Nós, do Grupo de Mulheres Pão e Rosas, soltamos essa nota para expressar
nossa posição diante da Carta de Reivindicações redigida a partir do 2o
Encontro de Mulheres Estudantes da USP. A carta será entregue à reitoria nesta
quarta-feira (17), em um ato.
Assinamos criticamente a Carta, já que apresentamos
alguns aportes e divergências em alguns pontos específicos. Reconhecemos a
importância que teve o EME como um espaço de organização das mulheres na luta
contra o machismo e a violência tão presentes na sociedade e que se reproduzem
dentro da universidade. Temos acordo com vários pontos reivindicados pela
carta, contudo temos algumas ressalvas.
Acreditamos que a USP têm se tornado um lugar onde a violência tem tido muito espaço. Tendo a noção que a universidade tem se mostrado, ao longo dos anos, cada vez mais fechada à população de fora (que é a população negra, pobre e trabalhadora que financia a universidade), defendemos uma abertura do campus que permita que todas e todos frequentem a USP e façam uso do seu espaço, tornando-o menos deserto, mais movimentado e, portanto, menos perigoso.
Acreditamos que a USP têm se tornado um lugar onde a violência tem tido muito espaço. Tendo a noção que a universidade tem se mostrado, ao longo dos anos, cada vez mais fechada à população de fora (que é a população negra, pobre e trabalhadora que financia a universidade), defendemos uma abertura do campus que permita que todas e todos frequentem a USP e façam uso do seu espaço, tornando-o menos deserto, mais movimentado e, portanto, menos perigoso.
A questão
do aumento da frota dos circulares, que aparece como uma reivindicação da Carta
torna-se fundamental diante de um cenário onde esperar um ônibus sozinha, num
ponto escuro, pode resultar num assalto, sequestro ou estupro. Porém, não
podemos nos esquecer de que o busp atualmente só atende a uma parcela daquelas
que frequentam a universidade: as estudantes, professoras e trabalhadoras
efetivas, deixando de lado as trabalhadoras terceirizadas. Estas, que em sua
maioria vivem na favela ao lado da USP, a São Remo, muitas vezes fazem o
trajeto a pé até seus postos de trabalho no início da manhã, quando a USP se
mostra desértica e, assim, bastante perigosa. Defendemos, portanto, que haja
maior frota de circulares, mas que esses circulares atendam também às
trabalhadoras terceirizadas. Pela efetivação de todas as terceirizadas sem
necessidade de concurso público Queremos de volta os circulares cinzas
que não cobravam tarifa, sendo sua retirada um ataque a toda a população que
não tem vinculo com a USP, mas que precisa andar pela universidade.
Vemos a importância da criação de um Centro de
Referência, mas discordamos do caráter que o Encontro acabou por definir. Como
escrito na Carta o Centro teria "envolvimento da comunidade
universitária". Acreditamos que com essa formulação, a reivindicação deixa
o centro nas mãos da reitoria, com as mulheres apenas como coadjuvantes de um
processo no qual acreditamos que elas deviam ser linha de frente. As mulheres é
quem deviam comandar esse Centro, que seria reconhecido pela Reitoria, e não o
contrário. Isso porque deixar nas mãos da reitoria é iludir-se e pensar que ela
levará até o final, de maneira consequente as nossas reivindicações, quando na
verdade o que tem se provado é o contrário: Zago e os diretores em discussões
sobre os recentes casos da medicina humilharam as mulheres que bravamente se
colocaram, escancarado uma reitoria machista, que também é racista e
homofóbica. Mesmo porque, vale lembrar que a SAS já possui um setor que
seria responsável por ver casos de violência, mas desde 2009 só registrou dois
casos no campus. Isso revela a falta de comprometimento da universidade com os
casos de machismo que nos ocorrem cotidianamente.
O ponto que diz respeito a responsabilizar a
reitoria por uma campanha contra a violência nos parece correto, porém é
preciso fazer a ressalva do caráter dessa campanha. Acreditamos que, novamente,
não devemos deixar nas mãos da reitoria decidir se e como será a campanha. Em
última instância eles podem decidir coisas esdrúxulas, como veicular que
"mulheres não devem andar sozinhas com mulheres" ou que
"mulheres não devem usar roupas curtas", como já ocorreu em campanhas
na UNESP. Por isso defendemos que todos os três setores que compõem a
universidade, estudantes, funcionários e professores juntamente com os
sindicatos, entidades estudantis e todo o movimento determinemos o conteúdo da
campanha e que aí sim a reitoria se responsabilize em divulgar e nos fornecer a
verba necessária. Que as mulheres sejam linha de frente numa campanha
ampla contra a violência e que o movimento estudantil de conjunto tome como
pauta as nossas reivindicações. É preciso ainda exigir que centros acadêmicos
de nossos cursos criem uma secretaria de mulheres que, atrelados aos coletivos
feministas de cada curso possam organizar-se e apurar casos de machismo não
apenas em festas como também em aulas, assembleias e pelos corredores
das faculdades.
Por fim, abordamos a questão da reivindicação da
guarda feminina. Somos contra o aumento da frota feminina, pois acreditamos que
isso cria apenas a ilusão de que com mulheres na segurança o problema da
violência será sanado. Conhecemos o que a polícia brasileira faz nas favelas:
muitas vezes temos policiais negros matando pobres e negros. Sabemos que a
polícia é um aparato do Estado, que cumpre uma função e pouco importa se o
policial será negro, mulher ou mesmo lgbt, enquanto estiver na estrutura
policial irá cumprir as ordens do Estado. E nesse momento o papel que a guarda
universitária vem cumprindo é semelhante ao da polícia, sendo responsável por
vigiar quem faz parte do movimento e reprimindo diretamente as mobilizações.
Foi a chefe de segurança Ana Lucia Pastori quem coordenou juntamente com a
policia militar, a retirada dos piquetes e a repressão policial aos
trabalhadores durante a greve. A guarda universitária atualmente está a serviço
das ordens do reitor e não é colocando mulheres dentro desse aparato que
conseguiremos sanar o problema da violência. Tampouco isolando a USP do resto
da sociedade. É preciso abrir o campus, para que toda a população frequente a
universidade!
Chamamos todos os estudantes, professores e
funcionários juntamente com o apoio dos centros acadêmicos, DCE, SINTUSP e
ADUSP a se mobilizarem numa grande campanha contra a violência dentro do
campus. Tomando como exemplo os trabalhadores da USP, que se posicionaram
contra os estupros ocorridos na Faculdade de Medicina. Somente a aliança entre
os trabalhadores e estudantes é que pode dar uma resposta efetiva aos casos de
violência dentro da universidade.
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