Um terço da população haitiana foi afetada pela catástrofe, cerca de 100 mil mortes e um país absolutamente devastado que deverá enfrentar doenças e epidemias que se propagarão pela descomposição de cadáveres, a falta de água potável e a inexistência da mais mínima infraestrutura. Os terremotos são imprevisíveis. Mas as consequências que teve este para o povo haitiano eram absolutamente previsíveis. O enorme tamanho da catástrofe não é resultado da natureza, mas de um sistema de exploração e expoliação que converteu o Haiti num dos países mais pobres do mundo: 80% da sua população vive na indigência, 60% sem trabalho, a expectativa de vida supera apenas os 50 anos, a taxa de mortalidade infantil é de 80%, não há água potável e a desnutrição é crônica. Em Gonaives, a segunda cidade do país, 70% das casas carece de banheiros adequados. Mesmo antes da tragédia, o Haiti tinha a mais alta taxa de mortalidade materna na região: 670 mortes a cada 100 mil nascidos vivos.
E quando estas são as condições com as que se enfrenta um terremoto de tamanha magnitude, as consequências não são um destino inevitável nem obedecem um “capricho” da natureza. Por isso, denunciamos que a tragédia que hoje recai sobre o povo haitiano é uma continuidade do fato de que o Haiti tenha sido submetido a dois séculos de roubo imperialista, cinquenta anos de ditaduras sangrentas como as dos Duvalier, recentes golpes de Estado perpretados diretamente pelo Pentágono, governos representantes de Washington cujo poder reside nas baionetas das tropas canadenses, francesas e os marinheiros norte-americanos e a presença das tropas das Nações Unidas – com soldados enviados pelos governos que se reivindicam “nacionalistas” e “progressistas” do Brasil, Argentina, Bolívia, Uruguai, Paraguai e Equador, entre outros – que sob o argumento de uma suposta missão humanitária (MINUSTAH) mantém a ocupação do território haitiano, com o único objetivo de garantir a continuidade da expoliação imperialista do país e os negócios capitalistas a força, como na zona franca da fronteira com a República Dominicana, onde trabalhadoras e trabalhadores haitianos se encontram praticamente reduzidos a escravidão, enquanto camponesas e camponeses são desalojados de suas terras para converter o lugar numa grande fábrica.
Forças “humanitárias” que, amparadas na impunidade que gozam por ser estrangeiras, tem sido denunciadas reiteradamente – mas nunca punidas – pelas violações dos direitos humanos, prisões e assassinatos políticos, massacres nos bairros pobres, estupros e abusos sexuais de mulheres e meninas, pedofilia e tráfico de pessoas, prostituição forçada de mulheres, meninas e meninos por troca de alimentos, e que hoje se preparam para reprimir os supostos “escalada de violência” que é a denominação dada pela classe dominante, do desespero de milhares de famintos, órfãos, despossuídos, pessoas que perderam tudo, inclusive antes do terremoto.
Hoje, diante desta catástrofe, se estima que um quarto da população afetada sejam mulheres em idade fértil, entre as quais devem haver milhares de mulheres grávidas que não terão acesso aos mais mínimos cuidados. Num país onde 43% das casas são chefiadas por mulheres, elas e as meninas sobreviventes, que sempre foram as responsáveis pelo trabalho doméstico e cuidados das outras e dos outros, carregarão agora sobre suas costas, a responsabilidade da sobrevivência de suas famílias, em refúgios e barracas de acampamento, num desamparo total, suportando níveis infinitamente mais graves de violência e o espantoso aumento dos abusos sexuais perpretados pelas tropas estrangeiras que ocupam o território haitiano.
Por isso, nós – trabalhadoras, desempregadas, terceirizadas, estudantes, donas de casa, ativistas feministas, lésbicas feministas e da luta anticapitalista e anti-racista -, mulheres da América Latina e do Caribe que nos solidarizamos com nossas irmãs e todo o povo trabalhador e pobre do Haiti, queremos colocar de pé uma grande campanha unitária das organizações de mulheres, feministas, da dissidência sexual, comissões sindicais de mulheres, organismos de direitos humanos, estudantis e operários, para que se ouça nossa voz que reivindica:
- Fora as tropas da MINUSTAH! Fora ianques do Haiti, da América Latina e do Caribe! Exigimos a nossos respectivos governos que retirem imediatamente as tropas do Haiti.
