sábado, 20 de fevereiro de 2010

PÃO E ROSAS NO HAITI e na Mídia: Crônicas de um país com cheiro de morte

Como parte da campanha que o Pão e Rosas vem desenvolvendo em diferentes países da América Latina e Caribe em solidariedade às mulheres e ao povo pobre e trabalhador do Haiti, Sofía Yañez do Pan y Rosas México, viajou à ilha caribenha com a colaboração do Pão e Rosas da Argentina, Brasil, Chile e Bolívia.
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Esta reportagem foi também publicada em pela agência CIMAC, com o título "Destacado papel das mulheres nos acampamentos haitianos".

Por SOFÍA YAÑES, enviada especial do Pan y Rosas- México
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A pouco mais de um mês do terremoto que sacudiu o Haiti, as deploráveis condições de vida das quais padecem os habitantes de Leogane não deixam dúvidas de que as penúrias aqui vêm de muito antes do dia 12 de Janeiro. Tudo o que foi dito ou escrito fica pequeno diante da impressionante realidade.

Na visita que fizemos junto a uma brigada médica em comunidades como a de Petit Rivière, se observa que a maioria da população são mulheres que chegam com seus filhos e filhas nos braços em busca de consulta médica, muitas delas com infecções vaginais e problemas gastrointestinais de seus filhos, devido à má qualidade da água e contaminação ambiental.
Aqui existem vários acampamentos dos que se consideram “pequenos”, reúnem cerca de sessenta famílias, e são organizados pelos próprios habitantes, onde a ajuda oficial simplesmente não chegou. Neles também o papel das mulheres é importante.

Joseph e Guetty, dirigentes locais, pertencentes à organização Grupo Ecológico pelo Desenvolvimento Sustentável do Haiti (Groupe Ecologique pour le Developement Durable en Haiti - GEDDH), falaram do descontentamento que existe com o governo pela falta de agilidade na ajuda. Não há escolas e as meninas e meninos que estudam devem viajar quatro horas até a mais próxima. Também não há hospitais. Em outra brigada, dirigida a três orfanatos para a divisão de fraldas e alimentos para bebês, pode-se constatar que, ainda que a ajuda quase não tenha chegado e as necessidades sejam muitas, a distribuição é absolutamente ordenada, pois quem a garante é a própria comunidade. Os voluntários participantes desta ação asseguram que decidiram fazê-la sem militares, pois eles “espantam a população com suas armas e tanques”. Isto, sem dúvida, é a clara demonstração de que os supostos distúrbios nas entregas da ajuda são causados justamente pela presença militar.

Em todo lugar se vê a miséria acompanhada da destruição que o terremoto provocou. Pessoas vivendo literalmente nas ruas, improvisando casas nos lugares mais insalubres. Um mercado que se instala temporariamente em um prédio que parece ter sido um depósito de lixo, se converteu em um dos poucos lugares onde a população pode encontrar comida e, ao mesmo tempo, se transformou em um lar para as mulheres grávidas.

Descontentamento com a presença militar

Em Puerto Príncipe só estivemos por algumas horas. Aqui toda a cidade cheira mal. Entre a sujeira, os escombros que estão sobre as ruas e o chamado “odor da morte”, a cidade se movimenta como se fosse possível a “normalidade”.
Os maiores acampamentos que se encontram aqui são também os mais vigiados pelos militares. Se diz que, de conjunto, mais de um milhão de pessoas estão vivendo em barracas em todo Haiti, em ruas e parques... Quase não há lojas pois estão destruídas e as poucas que se mantêm em pé estiveram fechadas em função dos dias de luto. Nas ruas, em muros semi-derrubados, se vê pichações eleitorais e de protesto, mas dizem que elas já existiam antes do terremoto. Muitas contra Aristide e algumas contra Preval.
O constante fluxo de caminhões, jeeps e tanques militares complementam o panorama que se assemelha ao pós-guerra. Nas ruas, até os soldados que organizam o trânsito estão armados e muitos deles fazem tudo sem tirar o dedo do gatilho.

Ainda que não tenha tido nenhum relato de grandes mobilizações de protesto ao chegarmos a um mês do terremoto, o descontentamento com a presença militar é generalizado. Isto é, sem dúvida, o que motiva as exageradas ações de controle por parte do governo e dos exércitos estrangeiros, situação que nos próximos dias poderia gerar novos levantes populares de um povo que historicamente se caracteriza pela luta incansável por seus direitos.
*Traduzido por Bruna Bastos

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