Tatiana
Cozarelli, Pão e Rosas Rio de Janeiro
No
dia 28/09, dia latino americano e caribenho pela legalização do
aborto, uma bancária de São Gonçalo, no estado do Rio de Janeiro,
decidiu interromper sua gravidez, assim como as estimadas 2330 outras
mulheres brasileiras que diariamente recorrem a esse procedimento.
Ela ingeriu uma alta dose de medicamento abortivo e durante intensa
hemorragia expeliu o feto no banheiro de sua tia que chamou a
ambulância para socorrê-la. Ao invés de ir direto ao hospital, foi
levada à delegacia após revelar a médica que havia tomado o
medicamento. Para ser libertada e então levada a um hospital, a
mulher teve de pagar 250 reais de fiança, respondendo ao processo
que está tramitando pela Divisão de Homicídios da Polícia
Civil.
Este é o terceiro caso de aborto nos últimos dois
meses a ganhar atenção pública no Rio de Janeiro. Muito já foi
escrito e dito sobre os terríveis casos de Jandira e da Elisângela,
mulheres trabalhadoras do Rio de Janeiro que morreram na tentativa de
realizar abortos em clínicas clandestinas mantidas por máfias que
envolvem médicos e policiais. Estes três casos, somados aos
milhares que acontecem ano após ano, nos demonstram não só a
necessidade do direito ao aborto legal, seguro e gratuito, mas
também a necessidade de que o Estado que crie condições materiais
pra que mulheres possam ter o direito à maternidade e exercê-la
plenamente.
O
Estado é criminoso e as mulheres são as vítimas!
O
caso da mulher de São Gonçalo é diferente do caso de Jandira e da
Elisangela porque ao sobreviver o Estado a trata como criminosa. No
Brasil, provocar aborto em si mesmo ou permitir que outros o realizem
é crime previsto pelo Código Penal com pena de detenção de um a
três anos. É um absurdo que a mulher ao decidir sobre o que fazer
sobre o seu corpo e a sua vida, seja penalizada.
O
Estado mata diariamente com a sua falta de investimento na saúde. Se
esta mulher grávida morre na fila do SUS, o Estado fica impune. Esta
grande hipocrisia do Estado que não se responsabiliza por um sistema
de saúde de qualidade para a população causando até a morte, mas
se intromete na autonomia do corpo da mulher e é responsável pela
morte de mulheres que recorrem aos abortos clandestinos.
Além
disso o Estado joga nas costas dos trabalhadores a responsabilidade
por pagar os serviços básicos fundamentais que deveriam ser
oferecidos gratuitamente com qualidade pelo próprio Estado, fazendo
por exemplo, com que os trabalhadores paguem por planos de saúde.
Ao mesmo tempo que o Estado direciona o dinheiro público para
beneficiar os grandes empresários, como vimos na construção dos
estádios para Copa em detrimento de melhorar a educação, o
transporte público e a moradia da população. Neste caso, ainda
mais absurdo, a mulher foi obrigada a pagar 250 reais de fiança,
correndo risco de morrer a caminho do hospital, pelo fato do governo
insistir na criminalização do aborto e ao mesmo tempo não fornecer
condições adequadas para uma mulher trabalhadora exercer a
maternidade.
No
fim das contas as medidas de criminalizar e proibir o aborto são
eficientes apenas para matar e punir mulheres pobres e trabalhadoras.
Os números mostram que as mulheres continuam a interrompendo a
gravidez e as consequências são a morte, sequelas, prisão e
humilhação.
Um
tema onipresente, exceto para os políticos que governam para a
burguesia
No
último mês até mesmo grandes jornais vem trazendo editoriais
escancarando a necessidade de tratar a questão do aborto como uma
questão de saúde pública e evidenciando que mesmo sendo ilegal
milhares de mulheres realizam e muitas perdem suas vidas,
principalmente pelo impacto causado pelas mortes de Jandira e
Elisângela.
Dilma nesses quatro anos governou em aliança com os setores mais
reacionários das bancadas religiosas, e mais uma vez mostra que
seguirá com esta aliança e o silêncio diante de mulheres mortas
mantendo a legislação atual que permite o aborto nos casos apenas
de risco de morte para a mulher, fruto de violência sexual e fetos
anencéfalos. Agora no segundo turno
a realidade de milhares de mulheres passa
longe dos discursos de Dilma e Aécio na corrida eleitoral. Qualquer
um dos dois que vencer a campanha não mudará uma vírgula nesta
realidade que é a quinta causa de morte entre as mulheres e causa
tanta dor para tantas mulheres e amigos e familiares que perdem suas
mães, amigas, filhas.
Os
candidatos da esquerda que apoiaram abertamente a causa, como Luciana
Genro (PSOL) e Zé Maria (PSTU), apesar de terem tocado no tema em
suas falas públicas, não mobilizaram suas bases partidárias com
força para compor os atos que aconteceram nacionalmente dia Latino
Americano e Caribenho pela Legalização do Aborto. É fundamental
que PSOL e PSTU que falaram em defesa deste direito tranforme o
discurso em um movimento real de trabalhadores e juventude em torno
das demandas democráticas para impulsionar a partir dos locais de
trabalho e estudo uma campanha pelo direito ao aborto legal, seguro e
gratuito.
Basta
de mulheres criminalizadas e
mortas por abortos!
Educação sexual nas escolas para
decidir, anticoncepcionais gratuitos e de qualidade para não
abortar, direito ao aborto legal seguro e gratuito para não morrer!
Pelo direito ao aborto legal, seguro, gratuito
e garantido pelo SUS! Por um SUS 100% público, controlado pelos
trabalhadores e usuários!
Pelo direito à maternidade! Por
creches, restaurantes e lavanderias públicos!
Pelo fim do
acordo Brasil-Vaticano! Por um estado laico de fato!
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