- Exigimos que sejam as multinacionais e grandes empresas capitalistas as que entreguem de forma imediata os alimentos, medicamentos, combustível e outros insumos necessários para enfrentar a catástrofe. Que sejam seus lucros as que estejam à disposição para combater este desastre! E que sejam as organizações de mulheres, feministas, operárias, estudantis, de direitos humanos e sociais as que controlem e distribuam os recursos recebidos no Haiti.
- Que as doações cheguem ao povo e não se percam na burocracia e nas máfias oportunistas capazes de tirar proveito até em momentos como este.
- Pelo cancelamento total da dívida externa do Haiti!
- Basta de violência contra as mulheres haitianas!
Recebemos adesões e assinaturas a esta declaração pelo email solidaridadmujereshaiti@gmail.com
• ABACA, Claudia Anzorena. Coletiva feminista “Las juanas y las otras”. (Mendoza, Argentina)
• ABACA, Elsa. Coletiva feminista “Las juanas y las otras”. (Mendoza, Argentina)
• AGÜERO, Laura Rodríguez. (Mendoza, Argentina)
• ALVAREZ GARIN, Tania (México)• ÁREA DE DIVERSIDAD SEXUAL (Argentina)
• ARMIDA, Marisa - (Rosario –Argentina)
• ASSUNÇÃO, Diana. Trabalhadora da USP, dirigente da LER-QI (Brasil)
• BATACLANA Espacio Cultural (Argentina)
• BENAVIDES, Nadia. Comunidade lésbica feminista La teta insurgente (ex Colectiva Mafalda)
• BERGESIO, Romina (Argentina)
• BERLANGA, Mariana. Feminista autônoma (México)
• BLANCO, Carmen - Encuadernadora- Adherente de Pan y Rosas (La Pampa, Argentina)
• BLANCO, Jessie. Revista MATEA (Venezuela)
• BRANEZ CORTEZ, Patricia (CIDEM- Bolívia)
• BRETAL, Maria Laura. Feminista e militante dos Direitos humanos (La Plata, Argentina)
• BRUNO, Lía (Argentina)
• CAO NORA. Docente e feminista.
• CARMONA REYES, Maribel. Feminista (Ecuador)
• CAROSIO, Alba. Revista do Centro de Estudios de la Mujer - UCV (Venezuela)
• CAVALLARO, Veruscka. Jornalista (Venezuela)
• CEBALLO, Camila (Argentina)
• CEPEDA, Ivet (Venezuela)
• CERVANTES ROJAS, Flor María. Oaxaca (México)
• CÍRCULO DE INVESTIGACIÓN EN ESTUDIOS DE GÉNERO Y COMUNICACIÓN (México)
• COLETIVA FEMINISTA "LA REVUELTA" (Neuquén-Patagonia Argentina)
• COLETIVO CONTRANATURAS (Perú)
• COLETIVO DE AÇÃO FEMINISTA DE CURITIBA (Brasil)
• COLETIVO GÉNERO CON CLASE (Venezuela)
• Comissão de Mulheres do INDEC (impulsionada pela Junta Interna-ATE)
• CON RAMOS, Patricia. Universidad de Costa Rica
• CORDERO, Diana. Colectivo Lesbianas Feministas Josefa Camejo (Argentina / Venezuela)
• CORVALÁN, Kekena
• COSTA ABRAMIDES, Maria Beatriz. Prof. Serviço Social da PUC – Sao Paulo e dirigente da APROPUC-SP (Brasil)
• D’ATRI, Andrea. Dirigente nacional do Partido de los Trabajadores Socialistas - PTS (Argentina)
• DBASE Agrupação de Docentes de Córdoba (Argentina)
• DE ALMEIDA SANTOS BEZERRA, Clara Angélica. Prof de Serviço Social da Universidade Tiradentes - Sergipe (Brasil)
• DE LA PEÑA, Ireri. Fotógrafa (México)
• DE LEÓN, Quimy. Programa radial Voces de Mujeres, Sector de Mujeres (Guatemala)
• DELGADO, María Ramírez. Escritora (Venezuela)
• ESPINOSA, Yuderskys. Feminista autônoma (República Dominicana - Argentina)
