consolidou suas posições em relação à proibição do aborto e contrárias a direitos aos homossexuais, e os setores mais reacionários passaram a expressar seu profundo preconceito social em relação aos votos nordestinos na eleição de Dilma acompanhados das diversas denúncias na grande mídia da realidade da violência homofóbica aos homossexuais. O ultimo processo eleitoral mostrou que, quanto mais se faz concessões aos setores conservadores, mais espaço político eles ocupam e não o contrário, como quer nos fazer crer setores reformistas que votaram e fizeram campanha para Dilma Rousseff como a Marcha Mundial de mulheres e centenas de intelectuais. Setores do movimento de mulheres apoiaram Dilma com o discurso de que uma mulher no poder daria maior visibilidade para as mulheres e traria avanços nos direitos nas mulheres. Mas Dilma já deu provas que não significa este avanço, pois dará continuidade ao governo Lula, que assinou o Acordo Brasil-Vaticano em 2008, dando maiores poder à Igreja católica para disseminar seus valores que subjuga as mulheres e prega contra os homossexuais tratando-os como seres enfermos. Também não garantirá o direito ao aborto e a união civil entre casais homossexuais, assim como manterá as tropas brasileiras no Haiti, legitimando a exploração, miséria e violência de milhares de haitianas.
A violência no Brasil de Dilma
É neste Brasil de Lula e Dilma, que 1 milhão de mulheres recorrem ao aborto, realizados em sua maioria de maneira insalubre, sendo as mulheres pobres, trabalhadoras e negras, as que mais sofrem as seqüelas da clandestinidade. Em estados como Bahia e Pernambuco, aonde Dilma teve grande porcentagem de votos (70,85% e 75,65%), chega a ser a primeira causa de morte entre as mulheres. A cada 15 segundos no Brasil, uma mulher é espancada e uma em cada cinco mulheres declarou ter sofrido algum tipo de violência por um homem. Segundo a ONU, aproximadamente 140 mil mulheres são vítimas da rede do tráfico sexual na Europa, sendo cada vez maior o número de mulheres brasileiras traficadas. O índice de prostituição infantil segue aumentando junto com a indústria do sexo brasileira, que fatura R$ 4 milhões por ano. E com o grande empreendimento da Copa do Mundo 2014, se intensificará ainda mais a indústria do turismo sexual no país.
Casos de violência aos homossexuais aparecem nas páginas de jornais confirmando apenas a cruel realidade a que vivem, sendo a cidade de São Paulo a que conta com mais crimes a homossexuais, colocando o país como um dos primeiros no ranking de homicídios contra homossexuais, bissexuais e transsexuais sendo um morto a cada dois dias. Exemplo expresso na mais recente violência a dois casais homossexuais na Avenida Paulista por um grupo de jovens da classe média paulistana. Na parada gay ocorrida no RJ, um rapaz homossexual foi baleado por um militar em mais uma violência homofóbica. Ainda no RJ, dois rapazes homossexuais foram agredidos no vestiário da moradia estudantil da Universidade Rural por um estudante que se sentiu ofendido com a presença deles. Na capital paulista em uma festa universitária da Atlética da USP, mais um casal homossexual foi agredido.
Nossa luta contra a violência é todo dia e não com data marcada!
O dia 25 de novembro foi criado pela ONU em 1999 em homenagem as irmãs Mirabal, da República Dominica, mulheres que lutaram contra a ditadura de Leônidas Trujillo e foram mortas neste dia no ano de 1960 à serviço do imperialismo norte-americano. O surgimento desta data fez com que obrigasse a sociedade a encarar e debater uma realidade de milhares de mulheres, mas isso não significou uma luta real contra a violência as mulheres. Não podemos nos adaptar à lógica dos setores reformistas nos manifestando apenas nas datas do calendário estabelecido pela ONU, nos dividindo na luta pelos direitos democráticos das mulheres, homossexuais e negros.
Nossa luta é todo dia pois a violência contra mulheres e homossexuais é incentivada pelo capitalismo para adestrar o corpo e a sexualidade como forma de perpetuar diferenças sociais e de classe naturalizando a violência e tornando-a cotidiana, tentado disciplinar os corpos e as mentes até sua estupidez, contando com agentes preconceituosos para levar a frente sua ideologia reacionária, como por exemplo os organizadores do “Rodeio das Gordas”. Nesse sentido não compartilhamos com grupos de mulheres e LGBTT’s que colocam a violência às mulheres e homossexuais como um problema de saída individualista a partir da consciência individual ou apenas de dar maior visibilidade à questão; e nem com os que dizem que apenas com reformas dentro do capitalismo poderia-se acabar esse tipo de violência.
Assim como Lula, para nada Dilma lutará pelos direitos das mulheres, dos homossexuais e da classe trabalhadora. No primeiro capítulo da crise capitalista Lula liberou bilhões para salvar banqueiros e empresários, Dilma o apoiou e segue seu mesmo caminho, anunciando uma possível reforma da previdência entre outros ataques sobre classe trabalhadora que estão por vir diante do cenário de crise mundial. Frente a esse cenário de nada adianta que Dilma forneça a mulheres 30% dos cargos ministeriais num governo atrelado à Igreja e aos grandes conglomerados industriais e financeiros. A presença da mulher no poder do estado burguês não significa mais direitos às mulheres e Dilma sabe disso, e assim abre espaço para a maior cooptação dos movimentos feministas para que estes continuem se calando frente verdadeiro Brasil: o que mata e violenta as mulheres e os homossexuais.
