Diante da deflagração da greve, nós mulheres do grupo Pão e Rosas não podemos deixar de nos posicionar politicamente a favor da pauta de reivindicações, tentando abrir um diálogo com o conjunto dos estudantes, mas principalmente com as mulheres estudantes, considerando que a greve é um espaço em que as discussões políticas ficam evidenciadas a todas/os.
As mulheres estudantes são maioria na educação fundamental e média, no entanto, são no conjunto das universidades públicas brasileiras a minoria, e é perceptível como ocupam os cursos mais atingidos pelos ataques do governo, como os ligados à educação e licenciatura. Isso não acontece à toa, pois do ponto de vista social nos é imposto um papel a cumprir, no âmbito privado, atividades que garantem a educação e os cuidados dos filhos, maridos e família de conjunto no e, no âmbito público, isso se estende à divisão sexual do trabalho, onde as mulheres são maioria como: educadoras, enfermeiras, babás, psicólogas, terapeutas, entre outras atividades relacionadas à educação e cuidados em geral. Do ponto de vista político, essa opressão em relação às mulheres tem importância nesta sociedade na medida em que corrobora para dividir a classe trabalhadora a partir de uma problemática de gênero.
Não podemos perder de vista que o caráter da universidade que temos reafirma as formas de opressão com sua estrutura autoritária, em que uma minoria decide os rumos de toda a comunidade universitária.
Esta forma de organização permitiu aprovar no final de 2007 o Plano de Desenvolvimento Institucional da Unesp, que vem precarizar o ensino e as relações de trabalho em nossa universidade. O PDI inclui o projeto de universidade virtual de SP, que atinge principalmente os cursos voltados à educação, através de uma fachada democrática de ampliação de vagas, que, no entanto, contribui para acirrar as desigualdades na qualidade da educação ofertada aos diferentes grupos sociais, assim garante a elitização da universidade que temos e precariza a formação da maior parte da população, na medida em que atinge diretamente as mulheres, pois 70% da população mais pobre do país é composto por mulheres.
Da mesma forma, o PDI por meio do incentivo de parcerias público-privado, aprofunda as relações de exploração na universidade. Os convênios e as terceirizações são a maior prova disso. No caso do nosso campus a limpeza é terceirizada, e tem rosto de mulher. Essas mulheres têm sobrecarga de trabalho, são isoladas tanto física quanto socialmente da comunidade universitária, recebem salários miseráveis e não tem qualquer estabilidade no emprego.
Muitas/os passam por essas mulheres sem se quer notá-las como se fizessem parte da paisagem da universidade. Essa indiferença se torna ainda mais grave considerando que somos maioria de estudantes mulheres, e ainda assim nos continuamos indiferentes. Temos que dar um basta nisso! Situações como essas não deixam dúvidas que não existe igualdade, como afirma a mídia, que o século XX foi o século das mulheres, usando exemplos de ascensões individuais.
Ao mesmo tempo não podemos deixar de considerar a condição das mães e suas relações com a educação, principalmente com a universidade. Desde pequenas somos educadas para entender a maternidade como uma das maiores de nossas realizações pessoais. Mas vejam só! Nós estudantes, quando engravidamos, não podemos contar com creches oferecidas pela universidade, nem com moradias estudantis adequadas para acomodar tal situação e, assim, continuar com nossos estudos. A menos que, individualmente, tenhamos condições de pagar por uma casa adequada e por uma creche, seremos forçadas a abandonar nossos estudos. A solução, portanto, não pode ser pautada pela realidade individual, por uma questão de classe precisamos de creches e moradias estudantis que garantam que as mulheres pobres possam estudar.
Por isso chamamos as mulheres a se posicionarem politicamente e se mobilizarem para construirmos juntas/os, mulheres e homens, uma grande greve das universidades estaduais paulistas!
Porque defendemos as trabalhadoras/es?
Consideramos de suma importância que as mulheres comecem a se organizar dado que historicamente em momentos de crise como o que passamos, as mulheres donas de casa, trabalhadoras, pobres e estudantes são as primeiras a sentirem o grande impacto e a carestia de vida. Entendemos que neste momento não será diferente! Sabemos que a burguesia, suas instituições e os governos, pretendem depositar o ônus desta crise nas costas de milhões de trabalhodores/as. Para nós, as trabalhadoras da USP dão um exemplo de luta, foram ponta de lança das mobilizações das universidades em SP, pois desde o dia cinco de maio se colocaram em greve junto com seus companheiros de trabalho, para barrar os ataques das reitorias e do governo, que entre tantas coisas querem retirar o direito de livre organização sindical via perseguições políticas aos que lutam e no caso mais escandaloso com a demissão de Claudionor Brandão, diretor do SINTUSP.
Defender este trabalhador que se colocou em luta contra a terceirização que faz refém principalmente as mulheres trabalhadoras é lutar por melhores condições de trabalho a nós mulheres. Diante de toda a pressão social que sofrem as mulheres, elas deixaram seus lares para avançarem em suas posições políticas, por isso as saudamos e nos colocamos juntas na luta.
Pão e Rosas Marília
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