• FULANAS Y MENGANAS Teatro Córdoba (Argentina)
• FEMINISTAS EN RESISTENCIA (Honduras)
• FEMINISTAS INCOVENIENTES (Rede de Coletivas e Otrxs da Argentina)
• FERNANDEZ MASÓ, María del Carmen (Argentina)
• FONKATZ, Daniela (Argentina)
• FUNDAÇÃO AKINA ZAJI SAUDA - Conexión de Mujeres Negras – (Cali, Colombia)
• GALIMBERTI, Alessandra. Babelarte - Oaxaca (México)
• GALVÃO, Andréia. Professora do depto. de Ciência Política da Unicamp (Brasil)
• GARGALLO, Francesca. Feminista (México)
• GARRIDO, Hilda Beatriz (Argentina)
• GATTO, Teresa (Argentina)
• GLEFAS, Grupo Latinoamericano de Estudio, Formación y Acción Feministas
• GONZÁLEZ, Aleyda Gaspar (México)
• GONZÁLEZ, Eulalia Eligio (México)
• GOTTERO, Mariana (Argentina)
• GOUSSIES, Ana. Delegada da FOETRA(Buenos Aires), integrante da “Agrupacion Violeta”e militante do PTS
• GRUPO MAÇÃO PODRES – Insurreição Feminista (Santo André – Brasil)
• GUERRERO GARCÍA, Martha E. (México, DF)
• HERNÁNDEZ, Mirla. Feminista lésbica autônoma (República Dominicana)
• HERNÁNDEZ DÍAZ, Blanca (México)
• HUERTA TAMAYO, Gabriela (México)
• La Casa de la Mujer – (Bogotá, Colômbia)
• LAPA, Thaís. Do Comitê Latino-americano e do Caribe para a Defesa dos Direitos da Mulher (CLADEM - Brasil)
• LOURENÇO, Edvânia Ângela de Souza. Professora Assistente Doutora do Depto. de Serviço Social da Universidade Estadual Paulista – UNESP – Franca/SP (Brasil)
• MAGALHAES, Rosana. Feminista autônoma (Brasil - México)
• MAZZEI NOGUEIRA, Claudia. Prof ª. da Universidade Federal Santa Catarina (Brasil)
• Memorial Lélia Gonzalez (Rio de Janeiro, RJ, Brasil)
• MENDOZA GUERRA, Alicia. Militante do PRT (México)
• MENEZES, Clarissa. Mestranda da UFRJ (Brasil)
• MUÑOZ, Karina Ochoa. Feminista e professora pesquisadora da UACM (México)
• OLIVIERI, Mariana (Argentina)
• ONIJÁ, Mara. Militante e artista do Hip Hop, dirigente da LER-QI (Brasil)
• ORGANIZACION NACIONAL DEL PODER POPULAR-PARTIDO REVOLUCIONARIO DEL PUEBLO
• PAEZ MOLINA, Cristina (Argentina)
• PAN Y ROSAS "Teresa Flores" (Chile)
• PAN Y ROSAS (Argentina)
• PAN Y ROSAS (Bolivia)
• PAN Y ROSAS (México)
• PÃO E ROSAS (Brasil)
• PARTIDO REVOLUCIONARIO DE LAS Y LOS TRABAJADORES (México)
• PEREYRA, Aurelia. Grupo de Mujeres sin Moldes (Argentina)
• PESSAH, Marian. Mulheres Rebeldes (Brasil)
• PROYECTO MARIPOSA, Agrupación de Mujeres de Jujuy (Argentina)
• QUERALES, Amanda. (Venezuela)
• RAMÍREZ DELGADO, María. Escritora (Venezuela)
• REDE CHILENA CONTRA LA VIOLENCIA DOMÉSTICA Y SEXUAL- ROJAS BRAVO, Soledad (Chile)
• REDE "MUJER Y HABITAT DA AMERICA LATINA"
• REYES, Maribel Carmona. Feminista (Equador)
• RIGA, Liliana. Escritora (Argentina)
• RIX, Amanda Campos (Brasil)
• RODRÍGUEZ, Rosana. Coletiva feminista “Las juanas y las otras”. (Mendoza, Argentina)
• RODRIGUEZ FERNÁNDEZ, Sofía (México)
• TAMAYO, Gabriela Huerta. (México)
• VALORI, Silvia Mirta. Escritora
• VARGAS, Livia (Venezuela)
• VIEIRA, Bianca. Militante do Pão e Rosas e do movimento HipHop, Operadora de Telemarketing (Brasil)
• VIZCARRA BORDI, Ivonne. Pesquisadora do ICAR, UAM (México)
• ZABALA, Maria Belén.