Enquanto mulheres e homossexuais morrem a Igreja pedófila ganha audiência!
O espaço aberto nessas eleições para o reacionarismo da Igreja abriu precendentes para setores da Igreja presbiteriana se declararem abertamente contra o PL122, que criminalização a homofobia, como ocorreu na universidade Mackenzie, alegando que esta lei tirava a liberdade de expressão das Igrejas de pregarem para contra a homossexualidade. Na PUC-SP os clérigos clamaram pela demissão de uma professora que defendeu o direito ao aborto. É esta mesma Igreja, homofóbica e machista, que e se cala diante da morte de milhares de mulheres por abortos clandestinos e assassinatos de homossexuais, que comete milhares de crimes de pedofilia. E ainda querem nos falar em defesa da vida! Mas exemplos no mundo mostram uma luta contra a Igreja como na Argentina com a aprovação do casamento gay e mais recentemente na Espanha com o “beijaço”, na passagem do Papa, como manifestação contra a homofobia e pedofilia da Igreja católica. Em São Paulo o movimento LGBTT e setores de esquerda, saíram as ruas para se manifestarem contra a violência ocorrida na Av. Paulista, onde um grupo de classe média atacou casais de homossexuais. E novamente, no dia 24/11, se colocará nas ruas uma manifestação contra a homofobia, repudiando o pronunciamento homofóbico dos administradores do Mackenzie.
Por uma ampla campanha contra a violência as mulheres, aos homossexuais, negros e nordestinos! Pelo direito ao aborto legal, livre, seguro e gratuito! Pela livre identidade sexual! Pela separação da Igreja com o Estado!
Nos somamos aos grupos de mulheres, LGBTT´S, movimento negro e direitos humanos para lutar contra toda forma de violência, assim como também nos somamos ao ato convocado pela Marcha Mundial de Mulheres no dia 25 de novembro em São Paulo, mas acreditamos que a luta deva ser cotidiana em nossos locais de trabalho e estudos, impulsionando campanhas reais contra a violência e os direitos democráticos. Neste sentido é fundamental que as entidades estudantis se coloquem nesta luta- assim como vem dando exemplo o DCE da Unesp organizando um festival contra a opressão, mostrando qual o papel que deve cumprir uma entidade estudantil combativa na defesa dos direitos das mulheres e dos homossexuais. Cabe à CSP-Conlutas e a ANEL colocarem-se à frente dessa luta e organizar suas entidades na luta contra a violência às mulheres e aos homossexuais, como faz por exemplo a campanha da chapa 1 das eleições do Sindicato de Trabalhadores da USP (do qual algumas integrantes impulsionaa a Secretaria de Mulheres do Sintusp), com a necessidade de fazer um chamado ofensivo a todas entidades sindicais e estudantis do país a lutarem no dia 25 contra a violência às mulheres, pelo direito ao aborto, pelo direito ao casamento homoafetivo assim como o direito à livre identidade sexual como parte de uma luta feroz pela definitiva separação da Igreja com o Estado!
No dia 25/11, todos ao ato contra a violência a mulheres!
15 horas, em frente à Secretaria da Justiça de São Paulo
Pátio do Colégio (Próximo ao Metrô Sé)
Pátio do Colégio (Próximo ao Metrô Sé)
MAIS BARBÁRIE CONTRA AS MULHERES E O POVO HAITIANO
Chegam a 900 o números de mortos por conta da epidemia de cólera no Haiti. Os culpados destas mortes tem nome e se chamam EUA, ONU e sua missão militar no Haiti, dirigida pela tropas brasileiras de Lula e Dilma. Essas tropas são as mesmas que matam e estupram as mulheres haitianas e mantém a miséria e exploração sobre o povo haitiano. Para amenizar as denúncias de violência sexual contra as tropas da ONU, o governo brasileiro estabeleceu um acordo de cooperação com o Haiti para treinar a polícia haitiana em casos de violência sexual contra as mulheres. Mas é essa mesma polícia que ajuda as tropas da ONU a assassinar e reprimir o povo haitiano, como ocorreu dia 14/11 quando vários haitianos se manifestaram contra o descaso do governo e das tropas da ONU com a expansão da cólera. Como podemos acreditar que uma mulher como Dilma pode representar as mulheres e defender nossos direitos se é conivente com tanta morte, miséria e estupros? Como podemos acreditar se é ela que apóia as tropas brasileiras que treina no Haiti como um grande laboratório para atuar nas favelas brasileiras matando o povo negro e matando homossexuais?
Basta de violência e estupros contra as mulheres haitianas!
Pela retirada das tropas brasileiras e ONU no Haiti!
Que toda a ajuda humanitária seja controlada pelas organizações dos trabalhadores e populares!
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