Revista Vexatória: mais uma violação do Estado contra as mulheres
"Ter
de agachar, nua, para ser revistada é inadmissível”, uma frase
que não costuma ser ouvida ou aparecer em machetes de jornais e
revistas, mas que expressa o que acontece todos os dias com milhares
de mulheres pobres, negras, trabalhadoras, donas de casa, jovens e
idosas que ao menos uma vez por semana se encaminham ao milhares de
presídios para visitar seus companheiros, irmãos e filhos. O Brasil
é um dos países com maior população carcerária e assim pune
essas mulheres ao vexame das revistas.
A
luta pela libertação de Fábio Hideki, da qual o grupo de mulheres
Pão e Rosas faz parte, deveria trazer à tona um debate
democrático para eliminar essa afronta as mulheres dos pretos pobres
e dos pobres pretos amontoados nas cadeias, enquanto os ricos,
políticos, empresários, altos funcionários do Estado e policiais
nas poucas vezes em que são encarcerados gozam de benefícios e
tratamento especiais nas prisões. O ministro da justiça Jose
Eduardo Cardoso quando da prisão dos mensaleiros descobriu que o
sistema penitenciário brasileiro era medieval. Verdade, mas só para
os pretos e pobres e para os pobres pretos, e para os que são presos
por lutar.
Essa
afronta a dignidade das mulheres que visitam os presos não cumpre o
falso objetivo de evitar a entrada de itens ilegais. Todos sabemos
que celulares, dinheiro, droga e até armas, entram nos presídios
não escondidos nas genitálias das mulheres mas livremente por um
sistema comercial que envolve os agentes penitenciários, policiais,
e diretores de presídios. Pesquisa realizada pela “Rede Justiça e
Criminal” entre 2010 e 2013 demonstrou que de cada 10 mil revistas
vexatórias só três flagravam algum item proibido. É tão ofensiva
e degradante esta revista que até mesmo um juiz da 1 vara de
Execuções Penais de Recife decretou em 2014 a proibição da
revista íntima. No Senado foi aprovado um projeto de lei que proíbe
a revista íntima sendo encaminhado para a Câmara de Deputados. Como
se trata de um projeto que é a favor das mulheres, principalmente
das mulheres pobres, não podemos esperar que este parlamento de
corruptos e aliados dos setores mais reacionários do país aprovem
esta medida para fazer valer o mais rápido possível.
A
situação vexatória pela qual passou a Helena Harano, 54, mãe do
estudante e funcionário da USP, Fábio Hideki, e a sua indignação
podem cumprir um grande serviço para que os movimentos democráticos
e movimentos de mulheres levem adiante uma forte campanha pela
eliminação dessas revistas íntimas em defesa da dignidade das
mulheres e dos direitos humanos básicos que são violados
principalmente quando se trata da metade da população, as mulheres.
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