• ZAMORANO CRUZ, Fabiola (México)
• ZIAURRIZ, Pilar. Engenheira. (La Pampa, Argentina)
• ZUBIA, Daniela Andrade. Coordenadora de “La Ciudad de las Diosas”
Outras adesões:
Declaração de apoio: Reputo como da maior importância a atitude do Pão e Rosas, do movimento de mulheres e de todos os que vivemos do trabalho no sentido de impulsionarmos uma campanha em defesa da população do Haiti. Tem total importância que nossa solidariedade para com as massas exploradas do Haiti seja dirigida às próprias massas exploradas, ou seja, não aceitemos qualquer interferência de tropas invasoras ou daqueles que são os autênticos responsáveis pelo saque histórico e lenta destruição de um país que já foi o maior produtor de açúcar do mundo e primeiro a levantar uma rebelião escrava vitoriosa contra as tropas estrangeiras de ocupação e invasoras já no século XIX. É o imperialismo e o capitalismo quem mantém o Haiti na condição de absoluta indigência social e que amplia e agrava todos os efeitos do desastre natural. Por isso me somo à iniciativa do Pão e Rosas e de cada sindicato combativo, de cada organismo de massa, de fábrica, de empresa e de escola que se levante em defesa da solidariedade de classe para com o povo do Haiti e pelo seu direito a decidir seu próprio destino. Fora as tropas estrangeiras e que as próprias massas do Haiti dirijam sua auto-defesa contra os efeitos do terremoto e do maior de todos os terremotos, o saque capitalista da nação haitiana. Gilson Dantas, editor da revista Contra a Corrente, Brasília, DF
Integro totalmente a campanha em prol das sofredoras mulheres haitianas. Juan Carlos Achiary
Direto da Faculdade de Arquitetura, UNAM, por uma sociedade sem classes. Viva o povo operário do Haiti! Sergio Miranda, México
Vladmir Santafé. GEP (Grupo Educação Popular – Brasil)
Queria prestar meu total apoio ao povo haitiano que há pouco tempo atrás sofreu uma catástrofe, que deixou sérias conseqüências para o país. Dentro desse cenário de inúmeras mortes, existe algo que é político e não natural na qual a grande imprensa esconde hipocritamente que precisa ser muito bem lembrado. A situação atual do Haiti é algo histórico que é fruto das grandes potências usurpadoras deste as grandes potências que tinham como a sua mão de obra o trabalho escravo escancarado legitimado até as grandes imperialista que tentam esconder, mas legitima o trabalho escravo sob a bênção do Brasil e seu exercito de cão de guardas em favor do imperialismo na fronteira entre a República Dominicana e o Haiti. Me junto ao Pão e Rosas e qualquer outro movimento de trabalhadores e de massas que se dispõe pra lutar contra as tropas da ONU liderada pelo Brasil, que tem o simples objetivo de garantir os grandes lucros das grandes multinacionais a partir d a exploração dos trabalhadores. Este mesmo exército que está no Haiti, numa suposta ''ajuda humanitária'' que no fundo é pra deter o descontentamento e revolta da população que está sendo considerada como ''Selvagens e bandidos'' pela a burguesia. Quero destacar o meu total repudio, a atos asquerosos que as mulheres haitianas são submetidas pelos cães de guarda do imperialismo que vai desde, o tráfico ilegal de pessoas até estupro para conseguir um pouco de dignidade e a sobrevivência dela e sua família. Guilherme de Almeida Soares. Estudante de Ciencias Sociais PUC-SP e Militante do Movimento Plenos Pulmões (Brasil)
Rosario Villarreal.
Flávio de Castro. Cientista político, UNICAMP (Brasil)
Mando minha solidariedade para povo ainda mais sofrido agora. As emissoras de televisão apresentam o problema como catástrofe natural que é. Porém deixam no ar o clima do inexorável, o impossível de conter. Também o é. Acontece que catástrofes naturais poderiam ter muito menos vítimas caso a estrutura econômica e social do país fosse diferente, ou seja, não fosse envolvida pela pobreza provocada e pela exploração. Marcelo Micke Doti
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