sexta-feira, 5 de março de 2010

O terremoto e a crise social no Chile: FORA DAS RUAS AS TROPAS MILITARES!

Clara Aguilera, do Pan y Rosas Chile especial para o Pão e Rosas Brasil
Sábado, 27 de fevereiro às 3:34 da madrugada aconteceu um dos maiores desastres naturais da história do Chile. O terremoto que chegou a quase 9 graus e que atingiu a região central e sul do país, os tsunamis, as réplicas posteriores, incêndios e a devastação geral, deixaram até o momento mais de 800 mortos e centenas de feridos e desaparecidos, danificando significativamente inúmeras moradias, sendo as dos trabalhadores e do povo pobre as mais afetadas. As infra-estruturas de educação e saúde pública estão devastadas. Não há eletricidade, água nem gás em dezenas de cidades. Os alimentos acabam de começar a chegar. A catástrofe natural fez emergir o verdadeiro Chile: o da desigualdade do povo pobre e trabalhador. Milhares de mulheres, crianças, idosos, famílias trabalhadoras estão padecendo com a crise social.

A resposta do governo Bachelet, em conjunto com o governo eleito, o empresário milionário Piñera, tem sido decretar nestas regiões a “zona de catástrofe de emergência”, apoiada pelo imperialismo dos EUA que insistem na necessidade de “restabelecer a ordem pública”. Isto significa o desprendimento de enormes contingentes de militares nestas zonas – as que permaneceram sob autoridade militar e a sob o toque de recolher, que desde os nefastos dias da ditadura militar de Pinochet não se vivia no Chile.
Centenas de milhares de mulheres e suas famílias se encontram sem casa, sem luz nem água, com uma ajuda que demora cinco a seis dias pra chegar, com militares coagindo o povo e cuidando da propriedade privada dos grandes empresários (protegendo supermercados, grandes lojas de roupas etc.), o governo e a direita respondem com militares e repressão. São, sobretudo, as mulheres que buscam ajuda. E também elas que se verão mais afetadas. No Chile, mais de 40% das casas são chefiadas por mulheres. Ainda se mantém a diferença salarial entre mulheres e homens. As mulheres realizam os trabalhos mais precários e flexibilizados, mão-de-obra barata encarregada além disso do trabalho doméstico e do cuidado com os filhos. A isto, soma-se a falta de direitos sexuais, reprodutivos e maternos e o constante assédio dos patrões.

Os meios de comunicação, o governo e a direita estão acusando de saques e criminalizando o povo e os trabalhadores. Apesar da falta de água em cidades como Concepción, soldados os quais não falta água reprimem com seus carros lança-água. Nada se disse sobre os cúmplices dessa situação: os empresários, que no caso das grandes empresas construtoras e imobiliárias que encheram os bolsos de dinheiro construindo casas de má qualidade e sem cumprir as normas de segurança das construções anti-sísmicas sendo além disso subsidiados pelo próprio Estado, tendo isenção fiscal etc.
Através dos meios de comunicação temos visto como as mulheres trabalhadoras e pobres têm sido parte ativa da solução ao abastecimento por meio da busca de alimentos e água, do mesmo modo que têm sido ativas na denúncia da falta de ajuda do governo, da repressão policial e da crise social em geral que afeta o povo trabalhador. Denunciamos também o futuro governo de Piñera que já anunciou novos ataques com maior flexibilização e precarização do trabalho, fazendo com que as e os trabalhadores e o povo pobre paguem pela crise econômica e social agudizada pelo terremoto.

Desde o Pan y Rosas Teresa Flores, denunciamos a repressão e criminalização por parte do governo, da direita e dos empresários e manifestamos nossa solidariedade à todos/as atingidos/as pelo terremoto.

Acreditamos que é necessário que os organismos da classe trabalhadora como a CUT, organizações estudantis, organizações de esquerda e organizações de mulheres e feministas tomem em suas mãos a organização da ajuda para as zonas afetadas e se formem comissões de mulheres em sindicatos, bairros e organizações estudantis para a distribuição de alimentos, medicamentos e abrigos para as zona de catástrofe, principalmente se encarregando da distribuição de alimentos para proteger a vida das mulheres e crianças de abusos, pondo de pé a Ajuda Operária e Popular.

Por um 8 de março de solidariedade com os afetados pelo terremoto! Exigimos a retirada imediata das tropasmilitares! Não ao toque de recolher! Coloquemos de pé a ajuda operária e popular!

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