Após a 13ª edição da Parada Gay, Marcelo Campos Barros foi espancado e morreu, três dias depois, na Santa Casa de São Paulo onde estava internado. A polícia especulou ser roubo, mas faltava-lhe apenas o celular. Apesar de não ter participado da Parada, Marcelo era homossexual. A causa de seu assassinato é a forma como exerce sua sexualidade. Não se trata de um caso isolado, mas sim da expressão da barbárie capitalista que constrói conceitos de homens e mulheres castrados de liberdade, presos às amarras desta estrutura social que desrespeita suas identidades. No mesmo dia, no final da caminhada da Parada Gay uma bomba caseira foi atacada contra os manifestantes ferindo mais de 40 pessoas.
O controle de nossos corpos, de nossa sexualidade permite manter a mulher como a ‘dona do lar’ e, assim, manter a super-exploração da mulher trabalhadora através da dupla jornada. A homossexualidade é tão combatida pela ideologia burguesa, pois afronta a ‘normalidade’ que estabelece o papel exclusivamente reprodutivo do sexo feminino. A libertação da sexualidade desestruturaria a unidade familiar que permite a existência da propriedade privada e a super-exploraração da classe trabalhadora ao isentar os capitalistas da remuneração pelo trabalho doméstico. Trata-se de um trabalho socialmente necessário para a manutenção e reprodução da força de trabalho, mas que é colocado no âmbito privado do lar permitindo aumentar a mais-valia extraída da classe trabalhadora.
A restrição da liberdade sexual estabelece a heterossexualidade como o correto, o adequado, marginalizando, a partir da sexualidade, o que foge à regra. Como não poderia deixar ser, contraditoriamente o capitalismo aproveita da condição marginalizada à qual os homossexuais estão colocados para criar novos nichos econômicos (bares específicos, shoppings, bairros, roupas etc.) ao mesmo tempo em que necessita conserva os valores que oprimem a sexualidade para manter a ordem. Essa necessidade é explicitada no art. 226, § 3.º, da Constituição, que estabelece: "para efeito da proteção do Estado, é reconhecida a união estável entre o homem e a mulher como entidade familiar, devendo a lei facilitar a sua conversão em casamento".
Nesse contexto, se fundamenta a violência contra os homossexuais. É preciso fazer o esforço de ir além da explicação individual e contextualizar esta violência numa sociedade que castra o prazer e difunde o machismo, o racismo e a homofobia. A violência contra os grupos oprimidos é um problema social. Apesar de o Brasil não ter leis anti-homossexuais, o índice de violência devido à orientação sexual o coloca em primeiro lugar na lista dos países com maior número de vítimas, seguido pelos EUA e México (dados levantados pela Pesquisa Política, Direitos, Violência e Homossexualidade, em 2005).
A luta e organização dos oprimidos são combatidas pela ideologia neoliberal que fragmenta em grupos e despolitiza os debates obscurecendo que a opressão a que estão submetidos homossexuais, mulheres, negros se materializa no mesmo modo de organização da sociedade. As relações de gênero são determinadas pelas relações de produção. É preciso unidade entre oprimidos e explorados para superar esta organização social e alcançar a igualdade.
Não podemos aceitar que crimes por intolerância passem impunes. Precisamos romper com o modo como se convencionou a luta contra as opressões que a restringe à guetos que discutem apenas suas especificidades. É preciso observar que a opressão tem seu contorno definido pela classe social e, assim, compor um movimento classista amplo contra a homofobia, o machismo e o racismo. Punição aos assassinos! Abaixo à homofobia e a violência policial! Pelo livre exercício de nossa sexualidade!
Chamamos todas às organizações de esquerda, sindicatos, organizações LGBT, de direitos humanos, organizações feministas, centros acadêmicos, a se manifestarem urgentemente em repúdio a essa violência e assassinatos, em defesa dos direitos dos gays, lésbicas, travestis e transexuais.
Grupo de mulheres Pão e Rosas
23 de junho de 2009
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